RaphaelGuri::FLOP
Caro
RaphaelGuri
Meu amigo, achei seu artigo um verdadeiro primor de texto, meus parabéns!!!! Eu só não vou curtir, enquanto você não trocar a imagem do texto pela do Blackout Hong Kong, esse sim um jogo ruim, que flopou com todo o merecimento!!!!


Para quem está lendo, essa é meio que uma piada interna entre eu e o Raphael, porque ele gosta do Blackout Hong Kong, e eu não. Mas fora as sacanagens recíprocas, o fato é que o Blackout Hong Kong flopou, não porque seja um jogo péssimo. Na verdade eu acho ele um jogo mediano, mas cujo desempenho em vendas foi muito prejudicado por dois fatores, que o Rafael destaca bem no texto.
O primeiro fator é que o jogo é do Alexander Pfister, um dos designers de jogos mais aclamado de todos os tempos, com vários prêmios internacionais no currículo, ente eles o Kennerspiel des Jahres de 2016 com Isle of Skye, e diversos jogos excelentes (algumas obras primas) na carreira, como a linha Great Western Trail, Mombasa, Maracaibo, Oh My Goods!, Broom Service, Skymines e Port Royal. Naturalmente isso faz com que a expectativa sobre seus jogos seja sempre muito alta. Nesse caso, quando o Pfister lança um jogo mediano, na comparação fica parecendo que o jogo é muito pior do que na realidade ele é.
O segundo fator foi um verdadeiro desastre que fizeram com a precificação desse jogo. Na época do seu lançamento, a editora nacional, confiando cegamente na influência do nome do designer, colocou o preço do lançamento nas alturas, bem mais caro que a média da época. Isso fez com que o jogo ficasse com a má reputação de "jogo ruim e muito caro". Como a Galápagos se recusou a baixar o preço do jogo, e começar a reagir, para de alguma forma compensar o fiasco das vendas, o jogo continuou muito caro. Para piorar, muitas pessoas que compraram se desiludiram, porque o Blackout Hong Kong não tem nada de especial, é mais longo do que deveria e complicado de explicar. Com isso, começaram a aparecer no Mercado de Usados diversas cópias pela metade do preço cobrado nas lojas. Foi só quando o "flop" estava mais do que consolidado, que a Galápagos começou a baixar o preço. Mas aí já era tarde demais, porque a reputação do jogo já tinha sofrido danos irreversíveis. Com o tempo, não importava o quanto as lojas baixassem o preço, o jogo não vendia, e hoje ele já é figurinha carimbada em promoções, com cadeira cativa nas Black Fridays.
Porém conforme muito bem apontou o Raphael, o fato do jogo flopar, não significa necessariamente que ele seja ruim. Nesse aspecto eu acho que o maior exemplo de todos, que inclusive é sempre citado quando se fala de jogo bom que flopou, que é um dos maiores board games de todos os tempos, que juntamente com Catan, El Grande, Carcassonne e Puerto Rico, ajudou a cristalizar o conceito de jogos de tabuleiro modernos, que é consagradíssimo e de um dos designers mais consagrado ainda que é o sensacional Tigris & Euphrates, do Knizia. Esse jogo já alcançou o status de obra prima no exterior, no nível dos outros colossos de jogos que eu citei. Mas no Brasil ele não fez o menor sucesso, e até durante anos era vendido por uma ninharia (qualquer 100 merréis e o jogo era seu). Atualmente o jogo começou a ser valorizado, talvez de tanto os mais antigos falarem que ela um pérola vendida a preço de banana, e com isso o preço da cópia usada aumentou bastante.
Por outro lado, é preciso ter cuidado com essa ligação "preço barato usado com flop", porque muitas vezes o preço barato decorre da tiragem ser maior do que o mercado absorve, mesmo o jogo vendendo bem. Isso faz com que durante alguns períodos o preço caia bastante. É preciso considerar que muitas vezes o preço do jogo baixa porque ele entra em promoção e a editora quer liberar espaço no estoque, o que não tem nada a ver com flopar.
Dificilmente alguém diria que o Stone Age, o Castles of Burgundy ou o Grand Austria Hotel floparam, mas mesmo assim durante muito tempo esses jogos eram comprados por preços muito baixos variando entre R$ 100,00 e R$ 150,00. Mas hoje esses jogos são bem mais caros, o Grand Austria Hotel e o Castles of Burgundy, que estão esgotados há anos, desses nem se fala, é papo de R$ 500,00 para cima. O Stone Age está mais barato, mas porque teve um reprint com muitas cópias há pouco tempo.
Para terminar, eu queria destacar que o Raphael também acertou na mosca, em relação à publicidade e o marketing serem fundamentais para o jogo flopar ou não. Hoje, já temos bem mais de 100 lançamentos anuais, e se o jogo não se destacar de algum modo, a chance de que ele passe despercebido é enorme, porque não dá para acompanhar tudo que se lança. Aliado a isso, eu acho que cada vez mais os jogos estão entregando mais do mesmo, então fica difícil o jogo se destacar, quando ele nada mais é que mais um jogo de alocação de trabalhadores, que poderia ter qualquer outro tema que não faria diferença, ou mais um jogo de miniaturas no estilo zumbi/Marvel. E aí como os jogos atuais não se destacam tanto pela inovação do design, a única alternativa é fazer uma campanha maciça de divulgação, para que as pessoas tomem conhecimento do jogo, que comentem sobre o jogo, que façam vídeos sobre o jogo, que escrevam sobre o jogo, e o mais importante, que comprem o jogo. Caso contrário é bem provável que o jogo entre para a longa lista de jogos bons que floparam.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio