Boardgame vive de hype! Há algum tempo vários canais, inclusive eu, temos discutido sobre como alguns jogos precisam do hype do lançamento para se estabilizar. E muitos e muitos jogos são esquecidos quando o hype passa.
Outros são o contrário. Chegam sem hype nenhum e quando você vai jogar você pensa: "Nossa!!!! Que jogaço. Como ninguém fala dele???" não é mesmo? Eu tenho alguns para citar. Vanuatu, por exemplo. Quando joguei pela primeira vez eu pensei "Uau! Preciso ter!". E mesmo hoje, jogando ele poucas vezes, nem cogito vendê-lo. De vez em quando eu até falo sobre um ou outro jogo não muito hypado por aqui para ver se as pessoas descobrem ele. Acho que ninguém falou tanto de
Detective na vida como eu (De nada Ignacy).
Dogs of War da CMON,
Who Goes There e
Tragedy Looper foram outros com texto por aqui. E agora é a vez do Endeavor!
Endeavor não é nem de longe tão desconhecido como esses outros, mas ainda assim teve um lançamento no Brasil quase que despercebido pela grande massa. O jogo já existe desde 2009 e foi relançado por agora em uma nova versão, toda pimpada e com algumas adições na jogabilidade. E talvez por isso, por ser tão antigo que ninguém fala mais dele. Ao mesmo tempo, a gente deveria pensar né: por que estariam relançando um jogo com 10 anos de idade se ele não fosse ótimo? O que será que ele tem de bom? Então, vamos lá!
Para você ter melhor ideia, Endeavor é um jogo de regras simples e ágeis, como se espera de um jogo lançado em 2009. Naquela época, Feudum não seria nem publicado. O tema do jogo são as grandes navegações e você vai, de forma bem lúdica, colonizando continentes e navegando os 7 mares. As ações são quase todas muito simples. Colonizar, Navegar, Comprar Carta ou Combater. E para tudo que você faz, você aumenta sua régua de recursos que, além de lhe dar pontos no final do jogo, aumenta o número de coisas que você pode ter ou fazer durante seu turno.
Os turnos são super simples. São 8 no total. Você compra um prédio, que lhe dará recursos ou ação. Contrata novos trabalhadores, paga os salários dos atuais para liberar as ações e faz as ações em turnos. E o que isso tem demais?
Bem, Endeavor tem 3 grandes qualidades, sendo que uma delas pode ser um defeito em algumas mesas. A primeira e maior qualidade é a rapidez e agilidade com que se joga. Dá para jogar Endeavor em 5 pessoas em 1h30 tranquilamente. Em 4, talvez até em 1 hora se a galera for rápida. E ao mesmo tempo que o jogo é ágil, ele não é curto. Não tem cara de filler. É um jogo complexo. Talvez seja um dos melhores custo benefício de tempo pro mercado. A outra vantagem é que ele é simples de explicar e jogar. Coloquei uma amiga não gamer(mas que já tinha jogado algumas coisas como PowerGrid) na mesa cheio de cracudos e ela jogou competitivamente até o fim. A última qualidade, mas que pode ser defeito é que ele brilha em 5 jogadores.
Jogar em 5 jogadores é sempre um problema. Em geral demora-se uma eternidade. Terra Mystica, Blood Rage, etc, as vezes demora 4 horas fácil. Endeavor demora 2 horas em 5 se tua galera for lenta e tiver jogando pela primeira vez. Arriscaria que 2 horas é já contando o tempo de explicação. Por outro lado, ele não funciona tão bem em contagem baixa e portanto não recomendo ele para quem costuma jogar muito em 2 pessoas.
Verdade seja dita, essa nova versão vem com mapa dupla face que encolhe os locais para contagens baixas. Joguei ele em 3 e rodou de boa. Mas é em 5 que ele fica ótimo.
Uma das coisas que mais gosto do Endeavor inclusive é a interação no Board. Ela é pequena mas está lá. O jogo é MUITO marcado. Há ataque, para você tirar a peça de um jogador. Mas tudo tem que ser feito de forma milimétrica e com timing perfeito, pois o ataque custa caro e se você sofrer contra ataque você perdeu demais por aquilo.
E você marca tudo no jogo. Marca quem está na frente na trilha de descobrimento de cada continente para tentar dar o bote, passar a frente e pegar o bônus. Marca quem está controlando duas cidades conectadas que valem ponto extra pela conexão no final do jogo. Marca principalmente a Abolição da Escravatura que é outro aspecto do jogo.
Durante o jogo, todos os jogadores só tem acesso a Europa e as cartas da Europa. Existem então duas maneiras de se investir e ganhar recursos: comércio livre e escravidão. As cartas de escravidão, dão um reforço econômico forte no início da partida. Mas se durante a partida, os jogadores que investiram em comércio conseguirem abolir a escravidão, você perde os recursos e as cartas de escravidão viram ponto negativo. Mas para isso, os comerciantes precisam ter uma dominância de 5 cidades na Europa e os escravocratas ficam marcando essa presença para evitar que ela se transforme em uma dominância abolicionista.

Endeavor não é uma obra prima. Não é um jogo que vai entrar no seu top 10. Mas com certeza é um jogo que surpreendeu positivamente quase todos que o jogaram no final do ano passado. Quase ninguém dava nada por ele e várias pessoas que conheço, fizeram questão de jogar após conhecer. Sua maior qualidade é a de ser um excelente jogo rápido, ágil e que comporta BEM, 5 jogadores. É um jogo simples mas não é simplista. É complexo e completo o suficiente para agradar um jogador experiente. E com interação e marcação que fazem dele um jogo desafiador sempre.
Eu comparo ele muito com o Crusaders que chegou aqui em casa e tem um estilo parecido. Mecanicamente, é diferente, mas lembra no sentido de ser um jogo com controle de área rápido, ágil e de produção primorosa. Mas Endeavor é muito mais jogo e por isso, na briga dos 2, ele é o que ficará na coleção.
E se a Ludofy não falou muito dele, se o lançamento passou despercebido, não deixe de perceber que quase todo mundo que jogou, acabou fazendo review positivo. Olha aí,
Área 21,
E Aí Tem Jogo?, e
Tá Na Mesa!. Não é possível que todos esses feras estejam errados.
E conheça também o nosso Guia de Twilight Imperium 4a Edição