O povo americano tem uma séria dificuldade em deixar as suas franquias de sucesso morrerem em paz. Pra mim, Power Rangers é um dos melhores exemplos disso. Enquanto Changeman e Jaspion tem início, meio e fim (que demora, mas acontece), Power Ranger parecia um brasileiro que não desistia nunca. Não importava se todos os atores originais já tinham saído da série e os únicos que ficaram eram Bulk & Skull. Não importava se até mesmo o Bulk & Skull saissem da série e fossem substituídos por chipamzés(isso de fato aconteceu). The show must go on.
Star Wars é a mesma coisa. Já temos anunciado a nova trilogia e 12o filme da saga Skywalker acompanhado por basicamente uma série de cada sub-personagem que um dia coçou a bunda em Endor atrás do Ewok no Retorno do Jedi. Marvel nem se fala, acho(tem certeza na verdade) que gasto menos tempo de vida ouvindo Cid Moreira narrando a bíblia em 0.5x. Então como podíamos esperar que fosse diferente no mundo dos boardgames?
E se tem um cara que sabe transformar jogo em negócio, esse cara é o James Stegmaier. Ele já lançou 7 produtos do Viticulture, 5 do Scythe, incluindo uma caixa vazia, 4 do Tapestry e 4 do Wingspan. E quando parecia que tinha acabado, veio o 6o produto do mundo Scythe: Expeditions.
Expeditions traz o óbvio de Scythe: a arte e as miniaturas, mas vai além do lore. Expeditions de fato traz mecanicas que lembram Scythe. A escolha de ações sem poder repetir, os turnos curtos, e até a noção de upgrades que melhoram as ações que você pode fazer, mas faz isso focando num engine building que você cria ao criar um tableau de cartas, ao invés de melhorar seu board de ações.
Além disso, os turnos curtos e a movimentação no tabuleiro de fato te passam a impressão de que você está jogando um jogo da série Scythe. Sabe quando Scythe, no início do jogo, que você parece estar preso por que anda pouco, e produz pouco e chega dar quase uma ansiedade. O Expeditions no início passa quase essa mesma impressão.
No jogo, você tem um mapa hexagonal onde usa seus mecas para se locomover. Cada hexágono permite que você faça uma ação que pode ser produzir um bem, pegar um trabalhador, comprar uma carta, baixar uma carta etc. Você também tem um board que lembra o do Scythe onde você pode escolher suas ações entre se mover, jogar uma carta da sua mão pra ganhar os recursos dela ou “Reunir” para ganhar o item/ação disponível do hexágono que você está. A cada rodada, você escolhe fazer 2 dessas ações e não pode repetir as duas do turno anterior. Tudo isso faz você lembrar de Scythe e começar o jogo achando tudo bem maneirinho fazendo sentido.
Expeditions também é uma corridinha de estrelas pra trigar o final do jogo. Você tem missões que resolve para ganhar estrelinhas, cartas que baixa para ganhar o coração, upgrades pra ganhar poderes passivos e fundir que te dá alguns poderes/recursos combinados e no final o jogo acaba quando alguém complexa um numero de estrelas e conta-se os dinheiros como ponto de vitória.
Como eu gosto muito de Scythe e gosto muito de engine building, eu fiquei com uma boa expectative do jogo, que não é ruim mas deixa a desejar. Expeditions me perdeu um pouco por que, ao contrário de outros engine buildings, o jogo não crescia tanto. Algumas cartas até melhoram um pouco suas ações mas a idéia é que mesmo no final você ainda fica limitado, com uma impressão de que está sempre fazendo uma coisinha pequena por cada turno. O Famoso nheco nheco.
Scythe também tem um pouco disso. Nessa rodada eu vou andar, na proxima eu vou produzir e na outra eu vou construir etc e parece que você faz pouca coisa e tem que esperar mais uma rodada inteira pra voltar até você e fica numa tensão, mas ao mesmo tempo o jogo se desenvolve e você sente que fica menos travado e começa a fazer bem mais coisa por turno.
Vá em Expeditions dá uma impressão que você passa o jogo todo indo ali aqui pega um recurso, vai ali, entrega um recurso, vem aqui pega uma carta, vai ali pega o recurso, vai acolá pega um dinheiro, vai no outro lado baixa a carta e ganha 1 coração. Tipo, cansa. Se tem uma coisa que eu curto em engine building é aquele momento “
WITNESSSSSSSSS!!!!” onde você tem que narrar a sua jogada pra todos ententerem, como você vai executar 792 ações no seu turno e ganhar 1500 pontos de vitória sem roubar. É uma satisfação ímpar que dá vontade de por a jogada no teu currículo. E Expeditions nunca me deu essa sensação. Pelo contrário, foi sempre uma sensação de "só isso?".
É claro que o jogo cresce com o tempo, mas cresce pouco. Tecnicamente você só pode fazer 4 upgrades que são poderes passivos que quase nunca você vai conseguir realizá-los de forma sequencial e engatilhada e as outras ações (Resolver/Coração e Fundir) dão mais coisas 1x quando baixadas do que aumentar seu poder.
Se Scythe fosse uma franquia da Disney seria meio que o Livro do Bobba Fett, onde no final você só vendo por que começou e parece meio sacanagem com quem tá vendo com você de parar no meio, mas contribui muito pouco. Expeditions até tem bastante sucesso ao te lembrar que é um jogo da saga Scythe, mas isso sozinho não faz dele um bom jogo.