O saco building(*) está em alta. Depois de chegar com tudo no lançamento do Orleans ano passado, Altiplano foi o sucesso em Essen e já chegou no Brasil pela Meeple BR, mesma editora que trouxe o Orleans.
A comparação então dos 2 jogos, se faz inevitável: mesmo autor, mesma arte, mesma mecânica básica. Então, qual deles então seria o melhor? Qual eu devo ter na coleção? Faz sentido ter os dois?
A ideia desse texto é justamente o de comparar os aspectos de ambos os jogos e dar minha opinião do que gosto mais e por que. Mas fique a vontade de discordar. É provável que eu nem seja a voz da maioria.
Vale começar dizendo que a minha relação com Orleans foi de paixão a primeira vista. Amo jogos com equilíbrios entre o estratégico e o tático. Jogos em que você monta um motor a longo prazo mas ainda assim precisa se adaptar ao que lhe é disponível no curto prazo. Mas como tempo, entendi muitas das críticas do jogo, embora muitas delas não sejam problema para mim.
A primeira delas é que Orleans é um jogo muito focado nas engrenagens e dessa eu discordo muito. É comum para mim vencer o jogo constantemente, contra jogadores bons e experiêntes, sem focar em engrenagens. Outros então dizem que o foco está em combar os prédios, e isso pode ser verdade, mas nem sempre dá certinho. Mas de uma ou de outra forma, há poucas variações estratégicas e isso limita a rejogabilidade. A partir de 8, 10 partidas você meio que já sabe os 2 ou 3 caminhos para a vitória.
O segundo é com relação ao número de prédios e ao fato de serem todos abertos. Isso me incomoda ZERO. Talvez nas primeiras partidas, mas hoje, já conheço a maioria e não fico horas escolhendo. Muita gente utiliza aqui a regra da casa de jogar com 3-5 prédios abertos apenas. Você compra um deles e outro entra depois. Eu, sinceramente, acho que isso quebra o equilíbrio do jogo e da estratégia de prédio. Aí sim, fica muito focado em apenas 1 ou 2 estratégia.
O terceiro é que todo o descarte (trabalhadores usados na rodada e novos comprados) voltam direto para o saco. Quem está acostumado com Deck Building, espera que o descarte só volte ao deck após o deck ser esvaziado. Aqui, de novo, pouco me incomoda. Foi apenas uma escolha do jogo, mas acho que essa aleatoriedade e imprevisibilidade do que sairá do saco incomoda muita gente. Por isso, muitos utilizam a regra da casa de ter um potinho de descarte, para onde vai tudo até o saco estar esvaziado.
Para quem se incomoda com esse 3 problemas, o Altiplano vem em boa hora, pois conserta todos eles. Para os demais, que adoram Orleans mas queriam apenas mais variação e estratégia para ter mais rejogabilidade, minha sugestão, como já foi em um texto aqui do blog, é: compre a expansão Trade & Intrigue e seja feliz.
Verdade seja dita, o autor ouviu as críticas. Quase tudo aquilo que ele colocou nas expansões de Orleans, há no Altiplano: 5º jogador, objetivo secreto e entrega de contratos. Além disso, em Altiplano há um caixote de descarte, para onde vão os tokens comprados ou utilizados que só voltam para o saco após ele se esvaziar. E por último, os prédios são comprados no mercado. Entram apenas 5 e há preços diferenciados por posição. O primeiro é sempre descartado se não comprado e os que sobram, ficam mais baratos.
Seria então Altiplano o Gaia Project enquanto Orleans o Terra Mystica? Calma lá!
Apesar das mudanças, um jogo não é apenas a evolução do outro. Existem diferenças que alteram a sua relação com o jogo.
Por exemplo, em Altiplano, não basta alocar seu trabalhador no local indicado no playerboard para fazer a ação. Há, no jogo, 7 mini tabuleiros nos quais você se movimenta para fazer a ação. Se quer comprar um prédio precisa andar até o mercado para tal. Mas os movimentos são limitados e gastam recursos. É uma camada estratégica de não apenas alocar, mas maximizar sua movimentação que Orleans não tem. Isso é uma faca de dois gumes. Se por um lado é um diferencial, por outro é mais uma restrição que o jogo te coloca para lidar.
Por último, altiplano ainda é um jogo semi assimétrico. Isso por que, cada um, tem um prédio inicial diferente do adversário e recursos inicais únicos também.
Apesar disso tudo, eu ainda prefiro Orleans, principalmente adicionado da Trade & Intrigue. Por que isso?
Bem, primeiro, por que apesar mecanicamente ser mais simples, em Orleans me parece que as ações estão conectadas e fazem sentido durante a evolução do jogo. O motor funciona melhor e você otimiza mais e cresce de fato nas ações. Em Altiplano, minha impressão foi que você fica muito preso e o jogo demora a evoluir. Você não vê um motor crescendo no número de ações etc. Poucos prédios parecem combar. Você otimiza os prédios comprando alguns que produzem mais barato (que são uma engrenagem enrustida de prédio) mas existe menos o combo de ir produzindo uma coisa, trocando por outra e fazendo muito mais ações.
Além disso, a dificuldade de conseguir alguns recursos faz com que alguns jogos fiquem um pouco travados. Por exemplo, nos 3 jogos que eu joguei, eu não tinha facilidade de ter peixe, então eu simplesmente ignorei peixe no jogo e joguei todas as 3 partidas sem peixe pois daria uma trabalheira enorme conseguir ele e não valia a pena. Não deixei de ganhar por isso, mas as vezes eu me via preso fazendo sempre a mesma coisa a cada rodada simplesmente por ser mais otimizado para mim.
A movimentação do tabuleiro, que é O DIFERENCIAL do jogo, não me animou. Não me brochou também não, mas não achei nada demais. Por outro lado a ausência quase que total da inteiração entre os jogadores me incomodou muito.
Em Orleans, por mais que você faça suas ações no playerboard, sem concorrência de ação, há concorrência na ordem de ativação do que você planejou. O tabuleiro central onde você disputa onde construir sua Casa de Comércio (pode haver apenas 1 por cidade) ou o tabuleiro da Prefeitura onde o timing correto lhe dá bônus essenciais, fazem com que ele seja um euro, relativamente interativo. Há ainda a disputa dos Cidadãos na trilha do conhecimento e é claro, do número de tokens de trabalhadores especializados que são finitos.
Orleans: foto E aí tem Jogo?
Já Altiplano isso acontece muito pouco. Tirando os tokens de recursos, aqui também finitos, todo o resto é de um jogo onde se joga sozinho, tentando maximizar sua maquininha de pontos. Parece muito um solo multiplayer. As vezes é até difícil ver quem está na frente. Você chega no final, soma tudo e descobre quem ganhou.
Além disso, a mecânica da movimentação aumentou muito a Analysis Paralysis do jogo (tempo que o jogador fica parado pensando na sua jogada), pois não basta otimizar os trabalhadores, você precisa ver para onde é capaz de andar e fazer a ação do prédio. E para alguns, como foi para amigos meus, ele pode se tornar muito frustrante nesse sentido.
Já Orleans, quando adicionada a expansão, acerta muitas coisas. A variação dos eventos fica muito boa. O dinheiro e o Navegador passam a ser muito mais úteis no jogo. O novo tabuleiro da prefeitura é muito melhor e para quem gosta, adiciona-se também o módulo de contratos. Infelizmente, o 5º jogador, só com outra expansão. Mas sinceramente, a não ser que você tenha um grupo constantemente com 5 pessoas e isso seja essencial, eu nem recomendo jogar em 5 pois pode demorar demais.
A questão dos prédios (serem muitos) e do descarte (voltar direito para o saco), continuam, mas como já disse, isso pouco me incomoda. Com novas variações de jogo, que mudam não só o setup, mas a estratégia durante a partida em muito fazem crescer esse jogo que para mim já era excelente. E se quiser, pode sempre utilizar as regras da casa já sugeridas para acertar isso.
Altiplano, ainda é bom, simplesmente por que gosto muito da mecânica. Mas de jeito nenhum, toma o lugar do Orleans na minha coleção. E com tanto lançamento bom, eu fico feliz em jogar eventualmente a cópia dos meus amigos.
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Saco Building é o nome de mecânica que não existe na lista do BGG nem da Ludopédia simplesmente por ser um termo inventado, creio que por Orleans mesmo. O jogo na verdade é um Pool Building, uma variação do Deck Building. No jogo (em ambos) você tem trabalhadores especializados (mercadores, fazendeiros, etc) você os aloca em espaço, como uma alocação de trabalhadores para fazer a ação desejada.
Mas não basta ter 1 trabalhador disponível para fazer a ação. Cada ação exige um trabalhador de um tipo específico. Portanto, a cada rodada, você pode pegar novos trabalhadores especializados e colocar dentro do seu saquinho. A cada rodada você puxa de dentro de seu saco um número X de trabalhadores, vê o tipo que são e a partir disso você escolhe suas ações.
Assim como num deck building você fica preso a sua compra. E passa o jogo todo montando um saco com trabalhadores que quer e descartando os que apenas sujam seu pool de trabalhadores.
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