AVISO: Texto sem spoilers. Mostraremos apenas fotos e situações básicas do local inicial e setup básico do jogo/expansão.
Vale a pena ou não é provavelmente a pergunta mais difícil que qualquer pessoa ou canal que faz review de jogos tem que responder. Valer a pena é algo tão pessoal! Depende do seu tempo disponível, da sua capacidade financeira/compras, do grupo com que você joga além é claro, da qualidade do jogo.
Para um estudante jovem, com pouca grana e grupo grande é bem provável que um jogo de 250-300 reais que se joga 1x em 4-6horas não seja o ideal. Mas a família que gasta 200 reais indo no cinema ou 400 em um jantar para 4 pessoas, é bem possível que vale sim.
Por isso minha ideia aqui é falar a minha opinião sobre o Time Stories. Por que eu resolvi comprar, por que ainda não me arrependi e como funcionou para mim a equação da grana x diversão.
O jogo é Bom?
A primeira coisa que eu preciso responder então, é se ele é bom. E a resposta é um sonoro SIM. Tendo terminado uma aventura básica e uma expansão (Marcy Case) posso dizer que estou achando uma experiência muito agradável e bem diferente das demais que tenho com Boardgame. E isso, experiência diferente, é uma das coisas que mais busco em um jogo de tabuleiro. E olha que eu não costumo gostar nem de jogo baseado em imersão ou cooperativo, e no caso, Time Stories é os 2.
O jogo funciona parecido com um livro jogo, onde você tem inúmeros caminhos e vai escolhendo qual tomar e vendo as consequências de cada caminho até chegar na vitória ou na derrota. E no caso da derrota, quando acontece, significa que você tem que começar tudo de novo do início em uma nova tentativa.
A ideia aqui é que somos viajantes no tempo, enviados por uma agência governamental para impedir ou solucionar pequenos eventos do passado. Temos de fazer isso no menor número de rodadas possível pois cada envio de volta ao passado custa caro para a agência e te penaliza no fim do jogo.
No final, pela dinâmica que acontece, hoje acho o jogo até mais parecido com jogos de computador que fizeram sucesso na minha adolescência como Full Throttle, Monkey Island, etc., onde você anda por vários lugares, fuçando nas coisas, falando com pessoas, pegando itens e tentando descobrir o mistério/caminho para evoluir. E ao tentar te dar essa sensação, o jogo funciona bem DEMAIS! O maior mérito disso está na integração da mecânica com a arte gráfica e a história do jogo.
Por exemplo, no jogo base, assim que você se transporta ao passado, você se encontra na sala de convivência de um Asilo Psiquiátrico. As cartas de local se abrem no tabuleiro te dando uma visão do que você está vendo naquele local. Você usa então seus peões para escolher em qual parte daquela sala você deseja explorar. Cada pedaço do local é representado por 1 carta. Você coloca seu peão no local e pode então, sem mostrar para os demais, ver o que está atrás daquela carta.
E podem ser várias coisas. Pode ser uma imagem, um diálogo, uma dica, um item ou pode ser um teste, onde você usa suas habilidades para passar. No jogo base, as habilidades são destreza, simpatia e combate. Então as vezes você usa destreza para tentar abrir algo, roubar alguém etc ou usa a simpatia para convencer alguém de algo. E as vezes você é atacado e tem que partir para o combate. Em todos esses casos, você precisa rolar dados que decidirão pelo sucesso ou fracasso na tentativa. Cada pessoa joga com personagens assimétricos que tem habilidades diferentes.
E o bacana é discutir o que cada um vai fazer. Pensar, se tem uma porta fechada, talvez seja melhor ir alguém com destreza ali. Mas e se tiver algo perigoso atrás, será que é bom mandar alguém que tenha combate? Mas mandar pessoas juntas significa explorar menos lugares naquela unidade de tmepo. E por aí vai. E cada cenário tem um mapa básico que pode ser deste uma planta básica de um Asilo (como no cenário básico acima) ou o desenho de uma cidade(como no Marcy Case abaixo) onde indica quais locais você pode explorar. Sendo que qualquer coisa no jogo pode mudar a partir do momento que você vai explorando lugares e cartas.

O recurso básico do jogo é o tempo. Cada vez que você se move, volta a um lugar, faz ou repete alguma ação você gasta unidades de tempo que são seu recurso mais valioso para conseguir matar o enigma daquele cenário. Se você ficar sem unidade de tempo no jogo, aquela rodada acaba, você é levado de volta ao futuro e tem de recomeçar tudo de novo. E cada recomeço é uma penalização.
Mas Vale a Pena?
E se a utilização da carta gero uma boa a imersão, usar uma trilha sonora do Spotify melhor ainda mais. Só digitar T.I.M.E. Stories (com pontos mesmo) que você vai achar. Ou usa o nome da expansão se tiver jogando uma delas. Foram bem montadas e aconselho tocar em ordem não aleatória. É muito bacana a integração temática entre a 1ª carta de ambientação que você está lendo e os barulhos da 1ª música da playlist. Ajuda demais.
Mas se já setamos aqui que o jogo é bom, a segunda questão do "VALE A PENA" é analisar o custo. Bem, o jogo básico, sai entre 250-300 reais nos leilões da ludopedia (pelo menos foi quanto paguei no meu aqui) e as expansões saem entre 120-150. Será que isso vale para um jogo que se joga apenas 1x?
Bem, primeiro vamos explicar melhor isso. O jogo vai durar umas 4-6 horas. Pode ser um pouco mais ou um pouco menos, dependendo da velocidade que vocês jogarem e que resolverem as coisas. Não é necessário jogar do início ao fim de uma aventura de uma única vez. Você pode salvar o jogo e voltar a jogar depois. Claro que fica mais difícil de lembrar alguns detalhes como, onde pegamos aquela chave mesmo, etc. Em geral eu jogo sem poder anotar nada, mas se você vai jogar 1x por mês, talvez seja necessário. Embora nesse caso, eu utilizaria um mix de anotação com memória. Algo tipo, só podemos anotar no fim de cada loop com base no que a gente lembra que fez no jogo passado.
Mas voltando novamente para o "VALE A PENA". Vale gastar até 300 reais em 1 tarde de jogo? Bem. Vamos fazer aqui uma divisão. Vamos colocar que cada aventura custa 150 reais e que a caixa básica custa R$150 da aventura básica e R$150 dos elementos físicos (tabuleiros, tokens, dados, etc) que você irá necessitar em cada cenário.
Na prática, você está gastando R$150 pelos componentes para todos os jogos e R$150 pela história. Isso significa que, em 6 expansões cada partida sai em média por R$175, sendo R$25 do rateio do custo dos componentes e R$150 da expansão/cartas de cenário em si.
Se você é daqueles que não vende seus jogos nem por um decreto, tem que pensar no que isso significa para você. Se você for comparar com euros que você pagar 200 reais e joga 20 partidas na vida, a resposta provavelmente seria NÃO VALE A PENA. Agora, você vai ter sempre um mesmo tipo de experiência jogando Euros e nunca vai vivenciar nada parecido com o que encontra em Time Stories.
Agora se você comparar isso a um programa como sair para jantar, ir no cinema com família e amigos, já dá outra visão. Ainda mais se você tiver um grupo disposto a rachar o valor do Time Stories. R$ 175 por 4 pessoas sai menos que R$ 45 por cabeça. Isso é menos do que eu gasto numa ida no Outback e provavelmente eu me divirto mais jogando Time Stories.
Outra maneira de pensar é que você pode vender o jogo quando terminar ele. O jogo base você vai ter de manter enquanto ainda quiser jogar novas aventuras, mas as expansões você pode vender assim que terminar de jogá-las. E como o mercado de usados, ainda mais de jogos importados, no Brasil é bom, é bem possível que você consiga repassá-las por 120 reais. Então meio que custou o rateio do jogo base (R$ 25) + R$ 30 reais por partida. Isso vai dar pouco mais de R$ 10 reais por pessoa, para um jogo muito bom de 4 a 6 horas de duração.
E por exemplo, se conhecidos meus já tem uma expansão que eu não tenho, sugiro a eles um escambo temporário para que cada um jogue a expansão do outro. Depois que ambos já jogaram, você ainda pode passar para frente a sua expansão.
E se a grana está curta, mas a vontade de joga-lo é enorme, é exatamente isso o que eu recomendo que você faça. Mesmo que você não rache todo valor com alguém. É um jogo muito bacana de jogar em família, entre amigos que nem são heavy gamers e tal. A mecânica é simples e basta 1 saber os detalhes das regras.
Minha esposa por exemplo, que joga RPG desde criança, disse que o jogo passou para ela a sensação gostosa que tinha jogando RPG com os irmãos de uma maneira mais curta e divertida. Já eu, que nunca fui fã de RPG lembrei das minhas tardes jogando Phantasmagoria no PC, sem o cagaço de estar sozinho, no escuro, na sala do computador me borrando por aquele jogo do demônio.
Precisa todo mundo saber ingles?
Bem, a resposta inicial seria SIM. O jogo é dependente de idioma e ele pede para que, embora seja cooperativo e você pode dividir informações com os outros, você não deve mostrar a sua carta nem lê-la em voz alta. Pode apenas descrevê-la ou explicá-la para os demais. No entanto, acho que uma adaptação caso alguém não fale inglês pode ser feita sem grandes prejuízos, jogando com cartas abertas e escolhendo 1 pessoa para ler e ambientar a todos. Eu por exemplo, não deixaria de jogar com uma filha, irmã etc, se fosse o caso, por causa disso.
As expansões valem a pena?
Aviso, no entanto, que já tiveram pessoas que me disseram que as expansões não estão à altura do jogo básico. Eu joguei apenas a Marcy Case e gostei tanto quanto o inicial. Assim que eu jogar os demais, aviso aqui o que achei. Mas no geral, tenho ouvido bons feedbacks de todas elas. Parece que algumas chegam a mudar até a mecânica e o estilo do jogo. Pelo que vi até agora me animei de comprar as outras sem nem pensar muito.
Concluindo
Faz algum tempo que eu já tenho mudado meu estilo de boardgames. Tenho preferido jogar jogos que me proporcionam uma experiência única à uma partida de otimização mecânica. Longe de mim falar mal dos Euros. Ainda são meu estilo favorito. Mas está cada vez mais difícil para mim amar um Euro novo pois sempre penso, o que essa alocação de trabalhador me traz que vai me fazer querer jogar este jogo ao invés de Russian Railroads? A resposta em geral é nada e por isso fica cada vez mais difícil de eu me empolgar com os euros novos. Encontrei então meu nicho em jogos Legacy e jogos Puzzle (esses de solucionar enigmas/mistérios) e tem sido, junto com Twilight Imperium, o que eu mais busco jogar atualmente.
Então, se você está em uma situação parecida e tem como comprar T.I.M.E. Stories, ainda que no esquema racha e depois vende, minha opinião é que VALE A PENA SIM! Muito!
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