(Análise) Harmonies
Título: Harmonies (2024)
Designer: Johan Benvenuto
Arte: Maeva da Silva
Editora nacional: Galápagos
Nº de jogadores: 1 a 4
A natureza precisa de ordem para viver em harmonia e cabem aos jogadores construírem os cenários que irão abrigar os animais – e o mais bem sucedido é o vencedor.
Resumo de Como o Jogo Funciona
Harmonies não possui uma quantidade de rodadas fixas, tendo uma partida encerrada quanto todas as peças são retiradas de uma sacola ou até que algum dos jogadores tenham apenas dois (ou menos) espaços disponíveis para colocar novas peças em seu tabuleiro individual. O objetivo do jogo é acumular pontos através da colocação de peças e alguns cubos, que são adicionados de acordo com o posicionamento das peças. Um turno é composto por uma ação obrigatória, no qual o jogador pega 3 peças em um mostruário com várias disponíveis e aloca em seu tabuleiro pessoal e, depois, por duas ações opcionais e consistem no jogador pegar novas cartas (que geram pontos e apresentam novas estruturas necessárias para colocar cubos) e/ou adicionar cubos, que representam animais (que são adicionados quando o jogador possui estruturas semelhantes às das cartas que já possui). Quando a partida se encerra, pontos são somados levando em conta as peças e cubos colocados. Vence o jogador com maior pontuação.
Mecânicas Principais: Colocação de peças.
Critérios
Ø Qualidade dos Componentes
DENTRO DO ESPERADO: Cartas de boa gramatura; Caixa feita com boa gramatura; Tabuleiros de boa gramatura; Manual de boa gramatura e bem escrito.
PRÓS: Peças em madeira pintadas de excelente qualidade; Vem um organizador de papelão na caixa que é funcional.
CONTRAS: A caixa tem um tamanho que não é convencional (21cm x 21cm), então fica meio difícil de encaixar com as outras na prateleira; A sacola de tecido é bem simples e parece um pouco frágil; Os tabuleiros que vieram na minha cópia (e li outras pessoas relatando o mesmo) estavam levemente envergados – mas um pouco de cuidado e força os endireitaram; Uma carta veio errada nessa edição, só que a Galápagos possui...A reposições, então eu quaaaaase elogiei a Galápagos, mas não deu, pois existe gente com o jogo que precisa repor e – até o momento dessa postagem – as cartas disponíveis para reposição acabaram (caso alguém precise saber é uma carta vermelha de espírito com uma Garça, onde está escrito ‘4’ e deveria ser um ‘6’).
(Todos os componentes)
Ø Tempo de Preparação de Partida
Baixo. Abriu a caixa, tirou as coisas de dentro (que são cartas, ziplock com cubinhos, tabuleiros e um saco já com as peças dentro), entregou alguns cubinhos e um tabuleiro para cada jogador, embaralhou as cartas e abriu 4 na mesa e fim. Rapidão. Para terem ideia o quanto é rápido, eu tenho partidas solo que contando o abrir e fechar da caixa deram 21minutos ao todo (incluindo a partida – eu tenho bem pouco AP jogando sozinho).
Ø Arte
PRÓS: É um traço moderno, com uma paleta de cores bem viva, com iconografia fácil de entender. Cada carta eu achei uma pequena obra de arte, sinceramente, o que para mim justificou as cartas serem do tamanho grandão que são, uma vez que funcionalmente se fossem do tamanho Padrão já estariam ok; As peças de madeira achei que são cheias de estilo e por não serem perfeitamente redondas ficam mais charmosas e únicas.
CONTRAS: Os tabuleiros achei bem sem graça. O tabuleiro central (onde ficam as peças para serem selecionadas) não representa nada e os tabuleiros individuais são sem vida, podendo ter sido feitos com mais cores (mesmo que em tons pastéis para não poluir visualmente e dificultar enxergar as peças de madeira já alocadas), gerando uma maior unidade entre as cartas e os tabuleiros.
(Algumas das cartas de animais. Padrão em baixo, local de cubos e pontos no canto superior direito)
Ø Curva de Aprendizagem
Média. O jogo é simples em regras e acessível para qualquer público, porém não vamos confundir profundidade de regra com facilidade em ir bem. É preciso de algumas partidas para pegar as manhas de onde arriscar colocar uma peça, como fazer uma leitura de como as exigências das cartas conversam entre si e como fazer um bom uso do limitado espaço do tabuleiro individual sem ficar ‘preso’ ou ‘arrependido’ em turnos futuros. Harmonies é um daqueles jogos que na superfície parece bobinho, mas quando jogado entre pessoas experientes, um vacilo pode fazer a diferença.
(Tabuleiros de jogadores. Possuem dois lados para maior fator rejogabilidade)
Ø Presença de Tema
Média. Harmonies é daqueles jogos que o manual não tá nem aí para te explicar o tema, cabendo ao jogador fazer as conexões do que faz ou não sentido durante a partida, porém a beleza do jogo e até mesmo os cubinhos serem da cor âmbar (ou transparentes no caso dos Espíritos da Natureza) ajudam a amarrar o tema com a estética, mas sendo muito crítico, as mecânicas não se atrelam exclusivamente ao tema ‘animais’. Poderia ser a exata mesma mecânica e no lugar de cubos de animais e peças que representam campos, rios, florestas e montanhas serem cubos de cidadãos e cenários urbanos, com prédios, fábricas, casas e estradas? Totalmente sim. Alienígenas no cosmos? Dava também. Bactérias e corpos estranhos vistos em um microscópio? Não vejo o motivo de não ser. APESAR disso, como foi feito e pensado funciona lindamente! As estruturas nas cartas fazem bastante sentido em sua maioria, por exemplo: Falcão (obs: as cartas não tem os nomes dos animais, então estou batizando de acordo com o que acho que é) é colocado no topo de uma montanha alta com campos em seus pés; morcegos ficam em montanhas (cavernas) ao lado de altas árvores; Coalas ficam em árvores médias ao lado de gramados; Patos, em lagos perto de casas; e assim por diante. É até prazeroso ao final da partida ver como ficou nosso tabuleiro individual e ficar pensando: “Olha só, aqui passa um rio com jacarés, do lado tem um campo que forma um vale por causa desses dois conjuntos de montanhas, que no seu pé tem um pequeno vilarejo cheio de coelhos”. Esse momento de contemplação faz parte da partida, intencionalmente ou não adicionado pelo gamedesigner, e achei sensacional. Por fim, não posso deixar de elogiar a escolha pelo título do jogo, que casa muito bem com a ideia de ter uma sinergia entre as cartas durante a partida para pontuar bem e o próprio momento ‘calma que tô curtindo a paisagem aqui’ descrito na frase anterior.
(Cubos e peças de madeira. A peça caiu no chão? Tudo bem... só torço para que não saia rolando.)
Ø Rejogabilidade
Alta. Apesar da simplicidade do jogo e repetição de pouquíssimas ações (só 3 na verdade: escolher e colocar peça, escolher e pegar carta, decidir se vai colocar cubinho ou esperar mais) o fluxo de jogo me é prazeroso e pelo fato das partidas serem curtinhas, dificilmente pegamos mais do que umas 5 ou 6 cartas diferentes por partida e como elas possuem sinergia (ou não) na colocação das peças é sempre bem interessante ver como duas ou mais cartas funcionam (ou não) juntas. Contudo, acredito e entendo se alguns daqueles jogadores que preferem jogos mais parrudos, complexos e cheios de caminhos alternativos, digam que Harmonies não vá ter uma vida muito longa em suas coleções.
(Foto de uma partida em 2 jogadores rolando!)
Ø Interação
Média. E é a ‘média na medida certa’. Basicamente a interação reside em quem pega peça ou compra carta que você queria, fora isso: nadicas ...e isso é ótimo! Eu elogio essa pouca interação pelo fato de que já é complicado você ter as peças que quer, no momento que quer, vindo acompanhada de outras peças que quer, para casar com alguma carta que tenha, DAÍ se além de tudo isso existisse alguma mecânica de um danadinho ir lá e interagir (leia: atrapalhar) o seu jogo com algum efeito negativo, seria punitivo (leia: chato) demais. Portanto, a interação residir apenas nas compras de componentes acho que está de excelente tamanho (fora que o nome do jogo remete a concórdia e não a conflito).
Ø Fator Sorte
Relevância na partida: Média. É o mesmo problema de jogos do estilo: temos que nos virar com o que o mercado nos oferece e pronto. Não que isso seja necessariamente ruim, já que atinge a todos os jogadores de forma igual e nos força a sermos mais táticos (pensar em curto prazo) do que estratégicos (a longo prazo). Contudo, senti falta (mas bem pouquinho mesmo) de alguma habilidade ou coisa para mitigar um azar (como você precisar muito de um tipo de peça e nunca aparecer 3 de uma vez só juntas quando vai ser o seu turno). TALVEZ – dando um pitaco aqui – se as cartas de Espíritos, além de pontuação relacionada com as peças, liberassem alguma habilidade (mesmo que de uso único), seria um diferencial bem interessante entre os jogadores (fica o pedido para uma possível expansão, Johan).
(Um exemplo – real – de como fica o tabuleiro individual ao final da partida)
Ø Fator Estratégia
Relevância na partida: Alta. A sorte impacta todos igualmente, logo perder ou vencer é mérito dos jogadores. Não será uma colocação tosca que vai te tomar pontos tão preciosos, mas uma sucessão de más escolhas (ou uma escolha tão ruim que crie um efeito dominó em sua partida). Saber ocupar bem o espaço do apertado tabuleiro individual, aprender quais cartas de animais tem melhor sinergia conforme vão aparecendo no mercado, saber quando colocar um cubo de animal ou utilizar aquela estrutura de peças para outra coisa depois, decidir se vai pegar as 4 cartas permitidas de uma só vez ou deixar um espaço em aberto para ver o que aparece, são exemplos de tomadas de decisão que os jogadores fazem a cada turno e isso acho excelente. Cada pequena escolha acaba sendo uma renúncia e acho que todo jogo que se propõe a ter um quebra-cabeça precisa fazer isso a maior quantidade de vezes possível e Harmonies entrega isso. Para encorpar mais a relevância da estratégia, a pontuação é bem afinada. A colocação de peças importa tanto quanto os cubos/animais e o balanceamento entre a importância das coisas me pareceu, até o momento, bem redondinho, ou seja, se um jogador sabe jogar bem e entendeu como extrair o máximo de pontos das oportunidades que lhe aparecem durante a partida: ele consegue uma pontuação equilibrada em todos aspectos.
(A caixa por dentro. Essa parte levantada é uma ‘tampinha’ mesmo!)
Ø Preço e Valor Percebido
Bom. Considerando a qualidade das ilustrações e, principalmente, das peças de madeira (incluindo tamanho e pintura), acho que pagar atualmente R$230 em média é um valor razoável. Por se tratar de um jogo familiar e rápido, o que aumenta bastante suas chances de ver mesa, o valor-por-partida acaba se pagando rapidamente. Na questão de valor agregado, acho até ‘melhor que bom’, uma vez que essa entrega de satisfação e realização ao final da partida – além da beleza, me impactam bastante. O problema real, e vou ser muito franco com vocês, guerreirinhas/os que me acompanham, são alguns seres humanos. O que acontece: o jogo esgotou. O jogo é bom (eu reforço: é ótimo!). O jogo bombou aqui e bombou ainda mais lá fora. Com isso, ATUALMENTE, tem gente anunciando o jogo (seja lacrado ou usado) por até R$400... (deu pra sentir o impacto? Não? Então repito: QUATROCENTOS REAIS!!!). Esse jogo não vale isso e, nem-me-desculpa, mas eu acho uma p#t@faltadesacanagem quem compra um negócio e revende pelo dobro (ou mais caro do que pagou em geral). Não é só questão de ‘lei de oferta e procura’, é sacanagem mesmo, é querer tirar vantagem sobre a vontade alheia. Quer ter lucro com jogo de tabuleiro? Abre uma loja. Abre um café-com-jogos. Faz evento. Promove o hobby. O que não faltam são ideias (só que elas dão trabalho, né? Pooooxa). Agora, querer lucrar 2x o que pagou (ou seja: tá levando bem mais do que o lojista que te vendeu e tem todos impostos, propaganda, funcionários e etc. para estar ali) é pedir para tomar um block atrás do outro em jogatina – e de todos da mesa (e isso se te chamarem!).
(Print das ofertas do jogo retirado da Ludopedia em 13/07/24 para registrar o absurdo)
Ø BÔNUS: Algumas dúvidas corriqueiras:
- Funciona com qualquer quantidade de jogadores? Sim! Apesar do modo solo ter uma vibe um tiquinho diferente no que tange a estratégia, funciona igualzinho em 2, 3 ou 4 jogadores.
- É possível jogar com crianças? Sim, mas como sempre, não espere que elas joguem tão bem quanto um adulto deveria para pontuar bem. Dependendo da idade, talvez adicionar uma regrinha de ‘pode voltar jogada uma vez’ ou ‘pode mover uma peça já colocada uma vez’ seja interessante para não gerar muita frustração, já que é comum no jogo soltarmos uns ‘Putz, se na rodada anterior tivesse colocado esse negócio aqui ao invés dali seria lindo agora!’.
- Dá para jogar sozinho? Dá e é legal. Tem até um modo campanha feito por um gringo (e traduzido pela Oficina de Variantes) disponível nos arquivos da Ludopedia. Só que o modo solo perde um pouco do senso de estratégia (o ‘pensar a longo prazo’), já que existem menos peças disponíveis por vez e todas as que não foram escolhidas são descartadas, diferente do modo multijogador que algumas sobram e podemos - ao menos tentar – prever o que vai ficar e o que faríamos com aquilo. O modo solo original é o velho ‘Bata seu Recorde’ e acho que tudo bem, pois o jogo em si é um passatempo prazeroso e é rapidinho. Uma coisa que gostei foi a conversão de pontos em “Sóis”, criando uma espécie de ranking pessoal, pois dessa forma é mitigado que a diferença de apenas um ponto represente que o jogador foi melhor ou pior entre diferentes partidas.
- Então... e sobre outros jogos parecidos? Então... eu não sou muito de abstratos/colocação de pecinhas. Falando de uma forma geralzona, acho que o Azul é supervalorizado (aquele de Sintra é para mim o melhor), Reef, Cascadia, Project L, Gorinto e Coatl tão ali num meio do caminho entre Bom e Excelente. Calico acho excelente. Sagrada acho excelente. Roll Player acho excelente. Só que Calico, Sagrada e Roll Player exigem mais massa encefálica sendo assada em nossos crânios. Verdant, Agueda achei bem fraquinhos. Dito tuuudo isso, se tiver por um preço JUSTO, acho que Harmonies é a melhor opção para quem quer algo mais leve. Se quiser algo mais complexo, Calico, Sagrada ou Roll Player. Algo baratinho: Caveiras de Sedlec é a pedida.

RESUMO RAPIDÃO
O que gostei:
- Arte excelente;
- Componentes excelentes;
- Tempo de partida (30min +/-);
- O sentimento de satisfação ao ver o cenário final.
O que não gostei:
- O formato da caixa que é fora dos padrões mais convencionais;
- Se quiser jogar algo mais pesado e complexo, não vou escolher esse (Cadê o Calico?).
(ps: análise completa do Calico em:
https://ludopedia.com.br/topico/61949/analise-calico)
Considerações finais:
Eu amei o jogo. Esse é o resumo. Harmonies entrega um jogo rápido, com um excelente leque de escolhas dentro de uma estrutura simples e amigável, é bonito e ainda deixa uma sensação de “olha que cenário bonito. Eu que fiz!

“. É interessante, ainda, notar que existe espaço para novidades em possíveis expansões, como empilhar peças amarelas (plantações?), azuis (cachoeiras?), peças coloridas sobre peças cinzas (planaltos?) e assim por diante. Vejo em Harmonies a criação de um sisteminha de colocação de peças muito interessante, mas que ainda tem margem para ser mais explorada. Espero que venham novidades (e que a Galápagos não as ignore, como costuma fazer com um monte de jogo por aí).
Um texto de
Raphael Gurian
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em análises de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
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