(Análise) Forrageio
Título: Forrageio (2024)
Designer: Mark Tuck
Arte: Mark Tuck
Editora nacional: Mosaico
Nº de jogadores: 1*
*Dá para jogar em modo multijogadores, mas é preciso de 1 cópia do jogo por jogador.
Personifique-se como um pequeno animal do bosque e saia em busca da coleta dos vegetais mais gostosos, para fazer as melhores receitas, em Forrageio, um compacto jogo para jogar solo.
Uma Breve Introdução
Cada vez mais me vejo ocupado com trabalho e outras tarefas que não me permitem participar daquelas jogatinas boas de final de semana, que começavam as 19h da sexta e se estendiam até o raiar do sol no dia seguinte. Com isso, me vejo jogando cada vez mais joguinhos solo, daqueles de montagem curtinha e partida rápida. Essa minha vida de solista acabou me levando ao grupo Mesa Pra Um, e lá, o tanto que a galera joga e conversa eu não tenho condições nem de medir, não aprendi a contar até um número tão alto (sem exagero agora, teve uma vez que fiquei fora do WhatsApp quase que o dia inteiro, no começo da noite fui ver e tinham mais de 1500 notificações!). Dentre tanta falação, falaram muito em uma época sobre este jogo chamado Forrageio.
Um dia, à toa, achei um a venda. Comprei. Me espantei pra caramba! É um tremendo jogo, um baita quebra-cabeças em uma pequena (mas extremamente resistente) caixinha. Forrageio não é um jogo simples e bobo, ao mesmo tempo, não tem regras complicadas e nem detalhes complexos. Amei o jogo, então, lhes trago esta análise.
Resumo de Como o Jogo Funciona
Existem dois modos de jogo, um mais simples, que consistem em bater o seu recorde e outro mais avançado, no qual o jogador possui uma pontuação específica para atingir e algumas condições que lhe gera bônus na pontuação. Contudo, de uma forma geral, o jogo funciona em ambos os modos da mesma forma.
O jogador possui duas cartas em sua mão e existe uma carta (ou cartas) já colocadas na mesa. O turno do jogador consiste em baixar uma carta da mão (e comprar uma nova, caso exista ainda na pilha), com a finalidade de combinar cores iguais (amarelo, marrom ou verde). Caso a combinação dê certo, o jogador adiciona (caso não tenha) dados ou aumenta (caso tenha) o valor de dados presentes na mesa. Por outro lado, se cores não combinam, entram dados com valor -2. Quando acaba a partida (após 9 cartas estarem em jogo), somam-se os valores dos dados, subtraem-se pontos negativos e fim: o resultado é a pontuação do jogador.
No caso do jogo avançado, a diferença é que os versos de todas as cartas possuem condições especiais que geram bônus e um valor numérico. Na preparação o jogador sorteia duas cartas destas, soma os valores e esta é a meta a ser batida, assim como também ativa as condições extras de pontuação (presentes nas mesmas cartas).
Mecânicas Principais: Gestão de Mão.
Critérios
Ø Qualidade dos Componentes
PRÓS: Caixinha extremamente resistente! Na verdade, é uma caixinha dupla, pois existe algo como uma ‘luva’ da mesma gramatura que a caixa, logo, fica muito firme; Dadinhos com ótimo acabamento; Existe um marcador de ratinho, feito de madeira, de ótima qualidade.
CONTRAS: Achei que o manual não é lá muito bem escrito; A caixa apesar de seu excelente material, gramatura e acabamento, apresenta um defeito grosseiro, rude, vacilão: a luva abre para cima! Ou seja, se você segurar a caixa na mão e descuidar só um pouquinho, o conteúdo da caixa vai todo para o chão e você fica só com o negócio que parece uma tampa e uma cara de tonto (já aconteceu comigo – apesar da cara de tonto ser a habitual). Bastava a caixa ‘subir’ na luva (ao invés de descer) e estava resolvido.
EM CIMA DO MURO: Cartas de boa qualidade, sem muito o que elogiar, mas tá bom assim.
(Todos os componentes)
Ø Tempo de Preparação de Partida
Baixa. Basta decidir qual o modo de jogo (simples ou avançado), embaralhar as cartas, separar nove delas, abrir uma na mesa (ou três no modo avançado), comprar duas cartas para mão e fim. É realmente muito rapidinho, já calculei e nem deu um minuto com toda paz do mundo.
(Os dados customizados e o ratinho de madeira)
Ø Arte
PRÓS: É bem simples, mas bonita. O lado avançado das cartas apresenta ilustrações minimalistas, mas em ‘fofinhas’.
CONTRAS: Escrever é uma arte e acho que a arte da escrita do manual tá médio pra mal. Quando li o manual a primeira vez, sem ter visto nenhum outro material de instrução (como vídeos), boiei. A parte que fala do “Se tal coisa acontecer...” achei confuso e precisei de umas boas três lidas e um reforço do Sr. Romir para internalizar quando acontece cada coisa, contudo, reforço, o jogo é bem simples, foi mais uma leitura de um bloco de texto que me atrapalhou.
(A luva abrindo pra cima, cuidado para não deixar tudo cair!!!)
Ø Curva de Aprendizagem
Média. Passada a confusão com o manualzinho (que dá exemplo em ilustração, mas achei que ficou meio muçarela, meio mal elaborado), o jogo é simples... DE REGRA. Já de ‘aprender a jogar bem’ é outro nível. Forrageio é um daqueles jogos que misturam sorte na compra de cartas com uma noção tática que precisa ter no fundo da mente uma estratégia bem definida. O que quero dizer com isso é que não basta ver uma jogada boa agora, é preciso saber montar as cartinhas para que – se der sorte – uma outra carta que estamos esperando (pois já decoramos que ela existe) apareça e aí aconteça a maravilha do combo perfeito. Comigo, as primeiras partidas foram tiveram uma pontuação péssima, sofrível. Depois de umas 10 partidas, acho que peguei um pouco o jeito e continuei passando vergonha, mas menos. Hoje, umas 30 partidinhas depois, ainda faço jogada que depois penso “Nuuussa, que cagada fiz aqui dois turnos atrás”, mas minha pontuação aumentou um bocado.
(As cartas. De um lado, os terrenos, do outro – no verso, a parte com objetivos)
Ø Presença de Tema
Baixa. Eu queria colocar média, afinal é um jogo pequeno, quase minimalista na arte, logo não é uma obra que se espera muito, maasss....fiquei confuso! Somos animais procurando alimentos silvestres em diferentes áreas da floresta (isso tá até no manual) e na logomarca do jogo temos um ratinho clássico peladinho. DAÍ qual o motivo das cartas no modo avançado ter receitas? E pior, ter objetos desenhados? E não são objetos tipo “achei uma cesta de piquenique aqui”, não, tem cartas, por exemplo “Da vovó”, com um livro aberto a ilustrando, ou outra com um avental chamada “Caseiro”. Mecanicamente, tudo funciona lindo, mas tematicamente, acho que rolou uma preguicinha. Fiquei sem entender se somos animais reais ou antropomórficos, já que a ilustração da caixa parece uma coisa, mas as cartas fazem interpretar de outra forma. Acho que se as cartas ‘de receita’ fossem coisas que achamos pela floresta, um piquenique, uma maçã caída, sei lá, fariam muito mais sentido. Em resumo: jogue pela mecânica, pela fofura e pelo desafio, mas não ache que o jogo vai contar uma estória muito rica.
(Mais exemplos de objetivos, que se encontram no verso das cartas de terreno)
Ø Rejogabilidade
Alta. Obviamente, por ser um jogo estritamente solo (salvo tenha duas ou mais cópias do jogo, mas basicamente viram partidas simultâneas, usando cartas iguais – cada uma proveniente de uma cópia do jogo - e no final comparam pontos) e também com pouquíssimos componentes, as partidas não vão ter muitos elementos para comportar uma explosão de possibilidades, contudo, tendo em mente essa particularidade, acredito que a rejogabilidade é alta. Pensando apenas no modo básico, não temos uma variedade muito grande, até mesmo pelo fato do lado das cartas com o solo/vegetais não serem tão diferentes uma das outras a ponto de ficarem na memória do jogador. Contudo, a implementação dos objetivos traz uma variação muito boa! Além de cada partida ter uma pontuação alvo diferente (que vai variar entre 36 e 68, uma vez que a menor carta tem 18 e a maior 34, e tem mais de uma com cada pontuação dessas), cada junção de dois objetivos fazem o traçado da partida ser guiado por diferentes possibilidades na mente do jogador.
(Uma partida rolando)
Ø Interação
Nula. Não tem. É pra jogar sozinho. Se tiver mais de uma cópia, cada jogador joga com a sua, mas na hora de comprar cartas, alguém da mesa fala qual comprou, os demais procuram por ela e aí colocam, cada qual em seu próprio ‘mapa’ a sua frente. Dessa forma, nem num multijogador (que é forçado e precisa de uma cópia do jogo por jogador) realmente tem interação. Vira apenas um ‘jogar ao mesmo tempo, com a mesma variação, eliminando a aleatoriedade, para ver quem pontuou mais’. Achei uma ideia bem boba esse multijogador, na verdade, e continua com interação nula. Dá pra simplesmente jogar uma partida, anotar a ordem das cartas e outro jogar depois, para comparar pontuações.
Ø Fator Sorte
Relevância na partida: Média, mas quase Baixa. Refleti bastante nesse tópico. O que acontece é que a ordem das cartas, obviamente influenciam as nossas jogadas. Porém, as cartas não são tão diferentes assim. O que surpreende também, para quem não sacou até agora, é que os dados não são rolados. Em teoria, nem dados são, mas apenas cubos. Eles servem apenas como marcadores de pontos, não como objetos que são tacados para gerar um valor aleatório dentro de uma gama de possibilidades. Dessa forma, a sorte consiste exclusivamente na compra de cartas, que nem variam tanto entre si. Ainda assim, é possível ter aqueles momentos do “Noossa... tal carta aqui caberia lindamente, mas ela nunca vem!”
(Cabe tudo na caixinha – e até caberiam mais dadinhos!)
Ø Fator Estratégia
Relevância na partida: Média. Tem o lance da sorte, que comentei acima, mas não adianta colocar carta pensando “aqui vou deixar pra quando vier aquela carta lá”, já que o jogo vem com 18 cartas e apenas 9 entram em partida, logo uma carta que você decorou, pode nem estar presente dessa vez dentre as que vão entrar em jogo. É preciso, portanto, entender bem a dinâmica do jogo. Saber quando colocar dado novo, como fazer jogadas que possibilitem com maior facilidade sobrepor terrenos e aumentar o valor de dados, entender quando objetivos são mais vantajosos de serem seguidos ou não (pois muitos dão relativamente poucos pontos, muitas vezes valendo mais a pena melhorar um dado ao invés de buscar um objetivo), entre outras coisas é muito importante. Forrageio, eu diria, é uns 40% sorte e 60% estratégia, sendo 40% de curto prazo e 20% de longo prazo.
Ø Preço e Valor Percebido
Bom. Não vou ser puxa saco de editora e dizer que tá bom o preço. Não tá. O valor cheio hoje varia entre R$85 e R$95, o que é muito para um jogo com apenas 18 cartas e alguns dadinhos, para ser jogado por apenas um jogador. Porém, a qualidade dos componentes é totalmente excelente, até exagerada para a proposta na minha opinião. Eu mesmo preferiria que o jogo saísse por R$49 no valor cheio e a caixa fosse mais simples e mesmo o ratinho de madeira fosse um marcador cartonado. Ainda assim, o jogo vale se pensarmos a quantidade de vezes que viu mesa. Eu joguei muitas partidas dele e é fácil de carrega-lo por aí (certa feita, minha mãe fez uma cirurgia – tá tudo bem com ela já! – e eu fiquei encarregado de acompanha-la na internação. Joguei várias partidas de Forrageio enquanto ficava à toa no quarto). Logo, pensando nesse sentido de ‘quantidade de vezes que usufrui do produto’, posso dizer que Forrageio se pagou muito mais do que alguns outros jogos maiores, que custaram na casa das centenas de reais, e eu joguei muito menos vezes, tendo muito menos horas de jogatina.

RESUMO RAPIDÃO
O que gostei:
- Arte bonita;
- Componentes excelentes;
- Regras fáceis;
- Tempo curto de partida;
- Boa variabilidade com as ‘receitas’;
- Compacto, sendo fácil de carregar;
- Ocupar pouco espaço na mesa.
O que não gostei:
- A caixa abrir para cima deixa a possibilidade de, por um vacilo, derrubar o conteúdo;
- A caixa também poderia ser mais simples, para baratear o produto (caixa é um negócio caro!);
- Tema ficou meio desconexo devido a escolhas estéticas.
Considerações finais:
Forrageio pode não ser a melhor experiência solo que já conheci, mas certamente é a melhor experiência de solo compacta que já conheci. Também recomendo fortemente Sprawlopolis (análise completa em:
https://ludopedia.com.br/topico/47770/-analise-sprawlopolis), Palm Island (análise completa em:
https://ludopedia.com.br/topico/69146/analise-palm-island) e Caveiras de Sedlec (tô devendo análise completa desse), porém, Forrageio se tornou para mim o melhor jogo dentre os outros três citados. Tudo bem, que ele dá uma trapaceadinha já que tem dados, elemento que nenhum dos outros têm, mas mesmo assim, leva o troféu de melhor jogo numa caixinha.

Um texto de
Raphael Gurian
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em análises de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
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