Eu gosto de jogos de movimentação escondida! Isso precisa ficar claro desde o primeiro momento deste review. Desde Interpol, passando por Fury of Dracula, eu curto bastante esse joguinho de gato e rato. E foi por isso que, quando eu ouvi o canal Man vs Meeple falar que Narcos redefine o gênero de movimentação escondida, eu fiquei entusiasmado com o jogo. E durante as últimas semanas, desde que consegui a última cópia vim pensando no que escrever sobre ele e é por isso que estamos aqui.
Narcos é jogo baseado na série homônima sobre a história de Pablo Escobar. Em Narcos, assim como em Fury of Dracula(FoD), Interpol, Last Friday ou Cartas de Whitechapel há um “Overlord” que joga de Pablo Escobar enquanto os demais jogadores jogam de alguma facção que tenta descobrí-lo. Mas se é igual a tanto jogo, o que ele tem de diferente?
Bem, antes de mais nada, é importante você entender o jogo. Em Narcos 1 jogador joga com El Patrón (o nome Pablo Escobar não pode ser usado por questões de direitos autorais) e os demais jogam com as facções dos Caçadores (DEA, Polícia Colombiana, Los Pepes e Cartel de Cali) que buscam por toda região colombiana pelo esconderijo de Pablo. O jogo é jogado até que Pablo cumpra 3 missões ou ganhe influência o suficiente para se tornar Presidente da Colômbia, cargo esse que Escobar chegou a cogitar de fato. Já os caçadores, vencem quando capturam Pablo Escobar por 2x.
No jogo, ao contrário de outros jogos de movimentação escondida, Pablo Escobar não se movimenta. Ele fica parado e cada turno seu ele coloca seus Sicários no tabuleiro com poderes de atrapalhar a caça e peitar as facções. Você usa e abusa dos poderes de seu primo Gustavo, teu guarda costas Blackie, os capangas Poison e o sempre carismático, La Quica, que tem um poder especial no jogo muito bacana. E os turnos se revezam, hora Pablo ativa um Sicário, hora uma facção ativa seus 2 membros, tentando aumentar o cerco ao Patrón e destruir as fazendas de Coca ou enfrentar um Sicário pelo caminho.
Mas o bacana do jogo é que que cada Sicário só pode ser jogado a uma certa distância do Pablo. E os Sicários mais fortes, são aqueles mais próximos do Patron, e com isso, só podem ser jogados a uma distância curta de onde ele está escondido, revelando assim uma pequena área onde Escobar poderia estar. E por que isso é tão bacana?
Bem, a grande vantagem dessa mecânica, está no fato dela corrigir um dos maiores anticlímax de jogos de movimentação escondida: o overlord fujão.
Todos nós jogamos para ganhar, mas também para nos divertir. E se jogos de movimentação escondida tem um problema, é o fato de que, em geral, sempre vale a pena para o Overlord jogar exclusivamente tentando fugir e se esconder. Por mais chato que isso seja.
Eu por exemplo, ao jogar de Dracula no FoD, me escondo. Mas se estou perto de um caçador sozinho, aproveito pra aparecer e atacá-lo. Isso, probabilisticamente, não maximiza minha chance de ganhar, mas faz de toda partida muito mais divertida. E o que Narcos tem com isso?
Bem, justamente pelo fato do Pablo Escobar não se mover, ele não tem como fugir. Ele fica parado em um lugar enquanto, seja pela utilização dos Sicários, ou seja, pela investigação dos Caçadores, o perímetro de busca vai sempre se fechando e aumentando a possibilidade de captura-lo. Não é um mero jogo de tentativa e erro. É um jogo de redução de possibilidades e por isso a tensão de poder captura-lo ou deixa-lo escapar no último segundo sempre está lá. Há sempre a sensação de estar quase pegando ele, coisa que nem sempre acontece em outros jogos do gênero onde as vezes você anda meio que ao léu torcendo para que o espírito santo lhe envie uma dica. E isso, além de aumentar a diversão do jogo, é super temático.
Tudo aliás, em Narcos, é bem temático. É tipo a implementação da Netflix no tabuleiro. Ponto para Fel Barros e Renato Sasdelli aqui. Não conheço o Renato, mas sei que o Fel é um eurogamer e me surpreendi em como ele conseguiu amarrar tão bem tema no jogo. Embora o número de rodadas seja aberto, o jogo em geral, dura 3 temporadas, assim como a série. Isso por que, nesse período, o Pablo provavelmente terá influência suficiente para ser Presidente da Colombia ou vai estar próximo de completar suas missões.
Uma coisa que eu curti muito no tema do jogo, por exemplo, foi a implementação dos poderes de Pablo Escobar através da sua riqueza. No jogo, ele pode produzir fazendas de cocaína que servem para lhe dar dinheiro. E quanto mais dinheiro ele tem, mais poder ele consegue dar aos Sicários. E ao mesmo tempo, Pablo pobre é um Pablo capenga, com poder limitado além da sua fama e imagem. Também é bacana ver que a condição de vitória dos caçadores é capturar o Patrón 2 vezes, afinal, assim como na vida real, quando todos acham que capturaram Escobar, ele foge mais uma vez.

O tema aliás, é também o ponto polêmico do jogo. Afinal, estamos falando de um jogo sobre tráfico de cocaína. Vamos combinar que não é pra todo mundo né? Imagina um pai, sentado no chão com o filho de 12 anos dizendo "agora eu vou enviar esses 4 kgs de Cocaína para Miami por 60 mil dólares e depois vou dar 40 mil para o Blackie assassinar o comandante da Polícia Colombiana". Até mesmo do lado dos caçadores há um certo politicamente incorreto. Duas facções ali (Los Pepes e Cartel de Cali) são tão traficantes quanto Escobar e não estão em uma caçada altruísta contra ele. Agora, esse tema também vai atrair muitos adultos que assistiram e curtiram a série da Netflix e principalmente, que conseguem entender que ninguém vira ladrão por que jogou GTA no videogame.
Esse apelo do tema aliás, me traz a outro ponto positivo no jogo que é a capacidade de atrair novas pessoas para o Hobby. Como ele é semi-cooperativo (4 contra Overlord), como ele tem regras relativamente simples e intuitivas, ligadas ao tema, e como é um tema que atrai muito fã da série, acho Narcos um excelente jogo para atrair pessoas que nunca jogaram nada. Obvio que você não vai dar para essa pessoa controlar o Pablo Escobar sozinha de cara. Mas uma das facções, tomando decisões em conjunto, dá fácil. Isso por que o conceito de ele pode estar em qualquer lugar e você vai reduzindo as possibilidades e fechando o perímetro é muito fácil para qualquer um entender. Diria que ele é mais fácil de explicar até que Last Friday, que é um jogo que já vi muita gente usando para introduzir pessoas ao Hobby. Além de ter a vantagem de não ser horroroso como Last Friday é.
Um detalhe gostoso de se notar em Narcos, é o fato de que termos pelo menos um autor mais Euro parece ter trazido um ar um pouco mais “elegante” às regras do jogo. Pode ser viagem minha, mas pareceu que o jogo tentou se basear mais numa simplicidade de Interpol adicionando as regras para ser temático do que na complexidade de Fury of Drácula sendo lapidado para encaixar no tema. Eu também notei o dedo dos autores no tempo de jogo. Sempre ouço o Fel falando de jogos que demoram além do necessário e fica óbvio como isso foi uma preocupação em Narcos. Ao contrário de FoD que a regra demora 1 hora e as partidas as vezes chegam a durar 3 ou 4, Narcos pode ser explicado em 20 minutos e jogado entre 1h30 e 2hs facilmente. Posso até estar viajando nessa minha conclusão, já que não conversei de fato com eles sobre isso. Mas que essa impressão ficou, é fato!
No final, eu curti muito Narcos, seja pela simplicidade, seja pelo Tema. Aliás, principalmente pela implementação no tema. Não ouso dizer ainda que ele virou a referência do gênero como disse o Man vs Meeple. Também não ouso dizer que é melhor que Fury of Dracula, que foi muito citado aqui por ser, até então, meu favorito disparado e referência do gênero. Mas a verdade é que, seja pelo tema com apelo popular, seja pela facilidade de explicá-lo ou pelo tempo bem mais curto de jogo, é capaz que Narcos tome completamente o espaço (já não muito frequente) do Fury of Dracula nas jogatinas aqui de casa.
Não é todo dia que eu quero jogar um jogo de movimentação escondida. Não é todo dia que eu coloco um jogo semi-cooperativo com Overlord na mesa. Então quando isso acontece, acho muito mais fácil que eu acabe colocando um jogo de 2 horas que eu consigo explicar e jogar com quaisquer pessoas do que um de 4 horas que eu preciso dos amigos específicos que também curtem o estilo.

Não ache, no entanto, que esse jogo será um sucesso para qualquer um. Lembre-se bem da minha primeira frase do texto: “Eu gosto de jogos de movimentação escondida!”. Para muitos Narcos tem seus defeitos. Como todo jogo de Overlord por exemplo, se discute se há uma diversão muito maior para quem joga de Pablo versus a quem joga de caçadores. Há ainda o fator sorte, sempre presente nesse tipo de jogo pois dificilmente você saberá deduzir onde ele está com 100% de certeza usando apenas as ferramentas do jogo. E por último, há uma certa sensação de Take That do lado del Patrón ao jogar cartas que bagunçam completamente a vida dos seus inimigos.
Mas para mim, que já joguei dos 2 lados, me pareceu equilibrado e divertido das duas maneiras. E quanto a sorte na dedução, eu chamo de leitura de mesa e meta game, onde você olha nos olhos do teu amigo traficante e blefa onde ele se esconde para ver sua reação. E com relação as cartas? Elas para mim dão a graça do jogo e sempre são jogadas com com sorriso no canto da boca enquanto digo "Ustedes pueden aceptar mi negocio o aceptar las consequências."
Para curtir Narcos você tem que se envolver com o tema. Fazer dancinhas ao som de “Soy el fuego que arde tu piel. Soy el agua que mata tu sed...” quando conseguir fugir com sucesso ou atrapalhar a vida de seu inimigo. Gritar "Bando de mal paridos!!" toda vez que te encurralarem. Ter guardado dentro de si, um prazer secreto de poder dizer aos teus inimigos "Quieren plata? O Plomo?"
***********************
E se quiser ler mais textos nossos, se inscreva e siga a gente para receber notificação quando tiver novas atualizações. Também estamos no Instagram no
@redmeepleblog e no
Wordpress
Veja abaixo os últimos textos do Red Meeple Blog
E muitos outros textos que você pode encontrar
aqui