Um breve esclarecimento
Esta é a segunda de
três resenhas sobre a série
Escape Tales — terá uma para cada jogo lançado até o momento e você pode ler a primeira
clicando aqui. Todos os três jogos foram jogados
em duas pessoas no Tabletopia. Nesta plataforma, são jogos
Premium que você encontra nestes links:
The Awakening,
Low Memory e
Children of Wyrmwoods. No Brasil, já foram lançados
O Despertar e
Memória Baixa pela editora Grok Games. Como se jogou a versão online de língua inglesa,
não haverá avaliação quanto a componentes físicos e localização da história e desafios.
Memória Baixa
Um jogo dos
criadores Jakub Caban e Bartosz Idzikowski, da
artista Magdalena Klepacz e com o empenho de
uma equipe maior.
Progressos
Memória Baixa é uma verdadeira e ótima
evolução em relação ao seu antecessor, O Despertar. Este feito foi conseguido modificando pouquíssimas coisas tal como alterar o efeito de algumas cartas. Outro bom fator foi criar
uma história independente da primeira, fazendo desta série uma antologia. Ou seja, se não jogou o primeiro por não gostar da premissa de O Despertar, mas o da Memória Baixa cativou, pode investir tempo nesse tranquilo.
Em suma, o jogar funciona praticamente
do mesmo jeito, mas o jogo é
totalmente outro.
Diferenças
A história é outra. Memória Baixa se passa no
futuro e tem uma
atmosfera tecnológica densa. A narrativa foi dividida em
três partes (independentes e que se somam ao todo) que rendem
muitas horas de jogo, e o manual aconselha as jogar em dias ou momentos diferentes. Cada parte deve ser jogada na sequência que o jogo pede.
Nota: No Tabletopia, claro, o jogo fica salvo automaticamente. No jogo físico, o manual tem instruções para “salvar” a partida.
Além das fichas de ação, agora existem as
fichas de progresso, que servem para marcar desafios resolvidos dentro de um conjunto deles. Essa mecânica simples permitiu aguçar ainda mais
a curiosidade do jogador durante um determinado ponto da história.
Parece tudo o mesmo, mas tem essas pílulas, digo, fichas azuis aí para mudar algo.
Não tem mais cartas “Exit”. Em O Despertar, estas cartas indicavam ao jogador que um novo momento começaria, dando a ele a chance de ficar no mesmo local para buscar mais informações caso tivesse fichas de ação disponíveis.
Em Memória Baixa, os quebra-cabeças pertencem
exclusivamente ao local em que estão. No jogo antecessor, algumas partes dos enigmas poderiam vir de locais diferentes (por isso as cartas “Exit”). Essa foi uma mudança bastante satisfatória, deixando o jogador
menos maluco com isso (e muito
mais noiado com outras coisas).
Que histórias esse pendrive pode contar?
Há um tipo de carta diferente: a “Story”. Ela indica um momento particular da história e são as únicas cartas que permanecem durante toda a partida entre as três partes da narrativa. A mecânica relacionada às “Story” foi muito acertada porque marca um ponto chave e ajuda a memória do jogador.
Parece besta, mas é preciso dizer: o tutorial de Memória Baixa é
muito mais legal.
Divertimentos
O jogo
continua simples de regras e de jogar. Mas os quebra-cabeças ficaram
mais difíceis. Não só o ato de os resolver, mas também o modo de encarar a história e os locais a serem explorados. Praticamente
tudo isso importa para avançar na partida. Jogando a primeira vez, muita coisa passa despercebida. Jogando outras vezes (e a rejogabilidade é maior que a do jogo anterior), é notável que alguns elementos seriam importantes antes.
Um fator ficou
ainda mais relevante: a quantidade de fichas de ação (que marcam onde o jogador vai “investigar”). Simplesmente não dá para conseguir tudo. Não raramente se colocou na balança qual o melhor ponto a se visitar nos locais. Jogando outras vezes, é possível ver algo de modo diferente para descobrir novas perspectivas.
Sim, jogar Memória Baixa causa mais suor e
queima mais fosfato. Dessa vez, foi necessário buscar na internet dicas para a resposta de um dos quebra-cabeças, porque aquelas que o aplicativo online (do próprio jogo) deu não foi o suficiente (
obrigado, gente sensata do BGG). Também foi preciso
parar a jogatina e
voltar só na noite seguinte, não sem
ficar remoendo durante o dia o que fazer. Claro, isso tudo pode não ser necessário para você. Mas foi uma grande diferença entre os dois jogos para nós aqui.
Quanta traquitana tecnológica, meu pai! Por onde começar se só tem 4 fichas de ação?
A história é, outra vez, uma parte brilhante do jogo. Ela atiça a curiosidade ainda mais e, como dito antes, é mais valiosa para o ato de jogar. Sem contar que ela não é uma narrativa redondinha: há várias ramificações (vulgo, possibilidades) e dá muito mais liberdade de escolhas para o jogador (considerando o limite de fichas de ação). Ah, se lhe causou estranheza o título “Memória Baixa”, depois de jogar, ele fará total sentido.
Diferente de O Despertar, no qual se ganhava um objetivo no início, em Memória Baixa, o jogador
recebe uma pergunta a ser respondida. Nesse sentido, os autores foram felizes em usar um recurso narrativo presente em muitos best-sellers da atualidade para criar um clima envolvente em torno da tal pergunta.
Por fim, as
novas mecânicas com as fichas de progresso e cartas “Story” foram acertadíssimas. Que grande alegria ver como elas mexeram
positivamente com a jogatina, dando
nuances estratégicas diferentes ao jogador. Além disso, pequenas alterações nas consequências dos quebra-cabeças também deram uma
boa dinâmica. Parabéns aos autores; bem bolado.
Conclusões
Muita coisa
não mudou: poucas regras, fácil de preparar e jogar, interação entre jogadores, história envolvente (ficou-se até surpreendido com a intensidade de alguns fatos), vários finais e aplicativo online (que funciona offline) simples e objetivo. Contudo,
definitivamente, não foi mais do mesmo. Foi uma diferente e
maravilhosa experiência jogar Memória Baixa depois de jogar O Despertar.
Nota 1: para ler a resenha de O Despertar, é só
clicar aqui.
Nota 2: para ler a resenha de Children of Wyrmwoods é só
clicar aqui.
Fontes das imagens: Ludopedia e manual de regras do jogo.