Na série de textos “Ninguém Mais Fala Dele”, cada resenha tem duas partes:
. Parte 1: para a galera nova conhecer o jogo de modo resumido (com mecânicas, tema e motivações).
. Parte 2: para os velhacos “nostálgicos” reviverem porque o jogo é bom (ou ruim), como ele diverte e histórias gerais.
GANGES
Um jogo do casal Inka e Markus Brand.
Decidiu-se iniciar a série por este belo e competente jogo porque ele está
voltando à baila nos próximos dias —
há de vir — e logo, logo estarão falando dele de novo. Porque é um jogão daqueles!
PARTE 1: O que é, como se joga, onde se reproduzem... hoje, no Glob... hehehe
Tema, na sua forma mais suscinta.
Em
Ganges, os jogadores são
rajás ou ranis numa Índia próspera devendo transformar seus hectares de terra em
uma província produtora e com suntuosas edificações. Como soberanos(as), farão o
comércio de seus produtos, terão acesso a muitas benesses vindas do
Palácio do Grão Mogol e poderão progredir com a ajuda do
rio Ganges para conseguir Riqueza e Glória.
Na prática, os jogadores deverão
alocar trabalhadores e rolar e gerenciar
dados para posicionar peças de província, fazer comércio, melhorar seus edifícios,
mover o barco pelo Ganges e realizar
ações do Palácio de modo a conseguir cruzar os marcadores das
duas trilhas de pontuação (Riqueza e Glória).
Alocação de trabalhadores, gerenciamento de dados e movimento de peças.
Uma noção geralzona de como jogar.
O jogo tem
várias rodadas. Em cada uma delas, os jogadores se alternam posicionando 1 trabalhador e realizando a sua ação:
a)
Pedreira: construir a Província (produtos e edificações).
b)
Bancas de Mercado: vender produtos (seda, chá, especiarias) e ganhar Riqueza.
c)
Palácio: trocar e ganhar dados, receber pontos, melhorar edificações, navegar o Ganges e outras bonificações.
d)
Porto: mover o barco pelo rio e ganhar bônus.
Locais para ações no Tabuleiro Principal: (A) Pedreira; (B) Mercado; (C) Palácio; (D) Porto.
Após todos os trabalhadores terem sido usados, recolhem-se eles e uma nova rodada começa. A partida termina quando o marcador de Riqueza e o marcador de Glória
se encontram ou se cruzam.
A caixa do jogo ainda contém
dois módulos, cujo objetivo foi trazer
variabilidade com relação aos bônus de Província, das edificações e do rio Ganges.
Pontuando uns aspectos interessantes do jogo.
Para a maioria das ações, é necessário
usar dados. Alguns locais pedem
uma cor específica, outros exigem
um valor (ou soma) e outros, ainda, requerem um
pagamento de pontos de Riqueza. Inka e Markus parecem
uns fofos, mas eles
não quiseram dar dados de graça aos jogadores: é preciso consegui-los jogando.
A Província é
parte fundamental da jogatina porque ela colabora
com produtos (que rendem Riqueza)
e edificações (que movem a trilha de Glória). Isto é, tudo o que se precisa para a vitória. Mas isso é simples demais. “Vamos complicar”, pensaram Inka e Markus. Para 1 pecinha de Província das mais simples, precisa-se: pagar com
Riqueza, gastar
dados (normalmente, mais de um por vez) e fazer com que a estrada sinuosa da peça esteja
conectada à residência desenhada no tabuleiro de jogador. O Jaiminho, o Carteiro, nem começa a empreitada.
A Província (vulgo Tabuleiro de Jogador) e as curvas das estradas de Santos.
Não pense que as “dificuldades” param por aí. Se quiser
lucrar com o comércio, os jogadores precisam
se desfazer de dados com valores altos. E se quiser usufruir do Ganges, quanto mais gente afim,
mais caro fica (e gasta dados também).
Ainda bem, tem o
Palácio. O único local que mais concede do que exige. É possível ganhar dados, dar 1 dado para receber 2 outros em troca, rolá-los novamente, aumentar a pontuação (dos dois tipos), melhorar os edifícios para conseguir mais Glória, e até trocar peças na Província. Quer pegar aquele vento bom para saltar no Ganges? É só falar com os portugueses nos aposentos.
E tem o
Karma. Ele ajuda a inverter o valor do dado para
diminuir o fator sorte. Aliás, tudo que é ação, se bem executada, irá conceder
bônus de todo tipo. Por isso que, embora seja um jogo dependente de dados, muitos fatores durante a partida
minimizam a frustração por não ter o dado certo.
PARTE 2: Ganges é o jogo mais completo da coleção.
Está certo disso? Posso perguntar? [/Sílvio Santos no app do Show do Milhão mode off]
Faz-se a afirmação do título acima sem peso na consciência. O
Ganges tem alocação de trabalhadores, colocação de peças, rolagem e gerenciamento de dados, movimento ponto-a-ponto, e
DUAS TRILHAS DE PONTUAÇÃO que
são convergentes, sendo que uma delas deve ser usada como recurso no jogo (a Riqueza). É como se
misturassem Agricola (Edição Revisada) com
Carcassonne com
The Castles of Burgundy com
Tokaido com
Brass: Lancashire. Ok, isso foi exagerado. Ou
talvez não. Ao possuir as
principais características desses jogos e haver
um charme a mais,
Ganges torna-se um jogo deveras
estratégico e
divertido.
A trilhas de Riqueza (cinza) e Glória (pavão-indiano amarelo) convergidas para a vitória.
Apesar de haver muitas opções de jogadas, os jogadores sentem-se objetivos, sabendo o que querem realizar. Isso é resultado do
uso de dados para as ações. Se não tiver a cor ou o valor,
não há por que pensar em usar determinado local. Na verdade, é hora de
buscar pelo que se almeja.
Conseguindo o que se quer com catchiguria.
Quando há um impasse com relação às jogadas é que o jogo mostra um
design inteligente (não, não é esse que você está pensando; o termo é literal). Tem bônus em
vários momentos do jogo, em
muitos lugares do tabuleiro e são resultados das
boas jogadas. Por exemplo, não se inicia com todos os trabalhadores disponíveis. Mas é possível conseguir mais ao avançar nas duas trilhas de pontuação e no rio Ganges. Aumentar o Karma, melhorar as edificações, ganhar dados e ações extras, somar mais pontos... tudo é passível de ser obtido com
bônus que surgem
a todo instante.
Imponência de cores! A tradução de todo o esplendor da cultura da Índia.
Beleza se põe à mesa. O jogo
é bonito à beça! Principalmente por causa das cores. É muito a Índia. Os
48 dados (sim, uma
caçamba de
cubos de rolar) possuem
cores vibrantes e são translúcidos. Para melhorar, eles ficam organizados numa
estátua de Kali belamente ilustrada. As peças de trabalhadores são
bem entalhadas, assim como os barcos. E tem o “
elefantinho indiano” (marcador de 1º Jogador) que, apesar de papelão, traz aquela lembrança de montar um brinquedo do
Kinder Ovo patrocina nóis e a Ludopedia.
Estátua de Kali e a “graxinha” do Elefantinho.
O jogo é perfeito? [Parla!]
Não é. A começar pela
estrela do jogo (ao menos, deveria ser uma):
o rio Ganges. Ele só concede bônus e
nada mais. Portanto, os jogadores só usarão o rio quando verem necessidade de alguma melhora mais rápida e específica. Não se pode ignorá-lo, porém ele
não é a
chave do sucesso. Caro leitor,
não estranhe esse “pecado”. O problema (maior) está no nome do jogo da
versão brasileira: ao ser chamado “Ganges”, logo se imagina que o rio será o principal, mas o
título em inglês é “
Rajas of the Ganges”, ou seja,
o foco está nos jogadores.
Outra lástima é a qualidade dos dados. Infelizmente, a
tinta branca dos pontos
descasca (nessa primeira edição nacional). Então, pode ser preciso dar uma recauchutada de vez em quando.
Portanto...
Não há problema que tire o brilho de uma jogatina de Ganges. Ele permite muitas
escolhas e a
sorte nos dados
atrapalha quase nada. Sem contar que os jogadores ficam
envolvidos com o tabuleiro,
engajados em progredir na partida. Isso é algo que muitos poucos jogos conseguem fazer.
Até o próximo capítulo da Série.
Fonte das imagens: Ludopedia e BGG.
PS1: agora, eu fiz
um Canal aqui na Ludopedia;
sinta-se convidado a se inscrever.
PS2: se gostou do
Ganges e nunca o jogou, ele
está online no
Yucata (grátis e, se for o caso, nem precisa de cadastro).