Eu sou Feldete, daqueles de carteirinha. Aquasphere, que nem é um dos jogos mais badalados dele foi provavelmente o 1º jogo que me trouxe aquele fator “UAU” na vida. Não sabia que um jogo podia ser tão bom assim. Foi um choque tão grande que eu queria comprar uma segunda cópia, para ter em casa caso acontecesse algo com a minha e garantir que eu nunca viveria uma vida Aquasphereless. E depois vieram Bora Bora e In The Year of the Dragon, e Castle of Burgundy, e Notredame, e Oracle of Delphi, e Bruges, e Jorvik, e Amerigo e quando eu percebi, 1/5 da minha coleção era de jogo do Feld. Foi amor à primeira vista. E aí era não mais que óbvio que assim que anunciaram o lançamento de Merlin eu fiquei igual um maluco para querer comprar.
E foi tão maluco que eu comprei 2 cópias. Isso mesmo, 2 cópias! Pedi para um amigo trazer de Essen, mas como ele não deu certeza que conseguiria trazer eu consegui com um cara que comprou Merlin + Pioneers no Kickstarter pra rachar o frete mas na verdade só queria manter o Pioneers. Resultado, chegou o jogo do financiamento coletivo e meu amigo trouxe a cópia do Merlin para mim. E mesmo assim eu estava feliz. Indiretamente, eu havia realizado o meu sonho do Aquasphere, só que com outro jogo do Feld. O amor, havia se tornado eterno.
Mas bem, uma das maiores características do Feld, além da chamada salada de pontos, é o fato dele, a cada jogo, trazer ou implementar uma mecânica nova ou até então impensada daquela maneira. É a Mancala do Trajan, a reimplementação da torre de cubos no Amerigo ou a rosa dos ventos de Macao, ele sempre apresenta uma mecânica de uma forma que me surpreendia. Notredame pode parecer simples hoje que tem 7 Wonders e Blood Rage, entre outros, utilizando-se do draft de cartas, mas em 2007, quando ele foi lançado, aquilo era fantástico! De outro mundo! E por isso, quando falaram que o Feld ia fazer um jogo baseado no Roll and Move (Role e Mova), mecânica totalmente baseada em sorte de jogos como Banco Imobiliário e Jogo da Vida, eu fiquei super curioso do que estaria por vir.
E Feld conseguiu fazer um jogo competente. Nele, cada jogador tem 3 dados que representam um cavaleiro da távola redonda e 1 dado branco que representa Merlin. Você joga os dados e movimenta o cavaleiro ou Merlin pela Távola e faz a ação de onde parar. Os cavaleiros você sempre move no sentido horário, mas Merlin pode se mover nos 2 sentidos. Existem inúmeras maneiras de se manipular o dado, mover o cavaleiro no sentido anti-horário, pular para o outro lado da Távola etc.
Além disso uma coisa que ficou bem legal é que o boneco do Merlin é um só para ser controlado por todos os jogadores. Então entra aí um fator de timing absurdo. Você pode querer usar logo o Merlin antes que alguém mova ele de lugar e tire de você a chance de fazer a movimentação perfeita, ou o contrário pode acontecer. De repente você tira um 3 no dado do Merlin e aquilo não te serve para nada, então você espera um jogador mexê-lo para então você mexer o Merlin de volta, agora sim para uma ação que te interessa.
E tudo isso dá ponto claro, como típico Feld. Você ganha pontos por distribuir influência, por construir castelos, por colecionar bandeiras/escudos/cubos dos nobres e por completar missões.
Merlin é então, um jogo tático. Daqueles que você rola o dado e olha qual é a melhor coisa que você consegue com aqueles números que tirou e faz. E por mais que muito jogador Euro reclame do fator sorte dos dados, em geral, esse tipo de jogo funciona bem quando você percebe que o melhor jogador sempre ganha independente dos números que ele rola. Não é então, um jogo sobre tirar os melhores números no dado, mas de fazer o melhor com os números que você rola. E nisso Merlin é competente.
E se até agora, eu só falei bem do jogo, qual é o problema dele? Nenhum, mas as qualidades também não são enormes. O jogo é competente e isso é uma das melhores coisas que você pode dizer dele. Além disso, é provavelmente a produção mais bonitas do Feld. E para por aí! Merlin não apresenta nada a mais. Nenhuma mecânica ou sacada que pareça genial. Num primeiro momento, levado pela empolgação, eu até curti o jogo, mas cada vez que fui jogando meu interesse foi minando até entrar no hall dos jogos descritos com "até jogaria de novo".
E no final, jogar Merlin, me lembra muito da sensação de jogar Kingsburg, por mais que Kingsburg não seja um jogo de Roll and Move. Mas em ambos os jogos eu estou trabalhando com a otimização do que eu consigo fazer com os 3 dados que eu rolei. Em Kingsburg (um jogo de alocação de dados) estou pensando, vou colocar esse dado aqui por uma pedra, esse outro aqui por um ouro e esse aqui por uma força militar que vão me dar aquele prédio ali e me proteger contra esse ataque aqui. E embora não tenha um peão andando no tabuleiro, a sensação para mim é igual. Só que Kingsburg foi lançado em 2007, não em 2017! E mesmo assim, ainda acho Kingsburg muito mais jogo. É mais divertido por haver disputa pelos espaços e por você evoluir seu reino e começar a ganhar poderes variados ao construir novos prédios. Já em Merlin você pode pôr seu cavaleiro para fazer a mesma ação que outro jogador e parece estar fazendo basicamente a mesma coisa nas 6 rodadas do jogo, sem nada que melhore ou modifique muito com o tempo.
Merlin não é um jogo ruim, longe disso, é apenas um jogo sem sal! E quando eu percebi isso eu resolvi me desfazer das minhas cópias e junto foram outras do Feld. Ele ainda mora no meu coração e Aquasphere, Bora Bora e In The Year of The Dragon estarão no meu Top 10 para a vida! Mas se posso falar algo de realmente bom de Merlin foi que ele me despertou deste amor cego. Vinícius já dizia “que não seja imortal, posto que é chama. Mas que seja infinito enquanto dure”. E pelo visto durou bem, mas o amor incondicional acabou!
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A outra cópia, do KS, o próprio cara que me vendeu comprou de volta e ficou com ele. Mas tá anunciado pra vir pro Brasil.
