JOGOS COOPERATIVOS E A SÍNDROME DE SPACE INVADERS ( ou Por que eu não gosto de jogos cooperativos).
NOTA: Antes de mais nada, este não será um post polêmico. Ele não vai tentar desqualificar jogos cooperativos, mas apenas elencar os fatores que fazem com que eles, normalmente, não funcionem para MIM. Você pode concordar, ou discordar, fique a vontade para comentar.
Durante minha vida eu sempre tive uma veia bem competitiva. Eu sou daqueles que faz aula de natação nadando contra a pessoa da raia ao lado, esteja ela sabendo disso ou não. Em viagens, considero cada ultrapassagem do carro na frente, como se valesse o pódio de um Gran Prix. E tendo essas características pessoais, era um tanto quanto óbvio que eu não me desse super bem com jogos cooperativos né?
Mas justamente por gostar de refletir, tanto quanto gosto de competir, que eu parei para entender quais eram as características de um jogo Coop que me desanimavam jogar aquele jogo. Isso me ajudou muito a perceber que meu problema com os Coops não é necessariamente a ausência do elemento competitivo (mesmo por que, você ainda está competindo contra o jogo) mas sim a presença de um elemento que eu chamo de SÍNDROME DO SPACE INVADERS
A SÍNDROME DE SPACE INVADERS
Para os não tiozões de plantão, Space Invaders era um jogo do Atari onde um bloco 5 naves aliens se moviam pra um lado e para o outro, e eventualmente para baixo, invadindo a terra enquanto você, na tentativa de salvar a terra devia atirar e destruir essas naves.
No início elas se movem devagar e vc vai matando linha a linha mas com o tempo elas passam a se movimentar super rápido e você faz o que der pra matar a que está mais perto na esperança que dê tempo de correr pro outro lado e matar a outra que acabou de descer.
A minha sensação neste ponto (e correta no caso do vídeo game) é que o jogo passa a ter estratégia zero e vira pura destreza. Quão rápido você consegue se movimentar e atirar corretamente ao mesmo tempo.
No caso dos jogos Coops, eu comecei a sentir isso quando joguei Pandemic pela primeira vez. Conheci o Pandemic Chtullu antes de conhecer o Pandemic normal e a impressão que eu tive é que depois de um certo ponto, eu não fazia mais escolhas, eu simplesmente corria de um lado pro outro pra conter as epidemias que estavam prestes a espalhar, e a próxima carta que saía e infectava um local é que decidia qual seria minha próxima jogada.
Eventalmente joguei Pandemic e Pandemic Iberia e embora tenha tido uma experiência melhor, esse sentimento não mudou. E foi quando joguei o aclamado Ghost Stories que percebi que este sentimento nunca havia sido tão forte pra mim. Eu corria de um lado pro outro rolando dados pra matar o monstro que estava mais próximo de me atacar e era só.
E foi justamente por perceber que este era o aspecto que me incomodava em jogos Cooperativos que eu passei a gostar, justamente, de alguns outros jogos cooperativos (ou com elementos de cooperação).
Atualmente, meu jogo Cooperativo favorito é o The Grizzled, jogo da CMON ainda não lançado no Brasil. Em The Grizzled, cada pessoa é um soldado em uma trincheira na 1ª Guerra. Seu objetivo é passar por toda pilha de Julgamento (trial) e descartar todas as suas cartas na zona de jogo (No Man’s Land) até encontrar a paz(e ficar sem cartas na mão. O jogo exige que você baixe o maior número de cartas possível, mas cada uma te fornece um efeito negativo diferente e cabe aos jogadores decidirem o que querem baixar, a hora de baixar (timming é tudo neste jogo) e a hora de passar. Algumas representam um dano permanente (Hard Knocks) e outras uma Ameaça temporária (Threats) na disposição de continuar lutando da tropa. As ameaças representam baixa na moral da tropa por questões climáticas(inverno, chuva, noite) ou por questões de guerra (Gás, Apito das Tropas Inimigas e Tiro). E vocês precisam baixar tudo de forma coordenada, sem estourar o limite de Ameaças ou Danos que a tropa pode levar mas tudo isso sem poder falar ou mostrar sua mão para os demais jogadores.

No centro as cartas de ameaças temporárias (ex: Gás e Inverno na primeira carta) e abaixo as pilhas de julgamento da paz e moral - Foto do Blog Play, You Fools! -
Mas nem tudo é desespero. O jogo ainda permite, através dos Discurso Moralizantes, jogar fora da mão dos companheiros alguns dos danos ainda não jogados. E no final de cada rodada, ao sair da missão, cada jogador escolhe para quem dar seu suporte moral que poderá dar, ao vencedor, o direito de descartar entre 1 e 2 danos permanentes. E coordenar bem esse suporte, sem poder combinar com ninguém, ou mesmo sugerir para quem dar, é o segredo de se jogar bem. É por isso que hoje, eu consigo jogar bem esse jogo com 3 pessoas, quando as escolhas são mais simples, mas é impossível com 5.
The Grizzled é um jogo que transmite de forma extremamente simples uma angústia inexplicável, para te imergir na sensação guerra. Principalmente nas primeiras partidas onde você não dominou o jogo ainda e se vê morrendo em coisa de 5 a 10 minutos e reiniciando a partida. Em Grizzled, mesmo quando parece que se vai ganhar fácil (spoiler: ganhar fácil nunca acontece) você ainda fica angustiado de que a nova carta vai destruir todos seus planos. E tudo isso em uma arte fantástica feita por um dos ilustradores do Charlie Hebo, assassinado no ataque terrorista à revista.
Mas o que mais gosto do jogo é que tudo o que vai te impactar naquela missão está na sua mão. Não há, se você não quiser arriscar com as armadilhas, desconhecido na partida. Você pode não conhecer a mão dos seus companheiros mas todas as cartas estão abertas para alguém. O jogo é totalmente gestão e administração do que vai acontecer. Não há aspectos do jogo te jogando, os jogadores controlam tudo o que acontece, ainda que pareça que nada que eles façam possa impedir o pior de acontecer.
Com a sua mão você analisa se joga uma Ameaça (Noite e Gás) ou um Dano Permanente se tornando Clumsy (atrapalhado) até o final do jogo. - Foto Blog Play, You Fools!
Jogos como The Grizzled me ajudaram a perder parte do preconceito que tinha com jogos Cooperativos. Hoje ele é um dos jogos que mais vê mesa aqui em casa, principalmente quando terminamos um outro jogo e queremos jogar uma coisa rápida antes de fechar a mesa (o jogo vai demorar uns 30/40 minutos se você jogar bem e uns 3 minutos se você jogar mal hahahaha).
Com certeza existem outros jogos no mesmo estilo por aí, então deixo aqui o convite para que você me sugira alguns. Aproveite e me diga também, quais elementos fazem você gostar ou não gostar de jogos Cooperativos.
A boa notícia? Já ouvi falar que este jogo está sendo negociado para vir pro Brasil. Será?
Você também pode saber mais sobre o The Grizzled e suas mecâncias no blog
Play, You Fools! de onde eu peguei essas fotos emprestadas ou com bastante detalhes no post aqui mesmo da Ludopedia do
Canal TTZO
ATENÇÃO: Para quem joga o jogo em inglês, o manual da CMON omite uma informação que facilita o jogo. Os discursos, servem apenas para seus COMPANHEIROS descartarem uma carta de sua mão. Você continua com todas as cartas na mão após fazer o discurso.
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