Olá!
Eu sou o Davi e você está no Análise Escrita.
Hoje falaremos de uma classe de profissionais que na minha opinião muitas vezes é injustiçada.
Quando falamos em jogos de tabuleiro modernos, logo pensamos no designer do jogo, mas esquecemos que além do designer há vários outros profissionais envolvidos na produção de um jogo.
Hoje falarei sobre o ilustrador de jogos.
E não há nome melhor para nossa entrevista do que um dos maiores nomes do hobby.
Vincent Dutrait é o responsável direto pelas artes de alguns dos jogos mais icônicos e facilmente reconhecíveis entre os entusiastas de jogos de tabuleiros.
Grandes títulos como: Medici, Lewis & Clark: A Expedição ( e sua versão dice placemente Discoveries: The Journals of Lewis & Clark), Jaipur e mais recentemente O Senhor dos Anéis: Duelo pela Terra Média são uma mínima amostra do alcance de seu trabalho.
Foi um prazer imenso trocar algumas mensagens com Vincent, espero que gostem tanto da entrevista quanto eu gostei de realiza-la.
Sem mais delongas, deixo a vocês nossa entrevista.
"Meu estilo? Algo entre detalhado e expressivo, colorido, mas estruturado - Vincent Dutrait"
Olá Vincent, é um prazer conduzir essa entrevista com você.
Vamos começar com a pergunta que eu julgo ser a mais difícil da entrevista: Quem é Vincent Dutrait?
Por trás do artista, por trás do profissional, quem realmente é Vincent Dutrait?
VD - Eu diria que provavelmente sou alguém que nunca parou de desenhar desde a infância.
Sou um ilustrador francês que mora na Coreia do Sul há muitos anos, segui meu coração (e minha esposa coreana) através dos continentes.
Pinto todos os dias, gosto do ritmo tranquilo da vida no estúdio e estou sempre curioso para aprender e explorar novas ideias.
Sou alguém que está sempre de mente aberta e ansioso.
Bem, você trabalha diretamente com jogos de tabuleiro há vários anos, deve ser uma tentação não?
Vamos falar um pouco sobre isso Vincent, gostaria de saber: você joga com frequência? Tem uma coleção?
Quais seus jogos favoritos? Costuma jogar os jogos nos quais você trabalhou?
VD- Jogo menos do que gostaria ultimamente!
Tenho uma coleção pessoal e ainda curto os clássicos (Ticket to Ride é um dos meus favoritos!).
Também gosto de revisitar jogos que ilustrei, no momento, The Quest for El Dorado é definitivamente o meu preferido!
"Atual Queridinho nas mesas de Vincent Dutrait".
Vincent, pode falar um pouco sobre o seu trabalho?
Como você iniciou na indústria de Boardgames?
Qual foi seu primeiro projeto? Há um projeto do qual você se orgulhe mais?
E uma curiosidade da maioria da comunidade: como é o processo de ilustração de um Boardgame? Você recebe os parâmetros do projeto e tem total liberdade para criar, ou geralmente recebe solicitações específicas?
VD- Bom, vamos lá: Comecei a ilustrar jogos de tabuleiro no início dos anos 2000, depois de alguns anos trabalhando com livros infantis e jogos de RPG.
O primeiro Boardgame que ilustrei foi "China Moon", de Bruno Faidutti, e depois vieram Tikal II: The Lost Temple e Lewis & Clark: A Expedição, que realmente ajudaram a consolidar meu nome na indústria.
Cada jogo é diferente: às vezes recebo um briefing simples com tema e mecânicas, e proponho visuais e direções; Outras vezes, as editoras chegam com uma visão artística forte.
Gosto de me adaptar a ambas situações!
Vamos falar um pouco sobre Vincent o artista: quais seus materiais de desenho favoritos atualmente?
Geralmente recebemos sua arte já pronta, impressa em tabuleiros ou cartas, mas se estivéssemos vendo você criar algo ao vivo, que materiais você usaria?
Sabemos que suas artes exigem certo nível de pesquisa, onde você busca referências e inspirações?
VD- Ainda trabalho inteiramente com técnicas tradicionais.
Desenho com canetas de feltro pretas e depois pinto com tinta acrílica em papel grosso (às vezes adicionando marcadores Copic, lápis ou tinta para textura).
Não uso nenhum elemento digital até a digitalização final e os ajustes de pós-produção para impressão.
Para as referências, recorro a livros, fotografias antigas e arquivos de museus.
Gosto de ancorar a fantasia em elementos do mundo real (texturas, roupas, arquitetura), tudo para que as ilustrações pareçam verossímeis.
E pensando em artistas, quais são os seus favoritos Vincent?
Como você definiria seu estilo de arte? Ou crê que esse tipo de definição deve ficar a cargo de quem consome seu material?
VD- Admiro muitos artistas! N.C. Wyeth, Franklin Booth e Yoshida Hiroshi estão entre minhas principais influências.
"Pintura de Yoshida Hiroshi"
Meu estilo? Algo entre detalhado e expressivo, colorido, mas estruturado.
Tento criar algo imersivo e acolhedor, feito para ser vivido. Mas fico feliz em deixar que outros o definam à sua maneira!
Ainda sobre arte, lanço uma pequena provocação: Sabemos que muito do que chamamos "arte" está fechada dentro de museus ou coleções privadas, de forma inacessível a grande parte do público.
Você vê os Boardgames como uma ferramenta de popularização da arte?
VD- Com certeza!
Jogos de tabuleiro são compartilhados, tocados, vividos, não ficam trancados atrás de um vidro.
Adoro saber que minhas ilustrações fazem parte das casas e das memórias das pessoas, em volta de mesas e com amigos!
Isso é arte de verdade para mim.
Me desculpe Vincent, mas não posso perder essa oportunidade...
Pode julgar minha arte?
VD - É sempre difícil (Eu diria quase impossível) dar um feedback real de uma única obra.
O trabalho de um artista é uma jornada completa e leva tempo para apreciar toda a sua gama de habilidades.
Mas eu sempre digo: continue desenhando, continue se esforçando!
Arte é sobre fazer, não esperar.
Se você for corajoso o suficiente para compartilhar sua arte, já deu um grande passo.
Vincent, na sua opinião, como levar arte e cultura ao grande público? Sobretudo quando falamos de países em desenvolvimento?
VD- Através da acessibilidade, educação e histórias.
Jogos de tabuleiro, quadrinhos, livros, nenhum deles precisa ser elitista ou caro.
A arte fala primeiro aos sentidos, e isso é universal.
A chave é apoiar a curiosidade e nutrir o talento local!
Você tem um belo ponto sobre a democratização da arte Vincent.
Vamos falar um pouco sobre a industria de Boardgames? Qual a sua opinião sobre o uso da IA em ilustrações de Boardgames e de outros produtos?
VD - As ferramentas de IA são tecnicamente impressionantes , mas trazem grandes preocupações éticas e criativas.
Vejo isso especialmente em jogos de tabuleiro onde em minha opinião os jogadores procuram algo artesanal, emocional, humano.
Acredito que a arte feita à mão ainda carrega um significado e valor profundos.
A IA é uma evolução, para mim ela causa disrupção, mas também pode abrir portas para novos caminhos criativos.
Só precisamos ter cuidado com a forma como a moldamos.
"Duelo Pela Terra Média"
Falamos do futuro da indústria, agora quero saber um pouco do seu futuro: O que você espera da vida? Pretende se aposentar um dia?
VD- Eu realmente não sonho com aposentadoria.
Amo o que faço! Talvez um dia eu diminua o ritmo um pouco e me concentre em trabalhos mais pessoais e faça esboços em silêncio debaixo de uma árvore.
Mas enquanto eu puder segurar um lápis, continuarei desenhando!
Vincent, essa entrevista foi maravilhosa!
Poderia deixar uma mensagem aos novos designers que curtem e acompanham o seu trabalho?
Gostaria deixar também uma mensagem ao público Brasileiro que te acompanha a tanto tempo?
Para os jovens criativos: mantenham-se curiosos, sejam pacientes e desenhem o que os entusiasma.
Há espaço para todos os tipos de vozes nesta indústria!
Para o meu público brasileiro: muito obrigado! Sempre senti muito entusiasmo e carinho vindos do Brasil, Obrigado por jogarem e pelo apoio!
Como é tradição nesse canal sempre deixamos o mais importante para o fim.
Você cozinha Vincent? Que receita você indicaria para quem quer comer algo enquanto joga um Boardgame ilustrado por você?
VD- Sim, eu cozinho quase todos os dias!
Se eu tivesse que recomendar algo para uma noite de jogos: pratos que você pode comer com uma mão como kimbap ou uma boa fatia de quiche francesa.
Pratos deliciosos, fáceis… e sem dedos engordurados nas cartas!
Vincent, muito obrigado pela entrevista!
Desejo tudo de melhor a você.
PS: Segue minha homenagem ao trabalho de Vincent Dutrait.
Senhoras e senhores, leitoras e leitoras, por hoje é só! Obrigado a todos por prestigiarem mais essa entrevista do canal!
