Se você ainda não jogou The Thing: The Boardgame, sinto lhe informar: a maioria das regras não estão no manual. A afirmação é chocante, mas aguarde um pouco e vai entender.
The Thing tem regras bem simples. Alocação de trabalhadores, jogo em equipe, dedução. Gestão de recursos. E só. Mas eis a grande sacada do jogo: a maior parte dele se concentra nas maneiras de se jogar como humano e como alien. Nas artimanhas. Naquilo que é dito, e naquilo que é ocultado. Na maneira que acusa. No melhor momento de se esconder e quando se revelar. Cara, tudo isso não está no manual e, acredite, é mais importante do que qualquer mecânica.
Vamos falar de Aliens. Jogar como um alien é o mais difícil, porém, o mais divertido. Você é um alienígena escondido entre humanos. Ou você infecta todo mundo ou fica escondido fingindo ser humano para fugir no helicóptero ao final do jogo. E vencer com isso. São muitas as estratégias. Se a escolha for ficar na encolha, o jeito é ficar quietinho durante todo o jogo e pegar carona nas acusações, apontando o dedo para quem é apontado como A Coisa. O meio termo seria ficar escondido, mas aqui e ali tentar infectar alguém. E esse mesmo infectado pode ser jogado aos leões (ser apontado e desmascarado), porque se A Coisa original consegue fugir, os aliens vencem – mesmo esse segundo que foi perseguido e, quiçá, morto. O bode expiatório serve, e muito, nestes casos. A outra forma é ver o andamento da base. Se ela for sendo detonada rápido, vale se revelar como alien e tocar o terror. Não é difícil destruir alguns cômodos, assimilar cachorros e outros jogadores. E vencer gargalhando como vilão.

E jogar como humano, então, é sem graça? Que nada! Pegue tudo isso aí que disse acima e imagine que se você é humano. Você passa o jogo inteiro, INTEIRO, na paranoia. Achando que o cara à direita ou à esquerda é o safado do alien que está louco pra te infectar. Você tem medo de ir com eles a um cômodo porque lá ele pode te lascar. E a neura é tão grande que você vai colocar o dedo em riste diversas vezes. Acusar aquele seu amigo de longa data de mentiroso, provocar, se defender. Ficar bravo.
E o final é com esse clima. O helicóptero chega e você, na maioria das vezes, não tem certeza sobre quem é humano e quem é alien (ou quem são os aliens). É tenso. É paranoico. Uma pessoa tem de decidir com quem escapa. Se o alien estiver no meio, os humanos perdem. Se um humano ficar para trás junto com o alien, os humanos também perdem. É uma loucura!
Poucas vezes vi um jogo com esse fim tão espetacular. E não é uma vez ou outra: ocorre toda santa vez. Clutch time total!
Se você tiver a oportunidade, jogue. É um BG nota 10 em minha modesta opinião. E para quem viu o filme, a sensação é igualzinha, como se estivesse vivendo a história. Simplesmente impagável.
Cena pós créditos: se você ainda não assistiu ao filme Enigma do Outro Mundo (The Thing / 1982), faça esse favor a si mesmo (a). E preste bastante atenção à cena do sofá. Aquilo traduz bem o que é cada jogatina deste fantástico jogo de tabuleiro.
Luciano Marques
