Os game designers noruegueses Eilif Svensson e Kristian Amundsen estão de volta com um clássico (eu chamo de clássico, outros, sequer gostam de citar o nome): Santa Maria. Não, não é um reprint, mas, sim, uma nova “versão” desse jogo que o povo adora jogar pedra (talvez, apenas, pela arte que é feia de doer). Trata-se de Saltfjord.
Podemos dizer que Saltfjord (2024) é uma reimplementação de Santa Maria, com a mesma mecânica genial de alocação de dados em sua colônia/vila, que vai sendo construída ao longo do jogo com tiles. O Fiorde Salgado, no entanto, traz mais que isso. Os autores de Revive (mais recente lançamento dos caras) adicionaram à receita novos elementos e decisões interessantes ao longo das rodadas.
Quando digo que Santa Maria é “apedrejado”, veja bem, estou falando apenas da minha percepção – vi o jogo sendo vendido a preço de banana por anos e muitos não o queriam. O jogo, se não me engano, ainda está no TOP 30 ou TOP 20 de todos os tempos do Rahdo (um dos mais antigos e respeitados produtores de conteúdo do nosso hobby). Tirando essa questão, vamos ao novo:

Em Saltfjord administramos uma aldeia de pesca no norte da Noruega e temos de decidir como vamos expandir nossa comunidade, se vamos investir em novas edificações (os tiles que serão ativados com os dados, nas linhas e colunas), se na coleta de peixes e outras surpresas ao longo do fiorde, ou se no comércio das mercadorias.
Para um euro, o tema está bem demonstrado no todo, e a colocação de peças no tabuleiro é interessante porque não vai existir um jogo igual ao outro e te dá a sensação de, realmente, estar criando sua vila (e isso já responde sobre a rejogabilidade do título: é bem grande).
A pesca também é bem temática: você compra as fichas e descobre o que veio em “sua rede”. E quando mais se especializa, mais fundo você vai e mais prêmios consegue durante as pescarias.
As trilhas de tecnologia também são interessantes para as estratégias do jogo, uma vez que não há tempo de evoluir tudo e aquela que escolher pode ditar o rumo de sua jogatina. As trilhas desbloqueiam novos trabalhadores (que são alocados como os dados, mas ativam um único ponto), aumentam o barco de pesca, ajudam na construção de edifícios e evoluem sua pesca. As trilhas de tecnologia também acionam tiles de pontuação de fim de jogo e tiles de habilidades especiais (que também são variáveis de partida para partida).
O gerenciamento de recursos também é um destaque de Saltfjord. Ouro é o mais valioso, mas, antes de chegar a ele, é preciso seguir uma linha de evolução. Por exemplo, é preciso sair do grão para ir à comida e, só então, partir para o ouro. E durante o jogo esse upgrade e downgrade de recursos é feito constantemente para que realize as ações.
Conclusão
Se alguém não gosta (ou não gosta mais) de Santa Maria por achá-lo um euro ultrapassado, repense tudo com Saltfjord. Essa reimplementação tem uma ótima rejogabilidade (dado os elementos variáveis na configuração inicial), mais habilidades especiais, peças de pontuação final, enfim, uma gama de novidades que são somadas à sensacional mecânica de dados que já existia no jogo mais antigo. E os vários caminhos de estratégia dão ao jogo camadas bem interessantes a quem gosta de montar as “maquininhas de ações” que vão evoluindo ao longo das rodadas.
A mecânica de colocação de peças dele é top (Barenpark, só para citar um exemplo, funciona de forma semelhante). A cada partida você quebra a cabeça (de um jeito bom) para saber como pode fazer um engine building melhor que a anterior. E isso se junta a um draft de dados que dá ainda mais camadas às decisões.
A arte de Santa Maria é uma lástima... É, eu sei. Em Saltfjord melhora um pouquinho (talvez consideravelmente, comparado ao anterior), mas não é lá uma obra de arte.
Enfim, o jogo deve ser um sucesso lá fora. Pura aposta. Aqui? Só saberíamos se fosse lançado por alguém. Santa Maria foi lançado pela Paper Games há sete anos e não sei se a editora é quem pode trazer a novidade. Já estou na torcida.
Luciano Marques