Papo de treta/polêmica. Papo de doido. Porque envolve individualidade. Quem está há algum tempinho no hobby sabe que o prêmio alemão Spiel des Jahres tem considerável impacto econômico em relação aos board games premiados, todos os anos, desde 1979. Fácil de entender. É como o Oscar, aqueles indicados serão os filmes com maior bilheteria... Os que ganham o Oscar, então, costumam se esbaldar (mesmo que sejam ruins). No prêmio da indústria cinematográfica já sabemos que rola treta, uma vez que os votantes (profissionais, jornalistas e críticos da sétima arte) recebem todos os tipos de mimos das produtoras. E o tal do “Espirro do Jarro”? Quem vota? Como vota? Recebe “incentivo”? As editoras mandam seus jogos?
No final deste artigo, acredito que terei passado algumas boas (más) ideias de “como você avalia seus jogos”, “como me influencio por listas, notas e prêmios” e “como o mercado é influenciado”.
Para tirar isso logo da sala:
quem vota no melhor board game do ano do Spiel (meio que um título mundial, como o Oscar) são simples jogadores/críticos que falam alemão. Quando digo simples, são simples mesmo. Se eu fosse um morador da Alemanha ou da Áustria, por exemplo, e fizesse sempre isso aqui (escrever sobre jogos), poderia fazer parte desse júri depois de algum período investindo em crítica. Poderia e, provavelmente, faria. Se o Spiel des Jahres fosse aqui no Brasil, são as pessoas que tecem suas críticas na Ludopedia que escolheriam o melhor jogo do ano! (ao lado da maioria dos youtubers, claro) – a diferença é que lá na Europa não tem apenas a “Ludopedia” (ou BGG), eles têm alguns “veículos de verdade” que falam de board game e os profissionais que trabalham neles votam.
O motivo de toda essa explicação é dizer que quem aponta o “melhor jogo do ano” é o mesmo tipo de pessoa que elege os vencedores do Prêmio Ludopedia. O mesmo tipo de pessoa que monta o seu TOP 10 no Youtube. O mesmo tipo de pessoa que abre um tópico no fórum. E diante disso tudo está um caminhão de subjetividade. Porque cada pessoa avalia o jogo do seu próprio jeito, com suas próprias regras. O que leva a pergunta:
Como você avalia seu jogo? Acredito que tem todo tipo de pessoa no nosso hobby, desde aquela que dá nota 1 a um jogo que não é tão bom assim e 10 a qualquer jogo que o agrada minimamente, até aquela pessoa que para dar uma nota leva em conta os quesitos mais detalhados. Vou dar uma ideia quesitos que podem ser usados para dar nota a um jogo e, vejam bem, o peso de cada um deles varia muito de pessoa para pessoa:
- O quanto eu me diverti com ele (independente do peso, componentes, designer, arte, etc)?
- Qual a vontade que tenho de jogar ele novamente?
- As mecânicas estão bem implementadas e há “flow” na jogatina?
- O tema é bacana, me atrai e é bem implementado?
- A arte do jogo é legal?
- Tem bons componentes?
- Qual a chance de ver mesa de novo?
- Tem inovações ou é mais do mesmo?
- Tem um bom custo benefício?
Você mesmo. Isso! Você que está lendo, deu uma boa olhada nesses tópicos e decidiu rapidamente na cabeça os quesitos que lhe importariam ao dar nota a um jogo e os que não fariam a menor diferença. O que eu quero dizer é que o
Jogador A vai dar
nota 10 pelo
JOGO X porque tem ótimas mecânicas que se encaixam bem (mesmo que não de forma inovadora) e tem vontade louca de jogar ele novamente, enquanto o
Jogador B deu n
ota 6,5 no mesmo
JOGO X porque não viu inovações naquelas mecânicas ali (mesmo que bem encaixadas) e achou ‘mais do mesmo’, assim, tão cedo não vai jogá-lo novamente. Já o
Jogador C achou um baita custo benefício (muitas peças, preço baixo) e arte sensacional, então a nota também vai ser boa, enquanto o
Jogador D vai detonar porque achou o tema tenebroso (ah, se ele fosse sobre gatos...).
Isso porque não vou nem entrar na seara das categorias. Na minha modesta opinião, os jogos deveriam ser ranqueados dentro de categorias (
caixa pequena/carteados; party games; jogos família; jogos expert).
Slay The Spire, por exemplo, perde no ranking geral (BGG) para
7 Wonders Duel. Porém, se olharmos o ranking de Jogos de Estratégia,
Slay está melhor posicionado (as categorias do BGG são, se não me engano:
Estratégia; Temático; Família; War Game; Abstrato; Party Game). E opinião é um treco muito doido.... No ranking de abstratos do BGG o número 1 é
Cascadia... e não o
Azul, que é o 2º. Olha que absurdo (kkk).
Resumindo, (quase) todos nós amamos TOP 10, ranking, Spiel des Jahres, dar nota em jogo e isso influencia, sim, o mercado. De um jeito muito doido e torto, mas influencia. Se toda pessoa comum tem um jeito muito particular de avaliar jogos e essas pessoas comuns fazem o ranking e determinam campeões, e isso influencia em como as pessoas compram jogos. Tanto o campeão do Spiel des Jahres quanto o vencedor do Prêmio Ludopedia (ou o TOP 1 do seu “influenciador” preferido) chega até o topo por um conjunto de avaliações individuais que podem bater com as suas ou ficar a um quilômetro delas. Olha só que coisa de maluco! Mas é isso. E por isso não deveria ser levado a sério (o que quero dizer é, vamos levar isso mais na brincadeira do que qualquer coisa, ranking, premiação, Oscar, Spiel, etc). E pensar um pouquinho mais em como avaliamos nossos jogos.
Eu, particularmente, coloco mais peso nos quesitos “quanto me diverti” e “quanto quero repetir esse jogo” para avaliar. E sei que outro vai pensar diferente (jamais vou chamar de maluco quem ama
Food Chain, porque sei que o jogo apenas “não é para mim” – mas eu iria me lascar se fosse seguir notas, ranking, TOPs e comprasse esse título).
Afinal, para que serve nota, ranking, prêmio? Pode ser uma questão pessoal (dou nota para mim mesmo e não para as outras pessoas, ou para alterar qualquer ranking); pode ser o desejo de ajudar outras pessoas (que minha nota sirva para ajudar alguém a se decidir); pode ser por “orgulho crítico” (eu entendo pra caramba de board game e acho que minha avaliação é boa o suficiente para que outras pessoas vejam). Enfim, se até o motivo é tão divergente, o que dá a entender é que não se deve levar muito a sério. Pratique também o respeito ao próximo, ou seja, não diga “Eu não concordo com essa nota”, mesmo porque a nota não é sua, é de um terceiro, e você não tem de concordar ou discordar dessa nota, mas, sim, ter a sua própria.
E papo de doido é assim mesmo, longo e cheio de controvérsia. Uma pena não ter sido em uma mesa de bar. Abraço a quem chegou até aqui.
Luciano Marques