Fiz quatro experiências pessoais com o uso de jogos, leituras, escrita, etc analógica e comparei com as digitais. Mas a comparação não é durante atividade em si, e sim APÓS A ATIVIDADE. Como eu fiquei.
O que vou escrever aqui hoje, para quem já tem o costume de jogar de tabuleiro, pode ser como chover no molhado - no entanto, muitas vezes é bom saber porque algo é bom. Isso ajuda a nos mantermos firmes e também auxilia a inspirar outras pessoas que precisam de um motivo razoável para se propor algo. É algo cultural.
A conclusão do experimento, já posso adiantar, é que, quanto menos eletrônico/digital eu uso, melhor fica a minha vida. Eu aprendo a aproveitar melhor cada momento, fico mais em paz, me sinto uma pessoa mais íntegra. Isso acontece proporcionalmente ao não-uso do computador/celular/etc. Não encontrei nenhuma exceção até agora.
Percebi que fico mais sagaz, mais conversador no bom sentido (conversas inteligentes, mas sem presunção). Meu inglês fica mais claro. Começo a descartar outros hábitos desnecessários que ocupam meu dia. Tenho mais tempo para correr, cozinhar. Minha meditação melhora claramente, e tenho mais vontade de parar mais vezes ao dia para fazer meditações curtas extra. E, ao invés de ficar ali um minuto e logo querer sair, pelo contrário, tenho inspiração para ficar mais tempo, sem pressa, sem medir tempo - o fato é que não tem nada mais importante do que ficar ali mesmo, mergulhando mais fundo dentro de mim.
(PS: Nesses tempos usei principalmente o jogo Newton para fazer os testes, que também chamamos aqui na vila de "NILTO" ou "NILTINHO", e jogo com a excelente variante solo do BGG com objetivos. E aí vem a trivia: alguém sabia que o tema principal da vida do Newton não foi física, nem matemática, nem serviço público (coisas que fez a trabalho), nem alquimia (que fez mais do que física e matemática, por interesse pessoal e tinha um viés espiritual ali), mas sim TEOLOGIA? Descoberta recente, acho que de 1976. 40% dos escritos dele eram sobre teologia, e os demais dividiam o restante, com alquimia em segundo lugar, se bem lembro. Eu fiquei interessado pessoalmente no Newton por recomendação do Thomas Jefferson, que compartilhava uma visão similar da espiritualidade com o Newton, que era a pessoa que ele mais admirava)
Para o experimento, fiz vários testes pessoais durante dois meses, que vou descrever um pouco mais ao final do artigo.
Foram eles, com seus resultados individuais:
1) Viajar sem levar o computador e só usar o celular para fazer uma ligação ou outra VERSUS viajar sem levar o computador, mas usando o celular para responder emails, etc, quase normalmente.
Percebi claramente que é bem melhor ficar sem usar o celular, exceto por uns 5 minutos por dia para coisas bem práticas. Deixar pra trás tudo que não exige sua intervenção faz com que tenha mais energia e tempo (e amplitude mental para enxergar padrões novos, ao invés de se reforçar nos hábitos antigos). O leitor sagaz perceberá que não fiz recentemente o experimento "viajar levando o computador", porque já fiz anos atrás e desisti rapidinho! Experiementei tanto para viagens de fim de semana quando de até duas semanas.
2) Em casa, limitar o uso do computador, por exemplo, até o horário do por do sol VERSUS ficar até tarde no computador fazendo qualquer coisa
Ficando até tarde, meu sono piorava, eu acabava comendo mais e ganhando peso, o sono piorava, tinha mais sonhos desgastantes, e tinha dificuldade para acordar cedo. Já limitando o uso do computador até o por do sol, depois disso, apenas música, leitura impressa, aprender partituras novas no violão (não sou músico, mas gosto de aprender as músicas mais fáceis do Bach, Tárrega, etc). Ligar para meus amigos para conversar, ouvir, etc. E eu acabo gostando mais dessas coisas na mesma medida que deixo de usar tanto o computador. E não é só pelo tempo a mais, mas sim porque algo muda nos meus gostos e tendências. Naturalmente eu acabava dormindo mais cedo, de barriga vazia, acordava bem para depois ir correr bem e cedo, evitando o sol e o trânsito.
3) Jogos de tabuleiro VERSUS digitais
Como disse antes, até os 19 anos eu jogava muito videogame, muito mesmo. Eu fiz o comparativo jogando os jogos de tabuleiro solo que tenho aqui. A diferença é brutal quando você termina. Ao invés de desgastado, irritado ou com sentimento de vazio, eu me sinto "Legal, e agora, qual a próxima coisa boa que vou fazer?" Testei também praticar a meditação depois de cada atividade. É brutal a diferença. Depois de ficar no jogo digital, a meditação era quase que um "unwinding" mental, só pra voltar a ficar normal. No digital, eu ficava cansado, hiperativo, disperso. Já, depois do jogo de tabuleiro, era um mergulho profundo para além da mente. Jogar no tabuleiro afiava minha concentração, que depois me era útil. Testei também a corrida. Não reparei em performance, etc, mas apenas em como eu me sentia. Depois dos jogos analógicos, era muito melhor, me sentia mais fresco, olhava para as coisas com outros olhos, tinha reações mais positivas, quando estava correndo. Mente mais limpa, clara. Já depois dos jogos digitais, eu ficava mais preso no "eu de sempre", nas reações de costume com todas as coisas, incomodado ou pensando no que aconteceu no dia.
(edit: escrevi esse review com uma historinha após a publicação do artigo)
4) Escrever artigos (como este e outros) no computador VERSUS escrever, copiar poemas, etc, usando caneta e caderno.
É interessante que, dentre todas as atividades no meio eletrônico/digital, escrever artigos é a melhor (ou menos pior) de todas se comparada com o papel e caneta. Talvez seja pela linearidade da atividade, que exige sua atenção numa coisa só, que é o rumo do seu pensamento. Ainda assim, percebo que escrever no papel é superior. Uns meses atrás vi um experimento que fizeram num estado dos EUA. Eles permitiram que não se ensinasse mais nas escolas a letra cursiva. Só ensinavam letra de forma, porque é a única que se usa nos celulares e computadores. Algumas turmas nas escolas foram ensinadas assim, e foi notável o déficit no aprendizado de todas as matérias. O simples fato de você aprender a escrever letra cursiva auxilia no desenvolvimento escolar das crianças, acreditam? Pois é. Eu tive que fazer cadernos de caligrafia na escola por muitos anos depois que a minha turma já não precisava mais (eu era sempre o que tinha letra mais feia na escola), mas hoje em dia, praticando como adulto a escrever melhor, minha letra cursiva é quase bonita : )