Olá!
Eu sou o Davi e você está no canal Análise Escrita.
No texto de hoje falarei sobre um dos melhores exercícios de criatividade que você no conforto do seu lar, sentado nessa deliciosa poltrona do papai comprada em 4 prestações (sem juros) pode fazer.
Sim, falarei sobre a criação de um jogo.
Primeiro, vamos traçar algumas linhas.
Jogo e brincadeira são coisas diferentes.
Um jogo, em geral tem um final pré definido.
Uma brincadeira é um ato livre e espontâneo, enquanto todos tiverem energia para brincar, a brincadeira continua.
Ou seja, as principais diferenças entre jogo e brincadeira estão nas regras e no conceito de finitude.
E esporte? Esporte é igual a jogo?
Mais ou menos.
No geral, esportes tem regras pré definidas por suas federações.
Um esporte pode ser praticado como um jogo, o inverso não necessariamente dá certo.
Explico:
Sabe as "House rules"? Já jogou banco imobiliário com a famosa regra do tempo para o jogo não ficar "eterno"?
Um jogo tem regras pré definidas pelos participantes, essas regras porém, podem ser alteradas em comum acordo.
Ontem mesmo joguei Cultive e ignorei a regra dos consórcios, pois meu objetivo era ensinar a mecânica principal aos participantes.

Resumindo: Chutar uma bola na parede é brincadeira.
Jogar futsal na escola com 6 na linha e um no gol é Jogo.
Participar de um campeonato de futsal oficial, com um juiz aplicando as regras é esporte.
Toda essa nomenclatura nos leva a uma ideia central: além de regras pré definidas (mas que podem ser alteradas pela vontade dos jogadores) um jogo tem que ter um final, um objetivo.
E digo mais, um bom final.
Já ouviu de outro player: o Jogo X é ótimo, mas o final quebra toda a experiência?
O que define a maioria dos jogos é o final, o objetivo a ser alcançado.
Comecei no fim do ano passado a desenvolver um jogo.
Tinha em mente uma outra ideia, um jogo euro sobre a produção de páprica.
Comecei a botar tudo no papel, e quando me toquei tinha uma salada completa em que eu mesmo já não conseguia me encontrar.
Abandonei essa ideia (ou adiei) por hora.
Pouco tempo depois em um momento de procrastinação resolvi conhecer o famoso chat GPT.
Lancei o seguinte desafio a máquina: crie um jogo de cartas para dois jogadores baseado na primeira guerra mundial.
Para minha surpresa, ele criou um jogo minimamente lógico.
Me empolguei e resolvi tirar da tela a criação da máquina.
Com alguma afinação, e poucas alterações, o jogo foi a mesa.
A experiência foi horrorosa.
Na empolgação, não percebi que as regras criadas pelo chat GPT resultaram praticamente em um loop infinito na mesa.
O jogo ou não tinha fim, ou era encerrado muito bruscamente.
Voltei a mesa de planejamento.
Embarcou comigo nessa empreitada o usuário Suleyman.
Aproveitamos a IA apenas para criação de artes para as cartas.

Percebi que alguma forma de arte, mesmo que um desenho feito com caneta Bic era muito necessário já na fase de protótipo.
Caso contrário, seriam apenas cartas com texto e apresentar minha ideia a outros jogadores seria mais difícil.

"até os primórdios da criação do Magic contaram com artes".
As regras foram todas refeitas, já não era um jogo criado pela maquina, era um jogo criado pelo homem.
Meu grande amigo Suleyman fez todo o design das cartas e juntos trabalhamos em novas mecânicas.

"Versão atualizada da carta Cavalaria, presente em nosso jogo".
Enfim, nós conseguimos um jogo.
E que jogo horroroso!
O jogo tinha um fim definido, as mecânicas eram simples de entender.
O problema eram os "meandros".
O jogo ficou extremamente burocrático.
E apesar de contar com mecânicas simples, as regras especificas das cartas transformaram nosso jogo em um algo confuso e chato.
Cheguei enfim a uma conclusão que apesar de MUITO lógica, foge da compreensão de grande parte dos que se aventuram a criar um jogo do zero:
A criação de um jogo, é antes de tudo conseguir tornar lógico para o outro o que no momento é lógico só para você.
E percebi isso nos playtests.
Enquanto tudo aquilo na mesa era super natural para mim, para os demais jogadores, mesmo após explicação de regras era algo ilógico.
Então o principal exercício de criatividade foi reformular tudo e criar um jogo "simples".
Em toda essa jornada, percebi que é mais difícil criar um jogo simples que um jogo complexo, pois a partir do momento em que você se pré dispõe a criar algo, sua cabeça é bombardeada com ondas de criatividade.
Da mesma forma, algo muito simples resulta em um jogo com baixa rejogabilidade, cito por exemplo o Deep Sea Adventure.
Muita afinação depois, estamos novamente em fase de playtest.

O jogo criado compartilha um baralho único, e tem algumas fases bem definidas:
Compra de cartas, ações (baixar cartas), Checagem ou batalha (absorção de danos e aplicação de dano excedente) e limpeza.
A principal diferença foi no rosto dos jogadores.
Consegui explicar as regras em 10 minutos e o jogo fluiu em meia hora.
Por hora estou satisfeito, já tenho algo mais concreto e realmente se parece com um "Jogo" que eu gostaria de jogar.
Ah! E em breve vocês poderão jogar "No man's land".
Agradeço a todos que embarcaram comigo e com meu amigo Suleyman nessa jornada.
Agora conte-me mais: você já tirou alguma ideia do papel?
Para você, qual será o papel da IA na criação de jogos? Ela vai matar a criatividade ou permitirá que leigos (como eu) coloquem suas ideias na mesa?