Aqui e ali gosto de pegar um número alto e aleatório do rank da Ludopedia ou do BGG e me deparo com jogos que não têm explicação de estarem tão “lá para baixo”. Hoje esbarrei com O Albergue Sangrento, número 710 por aqui e 777 lá fora. Queria ver as avaliações e entender o motivo de o jogo ser um pouco “esquecido”. E não é que me surpreendi? As avaliações dele são ótimas, tais como as minhas (eu adoro esse jogo). Quase todo mundo que parou para escrever algo na avaliação deu nota 7 ou superior e não são raros os adjetivos como “dinâmico”, “divertido” e “interessante (mecanicamente falando)”.
Tanto aqui quanto lá fora o aspecto mais explicitado é a morbidez (não o lado negativo, mas a surpresa de se divertir com algo tão obscuro). O fato de ter cartas de uso múltiplo, tensão e bastante estratégia também levam a ótimas avaliações. Me fez perguntar novamente: por que Albergue Sangrento não deu certo? Será que isso evitou com que Nicolas Robert lançasse mais jogos?
Para quem não conhece (e, vá por mim, vale a pena), o jogo é sobre sobre um albergue localizado em um vilarejo remoto onde a família proprietária (os jogadores) é gananciosa. O esquema para enriquecer é macabro: aqueles que são roubados não saem vivos do albergue e os corpos precisam ser enterrados para que a polícia não suspeite. Em meio a um oceano de jogos de gatinhos, bonequinhos, dinossaurinhos, é ótimo ver um tema fora da curva. São tantas as histórias que podem ser contadas que lamento a repetição que chega ao mercado dos board games.

O Albergue Sangrento é de 2015, foi trazido pela Grok/Mandala em 2017, e se esgotou entre 2022 e 2023 (quando poucas unidades ainda podiam ser encontradas no fundo de uma ou duas prateleiras). Ao que parece, não fez sucesso – a única expansão dele não chegou por aqui também. Achei que eu chegaria aqui e seria um “solitário” que se diverte com a morbidez, mas, pelas avaliações, mais pessoas querem algo diferente. Felizmente sempre há uma versão usada sendo leiloada, aqui e ali, para aqueles que perderam o bonde (embora tenham de pagar mais de 200 pilas por um jogo que paguei R$ 89 em 2019). E pode ser uma “descoberta” neste momento que os brasileiros estão adorando jogos de carta com uma pegada diferente.
Luciano Marques