SEIS REFLEXÕES
SOBRE COMO ANDA O HOBBY

Esse foi o texto mais difícil que já me propus a escrever. É muito difícil tentar sintetizar em poucos mil caracteres o que eu já vi e vivi ao longo de quase 8 anos imerso no hobby, principalmente pelo fato do hobby ter se mostrado algo muito além do simples “compra o jogo, abre o jogo, cheira o jogo, lê o manual, marca jogatina, remarca jogatina (pelo fato de alguém sempre furar em cima da hora), vai pra jogatina, joga o jogo”.
Atualmente existe uma preocupação sobre o impacto dos jogos, o impacto das empresas de jogos, o impacto da percepção dos jogadores sobre os jogos e, além disso tudo, temos uma quantidade alta de jogos sendo lançados. Claro que essa percepção é exclusivamente minha e possa ser que tenha gente com 20 anos de hobby e outros que entraram semana passada que não liguem para nada disso (e certamente tem), gente que só quer ir na loja ou entrar no site, comprar o jogo e fim. Não desmereço nenhuma das partes, pois o hobby é construído disso mesmo: a pluralidade de vivências individuais que compartilham de um mesmo propósito (no caso, jogar jogos de tabuleiro modernos). Contudo, acredito ser quase impossível estar engajado no hobby e não ter tropeçado em alguma postagem que discuta o que levantei no início do texto, como um bafafá sobre empresa X fazer coisa Y com uma música tenebrosa tocando ao fundo e chamas ardendo no horizonte.
Fazer as reflexões que trago aqui que me inspirou ao fazer a imagem da capa da postagem: doramas genéricos. Estamos vivendo uma onda de reclamações que tem muito sentido, porém será que estamos reclamando da coisa certa mesmo? Não estaríamos vivendo de repetecos, tanto nos problemas que vemos, como nas produções artísticas? Isso, e um pouco mais, é o que proponho debatermos. A partir disso, e juntando com fragmentos de reflexões de outros momentos que estavam salvos em documentos do word espalhados pelo meu PC, resolvi montar esse texto. Irei separá-lo em bloquinhos, como de costume, por uma questão da necessidade de uma organização mental por minha parte mesmo. Comentem, discutam, duvidem, fiquem à vontade!
#1 Velhas brigas e novas coberturas de chantilly

Muita treta já aconteceu nos últimos anos que estou acompanhando o hobby (só com esse canalzinho de texto são mais de 4 anos). Não vou listar todas as tretas que já presenciei no hobby, primeiro por não confiar tanto na minha memória, segundo para não reacender fogo em madeira que já virou barco. O lance é que não importa se a treta parece nova ou é definitivamente velha, ela sempre será algo requentado, pois depois de algum tempo, é comum um tópico de treta aparecer e depois de um tempinho vir outra para tomar seu lugar.
“A loja A que sumiu e deu calote”, “A empresa B que não quer compartilhar pedaço do nome”, “A editora C que fez caquinha com a produção de jogo”, “A editora C (de novo) que parece ter montado seu estoque dentro de um freezer”, “A pré-venda que veio com o mesmo preço da venda”, “O lançamento já pago que atrasou dezoito meses”, “O youtuber D que falou besteira”, “O canal E que é um vendido capitalistinha (apesar disso ter sido dito todo ano ao menos uma vez)”, “O Correio que é atrapalhado e o frete supervalorizado” ...e assim por diante, são coisas que já aconteceram e, não se espantem, mas vão acontecer de novo, não iguaizinhas, mais ou menos parecidas. O povo tem memória curta e seletiva. Por exemplo: reclamamos de uma editora, mas quando sai um jogo com tema atrativo ou promoção com preço baratinho vamos lá e compramos.
Quando rola aquela descarga de alegria e entusiasmo com joguinho novo, aquela que o quarteto de neurotransmissores (endorfina, serotonina, dopamina e oxitocina) nos proporciona, por alguns dias esquecemos dos problemas que envolvem o hobby e movimenta tanto os fóruns na internet. Essa alegria é a cobertura de chantilly. Ela vem muitas vezes para camuflar um sorvete de qualidade duvidosa e com prazo de validade rabiscado.
Não estou aqui falando para não nos esbaldarmos de coberturas de chantilly. Elas são necessárias e é, no fim das contas, justamente por causa dela que estamos no hobby (ou que acabamos pedindo a sobremesa). Tem muita gente que se dedica em reclamar, mas efetivamente faz pouco para buscar soluções e, talvez por isso, os mesmos problemas ressurgem de quando em vez. É um ciclo que vem se repetindo ao longo de todo o tempo que estou no hobby, logo, quando aparece uma treta nova, antes de qualquer coisa, eu paro e penso, afim de observar se ela é realmente nova. Por exemplo, reclamar que um jogo está no absurdo patamar de preço de R$700 reais é coisa de hoje, mas antes da pandemia já existia esse mesmo papo com jogos no valor de R$400. O que mudou, além do preço subir? Nada. Subiu de novo do mesmo jeito.
A reflexão que quero deixar nesse bloco é: se algo está ruim para você, você está meio cansado de como as coisas andam, faça algo, se movimente diferente. Não deixe o chantilly e a cereja desviarem sua atenção.
#2 Lançamentos: como estão?

Lançar cada vez mais jogos no Brasil é um ponto muito positivo, contudo, será que por existirem muitos lançamentos atualmente, nós realmente, pensando como indivíduos singulares, precisamos estar a par de todos eles? É comum algum amigo do hobby me perguntar: "ow, Guri, você viu o jogo TAL que tá pra lançar?" E eu responder: "não, não vi". O ato de ter liberdade com o uso do "NÃO" em nossas vidas é libertador. Não digo que não gosto de lançamento, estar informado é importante, porém, eu não VIVO de lançamento. Dá para contar na ponta dos dedos de uma mão do presidente quantas postagens fiz de jogo em lançamento (por curiosidade, levantei aqui: 4).
Eu tento sempre jogar alguma novidade que algum amigo comprou, não sou bobo e nem serei hipócrita, porém, o efeito ‘Uau, que jogão!’ tem ocorrido comigo com tanta frequência (ou até mais) quando jogo algo mais antigo em relação à alguma novidade. O que sinto é que o mercado de gamedesign parece que está com uma certa dificuldade para criar coisas realmente novas e surpreendentes, não vou, contudo, cair na tentação de apontar um motivo, pois acho que nunca é um fenômeno isolado sozinho, até mesmo pelo fato de o problema ser eu: Raphael está um pouco saturado de ver jogo com tema de bichinho, Cthulhu ou algum país antigo no meio da Europa. O chato, no final das contas, possa ser eu mesmo.
Para me defender um pouco, vou ser analítico: abrirei a aba lançamentos da Ludopedia, onde encontramos tudo que saiu no Brasil. Nos últimos meses tivemos entre os destaques uma reimpressão, Onitama; Um novo Great Western Trail, ou seja, jogo novo feito dentro do esqueleto de um jogo mais velho; Wyrmspan, outro jogo novo que se baseia em outro jogo mais velho; Estudiosos do Sul do Tigre, um novo volume de uma saga interminável de jogos do Shem Phillips; mais Exit’s; mais um monte de reimpressões e novas versões de jogo velho, como Similo: Senhor dos Anéis e Ascension Edição de Aniversário de 10 Anos, que ironicamente ou não, chegou para nós aos 12 anos de idade do jogo. Em resumo, um monte de coisinha recauchutada de ideias antigas (o Wyrmspan mesmo, eu mesmo fiz piada na minha análise sobre o Wingspan: Asia, dizendo que só falta fazerem com bichos mitológicos... e tá aí); Tem Gutenberg, que é de 2021; Delta, que é realmente novo, mas basicamente uma junção de um monte de mecânica já conhecida com nada de novo; Águeda: Cidade das Umbrellas, que achei bem aguado, parece que mirou no Azul e acertou no Bingo; Um Ticket to Ride, mas dessa vez em versão Legacy, afinal não tinha mais o que inventar com a franquia; Pacotinho de expansões de Root que se proliferam mais do que coelhinhos... e o ápice, que é ver que algum ser de luz, acho que por pura trolagem (só pode ter sido), colocou “O Desafio do Prego” como um lançamento de 2023 no site (e não tô brincando, olhe você mesmo:
https://ludopedia.com.br/jogo/desafio-do-prego (se alguém não entendeu, esse tipo de desafio/quebra-cabeça/enigma é extremamente comum, eu mesmo com 5 anos de idade [leia: mais de 30 anos atrás] tinha um exatamente igual esse ‘desafio do prego’ que um tio muito querido, que era serralheiro, fez artesanalmente para mim).
O ponto que quero levantar é: tem novidade? Até tem, sempre tem, como Honey Buzz (que parece que está em uma onda de jogos com temas fofos, que é a vibe da vez), porém mais do que novidades, atualmente temos muito re-uso de franquias e mecânicas. Inovação mesmo, mesmo, mesmo-mesmo, eu não tenho visto muito. Temos que tomar cuidado com muito discurso inflamado e convincente pela internet dizendo que determinado jogo é um forte competidor a tops-melhores-de-todos-os-tempos, sendo que uma semana depois é esquecido e largado de lado por essa mesma pessoa.
#3 Lançamentos: onde estão?

Eu não deixo de escrever sobre lançamento por falta de existência e tão pouco por falta acesso (meu amigo Herbert Barros tá sempre atualizado e foram muitas vezes que ele trouxe jogo pra jogatina tão novo que nem eu sabia que tinha sido lançado já...e lá fora), deixo de escrever sobre lançamentos, principalmente, por NÃO QUERER ESCREVER. Existe uma lacuna gigante no mercado sobre falar de jogo "esquecido", aquele que se passaram meses após seu lançamento, do tipo que o público já mastigou, digeriu e devolveu pro mundo todo o hype. Digo mais, com "um jogo esquecido" não me refiro só a coisa antigona, mas também coisa que saiu em novembro/2023, uma vez que a taxa de lançamentos está muito rápida e a fila do hype não para, a ponto de coisa de dois meses atrás já ter se tornado quase algo de um passado remoto que quase ninguém lembra.
Eu entendo que a fonte vital de canais patrocinados sejam lançamentos e no final das contas, cada material criado um dia ficará velho também. Quantas vezes vocês já não se depararam com algum vídeo de 4 anos atrás quando buscaram sobre algum jogo no Youtube? A bronca aqui não é com o youtuber, tiktoker, instagramer, mas com nós mesmos, com nosso hábito de querer estar na moda o tempo todo. É preciso entender que canal popular que faz unboxing + vídeo de regra + análise de lançamento só é popular justamente pelo fato de ocupar um espaço fazendo o que editora nenhuma quer se dar ao trabalho de fazer (unboxing + vídeo de regra de seus produtos), em troca, estes canais recebem joguinhos, conseguem patrocínios variados e viram figurinhas pop no meio. Esse é o pagamento que recebem e se está bom para eles, está tudo certo para todo mundo. Pouquíssimos canais fazem pelo prazer de criar, escrever, filmar e editar, poucos fazem para ajudar a comunidade e para estender sua relação com cada obra. São dois perfis e formas de encarar o hobby e a criação de conteúdo diferentes e se os envolvidos estão felizes, está tudo realmente certo.
Como jogadores e espectadores, o que precisamos fazer mais é um mea-culpa, ao invés de criticar alguma das partes. Vamos ser sinceros: quantos de nós não ficamos com lombrigas para adquirir e jogar algo recém anunciado, enquanto temos em casa algum jogo ainda não estreado ou até que só jogamos umas duas vezes?
Apesar de todo conteúdo, obviamente, envelhecer, é diferente quando o consumidor faz uma busca ativa e acha um conteúdo de 2020 sobre um determinado jogo em relação a quando o consumidor recebe, em 2024, um alerta em algum site ou rede social sobre uma produção nova que trata de jogo não-lançamento. Receber um comunicado de um canal que seguimos falando de um jogo antigo considero positivo (e sempre tentei fazer isso) por dois motivos principais:
1º) Quem produziu está olhando aquela obra a partir de uma perspectiva nova, tempos depois do momento de hype em que o jogo chegou no mercado;
2º) O jogo pode ser velho no mercado, mas novo para nós. Esse segundo ponto é o principal aprendizado que busco trazer nesse bloco, inclusive. Minha coleção vive, em média, quase um ano atrasada em relação a lançamento e isso foi a melhor coisa que já fiz para o meu bolso e para meu consumo como jogador, e ouso alegar que é possível fazer uma coleção bem bacana com jogos que não passem muito dos R$200. É um tapa na cara, mas um que precisamos levar: não é preciso comprar jogo de R$600 para se divertir com muita qualidade. Este bloco também veio com a finalidade de nos lembrar que quando sai coisa boa, outra coisa boa não deixa de ser boa só por isso, inclusive achamos muita coisa boa por um preço bom também.
3º) É um exercício de facilitador no autocontrole consumista. Ver um jogo novo ser anunciado aqui no Brasil é muito legal, algumas vezes soa até como uma vitória para nação, mas eu não fico só vendo anúncio, texto e vídeo de jogo lançado no Brasil, vejo muita coisa gringa e lápelasquelas bandas, meus colegas, tem muita (muita, mesmo) coisa que nunca chegará aqui, logo, aprendi (com muito esforço) a consumir conteúdo e não querer uma cópia para mim. Esse é possivelmente o exercício mais difícil para o hobbista, principalmente para aqueles que se consideram colecionadores e/ou acabaram de entrar no hobby: não querer tudo que olha. O amadurecimento dentro do hobby vem junto com o autocontrole nas compras e do insight sobre o conhecimento do gosto pessoal, o que nos leva ao quarto bloco.
#4 Nosso tempo de casa não quer dizer muita coisa (para os outros)

Outro ponto que também atrapalha o hobby e é puro mito: o ego da experiência boardgamer e carteiradas (sejam de quem forem). Esse pedaço da postagem acredito que vai atiçar um comichãozinho atrás na parte posterior do pescoço de muita gente, principalmente daqueles que acham que ser sommelier de tabuleiro é algo de status intocável. A experiência como jogador se comporta quase como uma falácia. Esse comportamento de que "estou a X+9 tempo no hobby, então só coloco na mesa jogo do tipo zuliblulei, pois são os melhores" é uma completa bobeira. É como se existisse um "ranking de expertise em gosto", como se Food Chain Magnate fosse um Cháteau Petrus enquanto o Ticket to Ride seria um Salton Chalise no paladar desse sommelier tabuleirístico e isso fosse válido para todos outros, reles ingressantes, nesse mundo mágico.
É óbvio que quanto mais tempo de hobby, a pessoa entende melhor quais são suas preferências, teve tempo de ler e pesquisar mais sobre o assunto, deu para aprender o que mais lhe toca o sininho e o que melhor funciona na sua mesa, mas ter ciência disso é completamente diferente de ter um discurso que reduz, diminui e esculhamba determinadas obras ou pessoas. O cidadão que faz isso está tão errado quanto quem acha que ouvir black metal lhe coloca em um patamar superior em relação a quem prefere ouvir só um forrózinho.
Tem gente que precisa ainda aprender que tempo de hobby é bom apenas por ter tido mais horas de jogatina, fora isso, não é argumento de validação de nada. Isso, inclusive, é válido até para gamedesigners! Tem muito jogo novo sendo lançado por gente que já lançou coisa diferente (e melhor dentro de gostos pessoais) antes (o que serve até de reforço para o tópico #2), vide o mestre Knizia que em 1995 lançou a pedrada High Society, excelentíssimo jogo, e em 2019 me vem com Lhama... não diminuindo o jogo do bichinho, mas ele é algo bem mais leve, muito mais simples na questão de leitura de jogo e possibilidades, é despretensioso e meio que se joga sozinho, tudo isso se comparado com o High Society e ambos são do mesmo designer.
...E afinal, qual o perigo desse tipo de discurso da pessoa que se diz sabichona-mor? Espalhar informação enviesada. É muito diferente dizer "tal jogo não funcionou comigo, pois não gosto de bloqueio direto" para "esse jogo é ruim, tá quebrado, pois não tem como vencer sem bloquear o adversário". Percebem a diferença? Ter percepção de que nosso gosto é só nosso é um exercício que muitos deveriam tentar fazer mais vezes. Eu mesmo, ao fazer análises, tento passar apenas a minha percepção, com base na minha experiência. A ação de analisar uma obra artística será sempre através da comparação, logo julgar uma obra, como um jogo, não é uma só ciência, além de ser também uma arte. Inclusive, por isso que a definição através de notas é tão difícil e coisas como 'Peso' no BGG é tão oscilante e inconsistente.
#5 Consumir é parte da diversão?

Consumir faz parte do hobby, em maior ou menor grau. Em maior, se você tem espaço e verba suficiente e compra tudo que vê pela frente para a alegria do lojista e da editora ou em menor grau se você não compra nada e só gasta com condução e lanchinho na casa do amigo que se encarregou da parte de comprar os jogos. Independentemente de onde você se enquadra, eu posso chutar (e acho que com certa precisão) que você adoraria/adora a experiência de ver um jogo, gamar na ideia que ele te vende, comprar, receber, abrir, organizar e colocar em alguma prateleira. Logo, o consumir está atrelado de alguma forma, nem que seja apenas ao desejo insaciado.
A dificuldade mesmo não está no ‘não consumir’, mas no ‘consumir de forma saudável’. É bem mais fácil sair de tudo quanto é grupo de WhatsApp, apagar Ludopedia e BGG da aba ‘Favoritos’ e mentalizar que não existe loja de jogo de tabuleiro que mereça seu suado dinheirinho do que permanecer exposto a tudo isso e, ainda assim, consumir pouco. Quando abrimos o Youtube e assinamos algum canal pop, é fato que vai ser jogado em nossa cara um jogo novo, com um tema que te conquista e uma mecânica que parece muito inventiva, além de promoções malucas surpresas. Ver tudo isso, querer e não comprar é o mais difícil.
Se você conseguiu vencer essa barreira do ‘querer’, driblando lançamentos e ofertas promocionais de jogo mais antiguinho, você é um vencedor, já te adianto isso. Agora que você é um vencedor, você consegue se indagar: Eu precisava mesmo ter tudo isso que eu já tenho na prateleira? A resposta é “provavelmente não”. É interessante pensar que o ato de consumir é apenas um passo dentro dos processos que permeiam o hobby, porém a finalidade objetiva nunca é o consumo em si, mas a diversão. Alguns meses atrás, para criar uma postagem que ainda não saiu do forno, perguntei para alguns criadores de conteúdo independentes “O que é diversão” e eles deram as seguintes respostas:
“Diversão para mim é esquecer da vida real e poder dar um sorriso sincero com algo que vai embora em 5 minutos, mas pode marcar toda uma vida de forma positiva. O jogo de tabuleiro é apenas uma das milhares de ferramentas que a humanidade criou para atingir esses minutos de diversão!”
“O que me diverte é me sentir criança novamente. Não importa com o que - se é jogar os jogos, se é brincar com os colegas (por exemplo: você vai perder! você roubou aqui! vou desroubar então!"), dar apelido para os jogos, se é comprar os jogos, se é olhar para a estante e ver todos os brinque...jogos, ou qualquer outra coisa. Quando me identifico com as coisas que as crianças gostam, eu reavivo a criança que existe em mim. Como uma criança é toda alegria, simplicidade e espontaneidade, essas coisas também reavivam na minha vida. E cria um ambiente incrível onde muitas coisas mágicas podem acontecer.”
“Sabe o recurso coringa ou a carta coringa? É assim que vejo nosso hobby, como uma multiplicidade de fontes de diversão. Jogo bastante solo, tem horas que tudo que busco é debruçar-se em desdobramentos de mecânicas e variações de possibilidades dentro das regras resolvendo. Bem como tem hora que tudo que busco é a interação social com muita leitura de mesa e boas risadas, seja pra superar os colegas de mesa, seja pra dar as mãos em torno de um grande problema em comum (nos jogos cooperativos). O que me DIVERTE é o mesmo hobby proporcionar tudo isso (daí a ideia de ser um hobby coringa) através do microverso contido em cada caixinha com suas histórias pra contar.”
“A diversão não apenas em board games, mas com todas as formas de entretenimento, variam de pessoa para pessoa. Se a pessoa se diverte com jogos de carta e uma multidão de pessoas em volta da mesa, com muita algazarra, tudo bem. Se a pessoa se diverte com jogos familiares leves, mas com alguma estratégia envolvida, tudo bem. E se a pessoa se diverte com 3 ou 4 pessoas jogando sério um board game pesado e profundamente estratégico, adivinha só, tudo bem também. O importante, principalmente para que é novo no hobby é experimentar a maior quantidade de jogos possíveis, para descobrir o que realmente lhe diverte, e aproveitar bastante."
Com base nessa pequenina amostra (mas de qualidade), percebemos que o consumir se faz algo necessário, porém não é – e acredito pessoalmente que nem deva ser – a finalidade do hobby e se alguém te afirmar que ‘comprando um jogo X você estará mais feliz’, ele quer apenas lucrar com aquilo de alguma forma ou está tão enganado quanto tenta te enganar acidentalmente. Vamos ser conscientes e aprender que mesmo com pouco é possível nos divertir muito.
#6 É possível ter uma coleção variada pagando pouco?

Resposta sem enrolação: É, SIM.
Resposta com enrolação: Demanda um pouco de paciência; estar atento em calendários de descontos sazonais; estar aberto à experimentação de jogos feitos por designers menos conhecidos, que driblam o hype ou até que ficam com fama de ‘flopados’; não se deixar levar pelo hype; mas, se fez tudo isso mais ou menos certinho, sim, é possível ter uma coleção variada com jogos excelentes que custam até uns R$200epoucos reais e estar muito feliz com isso.
De todos os pontos apresentados no parágrafo anterior, o de maior destaque acho que é o fato de não sucumbir ao hype. Comprar um jogo com mais tempo de mercado tem muito mais vantagens do que desvantagens, por exemplo:
1. Tem muito mais conteúdo sobre ele na internet, dando uma melhor noção do que esperar do jogo;
2. Se tiver cag@da de editora, você não é pego de surpresa;
3. O preço, muitas vezes, diminui (e em alguns casos, diminui consideravelmente);
4. Se já tiver expansão ou alguma estiver a caminho, dá tempo de preparar o bolso e o psicológico;
5. Deu tempo pra fã cutucar, criar, mexer e sugerir melhorias, personalizações, variantes e macetes.
Claro que, em alguns casos, existe também algo negativo, tenebroso até: o mofo. Contudo, ironicamente ou não, muitos jogos em lançamento têm surgido no mercado com mofo, então esse ponto negativo para "jogo parado na estante um tempão" não é mais uma realidade unânime. Dá para ser novo e bolorento hoje em dia, (muito) infelizmente.
O segundo ponto de maior destaque que levantei na listinha na resposta com enrolação acho se tratar do termo ‘flopado’. O termo ‘flop’ vem do inglês e quer representar algo que ‘falhou’, que ‘colapsou’ ou então que foi um ‘fracasso’. Não é um termo novo e, segundo o site Online Etymology Dictionary, em meados de 1890 já existem registros dessa gíria. ‘Flopado’, a grosso modo, se refere a algum jogo que foi lançado, não fez o sucesso esperado e, por não ter caído na graça do povo, foi um fracasso. Contudo, não necessariamente um jogo ‘flopado’ é um jogo ruim, apesar do uso do termo trazer consigo essa conotação negativa em relação a qualidade do jogo do ponto de vista mecânica e de divertimento. Apesar disso, eu sou um declarado fã de flopados. Eles acabam sendo jogos que não esperamos muito, que não levantamos muito as expectativas, e talvez por isso, quando jogamos e gostamos, a surpresa acaba sendo boa na maioria das vezes. Sou a favor das campanhas ‘Meu Flopado, Minha Vida’ e “Adote um Flopadinho”.
“Tá, no discurso é lindo, mas e na prática?” Na prática é lindo também, pelo menos para quem não acha que foi tapeado. O que quero dizer é que é maravilhoso quando não temos um jogo e ele aparece em promoção maluca de 100conto, mas é deprimente quando nós temos um determinado jogo que pagamos R$400 e no mês seguinte vemos esse mesmo carinha sendo vendido pela metade do preço. Infelizmente esse é um risco que toda e qualquer pessoa que compra jogo hoje em dia está exposto. Por mais que seja possível dar uns palpites de quais jogos vão aparecer em Black Days ao longo do ano (justamente ‘days’ e não ‘Fridays’ pelo fato de existirem diversas campanhas ao longo do ano hoje em dia), geralmente devido a vendagem do título nas primeiras semanas ou a aceitação do público com a obra, ainda assim sempre aparece alguma surpresinha nessas promoções.
Ainda falando sobre a prática, temos diversos jogos bons que passaram por essas promoções e hoje em dia, mesmo no mercado de usados, são encontrados por preços até R$200, além de constantes novas promoções que estão surgindo. Eu mesmo tenho vários jogos que comprei nessas promoções, não esperava nada e me surpreendi. Alguns exemplos de jogos que foram comercializados em algum momento dentro dessa faixa de preço (e às vezes até metade dela):
Kick-Ass: The Boardgame, Reef, Reykholt, The Battle For Rokugan, Blackout: Hong Kong, Hellboy: The Boardgame, Blue Moon City, Coimbra, Noctiluca, Dream Home, Imperial Settlers: A Ascensão de um Império, Conquistadores de Midgard, Corrosion, La Granja, Bad Bones, Futuropia, Os Parques de Miss Liz, Quadropolis, Zapotec, Above and Below, Jórvik, Taverna, Tawantinsyu: O Império Inca, Dominations, Red Rising, It’s a Wonderful World, Raids, Origins: Os Primeiros Construtores, Witchstone... e com certeza esqueci mais um montão!
Esses foram apenas alguns exemplos, e não cheguei a buscar os que estavam entre R$200 e R$300. Logo, sim, é possível ter uma coleção legal, relativamente grande, com muitas opções (e boas) de jogos de ‘caixa grande’ sem gastar meio salário mínimo em cada jogo.
Cena pós-créditos... e uma revelação:

Esses foram meus 5 centavos (um tanto longos) de pitacos sobre o hobby, texto esse que resolvi escrever motivado pelas constantes conversas em fóruns e grupos de Facebook e Whatsapp que acompanhei nos últimos tempos. No final das contas, nada de novo no
front, talvez apenas mais gente querendo praticar a rebeldia da mudança, o que eu apoio 100%. Esse meu texto, portanto, foi mais uma tentativa de abarcar um pedacinho do hobby segundo minha perspectiva, já que, talvez, eu não tenha muito mais chances de fazê-lo.
Chegamos ao fim da postagem.
...mas, aqui preciso compartilhar algo com vocês: agradecer a todos que leram este texto e ainda mais aos que leram também outros textos que postei por aqui.
Chegamos também ao meu fim, ao menos a uma pausa sem um plano breve de voltar.
O tempo para escrever está escasso e, sinceramente, não tenho sentido incentivo o suficiente para continuar, salvo vocês, colegas leitores. Além disso, não quero viver em um mundo no qual seja necessário fazer malabarismos para dizer exatamente o que penso. Não quero me comparar hoje a meus heróis de outrora nesse sentido. Vou tentar fazer minha parte, mas de outro jeito, nem que seja um pequeno grão em comparação a tantos canais que existem no mercado, a tanta gente bacana que também pararam de produzir e os novos que ainda virão. Certamente não é o fim da viagem, mas é o fim dessa estrada para mim. Deixo um pouco do que vivi e algumas singelas canções para fazer um fundo musical bem dramático (como de costume).
Abraços digitais.
Até algum outro lugar ou outro momento.
Um texto de
Raphael Gurian
Informação inútil: Escolhi 6 motivos, pois o grupo de bate-papo Sociedade dos Boards no WhatsApp tem 6 anos de idade (6 anos e 1 mês, para ser exato). Contudo, fazem ‘apenas’ 4 anos que resolvi criar o canal de criação de conteúdo. Considero-me, então, bacharelado na parada (o que significa absolutamente nada).
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