(Análise) Newton
Título: Newton (2018)
Designer: Simone Luciani, Nestore Mangone
Arte: Klemens Franz
Editora nacional: Meeple BR
Nº de jogadores: 1 a 4
Newton é um jogo que me trouxe sentimentos mistos. Acabou me agradando bastante pela mecânica inteligente,
apesar de ter um tema quase inexistente (e que vacila no pouco que existe).
Resumo de Como o Jogo Funciona
Uma partida é composta por seis rodadas e cada uma por cinco turnos. Em seu turno, o jogador deve baixar uma carta de sua mão em seu tabuleiro individual e realizar a ação relacionada, além de poder efetuar algumas ações livres e, se a carta permitir, alguma ação bônus. As ações possíveis são: andar por um mapa da Europa, coletando bônus e deixando cubos de madeira que servem como ‘marcadores de local visitado’; progredir em uma trilha de trabalho, recompensando o jogador com moedas e, eventualmente, algum bônus; mover meeples (menores do que o alocado no mapa da Europa) por algumas trilhas, com a finalidade de ativar algumas bonificações; adquirir novas cartas para sua mão; colocar peças de livro em seu tabuleiro individual, caso tiver cumprido requisitos como ter visitados lugares específicos (naquele mapa da Europa) ou mesmo ter cartas baixadas com a imagem de alguns livros (que podem ser de três cores diferentes: azul, verde ou laranja). Sempre que o jogador baixa uma carta, ele realiza a ação relacionada com uma determinada ‘força’, referente à quantidade de símbolos iguais da mesma ação que ele já possua em seu tabuleiro inicial (que são acumulados através de alguns marcadores ou as cartas que já tenha baixado). Em todo final de rodada, após uma fase de receita de recursos e pontos, o jogador deve escolher uma das cartas baixadas para deixar definitivamente presa em seu tabuleiro individual, perdendo assim o acesso a baixá-la em rodadas futuras, assim como o acesso a seu efeito bônus, contudo garante +1 de força naquela ação dali para frente. Ao final da sexta rodada, quem tiver mais pontos de vitória é o vencedor!
Mecânicas Principais: Gestão de Mão; Coleção de Componentes.
Critérios
Ø Qualidade dos Componentes
PRÓS: Não espere nada diferente de tudo que você já está acostumado a ver no mundo dos jogos de tabuleiro. Cartas, cartonados, meeples e cubinhos de madeira, tabuleiro e manual tudo de uma qualidade mediana, boa, nada a se criticar, mas também com nenhum diferencial. O manual é bem escrito e achei tudo bem dividido (quando entendemos o jogo, é bem mais simples do que parece).
CONTRAS: É tudo tão mediano que fica difícil elogiar ou mesmo reclamar. Se for para ser muito crítico em relação aos componentes, posso dizer que achei a gramatura da caixa meio baixa, sendo meio molenga, mas nada abaixo de produtos que vemos de algumas outras editoras no mercado nacional.
(Todos os componentes)
Ø Arte
PRÓS: A arte é de Klemens Franz, logo isso irá agradar uns e desagradar outros, já que ele é conhecido por uma arte meio cartunesca e sem muito detalhes. Falando da parte positiva, independentemente de gosto, a iconografia é de fácil entendimento (são poucos ícones também, o que ajuda) e é tudo em um tom meio bege-amarronzado-com-filtro-sépia, o que faz remeter algo antigo. Algo bonitinho, e até funcional e onde consegue temático, para completar, a arte do tabuleiro de jogador ser uma escrivaninha com uma prateleira de livros ao fundo é uma ideia bacana, mas nada de outro mundo.
CONTRAS: A arte é uma extensão do tema, logo se o tema apresenta problemas a tendência é que a arte acabe sofrendo do mesmo mal ou, no melhor dos casos, não tenha força o suficiente para segurar um tema frouxo sozinha. Dito isso, apesar de curtir a ideia da escrivaninha no tabuleiro individual, existem elementos ali que achei um tanto estranhos: a. Os vitrais que dividem os nichos da prateleira de livro não parecem ‘vidro’, mas ‘pedras’, nem sei bem na real, não achei bem feitos; b. A parte que ficam os cubinhos de madeira representa absolutamente nada, sendo só um fundo marrom com um monte de cubinhos, matando a tentativa de imersão do restante do tabuleiro.
Falando dos demais tabuleiros, o do ‘mapa da Europa’ parece que nem o artista sabia se era uma representação real do mapa ou um mapa sobre uma mesa, afinal a arte de Klemens Franz (que eu até gosto) não é ideal para diferenciarmos um cenário realista de um ‘somente desenhado’ e o fato de existir uma bússola grandona desenhada neste tabuleiro me deixa confuso: é uma arte de um pedaço de mapa ou um pedaço do mundo real visto de cima? Não existem ‘dicas’ para tal, como bordas, riscos, retoques e etc... coisas, inclusive, que existem no outro tabuleiro central (o Tabuleiro de Evolução), este claramente mostrando um pedaço de folha, só que amassada, com dobras e até rasgos, a ponto de eu não entender o motivo de tanta violência com esse pobre pedaço de papel. Aí, para coroar a bagunça, ainda nesse Tabuleiro de Evolução, temos uma trilha na parte superior que representa a ação de trabalhar (com a qual ganhamos moedas), em que vemos alguns personagens, cenários de montanhas e bosques ao fundo...e eu pergunto: Para quê? Como? Não existe uma transição entre o ‘pedaço de papel surrado em uma escrivaninha’ para o ‘cenário verdejante com pensadores pensantes’.
Ainda pensando nessa ‘unidade temática’ dos tabuleiros, ambos – o do Mapa e o de Evolução – não se complementam, ficando nitidamente dois tabuleiros soltos, que não dialogam entre si, na superfície sagrada de uma mesa de jogos. Faltou para mim, claramente, um pouco mais de tempo de reflexão e até mais tentativas de experimentação para que tudo fosse alocado de forma mais temática, inclusive, qual o motivo de termos dois tabuleiros, sendo que lado a lado ficam o tamanho de um tabuleiro grande convencional? O único motivo que vejo seria a adição de tabuleiros diferentes misturando-se ‘frente-de-um-com-verso-do-outro’ para aumentar a rejogabilidade, contudo para justificar teria que ter, ao menos, mais uma opção no verso de cada um, o que não tem (vi que existe uma expansão apenas para o tabuleiro de Evolução, mas ela surgiu somente em 2022, ou seja, QUATRO anos depois do lançamento do jogo, logo não venham tentar me convencer que já estavam pensando nisso lá em 2018!).
Nota: ISSO TUDO, pois nem falei no recurso ‘Poção’, já que vou deixar para falar sobre ela no tópico Tema!

(Todos os tipos de marcadores cartonados presentes no jogo)
Ø Tempo de Preparação de Partida
Muito Alta. Newton é um jogo que se o dono não tiver um organizador (mesmo aqueles plásticos), vai ficar num abre-e-fecha-abre-e-fecha-abre-e-fecha de ziplocks (aqueles saquinhos plásticos) danado. Para montar uma partida é preciso: 1. Abrir dos tabuleiros; 2. Colocar algumas fichinhas redondas em ambos tabuleiros; 3. Colocar algumas (outras) fichinhas redondas e hexagonais maiores no tabuleiro do mapa; 4. Colocar algumas (mais) fichinhas com formato de bandeirola em ambos tabuleiros; 5. Colocar algumas (pois é...) fichinhas quadradas em um tabuleiro; 6. Colocar algumas (só que diferentes) fichinhas quadradas um pouco maiores no outro tabuleiro; 7. Agora é preciso separar as cartas em seus 3 valores (1 capelo, 2 capelos e 3 capelos*), embaralhar cada baralho separadamente e deixar 3 cartas de cada tipo abertas na mesa (2 em caso do modo solo); 8. Entregar para cada jogador um tabuleiro individual (são levemente diferentes em UMA coisa) e duas moedinhas; 9. Colocar os meeples nos tabuleiros e os discos nos pontos de vitória; 10. Então, cada jogador coloca nesse tabuleiro 12 peças de livro empilhadas em 4 fileiras de 3 peças; 10. Então (2: O Retorno), cada jogador coloca nesse tabuleiro os 12 cubinhos de sua cor; 11. Então (3: A Vingança Final), embaralhe e distribua 4 Cartas de Mestre para cada jogador e (recomendo) façam um draft com elas; 12. Por fim, é preciso colocar 9 – NOVE – pilhas de coisas que o jogador pode eventualmente receber durante a partida em seus locais delimitados no tabuleiro central (mas isso aqui acho totalmente desnecessário e opcional, por ser só estético mesmo, logo eu nem faço, então quando um jogador precisa de uma peça dessas, aí pegamos direto do organizador/saquinho plástico); 13. Agora só falta escolher o jogador inicial e entregar o marcador de jogador inicial para quem for ter essa responsabilidade (em formato de maçã com uma cara a lá Klemenz Franz desenhada/desbotada).
...Galerinha, se não esqueci nada enquanto escrevia, isso é a preparação da partida. Coisa pra caramba! No fim das contas, não é nada que com a ajuda da galera da mesa não se resolva em uns três minutinhos e, apesar de parecer ser um processo chato, tanta peça no tabuleiro serve para o Fator Rejogabilidade, então dou um desconto na minha cobrança, afinal é por uma boa causa. Meu conselho: se for a primeira vez que for jogar com alguém, peça ajuda e já vá explicando o que é cada um dos tipos (divididos pelos formatos) das peças, logo, utilizem esse tempo para já ir falando sobre o jogo, assim o tempo passa mais rápido e é melhor aproveitado (se todos já souberem jogar, peça ajuda e conte piadas enquanto isso, sei lá...).
*Capelo é aquele chapéu que usamos durante a formatura, junto com a beca, que é aquele roupão preto. Já repararam que a roupinha da formatura só falta ter uma toca para parecermos um cultistinha cthulhiano? Olha a ciência parecendo coisa do mal aí... O.o’

(Cartas dos mestres, os personagens famosos presentes no jogo)
(Cartas das ações. Em cima bônus que geram quando são jogadas e em baixo a ação em si)
Ø Curva de Aprendizagem
Lembrem que em “Curva de Aprendizagem” eu considero tanto a complexidade das regras como a dificuldade em dominar as mecânicas e pontuar bem. É um misto dentre esses dois aspectos.
Média. Nas primeiras partidas o jogador poderá sentir que é Alta ou até Muito Alta se for jogar com uma galera muito competitiva, uma vez que não é difícil calcular algo errado (ou deixar de calcular mesmo) e se sentir travado. O que acontece é que o jogador tem muita opção do que fazer e tudo parece igualmente recompensador a princípio (e realmente é), só que além da responsabilidade convencional do jogador em ‘entender as regras certo’ e ‘saber como pontuar bem para não passar vergonha’, o jogo lhe brinda (pois é algo positivo se a pessoa curte jogos ‘cabeça’ e com estratégia a longo prazo) com a necessidade de precisar pensar AGORA em como vai desenrolar TODAS as rodadas FUTURAS. Calma, vou tentar explicar melhor. O jogo funciona, a grosso modo, assim: o jogador tem 6 cartas iniciais nas mãos, sendo uma de cada tipo de ação e uma coringa. Durante a rodada o jogador coloca 5 cartas das que possui em seu tabuleiro individual e no final da rodada, obrigatoriamente, ele precisa escolher uma dessas cinco cartas para ficar presa para sempre em seu tabuleiro (aumentando a força daquela ação específica em +1). Beleza até aqui, certo? Ok. A consequência disso é que o jogador PRECISA ficar comprando novas cartas de ação para sua mão, se não ele fica sem cartas, o que EXIGE que ele planeje muito antecipadamente quais as cartas que ele irá adquirir e qual a sua ação (lembrando que ele tem uma quantidade limitada de cartas para serem compradas à sua disposição e nem sempre existem todas as ações ali disponíveis para compra), pois calcular errado pode gerar (e acredite, pois, acontece... já passei por isso): 1. O jogador ficar com muita ação repetida na mão e se ver obrigado a desperdiçar turnos ou fazer ações que não queria; 2. O jogador ficar com pouca carta na mão, o fazendo desperdiçar turnos e, no pior dos casos, nem baixar cartas; 3. O jogador pegar só carta com efeito bônus bom e se ver obrigado a jogar alguma dessas cartas fora permanentemente (pois precisa escolher uma dentre as jogadas); ou 4. O jogador não se programar bem e ter que escolher carta para travar permanentemente que não gere uma força de +1 em alguma ação que lhe seja tão útil no futuro. Tendo isso em vista, Newton é um jogo muito rico em opções, mas espere um jogo bem complexo em decisões se comparado com a maioria de jogos dos designers italianos.

(Tabuleiro do jogador, parece muita informação, mas na verdade não é)
Ø Presença de Tema
Muito Baixa, praticamente nenhuma. Pega uma pipoquinha e se prepare para o mais longo tópico já visto escrito por mim nesses anos de canal:
Existem jogos em que o tema não estar tão presente não incomoda, inclusive pode ser parte da proposta ser algo sutil ou mesmo completamente abstrato, contudo, quando um jogo se propõe a apresentar um tema, trazendo um título, época, local, figura reconhecida e assim por diante, a cobrança é outra. Dito isso, Newton é um jogo divertido, que acertou na mecânica, mas que errou grotescamente na adequação temática, uma vez que traz em seu título um nome famoso específico e uma época específica. O tema de Newton é tão baixo que chega a ser assustador o visível mínimo esmero dos designers em tentar fazer parecer que algo ali fazia sentido. Notem que chamo o tema de ‘Muito Baixo’ ao invés de ‘Nulo’, pois existe algum acerto na relação entre ‘ações na vida de um cientista (da área que for)’ com as cinco ações presentes no jogo, porém para por aí. A ausência de esforço por parte da equipe de desenvolvimento soa tão grande a ponto de não ser difícil dar sugestões que melhorariam drasticamente a imersão do jogador e percepção da historinha contada ao longo da partida. Apesar dos jogos da escola italiana não serem lá muito focados em tema, dessa vez, no caso de Newton, faço questão de apontar os itens que acho que foram puros relaxos (e não estou sendo dramático...tá, só um pouquinho) e até propor soluções simples, que não me custaram mais do que meio dia de trabalho elaborando, que resolvem, na minha opinião, a forma que o tema é apresentado. Eu tenho ciência que os pontos que listarei abaixo não criam um real impacto nas mecânicas, mas ajudam a deixar o jogo bem mais palatável e até incentivar mais a exploração do tema para além da mesa.
1. A primeira e mais evidente alteração seria a do título do jogo. Claro que aqui é um ponto que mexe até com o marketing do jogo (não que tenha lá muito), mas não vejo problemas que não sejam contornados. Acredito que a escolha de uma figura ou local famoso para batizar o jogo seja devido à facilidade e acesso para que a obra alcance mercados internacionais, uma vez que não é necessária uma tradução, logo o título da obra ficar igual em todo planeta é uma boa sacada, mas para mim, se isso prejudica a aplicação do tema no jogo também irá prejudicar de alguma forma a venda do jogo. Portanto algum nome como “Royal Society” cairia muito melhor para esse jogo que tem como tema central a vida de um acadêmico, vida na qual ele trabalha, dá aulas, coleciona obras, faz descobertas e assim por diante, ao invés de terem colocado ‘Newton’, sendo que o jogo não faz nenhum tipo de diferenciação, citação ou afins, relacionado com a obra e vida específica do cara.
2. Cartas de Mestre possuem um problema, a não ser que a ação de viagem ao invés de barcos e trens use algum DeLorean DMC-12 modificado para que viaje no tempo. O que acontece é que as Cartas de Mestre citam pessoas importantes em diversas áreas do conhecimento, só que elas viveram em épocas diferentes (e não me refiro a carta promocional como a do Stephen Hawking, afinal por ser promo, não conta), logo não faz o menor sentido o jogador passear pelo mundo, trabalhar bastante ou se aprimorar em alguma área do conhecimento e descer uma carta que representa um cara que viveu 80 anos antes de outro que já está em jogo. Indo aos números, existe uma diferença de 285 anos entre a data de nascimento do ‘mestre’ mais antigo (Cusano, de 1401) até o mais recente (Fahrenheit, de 1686), considerando que a média de vida desse período era de, mais ou menos, 50 anos, temos praticamente uma lacuna de 5 gerações entre os personagens, o que é muita coisa para juntar tudo. A solução nesse caso seria chamar as Cartas de Mestre de ‘Honrarias’ que teriam o nome dessas figuras importantes como o título da premiação e o jogador está controlando um personagem nos anos de 1800, ou seja, quase 50 anos após a morte do ‘último grande mestre’, tempo o suficiente para justificar a homenagem/honraria e ainda não causar estranheza em relação aos grandes cientistas que viveram entre 1730 à 1800, já que seriam contemporâneos do próprio jogador.
3. Uma vez que eu teria mudado o título, alterado o que as Cartas de Mestre representam e até o período histórico que o jogo está, afirmando, sem vergonha, em qual momento da história o jogador está, podemos simplesmente apagar aquele texto, escrito em latim e com fonte quase inelegível, que está na receita (o quadradinho amarelado com uma exclamação) no tabuleiro de jogador, pois, convenhamos, quase já não dá para ler aquilo e causa uma grande estranheza quando dois ou mais jogadores correm atrás de preencher a mesma linha ou coluna e, consequentemente, tematicamente acabam por ‘descobrir a mesma coisa’. Basta ali não ter nada escrito ou ter algo como um feito, por exemplo: ‘Professor Prestigiado’, ‘Reconhecimento Mundial’, ‘Condecorado pela Coroa’ e coisas do tipo que não gere conflito caso mais de um jogador consiga alcançá-la.
4. Poção? É feitiçaria ou tecnologia? Esse foi a pior escolha, de longe, que os designers poderiam ter feito. Pô, o jogo gira em torno de grandes nomes de alguns campos da ciência e os caras me colocam “POÇÃO”? Tudo bem que a alquimia era uma prática ainda presente nos primórdios temporais citados no jogo (delimitados pela data de nascimento dos cientistas nas Cartas de Mestre), mas até aí existir uma poção que se demonstra um elemento tão importante e forte dentro das mecânicas do jogo me causa muita estranheza. Quando vi isso fiquei com cara de paisagem total, uma mistura de incredulidade com confusão. Os caras poderiam ter escolhido tanta coisa, como ser um ‘escrito’ publicado, uma ‘palestra’ dada ou até um ‘experimento científico’ realizado. Qualquer um desses faria muito mais sentido, dialogando diretamente com o tema e as ações possíveis na vida do acadêmico/jogador, ainda mais que a tal ‘poção’ serve para ignorar um requerimento de ‘Livro’, logo ser algo relacionado a uma produção do jogador seria mais coerente. Veja abaixo uma bobeirinha que fiz em dois minutos com base em uma imagem da internet e já acho que faria muito mais sentido:

5. Faltam nomes para algumas das coisas no jogo, como os avanços nas trilhas de tecnologia. Uma vez que todos os jogadores podem acessar os objetivos finais, não acho que faria sentido os marcadores de objetivo final (os que parecem bandeirolas) ou mesmo as recompensas que os jogadores recebem quando chegam com os meeples de ajudantes (aqueles quadrados grandes e pequenos) terem títulos, pois soaria como se mais de um cientista fez a mesma descoberta ou inventou a mesma coisa, contudo, seria beeem legal se cada ‘bifurcação’ da trilha, que remete a uma árvore, tivesse títulos no topo relacionado a campos de estudo, ou seja, seria como se fosse as especializações do jogador o que, por sua vez, representaria o progresso do conhecimento e quanto o jogador/cientista domina diversas áreas, culminando em mais recompensas ao longo da partida – como já acontece com quem sobe bem nesse mapa. Vou ilustrar abaixo o que quero dizer com um exemplo simples e meio aleatório e não muito pensado (caso não ficou claro até aqui):

6. Agora que as trilhas ganharam nome de campos do conhecimento, os meeples serem ajudantes não faz muito sentido (se bem que nem antes faziam muito sentido também). Sendo assim, os meeples passariam a ser chamados de algo como ‘Aprimoramento’ ou ‘Progresso Acadêmico’, já que representam o aprendizado do próprio jogador, que continuaria sendo o meeple maior que viaja pelo mapa da Europa. Inclusive, se dá o nome de ‘polímata’ para pessoas que atuam em diversas áreas do conhecimento, o que era bem comum no período de tempo que o jogo retrata, fazendo bem mais sentido o jogador encarar esse ‘Tabuleiro de Evolução’ como um progresso pessoal em diversas áreas ao invés de ‘aprendizes’.
7. Eu vejo jogos como algo além da simples brincadeira ou passatempo, sendo quase um ritual. Antigamente as pessoas se reunião em volta da fogueira, que hoje seja em volta de uma mesa com um jogo de tabuleiro, então todo desperdício de oportunidade para passar conhecimento acho um baita, er... desperdício (para ser educado). Os jogos ganham muitos pontos comigo quando além de serem divertidos, bonitos, mecanicamente criativos e conseguirem contar uma história (mesmo que seja um fragmento de algo fictício) são capazes de ensinar alguma coisa para as pessoas na mesa. Newton faz parecer que vai ensinar, mas quando chega na hora H, nos faz recorrer à outras fontes além do manual. O que quero dizer é: ‘quem raios foi Nicola Cusano?’. Pode ser ignorância minha tal pergunta, mas acredito que é a ignorância de muita gente. O que acontece é que o jogo apresenta um monte de gente nas Cartas de Mestre, mas não se preocupa em descrever nem meio paragrafinho sobre quem foi cada pessoa, nem sequer sua contribuição para o campo da ciência ou a área de estudo. Dentre eles, alguns são bem conhecidos como Galileo Galilei, Giordano Bruno, René Descartes, Nicolau Copérnico ou o próprio Isaac Newton, contudo outros são um tanto obscuros dentro do conhecimento geral, nem aparecendo nas melhores apostilas de cursinhos pré-vestibular! Como neste texto estou particularmente chato e exigente, farei até um pouco da lição de casa que a produção do jogo, para economizar poucos minutos e uma página do manual, deixou de fazer, afinal essa galera citada nas cartas merece todo reconhecimento possível. Vamos lá, então, um por um e em ordem cronológica de existência, lembrando que esse pessoal não brincava em serviço e fez muuuita coisa, logo vou resumir só o principal, mas recomendo que procurem mais a fundo e até deixem nos comentários se teve algum feito importante que acham que deixei, sem querer, de fora:
- Nicola Cusano [1401 – 1464]: Também conhecido como Nicolau de Cusa, foi um filósofo importante para a transição entre o pensamento medieval e o movimento renascentista. Em sua época a ciência ainda vivia sob um formato de cunho religioso e Nicola não fugia à regra, tendo como suas premissas que todas as coisas são devido à manifestação divina e levam a ela, contudo seu pensamento abriu portas para um discurso de maior tolerância religiosa, na busca pelo sentido de humanidade e na relação entre a razão e da experiência sensível (no que tange os sentidos), permitindo assim uma abertura para outros pensadores além dos dogmas da época.
- Nicolaus Copernicus [1473 – 1543]: Esse é famoso. Nicolau era astrônomo, matemático e médico, além de ter ocupado cargos administrativos, como de cônego e até governador. Foi responsável pela afirmação, muito controversa na época, de que o Sol era o centro do sistema solar (e do universo) e não o planeta Terra e a relação de distância entre os astros celestes, o que gerou um interesse enorme da sociedade científica, revolucionando o que se conhecia sobre o modelo do sistema solar, a ponto de considerarem o início de uma nova era na astronomia.
- Paracelsus [1493 – 1541]: Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, conhecido como Paracelso (por um motivo meio óbvio, olha o tamanho desse nome), foi um médico, alquimista e filósofo alemão. É considerado o pai da toxicologia (estudo sobre o efeito de substâncias no corpo) e foi um dos primeiros nomes influentes a reconhecer (e fortalecer a ideia) a necessidade de conhecimentos acadêmicos nas ciências naturais. Viveu em uma época no qual a religião era muito presente dentro dos campos científicos, logo suas contribuições eram repletas de referências e influências religiosas, contudo foi capaz de, na medida do possível, se desvencilhar e realizar contribuições importantes para sua época, que deram destaque para seu nome, apesar de poucos séculos quase todas suas afirmações terem sido contestadas e derrubadas.
- William Gilbert [1544 – 1603]: Inglês que trabalhou diretamente para a coroa, foi o médico pessoal da rainha Elizabeth I. Além de médico era físico e filósofo, e suas contribuições para a ciência envolveram magnetismo, estática e eletricidade (no qual Thomas Browne, em 1646, apesar de ter sido o primeiro a cunhar o termo ‘eletricidade’ faz referências aos estudos de Gilbert), inclusive foi o responsável por concluir o campo magnético terrestre e relaciona-lo com o funcionamento de bússolas.
- Tycho Brahe [1546 – 1601]: Astrônomo da nobreza dinamarquesa, responsável por diversos estudos sobre estrelas e cometas que culminam em uma reforma no calendário pelo Papa Gregório XIII em 1582, corrigindo-o em dez dias devido às observações de Brahe (é, o cara simplesmente mudou nosso calendário!).
- Giordano Bruno [1548 – 1600]: Esse italiano fez um pouco de tudo, afinal era considerado um teólogo, filósofo, escritor, matemático, poeta, cosmologo e ainda foi ocultista e frade. Dentre suas contribuições, defendia a ideia de pluralismo cósmico, ou seja, que o universo era infinito e estrelas eram como outros astros similares ao Sol com seus próprios planetas, inclusive com possibilidade de vida. Devido às suas afirmações contrárias a fé cristã da época, foi condenado e executado na fogueira pela inquisição.
- Galileo Galilei [1564 – 1642]: Esse famoso astrônomo, físico e engenheiro italiano foi responsável por estudos preliminares sobre o princípio da relatividade, que envolvem velocidade, gravidade e inércia. Também descreveu fenômenos que envolviam o movimento de pêndulos, inventou bússolas, fez observações muito importantes sobre o espaço com o uso de telescópios, defendendo o heliocentrismo (o Sol está no centro, não a Terra) e aprimorando estudos anteriores, como os de Copérnico (o que lhe rendeu uma prisão domiciliar vitalícia pela Igreja). É considerado hoje o ‘pai da ciência moderna’.
- Johannes Kepler [1571 – 1630]: Reconhecido como uma das figuras mais importantes da astronomia, logo, da revolução científica, este alemão foi responsável por leis que fundamentaram o funcionamento da mecânica celeste (movimento e gravitação de corpos celestes). Além disso, contribuiu significativamente para o campo da ótica, trabalhando com telescópios, auxiliando o estudo de outros cientistas da época, como Galileu Galilei.
- René Descartes [1596 – 1650]: Filósofo e matemático francês, carrega o título de ser o primeiro filósofo moderno, reinstaurando a dúvida como objeto central dentro da metodologia científica. O método cartesiano, que leva esse título devido ao seu nome, é a base do ceticismo metodológico, responsável por impactos em diversas áreas do conhecimento, da matemática até a medicina. A famosa frase “penso, logo existo” (ou ‘penso, logo sou’) é de sua autoria.
- Thomas Browne [1605 – 1682]: Autor inglês proeminente em diversas áreas da ciência, Browne se torna famoso pelo seu livro Pseudodoxia Epidemica, uma enciclopédia que refutava metodologias e apontava erros no pensamento científico, obra que se tornou essencial para o jornalismo científico, ou seja, a forma que se publicavam textos científicos, o que, por sua vez, impactou diretamente na revolução científica de sua época.
- Evangelista Torricelli [1608 – 1647]: Foi um físico e matemático italiano (sim, ‘Evangelista’ é um nome masculino). Suas pesquisas envolviam pressão atmosférica e se estendiam para outros campos, como a óptica. Torricelli ficou famoso, principalmente, pela criação do barômetro, instrumento esse que foi de fundamental importância para o avanço de equipamentos como bombas hidráulicas.
- Margaret Cavendish [1623 – 1673]: Aristocrata e duquesa inglesa, ficou famosa na literatura e dramaturgia, sendo poeta, filósofa e romancista. Teve muito impacto na expansão e popularização da ciência, sendo a primeira mulher a estar presente em reuniões da Royal Society of London (uma instituição voltada para a promoção do conhecimento científico), rompendo barreiras de gênero, sendo considera a primeira cientista mulher e indo contra testes em animais, mesmo naquele tempo. Dentro da literatura é considerada a pioneira em escrever ficção científica com seu livro ‘The Blazing World’.
- Blaise Pascal [1623 – 1662]: Matemático, físico, escritor, teólogo, filósofo e inventor francês. Sua fama é proveniente do estudo sobre fluídos, pressão atmosférica e vácuo, além da invenção da primeira máquina de calcular (conhecida como Pascalina) e diversos textos sobre o método científico (conjunto de regras básicas que devem nortear a obtenção de conhecimento científico). Sua obra foi um aprimoramento e extensão das contribuições de Evangelista Torricelli.
- Robert Boyle [1627 – 1691]: Filósofo natural, químico e físico irlandês, dentre suas realizações destacam-se a fundamentação da noção de elementos químicos, a descoberta do enxofre, da acetona, da fosfina e do fósforo. É atribuído a ele também noções sobre pressão e volume, inclusive contribuindo para noções de física aplicadas na medicina.
- Christiaan Huygens [1629 – 1695]: Importante figura da revolução científica, foi um matemático, físico, engenheiro, astrônomo e inventor de origem holandesa. Como Huygens atuou em diversas áreas, possui uma gama bem variada de contribuições, sendo as de maior destaque sobre cores e luz (refração e reflexo), percepção do som, força centrífuga, estudos sobre cálculos diferenciais geométricas e, dentro do campo da astronomia, foi a pessoa que descobriu a existência do satélite natural Titã, de Saturno, assim bem como a existência dos anéis no planeta.
- Isaac Newton [1642 – 1727]: É o famosinho que dá nome ao jogo. Nascido em uma pequena cidade inglesa, foi responsável pelas bases da mecânica clássica. Atuou nos campos da matemática, física, astronomia e até mesmo teologia. Suas observações sobre as leis do movimento e gravitação universal só viriam a ser contestadas e substituídas séculos depois pela teoria da relatividade, de Albert Einstein (1879 – 1955). Newton trabalhou também na invenção de telescópios utilizando teorias sobre luz (utilizando prismas), o que permitiu um grande avanço no entendimento sobre o funcionamento de trajetórias planetárias, fenômenos celestes e até mesmo sobre a maré e angulações, impactando no entendimento sobre equinócios e outros fenômenos. Foi graças a Newton que a dúvida que ainda pairava no meio científico sobre o heliocentrismo foi erradicada de vez.
- Gottfried Liebniz [1646 – 1716]: Alemão versado em muitas áreas distintas, foi matemático e diplomata que atuou nos campos da filosofia, teologia, ética, política, história e filologia. Seus feitos mais famosos são na área da matemática, ao definir conceitos sobre cálculo diferencial e integral, além de noções sobre medicina, biologia, linguística e matemáticas que só viriam a ganhar notoriedade mais tarde. Ao lado de René Descartes e Baruch Spinoza (este não presente no jogo), juntos de Liebniz, foram os três maiores expoentes do racionalismo em sua época.
- Edmond Halley [1656 – 1742]: Nascido na Inglaterra, foi astrônomo, matemático, amigo e companheiro de estudos de Isaac Newton (inclusive o ajudou na elaboração de suas três leis mecânicas). Foi responsável por estudos que envolviam órbitas, cometas e distâncias planetárias. O famoso cometa Halley possui este nome em sua homenagem, devido a suas previsões sobre seu o movimento e órbita.
- Maria Winkelmann [1670 – 1720]: Esta astrônoma alemã possui uma história um pouco incomum, uma vez que em sua época mulheres não tinham acesso (e direito) ao estudo formal. Sendo assim, foi educada desde cedo por seu pai e conseguiu progredir ainda mais após seu casamento com Gottfried Kirch, um astrônomo alemão 30 anos mais velho que ela, o que a fez mudar seu nome para Maria Margaretha Kirch (nome este que ficou mais popularizado). Maria foi responsável pela observação de um novo cometa (nomeado de C/1702 H1), se tornando a primeira mulher a fazer tal feito. A combinação entre ser casada com Kirch, sua observação do cometa e suas publicações, foi de fundamental contribuição para a abertura de mais espaço para as mulheres dentro da ciência e o acesso aos estudos formais.
- Daniel Fahrenheit [1686 – 1736]: Físico e inventor polonês, ficou famoso por ser um pioneiro nos estudos sobre termometria (escalas de temperaturas, para facilitar). Em 1714 ficou famoso pela invenção do termómetro de mercúrio. Graças a suas contribuições existe uma escala de temperatura batizada com seu nome (que é só usada nos Estados Unidos e alguns outros lugares menores).
Observação: Notem como as datas variam (como foi levantado no ponto 2 dessa lista) e saibam que as habilidades das cartas não têm relação com o campo de atuação dos cientistas, foi tudo no aleatório dentro das possibilidades mecânicas.
8. A igreja dava um probleminha na época retratada no jogo (e até hoje em dia, a depender do segmento e da religião). Esse fato não é retratado de maneira nenhuma durante a partida. Reconheço que é um tabu e conteúdo sensível para algumas pessoas e eu mesmo nem sei dar uma sugestão de como implementar isso, contudo acredito que se o relato breve sobre os cientistas das Cartas de Mestre existisse, tal qual fiz no item 7, já estaria de bom tamanho, afinal quem tivesse lido todo conteúdo se depararia com a igreja e seu impacto em algum momento, mesmo que bem superficial.
É isso. Se a equipe tivesse dedicado um pouquinho mais de atenção e capricho teriam feito algo melhor, afinal, se meio dia de trabalho de um reles jogador/metido-a-escritor conseguiu criar o que foi listado acima, qual motivo deles não conseguirem?
(O primeiro tabuleiro, onde o jogador viaja pela Europa, e as cartas de ação no mercado ao lado)
Ø Rejogabilidade
Alta. Apesar de existir apenas um tabuleiro de Mapa e um de Evolução, todos os marcadores que são colocados nesses tabuleiros são móveis, logo existe bastante variação de possibilidades e recompensas, principalmente se jogado em menos de 4 jogadores, em que mais elementos ficam de fora. Temos ainda uma pequena distinção nos tabuleiros individuais (chamados de Tabuleiro de Estudo), no qual cada um dos quatro possui um reforço de força +1 em uma determinada ação. Aliado a essas coisas, existe ainda a aleatoriedade do surgimento das cartas para serem adquiridas, o que faz com que efeitos bônus de cartas variem para o jogador durante as partidas. Na prática, independentemente da preparação variável da partida, o jogador tem diversos caminhos para explorar e todos podem ser igualmente recompensadores caso perseguidos da forma certa.
Existem jogos que para a pessoa ir bem precisa saber distribuir bem suas ações e outros que focar em um caminho trará maiores chances de sucesso, e Newton segue essa segunda opção, portanto o jogador precisará de diversas partidas para explorar qual a estratégia que acha que melhor se adequa às condições da partida. Isso, inclusive, é um ponto importante: antes de começar a partida: pare e analise o tabuleiro com calma! Os locais das fichas e as rotas para elas, as Cartas de Mestre (que são cartas com pontuação final e um efeito bem forte que o jogador pode utilizar) e os objetivos finais presentes na partida, tudo organizado na preparação, irão ditar bastante qual o caminho com maiores chances de pontuação elevada.

(Segundo tabuleiro, representando o avanço acadêmico. Em tamanho, os dois juntos tão o tamanho de um tabuleiro ‘convencional’, mas por algum motivo a produção resolveu separar os dois)
Ø Interação
Muito Baixa...O que não é necessariamente ruim e o motivo é simples: a partida, sem treta e bloqueios (salvo na aquisição de cartas na frente de outro jogador) já tem elementos o suficiente para deixar o jogador engajado. O jogador precisa se preocupar tanto com seu desempenho pessoal que ter outro pentelho lhe cornetando e atrapalhando seria demais, ia fazer o jogador perder o foco e, principalmente, poderia ser muito punitivo. Simplesmente existem jogos que a Interação ser o mais baixa possível é uma escolha de gamedesign acertada em prol da diversão. Temos aqui um bom exemplo de como alguns elementos (nesse caso a Interação) podem encaixar perfeitamente dentro de uma proposta mesmo que, isoladamente, não se enquadrem muito em nosso perfil e gosto pessoal. Eu concordo que vai ter (muita) gente que vai dizer algo como: “Haaa, mas esse jogo que parece que jogamos um solo em grupo não é para mim” e para essas pessoas eu digo: “Maravilha! Se você entendeu seu gosto a esse ponto, só temos o que comemorar!”, contudo, se este for o seu caso, apenas NÃO JOGUE Newton, pois você irá se frustrar. Contudo (e diferente do Fator Tema que poderia ter soluções mais acertadas), Newton não funcionaria se tivesse dedo no olho, já que o princípio aqui é ‘ser o jogador que melhor leu as oportunidades’. Existem outros jogos assim, e que eu lembre para citar exemplos agora são o Trajan (Feld. 2011. Sem análise ainda, mas gosto muito), Altiplano (Stockhausen. 2017. Análise completa em
https://ludopedia.com.br/topico/42682/-analise-altiplano-alpacas-me-mordam) e Blackout: Hong Kong (Pfister. 2018. Análise completa em
https://ludopedia.com.br/topico/56413/analise-blackout-hong-kong) e só de imaginar jogar esses jogos com gente me sacaneando seria chato demais (eu já me enrolo todo no planejamento da mancala do Trajan, imagina ter que fazer isso tendo penalidade por culpa de algum safadinho na mesa).

(Assim fica a mesa durante a jogatina. Essa é a preparação do modo solo [mas muda quase nada])
Ø Fator Sorte
Relevância na partida: Muito Baixa. Com exceção da compra de cartas, que ainda é relativamente mitigável, já que existem nove, sendo três de cada ‘força de ação’ e o jogador pode pagar 1 moeda para abrir mais duas cartas quando for fazer a aquisição, não existe sorte presente. Newton é um jogo com informação aberta e, se utilizado o draft para selecionar as Cartas de Mestre e a pessoa tiver uma memória boa, até mesmo essas cartas, com exceção da primeira, o jogador saberá. Portanto, atrelando isso com a interação Muito Baixa, tudo se resume em quem consegue extrair o melhor resultado com as opções dispostas na mesa e a disposição do jogador logo de cara. É... a ciência não rola dados.
(Ahhh, tem coisinha de madeira para cada jogador também!)
Ø Fator Estratégia
Relevância na partida: Muito Alta. Se você perder não tem como colocar a culpa no amiguinho ou em uma rolagem de dados ruim, você pode até tentar um “Eu tava com sono”, mas isso nem sempre cola e DICA LEGAL: Não jogue Newton se estão cansados, inclusive se forem colocá-lo na mesa, indico que seja um dos primeiros da noite. Acho muito interessante o fato de que apesar de toda informação importante estar exposta logo na preparação da partida, a forma que os jogadores desenvolvem sua maquininha de ‘forças de ações’ ao longo da rodada é o que vai ser determinante se ele consegue usufruir bem da leitura inicial que fez ou não. Como não existem bloqueios, salvo na compra de cartas, a responsabilidade da ordem das ações que o jogador faz, os objetivos que alcança (ainda mais que objetivos finais não são excludentes, logo mais de um jogador consegue realizar o mesmo objetivo final), a forma que constrói sua mão, o quanto pontua durante os turnos e através da receita de pontos no final da rodada, é tudo mérito (ou culpa) dele mesmo. Como eu havia comentado no Fator Curva de Aprendizagem, é preciso que o jogador aprenda a jogar Newton, logo não tem como jogar de forma solta e despretensiosa, a não ser que queira deliberadamente pontuar muito pouco, já que para ir bem é preciso saber quais ações e caminhos tomar para que essas ações gerem bonificações que irão render mais pontos depois de alguma forma. Newton é quase como responder um problema de matemática na escola e isso irá atrair pessoas tanto quanto afastá-las.
Em relação a parte mecânica do jogo, que eu gostei muito, só teve um detalhe que achei um vacilo mecânico, um vício digamos assim, que é no que se refere ao objetivo final e a Carta de Mestre situados no mapa. Uma vez que ambos estão fixos em um local e são alcançados através de rotas específicas, variando apenas os pontos que existem no caminho, o jogador precisa elaborar sua rota para passar sobre aqueles pontos. O problema disso é que o mesmo não ocorre com as outras ações. Veja, para se conseguir liberar um Mestre via trabalho, precisa se ‘trabalhar bastante’, já através do mapa de Evolução (Tecnologia), caminha pouco com um dos meeples, mas ele é ‘travado’ permanentemente e com a ação de colocar mapas na estante de livros (Estudo) é preciso se viajar um monte e, ainda, fazer a ação de Estudo nove vezes, logo, para se conseguir Mestres com todas as ações, exceto a de Viagem, o jogador precisa focar naquilo, enquanto seis viagens depois, o Mestre está liberado. “Haaaa, Guri, mas aí você está sendo chato demais!”, não estou por um motivo: Para alcançar esse local dessa Carta de Mestre no mapa da Europa, todos os jogadores irão ter que passar, mais ou menos, pelos mesmos pontos no mapa, sendo forçados a fazer algo que não seja necessariamente bom para eles (isso impacta ainda mais no modo Solo, como eu explico no final desse texto), sendo assim, se o acesso à carta de Mestre e o Objetivo Final presentes no Mapa fosse através da colocação de cubinhos faria bem mais sentido e não geraria o problema de forçar o jogador a se mover por rotas específicas, caso não queira e ainda ficaria mais parecido com a forma que as outras ações funcionam (por exemplo: o 9º cubo adicionado no mapa libera uma Carta de Mestre [ao invés de 1 Ponto de Vitória] e o 10º o Objetivo Final [ao invés de 2 Pontos de Vitória] e consequentemente os 11º e 12º cubos dariam 1 e 2 Pontos).

(Assim que armazeno minha cópia, com o uso dos práticos organizadores que se acha na melhor loja de utilidades em geral da sua cidade!)
Ø Preço e Valor Percebido
O mofo deixou tudo confuso, mas ainda assim é Bom! Falando do preço em si, ele varia bastante. Na data dessa publicação é possível achar usados por aí pela média de R$150,00 ou mesmo lacrados na casa dos R$250,00. Eliminando a flutuação comum do mercado, o fato de existirem muitos relatos de cópias que já vieram mofadas da editora fizeram o preço de Newton ser quase uma equação usando a hipótese de Reimann! Usando minha cópia como exemplo, que consegui usada por R$150,00 e veio em perfeitas condições, considero que o valor percebido é excelente, pois mecanicamente o jogo me agradou, tem muitos componentes cartonados e todos de uma qualidade mediana. Newton viu e verá muitas vezes mesa por aqui, principalmente por ter um modo solo, logo, se você curte jogar sozinho, gosta de ‘eurinhos destematizados’ e achou uma cópia em bom estado custando até uns 180dinheiros, acho que é uma excelente aquisição!
(Resumão!)
Ø BÔNUS: Algumas dúvidas corriqueiras:
- Dá para jogar com crianças? Acredito, sinceramente, que não ou então você tem um gêniozinho(a) em casa. A dificuldade das regras atreladas à complexidade do planejamento faz da partida uma experiência um tanto pesada para as crianças, apesar do tema super indicado para ser apresentado desde cedo para gurizada.
- Funciona bem em qualquer número de jogadores? Funciona perfeitamente, afinal o jogo tem uma interação Muito Baixa, então é meio que ‘cada um na sua tentando fazer o melhor com o que a preparação entregou’.
- Como é o modo solo? Similar ao modo multijogador, mas sem o risco de alguém comprar uma carta que você queria na sua frente, sem a pressão de comparar pontos com a galera na mesa e com o tempo de partida apenas seu. Jogar Newton sozinho é muito legal, sendo um de meus preferidos (assim como Blackout: Hong Kong) já que o foco é em como eu farei para pontuar mais com aquela preparação específica, atrelado ao fato de outros jogadores na mesa não agregarem muito na experiência em relação à bloqueios. O problema que ele possui, e é um problema relativamente grave, então joguem tendo isso em mente, é que a pontuação final é muito dependente de como foi feita a preparação da partida, ou seja, se algumas coisas na preparação aleatória convergirem, como o local de determinadas peças, o jogador vai pontuar bem, caso contrário, vai pontuar, provavelmente, pouco. Dessa forma, não se atenha muito à sugestão de placar para o modo solo presente no manual, pois para chegar nos valores mais altos não basta ser um exímio jogador, mas ter várias coisas convergindo em prol de alguns combos fortes. Percebam que esse problema não aparece em partidas multijogador, já que todos jogadores iniciam em pé de igualdade (com exceção das cartas que adquirem e do bônus inicial de força +1 em alguma ação). Minha recomendação então (e é o que eu faço): jogue sempre duas partidas solo de Newton seguidas (comigo não chega a 30min cada uma), assim você conseguirá comparar sua pontuação em duas preparações iguais (eu mesmo já tirei foto de uma preparação e a repeti dias depois igualzinha ...fui pior da segunda vez, mas acontece RISOS). Somente assim é possível realmente comparar o quanto você fez escolher melhores ou piores, lembrando que a ordem de surgimento das cartas também tem um impacto enorme no decorrer da partida, mas isso, apesar de possível, é bem mais chatinho de fazer ser sempre igual, principalmente pelo fato das cartas não terem nomes, nem números de identificação (VACILO, hein, produção!).

Indicações relacionadas com o tema em outras mídias
Aqui trago uma novidade! Ela veio bem tímida na última análise, a do jogo Zombicide: Gear Up, mas teve uma aceitação legal e eu particularmente gostei bastante de fazer, pois é uma forma de ampliar o olhar sobre o jogo de tabuleiro para outras mídias, outras fontes de entretenimento e arte. A seguir, confiram filmes e séries que vieram à mente de Heloisa, minha player 2 da vida, e a minha enquanto jogávamos e analisávamos o jogo da vez!
As indicações da vez são:
Radioactive (2019. Dir.: Marjane Satrapi)
Trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=Spfr96pFs9I
Radioactive é um filme biográfico que retrata a vida da renomada cientista Marie Curie e suas descobertas revolucionárias sobre a radioatividade, além de explorar seu impacto na ciência e na sociedade.
A Teoria de Tudo (2014. Dir.: James Marsh)
Trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=OgVdYzUW0yk
O filme aborda vida pessoal, incluindo o casamento com sua esposa Jane e a luta contra sua doença degenerativa, além das contribuições científicas de Stephen Hawking para a humanidade.
Carl Sagan’s Cosmos (1980)
Trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=bSxHZPoQ4JQ
Uma série focada na divulgação científica, idealizada por Carl Sagan e Ann Druyan. A série documental apresenta fatos sobre física e cosmologia. Devido a seu sucesso, outras versões foram produzidas, como Cosmos: a Spacetime Odyssey apresentada por Neil deGrasse Tyson ou mesmo uma versão brasileira chamada Poeira das Estrelas, apresentado por Marcelo Gleiser.
The Big Bang Theory (2007-2019)
Trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=X41bA4l-h0w
Trata-se de uma série de comédia que gira em torno de um grupo de amigos, todos cientistas, e suas interações sociais. A série foi aclamada e está cheia de referências da cultura pop, além de sempre contar com cientistas das mais diversas áreas como consultores reais para a produção das informações presentes no seriado. Nota curiosa: ao longo da série é possível ver muitos jogos de tabuleiro ilustrando o cenário como Ticket to Ride, Space Alert, Talisman ou mesmo os personagens jogando alguns como Jenga e Catan.
Menção Honrosa: Young Sheldon (2017-atualmente) é uma série derivada de The Big Bang Theory que se passa na infância de Sheldon, um dos protagonistas em The Big Bang Theory!
O Mundo de Beakman (1992-1997)
Trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=SBC7BilP7Uk
Acredito que não adianta muito falarmos sobre ciência se não fizermos isso começando da nossa base: as crianças. Nesse ponto, meu saudosismo me faz imediatamente lembrar de um programa educacional de televisão que apresentava experimentos científicos de forma divertida e interativa: O Mundo de Beakman (que eu assistia muito na TV Cultura nos anos 90). O programa era conhecido por explicar curiosidades e conceitos científicos muito variados de maneira bem humorada e acessível para crianças e jovens.
Abraços digitais, galera!
Um texto de
Raphael Gurian
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em análises de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
Confira também redes:
Instagram: https://www.instagram.com/sociedade_dos_boards/
Facebook: https://www.facebook.com/groups/1219416214780289/
Blog: https://sociedadedosboardsbr.home.blog/