Desde que entramos no hobby nos encantamos com os jogos do Vital Lacerda, entretanto eles pareciam inatingíveis para nós pela complexidade. Depois de conhecer e nos encantarmos com Lisboa, achamos que não seria possível Vital lançar um jogo melhor e ainda mais complexo. Bem, estávamos errados!
Nessa análise partiremos da conclusão: On Mars é a obra-prima de Lacerda e nosso jogo favorito!
A começar pela arte de Ian O'Toole, nosso designer gráfico favorito e dos componentes de excelente qualidade, dentro do padrão dos grandes jogos da Eagle-Gryphon.
O tabuleiro é bem organizado e divide bem os espaços de ação, sendo um ponto positivo em um jogo tão complexo. A iconografia e as cores adotadas para as cartas, recursos e tiles se encaixa perfeitamente nas mecânicas, ajudando a tornar mais intuitivo o conceito cíclico de recursos do jogo.
Além disso, ao contrário de alguns outros tabuleiros assinados pelo designer gráfico, o do On Mars não possui informações em excesso, tampouco prioriza a estética sobre a funcionalidade.
Quanto ao tema, este é o primeiro título do designer que busca se afastar de temas de realidade, como fez tão bem em jogos como The Gallerist, Kanban e Lisboa. Todavia, não compactuo com algumas críticas de que o jogo não é temático: pelo contrário, quase todas as ações possuem alguma explicação temática, o que ajuda a compreender as engrenagens tão intrincadas do jogo. Acho interessante que desta vez e também no seu próximo jogo Weather Machine o tema seja ficcional, o que dá até mais liberdade ao autor na criação de mecânicas.
Mas é na forma única que Lacerda integra mecânicas e tema que torna On Mars tão especial. Impossível descrever as mecânicas em uma análise curta, mas podemos destacar algumas.
O tabuleiro é dividido em dois, com ações diferentes em cada um dos lados. É possível viajar entre os lados utilizando o Shuttle, o que exige muito planejamento e o timing certo para não ficar "preso" em um dos lados, sem trabalhadores ou sem possibilidade de ações interessantes para aquele momento.
Além disso, marca registrada do Vital em The Gallerist e Lisboa, as ações executivas são parte essencial da estratégia e permitem combos com a ação principal, por muitas vezes surpreendendo o oponente ao colocar um tile ou um edifício avançado em um local interessante para o adversário.
Falando em oponente, On Mars possui muita interação entre os jogadores (especialmente para um jogo euro), sendo possível alocar os cientistas em cartas do adversário (o que rende uma ação executiva gratuita), bem como compartilhar tecnologias, entre elas as que permitem a colocação de tiles próximos uns dos outros, o que muitas vezes exige uma marcação para que o outro não pontue sobre sua ação. Ao fim do jogo, é possível até mesmo pontuar como decorrência de ações alheias com os cientistas, que pontuam a cada edifício avançado no tabuleiro, não importando quem tenha colocado. Também é interessante nessa interação é que o adversário também recebe algum bônus quando sua tecnologia mais avançada ou suas cartas são utilizadas.
Destaque também para a integração circular entre os recursos, no qual cada um é requisito para as ações referentes ao recurso seguinte, o que também exige muito planejamento (e dá um nó no cérebro). Por exemplo, para a construção dos abrigos é necessário oxigênio, que para ser gerado precisa de plantas, que precisam de água, assim por diante.
Talvez um fator que gostamos mais no Lisboa é uma liberdade maior na escolha das ações e da estratégia. Enquanto no Lisboa é possível até mesmo ganhar o jogo sem fazer uma determinada ação, em On Mars as isso é impossível. Em algum momento do jogo todas as ações terão que ser executadas para atingir uma pontuação alta, talvez a única exceção sendo a de obter recursos.
Pela alta complexidade (mesmo em comparação com outros títulos do autor), após 15 partidas ainda sentimos que estamos longe de dominar o jogo. Para os novos jogadores é necessário superar uma barreira de entrada muito grande e aceitar que as primeiras partidas serão longas e para aprendizado das regras, para só então começar a aproveitar de verdade o jogo. Para quem já conhece o jogo, cada partida é um exercício de estratégia para fazer as ações da forma mais eficiente, sem perder tempo parado em um dos lados do tabuleiro ou sem recursos.
Essa complexidade pode não agradar a todos, tanto pela alta curva de aprendizagem, quanto pela necessidade de lembrar muitas regras, o que pode tornar a experiência frustrante para alguns. Há inclusive muitos fãs dos jogos do Lacerda que preferem títulos mais "fáceis", como Vinhos e The Gallerist no lugar dos longos manuais e cadernos de referência do Lisboa e On Mars.
No entanto, nossa sensação é que quanto mais o jogador se entrega ao On Mars, mais o jogo o recompensa, e esse é o grande prazer de jogá-lo. É difícil fazer todas as engrenagens do jogo funcionarem como devem, e é um verdadeiro desafio traçar uma estratégia coesa e eficiente, de modo que a sensação é como a de controlar um carro muito rápido: é difícil, mas quem consegue se sente muito bem fazendo aquilo!
Em resumo, On Mars é sem dúvidas a nossa melhor e mais prazerosa experiência em um jogo de tabuleiro!
Se gostou das fotos e da análise, aproveita para seguir nosso instagram:
https://instagram.com/boardgame_photographers
E se curtiu o nosso conteúdo, vote em nosso canal no Prêmio Ludopedia! Estamos concorrendo nas categorias Mídia Revelação e Mídia Escrita!