“O que esperar de” é uma série de comentários abordando características de um jogo, de preferência jogos que possuem pouca informação. Seu intuito é auxiliar aqueles que estão em dúvida sobre compra-lo ou não. Tudo aqui se trata da minha experiência de mesa e nada mais.
O que esperar de Grand Austria Hotel?
Um dos tópicos mais discutidos no universo dos boardgames é sobre o tema dos jogos. Jogos de franquia são exaltados, pois eles têm um grande potencial como porta de entrada para o hobby. Temas específicos também têm grande potencial influenciador, como jogos com tema de corrida, jogos com tema de zumbi, jogos com temas históricos, e etc. Agora, imagine que você não conhece o hobby e alguém te convida dizendo: “Ei, quer experimentar um jogo em que você tem que servir a comida para pessoas que estão em um hotel?”. Parece animador?
(Bichão fica bonito na mesa)
Uma engrenagem perfeita
A partir do momento em que se começa a experimentar uma diversidade de jogos é muito comum perceber que nem tudo em determinados jogos é bem pensado. As vezes é uma ação que não oferece nenhuma vantagem, as vezes são ações de alto risco que oferece pouco retorno, as vezes são ações fortes demais e que deixam o jogo desbalanceado, enfim, oportunidades que fazem o jogo perder pontos em nosso conceito. Em Grand Áustria Hotel temos um exemplo de engrenagem perfeita. São 10 oportunidades de ação base, todas necessárias, todas agregam ao jogo, todas devem ser muito bem executadas para tirar o melhor proveito da partida.
Isso é maravilhoso, pois traz à mente a imagem de um jogo concreto, que você sabe muito bem o que irá te oferecer na partida. Em raríssimas exceções pude olhar para esse jogo e dizer que ele privilegiou o outro jogador. Quando ganho é porque vou bem, quando perco é porque meu oponente foi melhor. Ponto!
Minha pior curva de aprendizado
O primeiro euro médio que tivemos por aqui foi The Castles of Burgundy. Após a primeira partida, que eu sempre ganho porque leio o manual e vejo vídeos, minha esposa ganhou 10 partidas seguidas. Lembro que peguei os tabuleiros individuais, coloquei sobre a mesa e fiquei olhando pra todos eles até entender porque eu sempre perdia. Depois de raciocinar como o jogo funcionava, como eu ganhava pontos, cheguei a me equiparar a ela, ganhando 8 partidas seguidas, e a partir daí foi algo bem alternado. Tentei fazer o mesmo com Grand Austria Hotel, afinal, estava cansado da derrota, só que dessa vez não deu certo, porque continuei perdendo rsrsr.
Sempre que terminava uma partida eu tinha a sensação de que eu simplesmente não sabia jogar. Ora sobrava clientes sem quarto, ora eu era negativado na trilha do imperador e era muito prejudicado, ora eu não cumpria os objetivos comuns... Gente, eu demorei aproximadamente 2 anos para finalmente dizer “agora eu sei jogar isso aqui”, e olha que a gente não jogava pouco. Esse é disparado o jogo que minha esposa mais domina sobre mim, e deve estar um placar tipo 22 a 7, ou algo próximo a isso. Muitas dessas vitórias minhas ocorreram esse ano, contudo, atualmente tenho sabido lidar melhor com o jogo, de modo que mesmo quando perco são por poucos pontos. Inclusive, ganhei a última

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(Uma das maiores necessidades do jogo é administrar o dinheiro. Parece a vida real: pra ganhar é sofrido, mas pra gastar...)
A alegria de receber um cliente
Acho que servir o cliente é a parte mais temática do jogo, pois, assim como na vida real o dono sabe que receberá por aquilo, no jogo são os clientes que nos salvam do fracasso rsrs. Neles reside o coração do jogo, pois são as vantagens que cada um proporciona que pode te fazer dar um salto adiante sobre o oponente. Há clientes que são tão precisos no momento em que aparecem que são bem disputados. Ora fica aquela alegria de poder pegar um cliente grátis, ora fica aquela infelicidade de não ter dinheiro para compra-lo.
Tendo isso em mente, a melhor configuração que já joguei foi em 3 pessoas. Aconteceu apenas uma vez, as demais foram em duas, mas nesta ocasião eu percebi que a rotatividade de clientes disponíveis dá um fôlego na partida. É muito ruim quando os clientes disponíveis têm baixa utilidade para ambos os jogadores, pois você precisa abrir quartos que fogem da sua ideia inicial ou do objetivo comum, e as vezes não sai dados para abertura de quarto, junta ainda o fato de você não ter o dinheiro e por aí vai. Resumindo, com 3 pessoas a rotatividade de clientes é maior, tendo mais diversidade nas cores dos clientes ou abrindo mais turistas.
(Isso aqui é uma dúvida cruel, hein. Andar 3 na trilha do imperador ou fechar um quarto adicional?)
É preciso mesmo jogar em 2?
Para muitas pessoas aqui nos fóruns o tempo que um jogador demora para jogar de novo é uma coisa muito importante. Confesso que isso nunca foi problema para mim, pois estou sempre atento em tudo o que as pessoas estão fazendo, participando da jogada de cada player. Há vários jogos acusados de downtime alto, mas que eu nunca senti o peso disso ao jogá-los. Portanto, apesar de muitas pessoas afirmarem que Grand Austria Hotel só é bom em duas pessoas por causa do downtime, penso diferente. Não me arriscaria a jogar em quatro, mas como já citei acima, gostaria muito de jogá-lo mais vezes em 3 pessoas.
O termômetro do jogo
O termômetro deste jogo é claramente a trilha do imperador. É por ela que entendo o fato de que jogadores casuais terão dificuldade em jogá-lo. É de extrema importância que cada jogador trabalhe com essa trilha em mente, pois a punição que ela oferece é muito severa. Se for negativado, a chance de se desestabilizar é muito grande. Se for neutro, mas o seu oponente sempre cumpri-la, ele terá uma vantagem muito grande pelo bônus proporcionado. Ao tentar cumpri-la sempre, é muito comum você ter que fazer jogadas que não gostaria. Se não a cumprir, mas o seu oponente sim, apenas esqueça...
Eu tinha muita dificuldade com esse estilo de jogo no início, pois sentia que o jogo me jogava, já que eu era obrigado a me atentar a isso ou era obrigado a deixar de fazer jogadas que eu queria. Contudo, tudo isso foi mudando na medida em que eu fui aprendendo a conciliar a trilha com os benefícios dos clientes, dos funcionários e do conjunto de quartos amarelos. Ainda há momentos de tensão, mas sempre dentro do controle, ou pelo menos quase sempre.
(Tiveram a audácia de pimpar o maldito)
O que me encanta?
O que mais me encanta nesse jogo é a grande variedade que ele apresenta nas partidas, isso por causa dos clientes e funcionários. Você sempre faz a mesma coisa, mas com a disposição e benefícios diferentes. Há funcionários que você usa em poucas partidas, mas quando usados, podem salvar sua partida. Por outro lado, há funcionários que você deseja tê-los em todas as partidas, mas nem sempre eles aparecem no jogo, ou nem sempre saem com você. Há clientes que são muito oportunos, e que, dependendo do desenrolar da partida, literalmente consertam seu jogo rsrsrs. Bem, nisso está o encanto do jogo pra mim, na variedade de oferecer partidas tão diferentes dentro de uma mesma premissa.
Observação final
Esse foi de longe o review mais difícil que já fiz. Dentro da proposta de transmitir sensações, e não regras ou análise de componentes, e etc., Grand Austria Hotel não é um jogo de grandes sensações. É um jogo curto, geralmente controlado, que as vezes proporciona a sensação de tudo estar indo bem, mas nunca de “UAU, TÔ DESLANCHANDO”, assim como as vezes proporciona uma sensação de “preciso pensar melhor”, mas nunca de desespero. Até porque há momentos em que não adianta desesperar, a coisa está simplesmente degringolando rsrs. Apesar disso, diferente do que pode parecer, servir clientes em um hotel não é nada sem graça, é mega divertido.
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Se você estava indeciso sobre a aquisição deste jogo, espero ter ajudado.