“O que esperar de” é uma série de comentários abordando características de um jogo, de preferência jogos que possuem pouca informação. Seu intuito é auxiliar aqueles que estão em dúvida sobre compra-lo ou não. Tudo aqui se trata da minha experiência de mesa e nada mais.
O que esperar de Dead of Winter?
Alguns costumam dizer que um jogo de tabuleiro é apenas um instrumento de interação entre pessoas, enquanto para outros é visível que o motivo que os fazem gostar do hobby são os jogos em si e não as interações que eles proporcionam. Como alguém que compreende os dois tipos de pensamento, reconheço que em Dead of Winter (DoW) a regra é clara: esse jogo só é bom com as pessoas certas! (Alguém pode dizer “todo jogo depende de mesa...”, mas nós sabemos que há jogos que pegam mais fácil, então, entenda que este é um dos difíceis de se afeiçoar)
Diferente do que se vê
Em geral, a maioria dos jogos possuem ações padrão, aquelas que iniciam todo jogador no processo do jogo mostrando a ele como a coisa funciona. Neste ponto, DoW é diferente do que geralmente se vê. Você inicia o jogo sem nenhuma jogada padrão, com uma porrada de opções, e todo jogador casual (a maioria dos meus amigos) traz consigo um visível ponto de interrogação, como quem diz “não faço ideia de como joga isso”.
Esse é certamente um ponto de dificulta a entrada de muitas pessoas no processo do jogo, afinal, com uma boa quantidade de possíveis ações, é muito comum as pessoas só entenderem bem o jogo lá pela terceira ou quarta partida. E uma curiosidade é que em dois anos jogando DoW existem ações que eu só fiz uma vez, e nunca vi meus amigos fazerem, e isso não é o fato de que a ação é inútil, NÃO, é útil, mas é preciso lembrar que ela existe e pensar em uma estratégia para ela. (Pra você que conhece, este caso específico é da ação que coloca dois zumbis em jogo).
A dose correta de sorte
Existem muitos pontos de sorte nesse jogo, mas em nenhum deles eu sinto que há uma aleatoriedade com capacidade de frustração. Pelo contrário, são exatamente essas mecânicas de sorte que trazem a aflição que o jogo deseja proporcionar.
O dado de combate existe para que você precise medir ou recalcular suas atitudes mesmo. Traz aflição pensar que uma única face do dado pode ferrar com seu jogo, mas é exatamente pra isso que ele está ali. E o que dizer da ansiedade de precisar de uma carta específica, puxar várias, mas não encontrar a que precisa? O tempo está passando e você não consegue alcançar seu objetivo... Sim, é isso que os designers pareciam querer para você!!
Dito isso, se você apoia toda a sua esperança em seu planejamento 100% correto em direção à vitória, saiba que algumas coisas podem não funcionar como você deseja. Muitas pessoas colocam esses fatores, principalmente o dado de combate, como um ponto que acaba com o jogo. Na minha opinião isso é só um plus.
(Parece que o maldito acabou de matar alguém...)
Tema encaixadíssimo!
Geralmente eu não me importo com a presença do tema nos jogos, mas neste jogo esse é um aspecto que deve ser louvado. O dado que tanto reclamam traz exatamente a sensação de uma experiência de sobrevivência em um ataque zumbi.
Quem de nós estaríamos tranquilos em sair para uma rua cheia de zumbis? Acho que ninguém. Igualmente, quem de nós nunca sentiu uma aflição ao rolar este dado para movimentar? Quem de nós não se sentiria no mínimo assustado ao ter que batalhar contra um zumbi? Acho que qualquer pessoa sentiria medo de ser ferida e assim morrer infectada. Portanto, o dado traduz de forma excelente essa ideia. E tendo isso em mente, não podemos deixar de lado o fato de que a morte de algum integrante poderia sim trazer complicações aos planos de sobrevivência. Quantas vezes não vemos isso nos filmes? Por isso, a morte de um personagem crucial deve mesmo trazer malefícios no jogo!
Vamos lá, se imagine em uma situação de apocalipse zumbi. O grupo de pessoas que você está vai diminuindo pelas mortes, você percebe a escassez de comida, pessoas doentes e não têm acesso a medicamentos, um clima terrível de frio e você observando que a lareira ou os aquecedores vão ficando sem combustível. Você não pensaria que a morte é algo inevitável? É exatamente isso que a moral do grupo quer traduzir, o sentimento de que não há escapatória para a derrota!
Quão desesperador deve ser, em uma cidade totalmente em caos, você tentar encontrar algumas coisas necessárias, mas não conseguir? Cada passo seu deve ser o mais silencioso possível, ou você correrá risco de ser ouvido e, assim, atrair os zumbis...
Galera, na moral, o tema aqui é forte DEMAIS. Até mesmo alguns personagens traduzem o tema de forma muito eficiente, como os funcionários que podem vasculhar de melhor forma os seus locais de trabalho, ou o cãozinho que não alastra o virus. Sensacional, só isso que tenho a dizer.
(O doguinho quase imortal)
O maior dos inimigos
Toda essa sensação que tentei traduzir enquanto descrevia a temática ainda é acompanhada do maior terror do jogo: a presença de um traidor! É certo que a sua presença é de total importância para o jogo, apesar de eu admitir que isso faz com que o jogo seja bem mais difícil para as pessoas da colônia. Partidas sem traidor geralmente não têm graça.
Entretanto, você nunca sabe quem pode estar mentindo, por isso deve ficar atento em cada movimento, e sem essa de pensar que essas pessoas são seus amiguinhos. Mantenha em mente que qualquer pessoa pode ser o traidor. Este é o momento de as pessoas mostrarem se sabem de fato atuar. Já perdemos na última rodada por sabotagem do traidor; sendo os traidores, já exilamos pessoas boas influenciando os demais; já passamos pela maravilhosa sensação de ganhar todos, exceto o traidor; já perdemos todos juntos; já houve caso de apenas uma pessoa do grupo bom não ganhar por não completar o objetivo... Veja, são muitas as experiências que já foram proporcionadas ao grupo de pessoas que jogam comigo esse jogo. Ganhar sozinho uma partida, tendo blefado sobre seus oponentes, é algo majestoso...
(Sobreviventes. Todos estão prontinhos pra te trair...)
Sobre as pessoas certas
Infelizmente, faz um tempo que não jogo DoW, exatamente porque as melhores experiências desse jogo foram com amigos que não estão próximas a minha esposa e eu. No atual cenário, já tentei jogar com outras pessoas, mais ainda não encontrei jogadores que entrassem no clima do jogo, e isso é crucial para uma boa experiência. Em Dow você não pode esperar que o jogo te entregue algo, você é quem deve fazer acontecer, mas muitas pessoas não olham assim para os jogos. Por isso, sua experiência depende muitíssimo do grupo se propor a de fato jogá-lo como foi criado pra ser.
A presença das encruzilhadas
Para muitas pessoas as encruzilhadas são indispensáveis dentro do jogo. Para outras são apenas um fardo. É fato que se encaixa perfeitamente na temática do jogo, pois em um apocalipse zumbi, acho que o que mais se deve esperar são reviravoltas. Contudo, elas desejam, muitas vezes, trazer uma implicação moral que só recai sobre algumas pessoas.
Particularmente, sou completamente consciente de que tudo isso não passa de um jogo, então, não tenho nenhum sentimento pelos personagens e sempre escolho o que é melhor para a vitória, sem pensar duas vezes. Tomo atitudes no jogo que acredito que não tomaria na vida real. Portanto, as implicações morais das encruzilhadas não têm nenhum efeito sobre mim. Porém, já vi recaírem pesado sobre algumas pessoas, levando até mesmo a gerar confusão no jogo rsrsrs.
Em alguns momentos acredito que elas até podem cooperar para descobrir a intenção das pessoas. Em outros, creio que não existe benefício na presença delas, estão ali apenas para dificultar. Além disso, se lembrar de lê-las todo turno ao mesmo tempo que pensa as suas jogadas, acho uma tarefa difícil. Já deixamos passar diversas vezes. Já até jogamos sem elas, mas não propositalmente, apenas por esquecimento mesmo. Então, nosso crivo para uso delas é a vibe do dia.
(Carta de encruzilhada. Muita gente acha que são muito longas)
E as sensações?
Com esse mix de experiências, boas, ruins, jogatinas regadas a gargalhadas, partidas de completo tédio, tiração de onda, cooperação, todos contra um... Com tudo isso, DoW é o único jogo que me faz ter saudade dos meus amigos. Todos os jogos na minha estante me conectam com pessoas, alguns deles me lembram amigos específicos, mas sempre crio novas amizades que gostam e interagem com muitos deles. Acredito que não será diferente com DoW, ainda irei criar um novo grupo que aproveite a experiência que esse belíssimo jogo proporciona, mas, diferente dos demais jogos, se eu pudesse escolher, manteria DoW apenas entre esse grupo de 4 amigos, pois parece que esse jogo foi feito pra nós.
*
*
Se você chegou até aqui, fica o meu muito obrigado. Caso tenha gostado, se inscreva no canal
"O que esperar?" para receber as notificações dos reviews!
Se você estava indeciso sobre a aquisição deste jogo, espero ter ajudado.