“O que esperar de” é uma série de comentários abordando características de um jogo, de preferência jogos que possuem pouca informação. Seu intuito é auxiliar aqueles que estão em dúvida sobre compra-lo ou não. Tudo aqui se trata da minha experiência de mesa e nada mais.
O que esperar de Blackout: Hong Kong?
Desde o fim de 2021 é possível encontrar este jogo por um preço bem acessível. Para um board game com todos estes componentes, sim compensa! Mas e como jogo? Será que compensa?
Antes de tudo Blackout: Hong Kong é um bom jogo. O que há de bom nele? Ele é um jogo de completar objetivos (contratos), então, a sensação de cumprir estes objetivos pode ser prazerosa. Existe no mapa central um pouco de controle de área, e acredito que essa parte também é prazerosa pela sensação de disputa. Dependendo dos pontos que ligar você até cumpre uma quest do plano de emergência, e temos então a união de duas boas sensações. Uma pena, porém, que aquilo que há de bom no jogo pare por aqui.
As desprezíveis recompensas dos objetivos
Pfister não foi bem em implementar as recompensas neste jogo. O controle de área depende do cumprimento de missões, pois são elas que te permite ocupar espaços. Porém, existe apenas uma falsa sensação de estratégia, por que há muitas cartas que permitem você ocupar qualquer espaço no tabuleiro, o que torna a escolha delas irrelevante quanto a este quesito. Você pode ficar tranquilo, você conseguirá ocupar o quarteirão que deseja, basta completar as quests mais rápido do que os oponentes.
Além disso, a trajetória de pontos no jogo é sofrível, pois é muito demorado e burocrático pontuar aqui. Se eu tenho que percorrer um longo caminho em direção ao cumprimento de um objetivo, me parece que ele TEM que ser bastante recompensador, e isso não é o que acontece. Por este motivo, quando eu vou escolher uma carta de missão eu realmente penso: vou ver qual é a mais fácil, já que as mais difíceis não são tão rentáveis.
Oito ou oitenta
Dentro do jogo você tem diversas opções. Você inicia a partida com nada menos do que sete objetivos para poder cumprir. Para muitos isso pode parecer um amplo poder de escolha, mas não é o que me parece. Os recursos dentro do jogo são escassos. Eles não são apertados, são escassos mesmo, o que gera uma falta em todo o jogo. Você sempre se vê impotente diante das situações que se apresentam. Se as quests precisam de um número considerável de moedas, eu não posso cumpri-las, porque novos objetivos virão à frente e você TEM que pegá-los, pois é assim que o jogo termina. Talvez se o jogo fosse marcado por um número exato de rodadas daria mais certo em vários sentidos, mas eu não tenho opção. Ou eu pego novos objetivos, ou eu vou ficar jogando eternamente... Então, é oito ou oitenta. Ou você faz uma coisa, ou faz outra. Não pense que terá oportunidade de fazer as duas bem feitas, porque você não vai!!

(O tabuleiro central, o tabuleiro individual e a arte foram alterados na versão final/revisada)
Uma série de mecânicas mal implementadas
Um dos motivos que torna Blackout: Hong Kong em um jogo travado é a série de mecânicas mal implementadas. Não existe sinergia entre os elementos do jogo, e com a quantidade de elementos existentes era isso que deveria ocorrer. As verificações são mal implementadas, o Deck Building nem passa perto de ser bom (se é que existe), o ganho de recurso pelas ações de busca também não tem sentido. Há muito nesse jogo que não faz sentido. Pfister errou em não conseguir tornar os elementos do jogo sinérgicos, pois isso só aumenta o tempo de jogo e não gera nenhum prazer.
Acredito seriamente que muito do que está no jogo não precisaria estar. Faltou simplicidade. A retirada da ação de busca só deixaria o jogo melhor. Da forma aleatória que as ações de verificação se dão, elas poderiam também facilmente ser retiradas. Além disso, ela deveria ser um bônus, mas que bônus é esse que eu tenho que gastar um recurso para conseguir outro? Os recursos já estão escassos, eu ainda tenho que gastá-los no meu bônus? Tô fora. E o uso da água e comida para ganho de recursos extras? Da forma que ocorre é sem sentido total e nem merece ser elaborado...
(Dados pelos quais se coleta os recursos)
Um tempo que influencia no jogo
Um jogo BOM não pode ser longo. Só pode ser longo um jogo EXCELENTE. Eu sinceramente não me senti estimulado a pegar cartas com maior número de cubos de recursos, pois são bem difíceis de serem cumpridas, além de ter um uso pouco expressivo. Acredito que quanto mais o grupo de jogadores focar nelas, mais o jogo irá demorar, e eu não quero isso. Eu quero que esse jogo acabe!! Acredito que o fim da partida se dar pelo fim das cartas de objetivos foi um erro. Um número de rodadas estabelecidas e tudo seria melhor. Você planejaria suas jogadas de acordo com as rodadas, e não ficaria pensando em querer que o jogo acabe.
Além disso, este jogo exige um manuseio de setup desestimulador. Muito do que você mexe durante o jogo não será usado na partida (principalmente em dois players), então, é um gasto de tempo que não agrega. Repito, é um jogo muito burocrático!
Você está sendo enganado
Uma primeira olhada e você verá muitos elementos. No primeiro momento é difícil memorizar, mas a iconografia ajuda muito, então, a impressão de que é difícil só engana. Mas também, somos enganados quando pensamos que precisamos elaborar muito bem as estratégias. Isso não existe no jogo. Isso só existe em jogos em que as mecânicas são sinérgicas, e como já dito, não é o caso aqui. Planejamento de futuro não existe.
(Imagem retirada aqui da Ludopedia, muito boa para representar a quantidade de componentes)
Diante de tudo isso, por que é bom?
Por que se alguém me chamar pra jogar eu vou. Existe algo no jogo que me leva a aceitar uma jogatina dele tranquilamente (tem que começar cedo!!!), e isso conceitua um bom jogo para mim (será que é do jogo ou de mim mesmo que não recuso uma jogatina?). Os jogos que considero ruins eu simplesmente não quero jogar. Quando me chamam pra jogar eu tento de toda forma jogar outro, mas Blackout: Hong Kong não. “Vamos jogar?”. “Ah, vamos”.
Por que não é excelente?
Por que no meio da partida eu penso: se eu tivesse jogando outro jogo eu estaria me divertindo mais. O jogo é muito demorado para o que entrega. No MEU gosto jogos longos devem possuir maior interação, ou o próprio jogo em si ser mais fluído. Em Blackout: Hong Kong você tanto não interage, quanto fica travado, o que faz parecer que está demorando mais ainda. Você espera a hora de deslanchar, e ela não vem. É o mínimo que eu precisava depois de passar tanto tempo TENTANDO fazer boas escolhas.
O desfecho da sucessão de burocracias
“Eu fiz um ciclo repeticioso de ações, que não valeram tanto a pena. Novamente não pude fazer o que queria, mas deve ser porque eu ainda não aprendi o jogo. Qualquer dia desse eu jogo de novo e vamos ver se consigo fazer melhor. Eu ganhei, mas não gostei do meu jogo”. Este sou eu ao fim de cada partida, nutrindo a esperança de que um bom jogo se torne um excelente jogo. No fundo eu sei que não vai. Por este motivo, este jogo saiu da coleção. Se você me chamar pra jogá-lo eu vou (tem que começar cedo!!), mas na minha estante eu prefiro jogos que me trazem o seguinte pensamento no fim da noite: Hoje a jogatina foi top demais!!
*
*
Se você chegou até aqui, fica o meu muito obrigado.
Se você estava indeciso sobre a aquisição deste jogo, espero ter ajudado.