Caros Boardgamers.
Eu quero dedicar esse “post”, a todos vocês que, agora, estão loucos de excitação, para comprar o mais novo lançamento da “editora da largatixa”, o “It’s a Wonderful World”, e que depois, têm uma chance muito grande de ficarem loucos, mas de raiva, com os erros de tradução e impressão, que essa empresa costumeiramente comete, e faz questão de não consertar.
Só para não dizer que eu sou “estraga prazer”, eu quero deixar claro que, apesar de não ter nenhuma intenção de comprar o jogo, porque, pelo menos na minha opinião, R$ 350,00 é muito dinheiro para pagar por 155 cartas, 170 peças de plástico, 80 marcadores e 5 peças médias de tabuleiro (mas enfim, cada um deve gastar seu dinheiro como quiser), eu, ainda assim, me preocupo com os seus possíveis impactos no mercado de boardgames. Isso, porque existe a possibilidade real, de que o “It’s a Wonderful World” seja mais um caso de lançamento da Galápagos, recheado de falhas (vamos torcer para que não), e que consolide ainda mais, esse conceito de que as editoras podem lançar jogos com valores altíssimos, e incidência de erros igualmente altíssima, porque todo mundo vai comprar do mesmo jeito.
Quero esclarecer também, que, mesmo sem comprar o jogo, eu ainda estou torcendo para que a Galápagos acerte dessa vez, e, quem sabe, passe a acertar mais vezes, daqui por diante (bom, sonhar não custa nada). Eu também curto jogos de tabuleiro, e também quero que a Galápagos e demais editoras continuem lançando jogos aqui. Apenas não acho nem justo, nem correto, gastar um dinheiro alto em um produto com defeito, e se o jogo tem uma falha em uma das cartas, então ele é um produto com defeito. Só para comparar, imagine jogar pôquer com um baralho, em que algumas das cartas viessem com número e o naipe impresso dos dois lados. Não sei para vocês, mas para mim, ter que jogar um jogo consultando errata a todo o momento, tem o mesmo efeito.
Independente disso, eu aproveito esse novo lançamento da empresa, para não deixar cair no esquecimento duas das maiores pérolas, que já se tornaram lendárias, dentro do campo da tradução nacional, e que a Galápagos teve a coragem de produzir. Porque, não se enganem, é preciso muita coragem para colocar o nome da empresa, nessas cagadas de proporções “gargantuescas”.
A primeira ocorreu no jogo a “Ilha do Tesouro”, e consta em um post antigo do usuário Bilbo Baggins. Como vocês vão poder ver abaixo, eu resolvi apresentar para comparação, tanto a carta original, quanto a carta traduzida com o “Padrão Galápagos de Qualidade”, porque o erro é tão absurdo, que é até difícil acreditar que isso aconteceu de verdade. O texto original da carta diz o seguinte: “This woman’s skin is thicker than a sperm whale.” Na carta da versão Galápagos a tradução ficou assim: “A pele dessa mulher é mais grossa do que esperma de baleia”. O problema é que “sperm whale” apesar do que aparenta, não significa “esperma de baleia” (que em inglês é “whale sperm”), mas sim “cachalote”, que é um tipo de baleia, com a pele muito grossa, daí a comparação. O mais esquisito é que não só o tradutor errou como também o revisor leu isso, e não achou estranha essa expressão. Mas, nesse caso, tanto tradutor, quanto revisor, cochilaram e os boardgamers brasileiros acabaram sendo brindados com essa pérola.
VERSÃO ORIGINAL
VERSÃO GALÁPAGOS
Não contente com isso, um ano depois a Galápagos me saiu com mais uma verdadeira “preciosidade” no jogo “Masmorra do Mago Louco”. Na versão nacional desse jogo foi criada uma nova classe de personagem: a “Guereira”. Com todo o respeito à Equipe de Produção da Galápagos, não tem “João Guimarães Rosa” nem “Luís da Câmara Cascudo”, que me convençam a aceitar uma barbaridade dessas. No caso do “esperma de baleia”, forçando bastante a amizade, vamos tentar entender, afinal “sperm whale” “whale sperm” só altera a ordem das palavras, e vai ver que o camarada estava com sono e acabou confundido. Mas no caso da “Guereira”, não tem perdão, nem arrego, porque o sujeito tem que querer escrever errado e ainda por cima se recusar a passar um corretor no texto. Segue abaixo a imagem escaneada diretamente da carta do jogo, que não me deixa mentir.

Assim sendo, eu volto a defender a minha tese, de que a única explicação possível, é que algum figurão da Galápagos, estivesse tendo um caso, com a esposa de alguém da equipe de tradução, que resolveu dar o troco, escrevendo essa excrescência, não em uma, mas em diversas cartas. Só pode ter sido isso.
Obviamente, esses exemplos são os mais emblemáticos, mas com doses cavalares de compreensão e boa vontade, dá para dizer que nenhum dos dois interfere ou inviabiliza, que se jogue o jogo. Porém, e isso é muito importante, tais erros demonstram a falta de cuidado e capricho da Galápagos na produção de seus jogos, e uma total ausência de qualquer tipo de controle de qualidade, por parte da empresa. Além disso, esses erros da “Guereira” e do “Esperma de Baleia”, podem até não afetar o funcionamento do jogo, mas existem diversos relatos, aqui no Ludopedia, de jogos lançados pela Galápagos, com erro nas cartas e componentes. Coisas do tipo: “na carta era para estar escrito 1, mas está escrito 8”, ou ainda, era para estar escrito “aberta” e está escrito “fechada”, isso sem falar das falhas mais graves que inviabilizam o jogo, como ocorreu no caso três do jogo “Detective: O jogo da investigação Moderna”. Quem quiser saber mais é só procurar por aí (não vou nem citar o Nemesis).
E olhe que nós não estamos falando de jogos baratos, mas sim de produtos que custam, R$ 300,00, R$ 500,00, R$ 700,00, e até R$ 1.000,00, e que, inclusive por isso, deveriam no mínimo, passar por um melhor processo de revisão e um maior controle de qualidade, que filtrasse coisas como “Guereira”.
Por fim, eu não estou desejando que o “It’s a Wonderful Word” tenha falhas gritantes, só para poder voltar aqui e dizer, “eu avisei”. Do mesmo modo, eu também não desejo que a Galápagos pare de trazer jogos para o Brasil, que é um medo que muita gente tem (“se eu não apoiar a empresa, e engolir quieto as cagadas que a editora faz em seus jogos, ela vai parar de lançar jogos aqui...”). Não, muito pelo contrário, eu quero que o jogo não tenha falha nenhuma, que seja um grande sucesso, que venda bastante, e que com isso convença a Galápagos que vale a pena investir em tradução e revisão, para entregar aos seus clientes bons produtos, ou que pelo menos, não contenham falhas. Portanto, eu quero que a Galápagos lance o dobro de jogos que tem lançado, mas que faça isso com um mínimo de qualidade e de compromisso com seu público consumidor.
Infelizmente, o histórico da Galápagos, não só em relação aos jogos produzidos com erros, mas principalmente, pela postura da empresa de não fazer nada, nem para sanar esses problemas de produção (responsabilidade exclusiva da empresa), nem para repor materiais defeituosos (quando muito, publica uma errata). Esse é o tratamento que a Galápagos dá a seus consumidores, e isso realmente não inspira a menor confiança, em relação aos seus futuros lançamentos.
Pensem nisso, antes de gastarem seus “suados” R$ 350,00, no “It’s a Winderful World”.
Um abraço.
Iuri Buscácio