Suburbia – Uma vizinhança do barulho!
Título: Suburbia (2012)
Designer: Ted Alspach
Arte: Klemens Franz, Ollin Timm
Editora nacional: Papergames
Nº de jogadores: 1 a 4
Em Suburbia os jogadores montarão um bairro através da colocação de peças hexagonais e precisam ficar de olho em seus níveis de rendimento, reputação e população (que são também pontos de vitória), além de ter um bom planejamento sobre onde e quando irá colocar cada tipo de peça. Suburbia é lembrado sempre como o jogo de tabuleiro que mais se aproxime de uma experiência similar aos jogos eletrônicos da série Sim City, porém de uma forma bem mais simplificada (sem cuidados com esgoto ou impacto de catástrofes, por exemplo).
(Fonte: Imagem da internet)
Critérios
Ø Arte
A arte em Suburbia é levemente cartunesca (estilo próprio do ilustrador Klemens Franz) e faz o uso de uma paleta de cores bem viva, apesar de não ser um jogo com uso de muitas cores diferentes. Contudo isso é um fator positivo, pois facilita bastante a identificação do tipo de peça mesmo de longe. Única crítica, e bem pessoal, é que as peças uma vez montadas na sua área de jogo parecem que não tem uma continuidade fluida devido a borda ser grossa e opaca. Vale comentar que existe uma versão de luxo (Collector’s Edition) com uma arte refeita, essa cheia de detalhes, bem colorida e mais bonita, mas que na prática perde um pouquinho desta fácil identificação das peças (porém consertou a minha crítica sobre a fluidez das “ruas” entre as peças).
O jogo em si não possui um tabuleiro, mas sim peças que servem como guias de nossos recursos individuais, uma trilha de pontos coletiva e um guia para o mercado central, que são todos bem funcionais (exceto os guias/tabuleiros triangulares onde colocamos as peças ainda fechadas ou mesmo onde colocamos as moedas no ‘banco’ – essas realmente não precisavam sequer existir).
A iconografia é bem fácil: redondo é renda, quadrado é reputação e meeple (bonequinho) é população (ponto de vitória); preto é positivo (tem um ‘+’ na frente), vermelho é negativo (tem um ‘-’ na frente). Fora essas iconografias, o resto são símbolos que irão interagir com algum texto. Texto esse presente, mas relativamente simples, onde quem entende apenas um básico de inglês conseguiria jogar sem maiores dificuldades na ausência da versão nacional. Comentando sobre a edição de colecionador, apesar da arte mais trabalhada, os ícones estão menores, dificultando um pouco a visualização de algum jogador que esteja sentado um pouco mais distante.
Ø Qualidade dos Componentes
Primeiro quero salientar que são MUITAS peças hexagonais (e as redondinhas de objetivos também) – e o bacana é que nem todas entram em jogo, logo se utilizamos apenas ziplocks (aqueles saquinhos transparentes) para armazenar os componentes de forma organizada e separada, a caixa fica lotada (principalmente se tiver a expansão Suburbia Inc. (na minha opinião, ela vale muito a pena pois traz mais peças e elementos, além de a encontrarmos baratinha)). Vale salientar que um insert customizado vai bem para esse jogo (irão me ver falar isso bem poucas vezes).
Suburbia conta com alguns marcadores pequenos de madeira para nossa renda, reputação e pontos de vitória. Eles são de boa qualidade, mas realmente são pequeninos. As peças (tiles) hexagonais assim como todos outros itens de papelão são grossos e de boa qualidade.
O manual do jogo é recheado de texto (muito texto mesmo, e tudo apertadinho), apesar do jogo ser bem simples (na verdade, através da leitura do manual ficamos com uma impressão errada de que o jogo é mais complicado do que realmente é). A caixa é muito boa, bem rígida, mais uma bela caixa da Papergames, como de costume.
(Não, não esqueci de comentar: Realmente o jogo não possui nenhuma carta!)
Ø Curva de Aprendizagem
Toda dificuldade consiste basicamente em duas coisas: 1. Não confundir termos como “Cada” com “Cada um dos seus”; 2. Não esquecer de aplicar algum efeito de alguma peça em jogo (isso é bem comum acontecer mais pro final da partida – onde temos muitas peças em jogo, logo muita informação para se recordar). Fora isso, o jogo é bem simples. Na sua vez: Compra uma peça, coloca a peça, aplica efeitos, recebe receitas, próximo jogador. Suburbia pode inclusive ser apresentado para jogadores iniciantes, basta quem está apresentando o jogo ter paciência para acompanhar o passo-a-passo de cada colocação de peça, até que a galera na mesa pegue as manhas.
Ø Presença de Tema
O tema trata de ‘construir seu bairro’ e é exatamente isso que ele entrega, pois você aloca peças que retratam locais de uma cidade em sua área de jogo – só que o jogo usa este tema muito bem amarrado em diversos aspectos, por exemplo, nossa trilha de pontuação também é nossa trilha de população, logo conforme ela cresce (ganhamos pontos), a cada pré-determinada quantidade de pontos perdemos 1 (um) de Renda e 1 (um) de Reputação, afinal temos mais gente na cidade e não necessariamente isso significa maior renda, pois aqui entra um segundo aspecto temático bem legal: As peças que podemos colocar são de diferentes tipos, entre moradias, locais comerciais ou industriais, então não adianta enchermos de gente morando lá, se não tivermos também onde essas pessoas trabalharem – e é aqui que essa gestão estratégica consegue um excelente ponto de equilíbrio, tanto mecânico quanto temático.
Outro ponto que vale salientar é que as peças podem ser alocadas em qualquer lugar, sem restrições, porém algumas irão dar penalidades aos jogadores se colocadas adjacentemente a outras. Quer construir uma fábrica barulhenta e poluente ao lado de um belo condomínio? Você pode, mas vai sofrer com reclamação dos moradores, perdendo algum recurso!
Ø Rejogabilidade
A rejogabilidade é alta. Existem inúmeros objetivos que são sorteados a cada partida, onde a maioria fica de fora, temos inúmeras peças que também ficam de fora da partida, além da ordem delas sempre ser sorteada. O jogo não ter nenhum tipo de setup inicial que diferencie os jogadores, mas como perseguir os objetivos pontuam bastante no final da partida, sempre terá uma forte marcação entre os jogadores nas peças do mercado. Além disso, cada colocação de peça deve ser pensada para que no futuro ela tenha outras novas peças adjacentes, dessa forma uma mesma jogada pode dar diferentes escolhas e caminhos.
Ø Interação
Suburbia possui baixa interação. Os jogadores interagem mais frequentemente no mercado, comprando uma peça que seria melhor para um adversário. Além disso, existem peças que geram recursos de acordo com todas as peças em jogo, inclusive as dos bairros dos adversários, porém não existe nenhum tipo de ação que impacte diretamente os planos de algum outro jogador.
Ø Fator Sorte
Existe uma pequena dose de sorte no jogo devido a ordem que as peças surgem no mercado, mas ela não é determinante na partida. Onde ela pode incomodar mais é no sorteio dos objetivos logo no começo do jogo, pois existem diversos objetivos e dos mais variados, inclusive alguns que anulam outros, como ‘Ter Maior Renda’ e ‘Ter Menor Renda’ (dica pessoal: Como uma regra da casa, eu dou três objetivos pessoais para cada jogador, ao invés de dois, para que ele escolha um, fazendo a probabilidade de um jogador ter ‘objetivos que se anulam’ ser menor).
Ø Fator Estratégia
Suburbia é um jogo onde nossas escolhas impactam diretamente nosso desenvolver na partida. Uma peça colocada em um local ruim, uma peça que comprou e pagou caro e o efeito não foi tão útil, ter perseguido um objetivo e ver que sacrificou coisas demais pra isso, ter subindo muito na trilha de pontuação/população e acabou diminuindo sua renda de forma mal calculada e coisas do gênero irão interferir diretamente no seu resultado final. É importante deixar claro uma coisa ao explicar o jogo: As pontuações dos objetivos geralmente são determinantes, logo jogar abrindo mão de buscar realizar os objetivos (entre abertos e fechados) dificilmente irá te garantir uma vitória.
Opinião da galera da Sociedade dos Boards!
"Considero Suburbia um excelente jogo, pois apresenta tudo que mais gosto: Regras simples, arte atrativa, iconografia eficiente, pouco impacto de sorte (dentro da proposta), turnos entre jogadores rápido e o sentimento de que suas escolhas realmente impactam e mudam o rumo de seu jogo (onde outro jogador em meu lugar poderia fazer algo bem diferente). Esse é um jogo que da primeira vez que joguei já me apaixonei e não me vejo desfazendo, trocando ou vendendo.
(Raphael Gurian – O Jogador de amarelo)
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“Vou começar já dando alergia pra quem não gosta de rótulos: eu amo os chamados (por mim) "euronômicos". Jogos que unem mecânicas euro com mecânicas de jogos econômicos, trazendo o dinheiro como principal ou único recurso (e às vezes como ponto de vitória), mas sem que manipular dinheiro e fazê-lo render seja a principal coisa a se fazer. Suburbia é um dos meus favoritos por pegar usar muito bem o timing de jogos econômicos em um euro relativamente leve. Jogar uma boa partida desse jogo é saber quando virar a chave e parar de fazer dinheiro e investir em população, ou ainda trabalhar com uma montanha russa cheia de altos e baixos, torcendo pra nunca cair numa fossa sem fundo. E pra ajudar, faz isso num jogo de colocação de peças super bem feito, cheio de combos, micro interações e ansiedade, com você sempre torcendo para que aquela peça chegue no seu turno sem ter ido embora do mercado. Não canso de apresentar ele e ter reações positivas. Ah, claro! Não se esqueça do mais importante: ao fim da partida, todos os jogadores devem descrever as monstruosidades que criaram! Se isso não está no livro de regras, deveria.”
(Alexsander Pena)
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“Acho que o Suburbia entra em uma lacuna bem difícil ser completada e que muita gente procura: um Sim City de tabuleiro que traga a profundidade e micro-gerenciamento do jogo digital, mas sem demorar uma eternidade. O grande problema disso é que são coisas quase que antagônicas, quanto maior o micro-gerenciamento, mais cresce o tempo de jogo. Nesse ponto, eu acho que ele fica em um equilíbrio excelente; ele tem um certo nível de gerenciamento, onde você tem que controlar a população e os recursos disponíveis para sua cidade, sem se alongar muito no tempo de jogo (as partidas que joguei, duraram de 90 à 120min, com pessoas normais, sem nenhum The Flash jogando). Acho também que a expansão acrescenta MUITO no jogo, dando uma maior profundidade com as peças de borda e os novos objetivos. Meu único porém com o jogo como um todo, é a falta de um "balanceador" da preparação, principalmente com a expansão, onde algumas peças podem se tornar quase inúteis sem que as outras cópias entrem no jogo, o que, de certa forma, aumenta um pouco o fator sorte do mesmo. No mais, é um jogo excelente e que merece estar na coleção de todos que gostam do gênero.”
(Filipe Cunha – Editora Pensamento Coletivo) (http://www.pensamentocoletivo.com.br)
Um texto de Raphael Gurian - Sociedade dos Boards
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em textos de análise de uma forma mais detalhada e imparcial.
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