Tenho de admitir uma coisa para vocês, no dia que vi, que o novo hype de Essen era um jogo cujo tema era assentar azulejos de um banheiro do rei eu pensei: “Aqui jaz o tema dos euros!”. Me pareceu uma declaração de que agora era oficial, já tínhamos usados todos os temas que prestavam na face da Terra. O próximo ia ser o que? Um jogo sobre tirar cutícula da unha? Sobre a leitura da lista telefônica? Mas um amigo veio de Essen com um Azul embaixo do braço e no final de uma jogatina, quando só tínhamos uns 40 minutos antes de ir embora, ele colocou Azul na mesa e tudo mudou.
O hype de Azul foi tanto que o jogo se esgotou mundialmente. E a cada dia que tem re-estocagem nas lojas lá fora, rapidamente ele esgota novamente. Seria força deste hype? Seria isso justificado ou seria mais uma daqueles que esgota por que tem hype e tem hype por que esgota? E no meio deste dilema de Trakinas eu me indagava: o que será que tem de revolucionário para justificar o jogo ter desbancado Patchwork como top 1 abstrato no BGG?
Bem, a reposta é nada! O jogo não tem nada de revolucionário, inovador ou sensacional! Ao mesmo tempo ele tem tudo bom. Ele simplesmente se sobressai em cada uma das suas características. Azul faz o feijão com a arroz de forma tão competente que mesmo sem nada individualmente maravilhoso, o todo é perfeito! E por isso mesmo eu tinha medo de dizer para alguém que este jogo era sensacional e no final a pessoa se decepcionar por não ver nada de diferente. Nos últimos dias então, eu tentei pensar em no motivo do sucesso absoluto deste jogo que não tem nada demais.
No final das contas, não sei se tenho uma resposta definitiva, mas pelo menos uma hipótese se criou. O jogo se segura não por algo individual mas pela perfeita mistura de 5 elementos: beleza, tempo de partida, complexidade, estratégia e rejogabilidade.
Azul é lindo e isso é inegável. Desde a arte da caixa até os tiles em resina. Tudo foi feito com muito esmero. O material é gostoso de brincar na mão. O tilintar no saquinho é gostoso de ouvir e isso impressiona muita gente. Além disso, o jogo é rápido de se jogar. Em coisa de 30 a 40 minutos se joga uma partida inteira e para um jogo gostoso e agradável, essa é a senha para jogar várias partidas seguidas. Isso também ajuda a trazer pessoas para o jogo, pois ela se sente atraída a jogar e as regras não espantam ninguém.
Azul não se destaca pela sua complexidade, mas sim pela sua simplicidade. Pode dizer que a maneira de contar pontos não é intuitiva para qualquer um no 1º turno, mas no 3º você já entendeu e consegue saber como funciona. Suas regras são simples e podem ser ensinadas a qualquer um em 5 minutos
Mas vamos combinar, ser bonito, rápido e simples é qualidade de uns 300 jogos. Não foi isso que elevou o jogo ao nível de hype atual. E é aí que vem o 4º ponto: a estratégica.
Azul é um jogo de grande estratégica para a simplicidade e rapidez que é. Suas ações são simples mas o efeito delas é bem complexo. O jogo é marcado e você muitas vezes tem que pensar em 2 ou 3 escolhas a frente para tomar sua decisão. Você tem que pensar no que é melhor para você agora, no que seu adversário precisa ou deve fazer e no que estará disponível nas fábricas de azulejo para você no futuro, de modo que mesmo o mais estrategista dos jogadores ainda se sentirá desafiado ao jogar Azul.
E por último há a rejogabilidade. Como Azul é um jogo de draft de tiles, cada jogo, cada rodada, será diferente e dependente do que vier na mesa. Em Azul não há como existir uma estratégia vencedora. Tudo é tático e dependente dos Azulejos que você tira do saco para iniciar aquela partida. Cada jogo de Azul embora semelhante, se desenvolve de uma maneira diferente do anterior.
E aí, como se fosse o Capitão Planeta, a união destes fatores é que faz a força de Azul. Eu não saberia mostrar no mercado, nenhum outro jogo que consegue ser rápido, bonito, simples, e tão estratégico e variável quanto Azul. Mottainai vem a minha cabeça como rápido e estratégico, mas de simples ele não tem nada. Eu demorei umas 3 partidas só para explicar para minha esposa como se jogava, e mesmo tendo ganho duas das três, acho que até agora ela não entende bem como é. Enquanto isso, Azul é um jogo que eu consigo ensinar para a minha mãe.
Então esse é o segredo de Azul. Não é a inovação mecânica, o tema que traz orgulho a qualquer pedreiro ou um impensado mecanismo que lhe deixa de queixo caído. O hype do jogo é por que ele faz tudo que se propõe com maestria e isso cria um jogo tão agradável de se jogar quanto pode ser!
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