Conforme mencionei no post do Maracanã, se teve outro jogo que me marcou muito no Diversão Offline foi o Teseu, jogo de produção artesanal feita por uma editora independente do Sul e de autoria do Ederson Ayres.
Nos últimos dias eu vinha pensando e analisando muito o mercado de jogos nacionais. Se por um lado, era notório o avanço da qualidade dos nossos designers, fazendo jogos que brilham dentro do seu estilo, ainda não havia surgido nada no Brasil que fosse de alguma forma inovador, diferente ou de estilo próprio. E aí veio Teseu!
O jogo é diferente de tudo que eu já joguei. Não sei sequer caracterizá-lo num estilo. Vou tentar então explicar como o jogo funciona e discutimos a partir daí.
Teseu é um jogo onde cada pessoa joga com um herói tentando refazer feito de Teseu de matar o Minotauro. Para isso é necessário cada jogador entrar pelo Labirinto (cada um começa de um local diferente), ir até o centro do labirinto buscar objeto encantado, sair do labirinto, trocar esse objeto pela adaga mágica e voltar para dentro para matar o Minotauro.
Na primeira parte do jogo, onde você tenta entrar e sair do Labirinto, o Minotauro te mata caso você encontrá-lo. O objeto encantado fica onde você morreu mas você volta do zero, para entrada do labirinto oposta de onde você morreu.
Cada jogador tem 2 ações no seu turno que podem ser feitas em qualquer ordem. Andar até 3 espaços e usar um favor dos deuses, que pode ser, andar mais, mover o minotauro e mover as paredes do labirinto para trocar as entradas e saídas de lugar. Para isso, existe um draft de favores no início de cada rodada.
E são nesses favores dos deuses que está toda interação do jogo. Cada decisão que você toma, cada favor dos deuses que vira uma ação, você altera não só seu jogo, mas também o jogo dos demais adversários. As vezes você entra por um lado, está próximo de pegar o objeto e alguém mexe as paredes e fecha todas as suas passagens. Enquanto isso, do outro lado, uma pessoa já está quase saindo do labirinto mas alguém mexe o Minotauro para cima dela e ela tem de começar de novo do zero.
E é nessa interação que está a graça do jogo. Rola uma emoção de um "acho que vai dar", mas alguém joga o Minotauro pro seu lado, e você se esconde atrás de outro jogador, para que se o Minotauro matar alguém, que mate ele primeiro e por aí vai. E tudo isso é muito divertido. Dá uma impressão de estar jogando PacMan ao contrário sabe? Como se houvessem, por exemplo, 4 PacMan é apenas 1 fantasminha defendendo o centro do labirinto que pode ser controlado por qualquer um dos 4 PacMans. E aí fica aquele jogo de empurra empurra um pro lado do outro.
Como o jogo dura uns 40 minutos, acho que é uma ótima duração para uma partida com Take That. Não é como se você ficasse horas e horas construindo um motor de pontos em um euro para alguém jogar uma carta e te destruir e ter de recomeçar do zero. Tudo funciona de forma muito rápida e dinâmica em Teseu e por isso você termina o jogo querendo a revanche.
O jogo é divertido e na mesa certa brilha. Ele trabalha com sacanear o amiguinho, é claro, e por isso tem que ser jogado com pessoas que riem disso e não com pessoas que se emputecem com isso. Apesar de ser um feeling que me lembra, por exemplo, Survive, acho que Teseu funciona bem melhor. Não sei nem se é justa a comparação pois eu por exemplo não curto Survive e amei Teseu. Survive é um jogo quase que baseado em sacanear o amiguinho enquanto o Teseu é um jogo onde suas ações interferem nas ações do seu adversário. Não é uma sacanagem gratuita. Ele é menos caótico, menos punitivo e mais curto. Em Survive você pode sair do jogo em 5 minutos com alguém virando seus barcos e tem que ficar na mesa até o final. Em Teseu, todo mundo vai ser sacaneado pelo menos uma vez mas isso não vai te punir tanto. Além disso, a estratégia e jogabilidade que vai muito mais além.
Teseu tem estratégia. Por exemplo de programar sua ação de acordo com a ordem de turno. Se você tem um caminho livre para a vitória mas 2 jogadores pegaram o favor de mexer as paredes antes de você, é bem provável que você tenha seu caminho fechado antes de jogar. Então vale mais a pena tentar outra ação do que apenas andar mais casas. Mas como ao mesmo tempo as regras são bem simples, dá facilmente para jogar com família ou amigos que não são gamers. Outro ponto para Teseu!
Teseu chegou no mercado nacional causando pela sua originalidade. Embora o jogo já tenha sido anunciado pela Conclave, a produção atual ainda é toda artesanal. Ouvi dizer que apenas 60 cópias foram produzidas e entregues. E mesmo assim o jogo já causou um burburinho suficiente para colocá-lo na final do Prêmio Ludopedia concorrendo a melhor jogo Expert Nacional. Tem noção de quão bizarro é conseguir isso com apenas 60 cópias? É um número muito limitado de pessoas com acesso ao jogo para ter tantos votos. Quase todo mundo que jogou tem que ter curtido ele tanto a ponto de votar para ele ter chegado tão longe. Isso mostra que o jogo agrada quase todos que jogam.
A minha impressão de Teseu foi de apenas 2 partidas. Então não sei analisar ainda o quanto o jogo trabalha bem a rejogabilidade ou a variação estratégica. Além disso, já ouvi uma pessoa reclamando do jogo ser monótono com 2 e outra dizendo ser caótico com 6 jogadores. Eu não saberia opinar se de fato é o caso pois só testei com 4 jogadores e pra mim funcionou perfeitamente bem. E embora não dê para analisar profundamente o jogo, posso dizer que a primeira impressão não poderia ser melhor.
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