Eu ainda não tinha nenhum jogo do Martin Wallace na coleção, mas sempre fui encantado pelos jogos do cara. Principalmente os mais pesados. Já tinha ouvido falar super bem do London na sua primeira edição e tinha bastante interesse por ele. Quando vi que sairia essa segunda edição, fiquei de olho. Quanto mais via a respeito, sobre a arte, a qualidade dessa versão que é praticamente uma versão de luxo do jogo e etc, mais eu ficava interessado. E caramba, que jogo!
Conjunto de componentes do jogo. Imagem do BoardGameGeek.
Por sorte, cheguei ao local da feira em Essen e estava bem tranquilo para pegar o London direto no estande da editora, a
Osprey Games. Achei que seria mais concorrido, mas não foi. Quando peguei a caixa já fiquei impressionado. É uma caixa bem diferenciada, que se abra como uma caixa de jóias, ou algo assim, com ótimo acabamento, e componentes lindos dentro. A gramatura das cartas é ótima, as ilustrações do
Mike Atkinson estão de cair o queixo, os componentes realmente têm um ar de refinamento.
No jogo, estamos investindo na reconstrução da cidade de Londres, destruída por um incêndio entre os dias 02 e 05 de setembro de 1666. O
Grande Incêndio de Londres, como ficou conhecido o incidente, destruiu boa parte da região central da cidade e diversos edifícios como igrejas, prédios públicos e possivelmente mais de 13 mil casas (cerca de 1/3 da cidade), num prejuízo estimado, na época, em 10 milhões de libras. Os jornais da época noticiaram apenas 10 mortes, o que parece absurdo pela proporção do incidentes e muitos especialistas consideram hoje que a enorme quantidade de pessoas de baixa renda e desabrigados não foram contabilizados.
Destaque das cartas de bairros que substituíram o tabuleiro central do jogo. Imagem do BoardGameGeek.
No geral, o jogo é um
deck building, com gestão de mão e seleção de cartas. Durante a partida, nós jogamos cartas da nossa mão para construir partes da cidade, combinando poderes das cartas que irão nos garantir rendimentos, diminuir a pobreza na nossa região e permitir que possamos marcar pontos. O objetivo do jogo é ter a maior reputação como investidor, mas isso é um trabalho realmente árduo. Isso porque tudo no jogo parece querer fazer justamente o oposto. Pegar empréstimos, não cuidar da pobreza e diversas outras ações do jogo são penosas e custosas e muitas vezes nos atrasam no desenvolvimento dos bairros que ficaram sob nossa responsabilidade.
O novo tabuleiro central, e destaque das cartas. Essa arte está demais. Imagem do BoardGameGeek.
No seu turno, cada jogador pode realizar uma série de ações: comprar cartas, descer cartas da sua mão para a mesa (construir o bairro), investir em um bairro específico (comprar uma das cartas de bairro da mesa que vem para a sua área de jogo) ou ainda percorrer a cidade, o que lhe garante acionar as habilidades das cartas em sua área de jogo, ganhando dinheiro, pontos e lidando com a pobreza. Escolher qual das ações fazer e qual o momento certo pra cada uma é essencial para garantir que você não irá ficar pra trás, mas também que não está investindo seus esforços nos lugares errados.
Área de jogo. Imagem do BoardGameGeek.
Comparando à versão anterior, o jogo não tem o tabuleiro com o mapa da cidade, que foi substituído por cartas com lindas ilustrações de construções desses bairros. Mecanicamente não sei dizer pois não tinha jogado a primeira versão, mas adorei o fato de que só alguns dos bairros estão disponíveis por rodada, sempre 3, e somente à medida em que adquirimos estes, novos entram em jogo. O jogo é bastante dependente de idioma, pois há muito textos nas cartas, com suas habilidades. A mecânica, no entanto, é bem fluída e fácil de pegar, mesmo que à primeira vista o manual te deixe com a sensação de que seja um jogo super denso e complicado. Com duas rodadas, já estávamos com o jogo fluindo tranquilo.
Tabuleiuro central da primeira edição do London. Isso aí não tem mais...
London é sensacional, tem um "q" de punitividade que não me incomodou (e quem me conhece sabe que não gosto de jogos punitivos), é brilhante no quesito tema e te deixa realmente preocupado entre ter as melhores cartas na mão, administrar seus investimentos na mesa, ter os bairros certos e trocá-los no momento em que suas habilidades não estão sendo aproveitadas. A sensação de que há muita pobreza emergindo é constante, você quer cuidar disso e ao mesmo tempo ficar mais rico, ainda há os empréstimos para gerenciar e diversos outros fatores menores.
De longe,
London é o melhor jogo que joguei esse ano. Mesmo que nessa lista eu tenha jogos como o
Agra,
Anachrony,
The Colonists,
Unfair,
Terraforming Mars e vários outros jogos novos, lançamentos e etc.
London é o mais redondo, o mais gostoso de jogar, não é longo e ainda assim é um jogo denso e com bastante profundidade estratégica. 2017 tem sido um ano fantástico para o mundo dos jogos de tabuleiro, mas é a reedição de um jogo de 2010 que roubou meu coração.