Como você avalia seus jogos? Quais os critérios que você leva em consideração ao dar uma nota num jogo? Com toda certeza a resposta à essas perguntas é bem subjetiva e não existe uma correta. Cada um avalia os jogos que gosta ou que tem em sua coleção da forma que lhe for mais conveniente. Mas não é de hoje que se levanta a discussão de qual é a validade das avaliações recebidas pelos jogos e os rankings que são formados a partir dessa avaliação. Tanto aqui, no Ludopedia, quanto no BoardGameGeek, esse assunto gera bastante polêmica e levanta muitas outras questões.
Bom, fugindo das polêmicas, quero fazer um relato de como eu faço as avaliações dos jogos e de como levo em consideração diversos fatores para chegar numa nota que acho ser mais objetiva do que o mero gostar ou não de um jogo. No meu grupo a gente sempre brinca que muitos jogos são avaliados pelo critério é legal/não é legal por muitos usuários e que isso empobrece os resultados obtidos nos rankings. Nem de longe quero dizer que meu método é o certo e muito menos que quem avalia um jogo simplesmente pelo gostei/não gostei esteja errado. Quero apenas levantar uma discussão sobre isso e sobre como o seu voto pode influenciar no ranking de um jogo bem mais do que você imagina.

Eu costumo usar apenas uma casa decimal, mas o Rahdo gosta de 3.
COMO SÃO FORMADOS OS RANKINGS?
Talvez você tenha a mesma curiosidade que eu tive a certo tempo atrás: como as notas que damos nos jogos formam os rankings de sites como o
Ludopedia e o
BGG? A resposta à essa pergunta, como eu descobri, não é nada simples. Existem alguns bons tópicos nos dois sites explicando essas questões, mas vou tentar resumi-las de maneira objetiva. O que você tem que realmente levar em conta é que existem dois fatores principais: quanto/quais jogadores avaliaram o tal jogo e qual a nota cada um deles deu. Parece simples, mas na verdade não é. Seria muito errado criar esse ranking baseado somente dessa forma. Por exemplo, se um jogo
X tivesse recebido a nota de um único jogador e avaliado como 10 e outro jogo
Y tivesse a nota de 100 jogadores diferentes, com média 7,5, o jogo
X seria inevitavelmente o primeiro desse ranking, certo?
Mas, como era de se esperar, existem certos critérios para que os jogos entrem no ranking e maior parte deles tem a ver com a
Média Bayesiana. "Com o que?", você pergunta... Pois é, não é algo que nós, meros mortais, ouvimos falar na escola, mas é um sistema de classificação muito usado por estatísticos, economistas, programadores e etc. Em termos bem leigos (que é o que eu sou no assunto), a Média Bayesiana é uma forma de se ter a média de um item baseado não só nele, mas em todos os itens avaliados, levando-se em conta a quantidade total deles, quantos deles tiveram avaliação e quais as notas médias dadas de forma geral.
Não se preocupe, eu não vou tentar te explicar isso.
Ok. Mas o que isso tem a ver com como eu avalio jogos? Bom, gosto de pontuar essas coisas para mostrar que a sua avaliação é importante para o ranking de sites como Ludopedia e Board Game Geek e que se você simplesmente der 10 pra todos os jogos dos quais gostar e 0 pros que não gostar, o ranking não vai refletir de verdade qual jogo tem características melhores ou piores do que os outros. Ou seja, se eu decido na minha avaliação que uma mecânica em um jogo funciona melhor do que a mesma mecânica do outro jogo, mas não faz o segundo jogo ruim, eu posso avaliar o primeiro com um 10 e o segundo com um 8, por exemplo. Assim nós teremos um ranking que reflete muito melhor a realidade.
Claro que toda avaliação é subjetiva. Mesmo quando se tentar avaliar critérios muito bem definidos, eles estão sendo avaliados por alguém que tem uma certa bagagem, certas preferências e isso influencia sua avaliação. Jogadores mais casuais dificilmente irão avaliar
heavy games. Jogadores de
euros podem dar notas baixas para
ameritrashes. Simplesmente por serem suas preferências. Meu caso não é diferente. Então, aqui abaixo você irá ver como eu tentei definir esses critérios e como eu tento avaliar comparativamente item por item sem deixar que jogos de diferentes categorias tenham notas muito diferentes simplesmente por meus gostos pessoais. Vamos lá?
AVALIANDO JOGOS
GRUPO 1 - DESIGN
Sei que no mundo dos
games o termo
design pode ser interpretado de diversas maneiras. Por isso gosto de defini-lo da seguinte maneira: "
a concepção de um produto (máquina, utensílio, mobiliário, embalagem, publicação etc.), no que se refere à sua forma física e funcionalidade". Ou seja, não considero como design a ideia do jogo apenas, mas também todo o refinamento feito em termos de arte, ilustrações, formas de jogar e etc. Nesse grupo gosto de colocar os critérios mais objetivos como qualidade da embalagem/
insert, qualidade da ilustração, acabamento dos componentes como dados, cartas e peças plásticas/madeira. Em alguns casos também considero o manual (sua diagramação, facilidade de leitura e clareza). Por fim, considero a mecânica do jogo como algo fundamental em seu design: um jogo bem desenvolvido não precisa ter mecânicas inovadoras, mas as mecânicas devem funcionar bem dentro daquilo que foi proposto e serem coerentes com o jogo.
Copenhagen é um jogo com inspiração em Monopoly, mas com uma baita arte.
Em suma, dentro deste grupo eu avalio 5 critérios:
- Design do produto;
- Arte/ilustrações;
- Qualidade dos componentes;
- Qualidade do manual; e
- Mecânicas.
GRUPO 2 - FEELING
Neste segundo grupo eu tento avaliar melhor o
feeling do jogo, ou seja, a sensação que eles transmite não só a mim, mas a quem mais estiver na mesa jogando comigo. Pra mim, essa sensação é que vai me dar a vontade de jogar o jogo novamente ou não e também é o que irá fazer meus amigos de mesa gostarem do jogo, se sentirem desafiados ou mesmo terem aquela sensação de diversão no final da partida.
Se o jogo é divertido pra você e sua família, não importa se é War, Detetive ou Terra Mystica.
Se o jogo poderá ser jogado várias vezes sem ser repetitivo, se é um jogo em que haverá bastante interação entre os jogadores e também coloco neste grupo uma avaliação sobre a expectativa que o jogo havia criado e qual foi a sensação ao jogar (um comparativo da expectativa e a realidade). Fica assim:
- Rejogabilidade;
- Dificuldade;
- Expectativa vs Realidade;
- Interação; e
- Diversão.
GRUPO 3 - SORTE E TEMA
Nesse grupo eu deixei dois critérios que são muito importante, talvez fundamentais pra mim. O primeiro deles é o fator sorte do jogo. Sei que muitos jogadores, principalmente os
eurogamers, não curtem muito os jogos com esse fator muito elevado, e sempre preciso levar isso em conta quando vou levar certos jogos pra mesa com amigos. O segundo critério talvez passe pela situação oposta, já que geralmente
wargamers gostam mais de jogos que aprofundam mais no tema ou que são mais imersivos. Mas acredito que hoje as mecânicas e categorias do jogos se misturaram tanto que fator sorte e tema não se excluem e não são exclusivos de um universo ou outro. Quanto mais esses dois fatores forem balanceados, mais fácil o jogo me conquistar.
Todo jogo tem seu fator sorte, mas quando tudo depende dos dados muita gente faz cara feia.
Estamos falando aqui, então, de:
- Fator sorte; e
- Profundidade do tema.
Se você fez as contas, percebeu que são ao todo 12 critérios. Avaliar todos com notas de 0 a 10 e depois dividir poderia ser um método interessante de chegar ao resultado final. Mas eu vou um pouco mais longe e dou pesos diferentes a cada um desses critérios. Isso porque, como eu disse acima, valorizo muito mais algumas coisas do que outras. Mas aí entra uma subjetividade enorme da minha parte. Pra resumir, eu pego o terceiro grupo e o multiplico a soma das notas por 2, por ser o grupo que acho mais definitivo em termos de gostar ou não do jogo. O segundo grupo, eu multiplico a soma por 1,5, por achar que também há critérios mais importantes do que o aspecto visual e tátil do jogo, que estão no primeiro grupo. A única exceção é a mecânica, que multiplico por 2,5, porque é, pra mim, o critério mais importante de todos.
A minha fórmula fica assim:
Claro que eu preciso de uma planilha no Excel pra gerenciar isso aí tudo...
Para avaliar cada um dos critérios eu havia criado uma espécie de base de comparação, com o que considero o melhor e o pior de cada categoria e alguns outros que podem ser medianos em relação ao critério. Essa base era muito variável uma vez que sempre que jogo um jogo novo posso considerar que ele tem algo que é muito melhor que os demais. Então defini que haveria um norte do que fazer e o que não fazer. Por exemplo, você pode fazer um
insert com a qualidade e utilidade do
Quadropolis e
Small World. Ou esse
insert pode ser útil, mas não tão prático como o
Archipelago e o
Quantum (dois jogos que tinham ótimos inserts, mas que me livreis deles pois não cabiam as cartas com
sleeves). Por último, o
insert pode ser horrível, ou inexistente, como é o caso do
Agricola,
Isle of Skye e até mesmo o
Euphoria. Baseado nesses nortes eu faço a avaliação desse critério (que está dentro do design do produto).
Você não precisa fazer isso. Não precisa ter algo tão complexo assim para avaliar seus jogos. Talvez só classificar 2 itens: o jogo em si e o quanto se divertiu com ele. Assim já consegue ter um fator de balanço e conseguir controlar sua nota final não só pelo quanto gostou, mas também se as mecânicas do jogo funcionam. Imagino que devem haver milhares de maneiras diferentes para se fazer isso.
Tente pensar na sua própria maneira de avaliar os jogos que jogou e dizer se elas são mesmo justas. Então, faça um comparativo entre os jogos, as notas que deu, e repense os resultados. Quem sabe você não muda sua nota final de alguns jogos?