Acredito que muitos já pararam para se perguntar porque temos tão poucas mulheres fazendo board games. É fato: a maioria esmagadora de game designers são homens. O número de mulheres jogando também é menor. Por que isso ocorre? Longe de mim fazer um tratado sobre o assunto, mas sou curioso com as idiossincrasias do nosso hobby e gosto de debater os mais variados assuntos (assim, gostaria de ver aqui comentários de jogadores e jogadoras, sobre o que acham ou o que observam).

A primeira coisa que fiz foi, claro, conversar com mulheres do hobby. E depois com amigos homens desse nicho. Pelo menos no meu universo (e no daqueles que foram perguntados) o número de mulheres que eles conhecem que se interessam por board games não passa de 20% do todo. Ou seja, se um deles conhece 30 pessoas que jogam, 6 são mulheres e 24 são homens. Como normalmente um (a) game designer é aquele tipo de pessoa do grupo (são poucos) que inquietantemente quer transmitir suas ideias a outros jogadores, esse número já seria uma explicação de porque temos tão poucas mulheres no mundo da criação de jogos (se me fiz entender, como são poucas as pessoas do hobby que se arriscam a ser designers, uma vez que temos um número pequeno de mulheres, menos criadoras teremos).
Também ouvi bastante isso: “das mulheres que eu conheço que jogam, a maioria joga acompanhando o marido (que foi quem a carregou para o hobby)”. Vale ressaltar aqui que muitas mulheres acompanham os maridos em seus rolês, pelo próprio companheirismo que elas desempenham, e que poucos homens fazem o contrário.
Ouvi de uma mulher, jogadora, um ponto interessantíssimo e que nos faz pensar: meninas dificilmente ganham jogos de presente quando crianças. A elas são reservados presentes “ligados a meninas”. Fogão de brinquedo, bonecas, conjunto de chá. Como, então, ela cresceria com o interesse em board games? Essa é uma questão mais profunda e enraizada que pode responder muitas coisas em nossa sociedade, não apenas no universo de jogos de tabuleiro.
Editoras vetam?
Alguns que estão lendo podem ter pensado, desde o início do artigo, que “não temos muitos jogos feitos por mulheres porque as editoras dão preferência a game designers homens”. Não acredito nisso. Nem um pouco. As editoras não estão preocupadas com isso, mas, sim, com um produto de qualidade e que vai lhes dar retorno.
Tentando aqui lembrar de bate pronto o número de game designers mulheres, e é muito pequeno mesmo. Brasileira, então, só lembrei de uma (a primeira da lista):
Bianca Melyna -
Grasse - Mestres Perfumistas e
Overdrive
Flaminia Brasini (minha preferida) -
Golem,
Lorenzo il Magnifico e
Coimbra
Elizabeth Hargrave -
Wingspan e
Mariposas
Nikki Valens -
Mansions of Madness,
Arkham Horror (2ª Edição) e
Eldritch Horror
Inka Brand -
Ganges,
A Castle for All Seasons e
Village
Connie Vogelmann -
Apiary
Sophia Wagner -
Noria e
Ratzzia
Shei S. -
The Red Cathedral e
The White Castle
Molly Johnson -
Verdant e
Salada de Pontos
Karen Seyfarth – para TALVEZ se enquadrar naquilo citado acima, ela desenvolveu juntamente com o marido, Andreas Seyfarth, o
Thurn and Taxis. (Acredito, não é informação, mas uma opinião, que ela deve ter ajudado Andreas no desenvolvimento de seus outros jogos, já que são casados há décadas).
Sou game designer e discuto mecânicas e temas com diversos amigos (que jogam ou não). E já tentei fazer o mesmo com amigas (que jogam ou não) e não obtive muito sucesso no segundo caso. Será que não é um assunto de interesse? Ou, no meu caso, foi mero acaso?
Difícil chegar a uma conclusão. Pontos são pacíficos:
temos mais homens do que mulheres no hobby. Então, vamos lá. Temos poucas designers mulheres porque elas estão em menor número no hobby? E elas estão em menor número porque os homens se interessam mais por isso ou porque a sociedade as afastou (com a falta de incentivo na infância, por exemplo)? Temos menos mulheres porque o meio é machista e as afastamos? Que outro motivo teríamos para apontar?
São perguntas das quais eu gostaria de ter respostas (não definitivas porque, para isso, só mesmo com uma pesquisa).
Você aí, pode me dar sua opinião sobre o assunto?
Luciano Marques