pinlias::seria uma tese muito válida se por resposta empírica você não percebesse um mercado de falsificados chinês pra praticamente qualquer nicho, por menor que seja.
Quantos de nós já não abriram o aliexpress só pra encontrar cópias de jogos que não são famosos e grandes pra justificar uma tiragem absurda num preço extremamente menor ao praticado, com a mesmíssima qualidade de componentes do original ?
Eu também tenho interesse em algumas marcas de moda underground e tênis exóticos, e descobri pesquisando no meio, anos atrás, que existe mercado counterfeit chinês pra isso também. Modelos e produtos extremamente limitados, fabricados de poucas pessoas para poucas pessoas, tem várias fábricas chinesas disputando os poucos consumidores pelo simples fato de haver mercado. Não sei, pelos termos de uso da ludopedia, oquanto eu posso falar disso aqui, mas a titulo de informação, algumas dessas fábricas inclusive tinham os moldes originais dos tenis e mão de obra que já tinha trabalhado nas fábricas originais, só pra conseguir reproduzir certinho.
O mercado de jogos brasileiros pratica preços injustificáveis. No final de tudo, é literalmente papel, papelão e, no máximo, plástico. Fica difícil demais atribuir responsabilidade a falta de manufatura especializada sendo que é um produto logicamente simples de fabricar. Fora os reajustes constantes, os lançamentos com preços absurdos, não é a toa que tiveram que diminuir a tiragem pra começar a resolver um pouco o problema de encalhar jogo, porque era comum ver jogo saindo em retail a 500, 600 reais pra encontrar eles em promoção encalhado nas lojas online a 100-200.
Entretanto, apesar de saber de tudo que eu citei, também é inegável que é o tipo de coisa que tende a não mudar, a não ser que ocorresse um milagre.A popularização dos jogos no Brasil tá fazendo o mercado só crescer, só que sem expectativa ou prova real de popularização nos preços, também. Cenário triste.
Caro
pinlias
Na verdade o meu artigo falava mais a respeito do impacto que a nossa industrialização tardia teve no surgimento dos primeiros board games no nosso país. O Detetive/Clue é um jogo de 1949 e o Jogo da Vida/Game of Life é de 1960 (a versão moderna, lançada 100 anos depois da versão original de 1860). Mas eles só chegaram ao Brasil mais de 25 anos depois (em 1977 e 1986 respectivamente).
Quanto à facilidade dos board games serem produzidos aqui, pela simplicidade dos componentes, eu também penso assim. Porém se tem uma coisa que eu aprendi é que dinheiro não tem nem pátria, nem ideologia, e se fosse mais baratos e viável produzir aqui os jogos (desde que isso fosse permitido contratualmente ao invés de se exigir a produção na China), acredito que as editoras estariam produzindo aqui. Os jogos 100% nacionais não tem nenhuma cláusula obrigando a produção na China como os jogos gringos, e mesmo assim boa parte da produção desses board games "brazucas", também ocorre na China. Eu sinceramente não atuo profissionalmente no setor de jogos de tabuleiro, mas vez por outra aparece algum profissional da área, para dizer que mesmo com o frete, mesmo com o desenlace aduaneiro, mesmo com as baixas tiragens, ainda assim compensa mais produzir na China que aqui.
Eu acho que nisso também conta o nosso "complexo de vira-lata", porque se o jogo for produzido 100% nacionalmente, na mesma hora o sujeito começa a se perguntar sobre a qualidade dos componentes. Quem tem ais tempo de hobby vai lembrar do fiasco que foi a produção nacional do Maracaibo, portanto essa desconfiança não é de todo injustificada. Por outro lado, alguns jogos tiveram produção local de alguns componentes e ninguém reclamou, e isso também é necessário levar em conta.
Mas tirando isso, eu acho que você está certo. Eu não faço apologia a versões "alternativas" de jogos, até porque isso é crime. Mas eu também acho que é irreal esperar que as pessoas deixem de comprar as versões alternativas dos jogos nos sites chineses, principalmente quando a diferença do alternativo par ao oficial está cada vez menor. Quem tem esse tipo de prurido somos nós boardgamers de classe média e alta, mas se o Dixit começasse a ter um grande apelo junto a massa da população, eu não tenho dúvida de que elas vão optar pelo produto alternativo, que é muito mais barato.
Outra coisa que sempre me deixou com uma pulga atrás da orelha é que os sites alternativos são da mesma nacionalidade que as fábricas dos jogos. Com isso, eu não vejo muita dificuldade em uma fábrica chinesa fazer uma "tiragem caixa 2", que nesse caso terá a mesma qualidade do jogo original, e desviá-la para os referidos sites.
Se as coisas realmente forem assim, aí ficará realmente muito difícil, segurar o comércio alternativo.
E isso para não falar nos próprios alternativos nacionais. Eu sempre digo que quando quem atua nesse sentido à margem da lei, se der conta do quanto se paga por papel, papelão e umas pecinhas de plástico, ele vão entrar pesado nessa brincadeira. Nessa infeliz situação, não será necessário nem esperar o jogo chegar da China. Bastará o sujeito dar um pulinho em qualquer feira popular e encontrar aquelas banquinhas características nas adjacências. Isso será um verdadeiro desastre para o nosso já combalido mercado nacional de jogos, porque esse party games e jogos família que serão o alvo dos alternativos, são justamente o que sustentam as editoras e permitem o lançamento desses jogos super pesados, com 10k de componentes, preço acima de mil reais, e triagens limitadas.
Eu sinceramente não quero que isso aconteça e vou lamentar bastante se essa previsão sombria se realizar, mas como cada vez mais o mercado nacional de jogos se baseia na exclusão, vejo essa possibilidade trevosa cada vez menos remota.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
P.S. Falando em alternativos, existe um motivo para nem a Mattel, nem a Copag, se preocuparem com cópias alternativas do UNO...