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  3. Puerto Rico
  4. Puerto Rico: entre o eurocentrismo e o refinamento estratégico

Puerto Rico: entre o eurocentrismo e o refinamento estratégico

Puerto Rico
  • avatar
    Linauro21/12/24 10:00
    avatar
    Linauro
    21/12/24 10:00
    346 mensagens MD

    Por: Linauro. Apaixonado por literatura, música e jogos, desde sempre. Descobriu nos jogos de tabuleiro uma desculpa perfeita para passar mais tempo com amigos e pessoas amadas.












    “Ó mar, por que não apagas
    Co’a esponja de tuas vagas
    Do teu manto este borrão?" (1)



    Puerto Rico é um euro de Andreas Seyfarth, lançado no ano de 2002 e com arte assinada por Harald Lieske e Franz Vohwinkel. No ano de lançamento, foi um dos finalistas do Spiel des Jahres. Transcorridas mais de duas décadas desde o seu lançamento, ainda figura no TOP50 do BGG (tendo ocupado a primeira posição por cerca de sete anos consecutivos), da Ludopedia e em amplos debates sobre a representação da escravidão colonial nos jogos de tabuleiro modernos.

    O jogo procurou retratar o período em que a ilha de Porto Rico esteve colonizada por espanhóis, entre os séculos XV e XIX. Os europeus exploraram largamente a força de trabalho de pessoas escravizadas de origens nativa - o povo Taino - e africana - advindos de várias partes e culturas diferentes do continente africano -, principalmente, para a produção e exportação de bens primários. Em Puerto Rico, os jogadores representam governantes, senhores de escravizados, visando desenvolver seus negócios escravocratas e reunir o maior número de pontos de vitória ao final da partida. Por conta dessa proposta evidentemente problemática em sua temática, o jogo foi duramente criticado, desde o seu lançamento.

    https://storage.googleapis.com/ludopedia-imagens-jogo/52039_213267_m.jpg

    Para além da controvérsia de os jogadores representarem senhores de escravizados, Puerto Rico fora também criticado por reduzir o papel e a agência daquelas pessoas de origens nativa e africana a meros recursos a serem manejados, representando-os por meio de discos marrons. O termo 'escravizados', em verdade, nunca apareceu no jogo. Porém, dado o contexto histórico - embora existissem, obviamente, também colonos/trabalhadores de origem europeia na ilha de Porto Rico -, restara claro que os colonos, representados por discos marrons, indicavam pessoas escravizadas a serem alocadas nas plantations e edifícios. A representação dos escravizados no jogo transpareceu uma visão historicamente ultrapassada, escravocrata, racista e eurocêntrica.

    A editora do jogo, Alea, numa infrutífera tentativa de amenização, chegou a trocar a cor dos discos, saindo do marrom para o roxo, o que não foi suficiente para aplacar a polêmica (2). Isso se deu em razão do fato de que as críticas não decorriam simplesmente da cor dos discos ou da escolha do tema, mas da reprodução contemporânea da ideologia escravocrata. Ou seja, da retratação dos corpos daquelas pessoas escravizadas como se objetos fossem, sequestrando-lhes mais uma vez a subjetividade.

    Em seu célebre "Pele Negra, Máscaras Brancas", de 1952, Dr. Frantz Fanon, filósofo martinicano, já denunciava a relação indissociável entre colonialismo, eurocentrismo, desumanização das pessoas negras e objetificação dos seus corpos: "[…] na medida que o homem branco me impõe uma discriminação, faz de mim um colonizado, me extirpa qualquer valor, qualquer originalidade, pretende que seja um parasita no mundo, que é preciso que eu acompanhe o mais rapidamente possível o mundo branco, 'que sou uma besta fera, que meu povo e eu somos um esterco ambulante, repugnantemente fornecedor de cana macia e de algodão sedoso, que não tenho nada a fazer no mundo'", palavras estas que poderiam resumir a crítica que permaneceu ao jogo quanto à representação do processo de escravização (3).

    Em adendo, a questão foi brilhante e recentemente retratada no filme "Corra!", do diretor Jordan Peele, vencedor do Oscar de melhor roteiro original de 2018 e eleito o melhor roteiro do século XXI pelo Sindicato dos Roteiristas dos EUA. Numa metáfora sobre o racismo da sociedade estadunidense, o filme aborda a objetificação e fetichização do corpo de um jovem negro por uma família branca, racista e escravocrata, no tempo presente (4).

    Até o ano de 2022, o manual de Puerto Rico não trazia sequer alerta sobre seu conteúdo discutível. Porém, após cerca de vinte anos de críticas, foi enfim lançada a nova e atual versão, que passou a se chamar Puerto Rico 1897. Estruturalmente, trata-se do mesmo jogo, porém com arte nova e tema revisado. Nas equipes de arte, desenvolvimento e revisão foram incluídos diversos profissionais porto-riquenhos e/ou especialistas na história da ilha. Agora, o jogo se passa após o processo de independência de Porto Rico, período em que se deu a abolição do colonialismo escravocrata espanhol. Os jogadores representam fazendeiros e os trabalhadores/colonos não são mais escravizados, mas assalariados.

    O manual fora, enfim, revisto e passou a contar com tópicos específicos sobre o tema. Dentre diversos pontos, abordou: a história do povo indígena Taino, a chegada dos espanhóis e dos povos africanos à ilha, a violência dos processos de colonização e escravização dos povos originários e africanos, a importância cultural, política e econômica de Porto Rico, a luta pela independência e abolição da escravatura, etc. Apesar de bastante tardia, fora uma iniciativa louvável do designer e da editora em repararem, em alguma medida, os erros grosseiros da primeira versão.

    Em relação à estrutura, por outro lado, temos o melhor de Puerto Rico. Como se articulam as mecânicas de seleção de ação simultânea e ordem de fases variável com a economia interna do jogo é algo notável.

    O sistema de plantations nas colônias americanas se dava através do cultivo de monoculturas, mantidas por força de trabalho escravizada e voltadas exclusivamente para a exportação. Em Puerto Rico, são representadas cinco diferentes culturas: milho, índigo, tabaco, açúcar e café. Como ainda estamos falando da versão original, os jogadores representam senhores de escravizados visando desenvolver com eficácia seus negócios escravocratas e, para tanto, alocam a força de trabalho dos escravizados no cultivo, armazenagem das colheitas e construção de edifícios na capital San Juan. Além disso, comercializam as produções e as exportam para a Europa, sempre visando alferir pontos de vitória.

    Para tanto, a cada turno, os jogadores devem escolher uma função - chamadas de colono, prefeito, construtor, comerciante, capitão e minerador - e fazer as respectivas ações. A crítica à função de colono, que designa a alocação de força de trabalho escravizada, já fora feita mais acima. O twist aqui se dá no fato de que os demais jogadores também têm a oportunidade de realizar as mesmas ações, ou seja, uma seleção simultânea, porém apenas quem escolheu a função receberá uma bonificação a ela associada. Ainda, as funções não podem ser selecionadas duas vezes na mesma rodada. Assim, a estrutura de Puerto Rico possibilita uma ordem de fases variável, já que cada jogador escolherá uma diferente função dentre as várias opções diferentes.

    Eis aí o seu refinamento estratégico: a cada rodada, as funções e a ordem em que ocorrem dependem da escolha dos jogadores, o que pode retardar ou acelerar o andamento da partida, bem como uma determinada função pode beneficiar outros jogadores mais do que a você mesmo. Assim, uma boa capacidade de planejamento econômico é essencial. O único detalhe é que, pelo mesmo motivo, a curva de aprendizado é relativamente alta e o jogo exige alguma experiência até que se possa dominar o timing das ações a serem realizadas.

    Puerto Rico recebeu duas expansões: Novas Construções, de 2004, que faz jus ao nome, e Os Nobres, de 2009, que, não por acaso, propõe a substituição dos colonos por nobres. A versão lançada no Brasil pela Grow em 2015 já inclui ambas as expansões. As mecânicas de Puerto Rico foram reimplementadas em dois card games: San Juan, do próprio Andreas Seyfarth, em 2004, e Race for the Galaxy, de Thomas Lehmann, em 2007.


    https://storage.googleapis.com/ludopedia-imagens-jogo/3364e_213266_m.jpg


    É válido ou não jogar - ou mesmo comentar - sobre um jogo com tantas objeções quanto ao seu tema? Inegavelmente, Puerto Rico é um clássico dentre os jogos de tabuleiro modernos. Porém, temos evidentes problemas em relação à temática eurocêntrica, especialmente quanto à retratação dos povos escravizados como colonos. Eis um ponto sensível que pode afastar o interesse de muitas pessoas, o que é plenamente justificável. No caso específico de Puerto Rico, temos as vantagens de ter sido lançado o Puerto Rico 1897 e de a estrutura ser um ponto particular na história dos board games, ainda hoje relevante.

    Nas palavras de Fanon, o entendimento sobre o período colonial - e também da representação proposta no jogo, por extensão - exige não apenas uma compreensão da "intersecção de condições objetivas e históricas", mas também uma crítica da "atitude do homem diante dessas condições" (5). Assim, a questão colocada perde um pouco de sentido, já que não se trata apenas de conhecer ou não, de jogar ou não Puerto Rico, já que essa é uma questão meramente individual. O que se faz necessário é a busca e a manutenção de um conhecimento histórico e objetivo sobre o período, assim como, a crítica contundente em relação a qualquer tentativa de revisão quanto aos horrores do período colonial escravocrata praticado por europeus nas Américas - e em outras partes do mundo - e do racismo a ele indissociavelmente interligado.





    Referências


    (1) CASTRO ALVES, Antônio Frederico de. Navio Negreiro. 1869. Domínio Público.

    (2) WENZEL, Sebastian. Puerto Rico 1897: Brettspielklassiker ohne Kolonialismus und Sklaven. kulturgutspiel.de. 2021.

    (3) FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. EDUFBA Salvador, 2008. p. 94.

    (4) Ainda que sem o mesmo talento, repeti na presente análise a fórmula 'Um Livro, Um Filme, Um Jogo', do incansável iuribuscacio, do canal iuribuscacio.

    (5) FANON. 2008. p. 84.



    Leituras sugeridas




    Board games, racismo e muita reflexão, por Joga Mana.

    Ética e Moralidade nos Jogos, por Ian Carvalho.

    O verso do tile: sonhos, suor e sofrimento varridos para debaixo do tabuleiro, por Bruno Marchena.

    Puerto Rico ou o confronto de interesses, por Mayrant Galo.

    Puerto Rico e Uma Triste Realidade Brasileira, por Iuri Buscácio.

    Suserano de Meeples?, por Ian Carvalho.

    The Board Games That Ask You to Reenact Colonialism, por Luke Winkie.

    Spirit Island e o factual legado dos Dahan, por Bruno Marchena.


    Imagens


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    Comentários:

  • Djow_
    2023 mensagens MD
    avatar
    Djow_21/12/24 10:48
    Djow_ » 21/12/24 10:48

    Poxa não sabia dessa parte do modelo dos plantations, legal!

    1
  • RaphaelGuri
    1385 mensagens MD
    avatar
    RaphaelGuri21/12/24 12:18
    RaphaelGuri » 21/12/24 12:18

    Texto maravilhoso, Linauro! Seu melhor de todos (e são sempre muito bons!). Esse texto deveria ficar linkado na home da Ludopedia como um serviço social!

    Uma coisa, na minha opinião, é clara: essa treta não foi intencional. Foi derivada por uma cultura colonizadora estrutural, mas não maldosamente intencional por parte dos designers. Os discos, pessoas objetificadas, também serviam para os nobres (vermelhos), por exemplo. O erro da editora e do designer foi não ter reconhecido a cagada (até reconheceu, mas levou quase 20 anos!), mas lembremos também que o avanço de consciência é bem novo, não tem nem 30 anos e Banheira do Gugu era o hit dominical da familia, só para dar um exemplo (mesmo que meio desconexo).

    Fora a treta toda, o jogo é totalmente excelente! Merecida uma versão nova e revisada, independente de qualquer coisa.

    Abraço e, de novo, parabéns pelo excelentíssimo texto!

    8
  • iuribuscacio
    3120 mensagens MD
    avatar
    iuribuscacio21/12/24 14:32
    iuribuscacio » 21/12/24 14:32

    Linauro::Por: Linauro. Apaixonado por literatura, música e jogos, desde sempre. Descobriu nos jogos de tabuleiro uma desculpa perfeita para passar mais tempo com amigos e pessoas amadas.


    Caro Linauro

    Meu camarada, seu texto está um verdadeiro primor, e confesso que senti uma certa "inveja intelectual saudável", no sentido de ter gostado tanto, que esse é daqueles artigos que a gente gostaria de ter escrito. Dito isso, você não faz ideia do tamanho da minha satisfação de ter sido citado não apenas uma, mas duas vezes nesse excelente texto.    

    Quanto ao Puerto Rico, esse é um board game que dispensa comentários. Conforme você muito bem citou, esse é um jogo com mais de 20 anos de lançado. Mas mesmo depois de tanto tempo, ele ainda é muito jogado, muito apreciado, muito comentado e ainda é uma das principais referências em jogos euro ou econômicos. Nesse sentido, eu penso que o Catan pode até ter sido o jogo que originou toda a Era dos Jogos Modernos, e disso não há nenhuma dúvida ou discussão possível. Porém, diversos outros jogos foram igualmente fundamentais para consolidar essa nova forma de encarar algo tão antigo, como jogos de tabuleiro, e revolucionar um forma de entretenimento milenar, o que é uma façanha verdadeiramente magnífica. Eu falo de jogos como Carcassonne, Tigris & Euphrates, El Grande, Tikal, e, evidentemente, como não poderia deixar de ser o Puerto Rico.

    Por outro lado, obviamente, o fato do Puerto Rico ser esse verdadeiro colosso de board game, do qual eu gosto muito e admiro, não implica em relevar a polêmica do seu tema. Assim sendo, independente das inúmeras qualidades do jogo, e elas são muitas, eu não consigo nem mesmo entender, e muito menos aceitar, que em pleno século XXI, uma pessoa se sinta à vontade jogando um board game em que interpreta o papel de um senhor de escravos, uma realidade que existia até um século e meio atrás, que historicamente é muito pouco tempo. Se nós considerarmos que racismo é crime, e que deveria ser algo muito mais reprovável do ponto de vista social do que é, interpretar o papel de um escravagista, deveria nos causar a mesma ojeriza, asco e aversão, quanto jogar um jogo interpretando o papel de um pedófilo, estuprador de crianças de 8 anos. O motivo da diferença do grau de aversão a esses dois papéis monstruosos e aviltantes, é que todos nós temos filhos ou ao menos sobrinhos na família, portanto um pedófilo aterroriza, e é repudiado por todos nós, sem distinção. Mas nem todos nós somos negros, e nem todos nós sofremos com os efeitos nefastos do racismo, que é uma realidade cotidiana da população negra no nosso país, às vezes com consequências fatais. Eu não tenho dúvida alguma de que isso é aplicar "dois pesos e duas medidas", mesmo que quem o faça se recuse a admiti-lo. Isso é algo como "aquilo que é ilegal, socialmente reprovável e que me afeta é algo muito grave, um verdadeiro absurdo, que deve ser combatido em todas as suas manifestações, e qualquer medida nesse sentido é muito válida e necessária, mas aquilo que não me afeta, mesmo sendo ilegal e igualmente reprovável socialmente já não é tão grave, e reclamar disso pode ter até alguma validade, mas é mais mimimi do que qualquer outra coisa".

    Assim sendo, eu fico me perguntando se as mesmas pessoas que dizem que "é apenas um jogo", ou "se você não gosta, basta jogar outra coisa", também diriam disso de jogos onde se interpreta o papel de um nazista encarregado de exterminar a maior quantidade de judeus em um campo de concentração, de um ditador cujo objetivo fosse perseguir, torturar e assassinar dissidentes políticos (seja de ultradireita ou de esquerda radical), ou o papel de um policial corrupto com o objetivo de assassinar jovens pobres nas periferias das grandes cidades e acharcar a classe média nas falsas blitz, ou ainda se o jogo colocasse os jogadores no papel de estupradores, pedófilos, sequestradores, de ladrões de carros e de celulares, ou de qualquer outro criminoso violento. Dá para imaginar a revolta contra um jogo sobre médicos negligentes que ganham mais pontos conforme a maior quantidade e maior gravidade dos erros médicos que eles comentem. Nenhuma pessoa com um mínimo de decência, honestidade e empatia, diria que jogos assim não tem problemas, que esses papéis são perfeitamente válidos, que refletem apenas uma situação histórica, e qualquer reclamação a respeito é mimimi. Portanto, eu não vejo porque o mesmo entendimento não possa ser aplicado a um jogo envolvendo escravidão, racismo e exploração de mão de obra escravizada. 

    Evidentemente isso não quer dizer que o Puerto Rico deva ser execrado, receber todo o nosso opróbio, e nunca mais ser jogado. Eu continuo jogando o Puerto Rico, e, pelo menos até o momento com a minha antiga cópia da Grow (só troquei os meeples para peças beges, por motivos óbvios). Da mesma forma, entendo que as pessoas também devem continuar jogando o Puerto Rico, porque ele é realmente muito bom. Só que o que eu acho fundamental, e mandatório, é mudar a forma como as pessoas se relacionam com o jogo, e o papel que elas desempenham, de senhores de escravos para grandes produtores rurais (muito embora isso gere outra discussão, envolvendo latifúndios e exploração econômica, mas que na minha visão são problemas muito menos graves do que escravidão). Eu acho que esse tipo de postura já demonstra um comportamento ético e humano e a rejeição ao racismo e tudo de ruim que ele representa, e mesmo que isso não seja o ideal, porque não basta não ser racista, é preciso ser anti-racista, essa postura e compreensão já são algum começo. Só que considerando o ritmo como a sociedade muda, e o tamanho relativamente pequeno, de um ponto de vista histórico, desde 1888 até agora, e o que é mais grave, o fato de alguns indivíduos muito infelizes acharem que não tem nada de errado em ser racista e adotar atitudes racistas, só o fato da pessoa não ser racista e não compactuar com essa imoralidade e verdadeira excrescência, já é suficiente, pelo menos por enquanto.  

    Por fim, eu acho irreal e até mesmo ingênuo esperar que a sociedade brasileira, que foi construída com base na exploração de escravizados e que funciona com base na exploração das parcelas mais pobres até hoje, de uma hora para outra mude, e grande parte dessa sociedade se torne militante no combate ao racismo. Porém mesmo que uma pessoa não ingresse nessa luta tão importante, ou seja, mesmo que ela não seja anti-racista, o mínimo que se espera dela é que ela não seja racista, nem compactue com essa verdadeira abominação.

    Um forte abraço, um Feliz Natal e próspero Ano Novo, recheados de boas jogatinas!

    Iuri Buscácio
       
       

    10
  • CauMo
    16 mensagens MD
    avatar
    CauMo22/12/24 09:18
    CauMo » 22/12/24 09:18

    Parabéns pelo texto! 

    1
  • iagothal
    39 mensagens MD
    avatar
    iagothal22/12/24 11:36
    iagothal » 22/12/24 11:36

    Puerto Rico é um desses jogos em que a coisa é simplesmente complicada demais.
    Eu acredito que o problema está muito mais na mentalidade de quem criou o jogo (no momento em que tornou a ideia em algo real) do que no jogo em si.
    Acredito que nos 20 anos que se passaram entre o lançamento do jogo original e o lançamento da versão 1897 o autor deva ter melhorado sua visão a respeito do tema e etc.
    ACONTECE QUE, o grande problema que corre fora da cabeça do autor é a reatividade dos jogadores que se recusam a entender a problemática em debate e normalmente são bem agressivos quando alguém fala que não joga Puerto Rico por motivos ideológicos.
    Pra mim a diferença de posição nos rankings entre a versão original e a versão revisada refletem um pouco da opinião de quem não consegue reconhecer a problemática.
    Dito tudo isso, por ser uma das pessoas que vê sim problemas nas escolhas utilizadas no jogo, eu adotei o posicionamento de não comprar jogos desse designer. Acredito que a melhor forma de falar em favor ou contra algo seja votar com a carteira, e assim o tenho feito.

    5
  • Leo Pedra
    18 mensagens MD
    avatar
    Leo Pedra22/12/24 12:46
    Leo Pedra » 22/12/24 12:46

    Linauro::Por: Linauro. Apaixonado por literatura, música e jogos, desde sempre. Descobriu nos jogos de tabuleiro uma desculpa perfeita para passar mais tempo com amigos e pessoas amadas.













    “Ó mar, por que não apagas
    Co’a esponja de tuas vagas
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    Puerto Rico é um euro de Andreas Seyfarth, lançado no ano de 2002 e com arte assinada por Harald Lieske e Franz Vohwinkel. No ano de lançamento, foi um dos finalistas do Spiel des Jahres. Transcorridas mais de duas décadas desde o seu lançamento, ainda figura no TOP50 do BGG (tendo ocupado a primeira posição por cerca de sete anos consecutivos), da Ludopedia e em amplos debates sobre a representação da escravidão colonial nos jogos de tabuleiro modernos.

    O jogo procurou retratar o período em que a ilha de Porto Rico esteve colonizada por espanhóis, entre os séculos XV e XIX. Os europeus exploraram largamente a força de trabalho de pessoas escravizadas de origens nativa - o povo Taino - e africana - advindos de várias partes e culturas diferentes do continente africano -, principalmente, para a produção e exportação de bens primários. Em Puerto Rico, os jogadores representam governantes, senhores de escravizados, visando desenvolver seus negócios escravocratas e reunir o maior número de pontos de vitória ao final da partida. Por conta dessa proposta evidentemente problemática em sua temática, o jogo foi duramente criticado, desde o seu lançamento.

    https://storage.googleapis.com/ludopedia-imagens-jogo/52039_213267_m.jpg

    Para além da controvérsia de os jogadores representarem senhores de escravizados, Puerto Rico fora também criticado por reduzir o papel e a agência daquelas pessoas de origens nativa e africana a meros recursos a serem manejados, representando-os por meio de discos marrons. O termo 'escravizados', em verdade, nunca apareceu no jogo. Porém, dado o contexto histórico - embora existissem, obviamente, também colonos/trabalhadores de origem europeia na ilha de Porto Rico -, restara claro que os colonos, representados por discos marrons, indicavam pessoas escravizadas a serem alocadas nas plantations e edifícios. A representação dos escravizados no jogo transpareceu uma visão historicamente ultrapassada, escravocrata, racista e eurocêntrica.

    A editora do jogo, Alea, numa infrutífera tentativa de amenização, chegou a trocar a cor dos discos, saindo do marrom para o roxo, o que não foi suficiente para aplacar a polêmica (2). Isso se deu em razão do fato de que as críticas não decorriam simplesmente da cor dos discos ou da escolha do tema, mas da reprodução contemporânea da ideologia escravocrata. Ou seja, da retratação dos corpos daquelas pessoas escravizadas como se objetos fossem, sequestrando-lhes mais uma vez a subjetividade.

    Em seu célebre "Pele Negra, Máscaras Brancas", de 1952, Dr. Frantz Fanon, filósofo martinicano, já denunciava a relação indissociável entre colonialismo, eurocentrismo, desumanização das pessoas negras e objetificação dos seus corpos: "[…] na medida que o homem branco me impõe uma discriminação, faz de mim um colonizado, me extirpa qualquer valor, qualquer originalidade, pretende que seja um parasita no mundo, que é preciso que eu acompanhe o mais rapidamente possível o mundo branco, 'que sou uma besta fera, que meu povo e eu somos um esterco ambulante, repugnantemente fornecedor de cana macia e de algodão sedoso, que não tenho nada a fazer no mundo'", palavras estas que poderiam resumir a crítica que permaneceu ao jogo quanto à representação do processo de escravização (3).

    Em adendo, a questão foi brilhante e recentemente retratada no filme "Corra!", do diretor Jordan Peele, vencedor do Oscar de melhor roteiro original de 2018 e eleito o melhor roteiro do século XXI pelo Sindicato dos Roteiristas dos EUA. Numa metáfora sobre o racismo da sociedade estadunidense, o filme aborda a objetificação e fetichização do corpo de um jovem negro por uma família branca, racista e escravocrata, no tempo presente (4).

    Até o ano de 2022, o manual de Puerto Rico não trazia sequer alerta sobre seu conteúdo discutível. Porém, após cerca de vinte anos de críticas, foi enfim lançada a nova e atual versão, que passou a se chamar Puerto Rico 1897. Estruturalmente, trata-se do mesmo jogo, porém com arte nova e tema revisado. Nas equipes de arte, desenvolvimento e revisão foram incluídos diversos profissionais porto-riquenhos e/ou especialistas na história da ilha. Agora, o jogo se passa após o processo de independência de Porto Rico, período em que se deu a abolição do colonialismo escravocrata espanhol. Os jogadores representam fazendeiros e os trabalhadores/colonos não são mais escravizados, mas assalariados.

    O manual fora, enfim, revisto e passou a contar com tópicos específicos sobre o tema. Dentre diversos pontos, abordou: a história do povo indígena Taino, a chegada dos espanhóis e dos povos africanos à ilha, a violência dos processos de colonização e escravização dos povos originários e africanos, a importância cultural, política e econômica de Porto Rico, a luta pela independência e abolição da escravatura, etc. Apesar de bastante tardia, fora uma iniciativa louvável do designer e da editora em repararem, em alguma medida, os erros grosseiros da primeira versão.

    Em relação à estrutura, por outro lado, temos o melhor de Puerto Rico. Como se articulam as mecânicas de seleção de ação simultânea e ordem de fases variável com a economia interna do jogo é algo notável.

    O sistema de plantations nas colônias americanas se dava através do cultivo de monoculturas, mantidas por força de trabalho escravizada e voltadas exclusivamente para a exportação. Em Puerto Rico, são representadas cinco diferentes culturas: milho, índigo, tabaco, açúcar e café. Como ainda estamos falando da versão original, os jogadores representam senhores de escravizados visando desenvolver com eficácia seus negócios escravocratas e, para tanto, alocam a força de trabalho dos escravizados no cultivo, armazenagem das colheitas e construção de edifícios na capital San Juan. Além disso, comercializam as produções e as exportam para a Europa, sempre visando alferir pontos de vitória.

    Para tanto, a cada turno, os jogadores devem escolher uma função - chamadas de colono, prefeito, construtor, comerciante, capitão e minerador - e fazer as respectivas ações. A crítica à função de colono, que designa a alocação de força de trabalho escravizada, já fora feita mais acima. O twist aqui se dá no fato de que os demais jogadores também têm a oportunidade de realizar as mesmas ações, ou seja, uma seleção simultânea, porém apenas quem escolheu a função receberá uma bonificação a ela associada. Ainda, as funções não podem ser selecionadas duas vezes na mesma rodada. Assim, a estrutura de Puerto Rico possibilita uma ordem de fases variável, já que cada jogador escolherá uma diferente função dentre as várias opções diferentes.

    Eis aí o seu refinamento estratégico: a cada rodada, as funções e a ordem em que ocorrem dependem da escolha dos jogadores, o que pode retardar ou acelerar o andamento da partida, bem como uma determinada função pode beneficiar outros jogadores mais do que a você mesmo. Assim, uma boa capacidade de planejamento econômico é essencial. O único detalhe é que, pelo mesmo motivo, a curva de aprendizado é relativamente alta e o jogo exige alguma experiência até que se possa dominar o timing das ações a serem realizadas.

    Puerto Rico recebeu duas expansões: Novas Construções, de 2004, que faz jus ao nome, e Os Nobres, de 2009, que, não por acaso, propõe a substituição dos colonos por nobres. A versão lançada no Brasil pela Grow em 2015 já inclui ambas as expansões. As mecânicas de Puerto Rico foram reimplementadas em dois card games: San Juan, do próprio Andreas Seyfarth, em 2004, e Race for the Galaxy, de Thomas Lehmann, em 2007.


    https://storage.googleapis.com/ludopedia-imagens-jogo/3364e_213266_m.jpg


    É válido ou não jogar - ou mesmo comentar - sobre um jogo com tantas objeções quanto ao seu tema? Inegavelmente, Puerto Rico é um clássico dentre os jogos de tabuleiro modernos. Porém, temos evidentes problemas em relação à temática eurocêntrica, especialmente quanto à retratação dos povos escravizados como colonos. Eis um ponto sensível que pode afastar o interesse de muitas pessoas, o que é plenamente justificável. No caso específico de Puerto Rico, temos as vantagens de ter sido lançado o Puerto Rico 1897 e de a estrutura ser um ponto particular na história dos board games, ainda hoje relevante.

    Nas palavras de Fanon, o entendimento sobre o período colonial - e também da representação proposta no jogo, por extensão - exige não apenas uma compreensão da "intersecção de condições objetivas e históricas", mas também uma crítica da "atitude do homem diante dessas condições" (5). Assim, a questão colocada perde um pouco de sentido, já que não se trata apenas de conhecer ou não, de jogar ou não Puerto Rico, já que essa é uma questão meramente individual. O que se faz necessário é a busca e a manutenção de um conhecimento histórico e objetivo sobre o período, assim como, a crítica contundente em relação a qualquer tentativa de revisão quanto aos horrores do período colonial escravocrata praticado por europeus nas Américas - e em outras partes do mundo - e do racismo a ele indissociavelmente interligado.





    Referências


    (1) CASTRO ALVES, Antônio Frederico de. Navio Negreiro. 1869. Domínio Público.

    (2) WENZEL, Sebastian. Puerto Rico 1897: Brettspielklassiker ohne Kolonialismus und Sklaven. kulturgutspiel.de. 2021.

    (3) FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. EDUFBA Salvador, 2008. p. 94.

    (4) Ainda que sem o mesmo talento, repeti na presente análise a fórmula 'Um Livro, Um Filme, Um Jogo', do incansável iuribuscacio, do canal iuribuscacio.

    (5) FANON. 2008. p. 84.



    Leituras sugeridas




    Board games, racismo e muita reflexão, por Joga Mana.

    Ética e Moralidade nos Jogos, por Ian Carvalho.

    O verso do tile: sonhos, suor e sofrimento varridos para debaixo do tabuleiro, por Bruno Marchena.

    Puerto Rico ou o confronto de interesses, por Mayrant Galo.

    Puerto Rico e Uma Triste Realidade Brasileira, por Iuri Buscácio.

    Suserano de Meeples?, por Ian Carvalho.

    The Board Games That Ask You to Reenact Colonialism, por Luke Winkie.

    Spirit Island e o factual legado dos Dahan, por Bruno Marchena.


    Imagens


    Acervo pessoal.








    Muito mimimi por causa de um jogo de papelão. Não vejo esse mesmo ativismo pra proibir filmes à rodo sobre o tema, Dois pesos, duas medidas.

    13
  • fantafanta
    470 mensagens MD
    avatar
    fantafanta22/12/24 14:10
    fantafanta » 22/12/24 14:10

    O texto está realmente muito bom!
    Essa discussão é necessária.
    Para além disso, eu gostaria de levantar alguns pontos que tem a ver com essa conversa.

    Em primeiro lugar, quem dera a visão eurocêntrica e racista fosse algo pontual e exclusivo de Puerto Rico...
    Há uma quantidade realmente incontável de jogos que carregam alguma mácula nesse sentido! Em outras palavras, que propagam ideologia dominante e muitas vezes reacionária.
    Só pra citar alguns: Salton Sea, The Quest for El Dourado, Tikal, Tiranos da Umbreterna, Carnegie, Race for the Galaxy, Êxodo, Caylus e etc... 
    E esses foram só os jogos que lembrei de cabeça agora e cuja abordagem temática é gritante, bizarra.
    Sem querer entrar na discussão dos pormenores de cada título citado, o que me chama a atenção é que os jogadores parecem não se importar muito com isso. Na verdade eles sequer param para pensar ou analisar as questão subjacentes ao que estão consumido.
    Estão totalmente alheios a isso, alienados mesmo.
    Veja que estou generalizando a coisa. Tem muita gente realmente preocupada com isso. Só não me parece que são a maioria.
    Daí a importância do seu texto.

    O segundo ponto é que eu não acho que faça sequer sentido essa dissociação entre mecânicas e temática porque quase sempre o problema está atrelado a algum tipo de comportamento específico. A temática pode contribuir para facilitar a percepção das coisas, mas o que realmente me incomoda muitas vezes é o que de fato fazemos no jogo. Em jogos de conflito direto isso fica mais claro, pois enquanto adultos supostamente é esperado de nós a capacidade de resolvermos nossas desavenças de maneira diplomática. Enquanto crianças iremos treinar nossas habilidades sociais e nossa capacidade de criar soluções para os nossos problemas. Esses jogos propõe a solução por meio da destruição do inimigo ou de seus recursos, o que meio que dá no mesmo nesse caso. E há algo de muito estranho numa brincadeira cuja alegria é extirpar o seu oponente, não concorda? Porque não construir uma solução benéfica a ambas as partes? O problema aqui é que não importa a temática. O ponto é o conflito estabelecido e a forma como ele será resolvido. E o pior, nada disso é arbitrário. O horizonte de ações é estabelecido pelas regras e muitas vezes nem há o que se discutir. Lembrando que as regras são determinadas pela intenção de alguém, seja do autor ou dos editores, e portanto carrega viezes ideológicos, preconceitos,  narrativas etc...

    Outro ponto é que o racismo é "apenas" um dos problemas. O que falar das plantations, sistema de produção agrícola baseado na monocultura em grandes propriedades de terra e que promoveram o capitalismo dependente das colônias; a desigualdade econômica e concentração de renda; os impactos ambientais significativos, como a degradação do solo, a extinção de espécies endógenas e o esgotamento de recursos naturais locais; o êxodo rural, a desarticulação de comunidades e famílias originais e os conflitos pela terra? O que falar do sistema colonialista como um todo então? Da organização política? E quanto as leis de Mar e as cartas de corso emitidas pelas coroa inglesa, que garantiam a exportação de recursos, comercialização e lucratividade do que era produzido em Puerto Rico?
    Até podemos discutir se a tentativa de escamotear o racismo é valida ou não... mas esse não é nem de longe o único problema do jogo. Basicamente, para resumir a questão, novamente, há algo de muito mau gosto num jogo que emula, ainda que de brincadeira, um sistema tão perverso quanto aquele e que ainda tenta nos vender isso como se fosse algo divertido! 

    Por último eu queria comentar o que faço quando topo com um jogo desses. Não me furto a conhecer. Já joguei 3 partidas de Puerto Rico e acho que está de bom tamanho, pois não tenho a intenção de me tornar campeão mundial de qualquer coisa. Já disse mais de uma vez que jogos - para mim - são ferramentas de aprendizado, de socialização e de exercício de raciocínio lógico, dedutivo etc... E para nada disso eu preciso de Puerto Rico. Respeito quem gosta de pesquisar e se aprofundar em um jogar específico. Acho que é perfeitamente possível se divertir até certa medida com o que quer que seja, mantendo o senso crítico, é lógico. Como o que busco em jogos é um entretenimento mais qualificado, Puerto Rico não se enquadra nos meus critérios de preferência. Além disso, com tantas opções no mercado, não vejo motivo para ficar preso a ele. Então eu simplesmente não jogo e vida que segue.

    4
  • iuribuscacio
    3120 mensagens MD
    avatar
    iuribuscacio22/12/24 14:12
    iuribuscacio » 22/12/24 14:12

    Leo Pedra::
    Muito mimimi por causa de um jogo de papelão. Não vejo esse mesmo ativismo pra proibir filmes à rodo sobre o tema, Dois pesos, duas medidas.

    Caro Leo Pedra

    Com todo o respeito, eu acho que no seu comentário você não considerou algo muito importante e que faz toda a diferença.

    O que você fez foi igualar uma prática profissional com um momento de lazer, que são duas coisas totalmente diferentes, e até antagônicas.

    Um ator profissional quando interpreta um papel, por razões óbvias, utiliza um mecanismo de distanciamento do personagem, principalmente no caso de papéis controversos. Se não fosse assim, Anthony Hopkins não poderia ter interpretado Hanibal Lecter em "Silêncio dos Inocentes". Ninguém em seu juízo perfeito vai achar que esse excelente ator britânico acha normal ser um psicopata ou que ele acha isso legal e que não tem problema algum. O mesmo se pode dizer no caso de Malcolm McDowell em relação ao sadismo de "Calígula" ou da ultra violência de Alex em "Laranja Mecânica".

    E mesmo no caso dos filmes sobre escravidão que você citou, em "12 anos de Escravidão", Michael Fassbender faz o papel de senhor de escravos sádico que estupra uma de suas escravas, vivida por Lupita Nyong'o. Obviamente quem estuprar e é estuprada são os personagens vividos pelos atores, e não os atores. Assim sendo, é o personagem, e não o ator, que acredita que sua escrava não era um ser humano, mas uma propriedade sua, para ser utilizada como ele bem entendesse. É óbvio que, nesse acaso, Michael Fassbender está atuando profissionalmente e que de forma alguma isso significa que ele endosse esse tipo de pensamento. Sua atuação no filme, também não significa que o ator ache que não há problema algum em achar que a escravidão não tem problema algum, e é apenas mais um fato histórico sem maiores repercussões.

    Por outro lado, quando a pessoa está no seu momento de lazer, ela pode escolher uma infinidade de formas de se distrair e que lhe darão prazer. Por isso é no mínimo muito estranho e absolutamente perturbador imaginar que uma pessoa vá escolher justamente encarnar um "senhor de escravos", em seus momentos de lazer, como forma de se distrair e como algo lhe dê prazer. 

    Agora, se você acha que fazer um papel tão vil, execrável e desumano feito um "senhor de escravos", é algo perfeitamente normal, que não lhe afeta de forma alguma, nem mesmo no mais elementar e básico nível de empatia humana, infelizmente tudo o que eu posso fazer é lamentar, e lamentar muito, mas muito mesmo, por si.

    Lamentavelmente.

    Iuri Buscácio 
           
        
          

    9
  • iuribuscacio
    3120 mensagens MD
    avatar
    iuribuscacio22/12/24 14:20
    iuribuscacio » 22/12/24 14:20


    A MÀO DA LIMPEZA


    "O branco inventou que o negro
    Quando não suja na entrada
    Vai sujar na saída, ê
    Imagina só
    Vai sujar na saída, ê
    Imagina só
    Que mentira danada, ê
    Iô, iô, iô
    Iê, iê, iê
    Iô, iô, iô



    Na verdade, a mão escrava
    Passava a vida limpando
    O que o branco sujava, ê
    Imagina só
    O que o branco sujava, ê
    Imagina só
    O que o negro penava, ê
    Iô, iô, iô



    Mesmo depois de abolida a escravidão
    Negra é a mão de quem faz a limpeza
    Lavando a roupa encardida, esfregando o chão
    Negra é a mão, é a mão da pureza
    Negra é a vida consumida ao pé do fogão
    Negra é a mão nos preparando a mesa
    Limpando as manchas do mundo com água e sabão
    Negra é a mão de imaculada nobreza



    Na verdade, a mão escrava
    Passava a vida limpando
    O que o branco sujava, ê
    Imagina só
    O que o branco sujava, ê
    Imagina só
    Eta, branco sujão"



    GILBERTO GIL


    https://www.youtube.com/watch?v=tzFxd4gxbpQ


    5
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