dharrebola::Olá!
Eu sou o Davi e você está no Análise Escrita.
Hoje vamos falar de alimentos.
Vamos falar do Pão, que é o mais icônico alimento para o corpo, e vamos falar dos jogos, que são um dos (se não o maior) "alimento" para a mente.
De quando e de onde estamos falando Davi?
Há relatos de que os primeiros pães surgiram na Mesopotâmia e o tempo varia muito.
Há fontes que citam mais de 12000 anos para os primeiros pães, porém há evidências e traços de amido em rochas usadas para moer grãos e plantas na Australia e em partes da Europa que datam de cerca de 30000 anos.
Então podemos dizer que o mingau é ainda mais antigo que o pão.
Não é arriscado dizer ainda que o mingau não tem um "lar" ou uma origem, é perfeitamente plausível assumir que essa preparação e outras variantes surgiram em tempos distintos e em povos que nunca tiveram um mínimo de contato entre si.
Do mingau chegamos ao pão.
O jogo mais antigo creditado aos povos da Mesopotâmia data de cerca de 3000 a 4000 anos e é conhecido como O Jogo Real de Ur (Assim chamado pois os primeiros tabuleiros foram descobertos em túmulos do cemitério real de Ur).
Um jogo de corrida que possivelmente é um ancestral do Gamão.
Caro Davi Henrique (
dharrebola)
Meu amigo, mais um primor de artigo. Meus parabéns. Eu gostei muito do texto e gostaria também de ressaltar dois aspectos.
O primeiro é a questão da origem do mingau, o "avô do pão". Não sou arqueólogo então quem sou eu para contestar os cientistas e pesquisadores da área. Porém eu me interesso pelo assunto, e na minha condição de leigo, já li alguma coisa a respeito. Desse modo, o que eu percebo é que, de vez em quando, surgem pesquisas no sentido de tirar da Mesopotâmia, basicamente o atual Iraque, a condição de berço da civilização, em um pequeno aspecto que seja. Considerando que os países muçulmanos, em especial do oriente médio, não têm a melhor das reputações junto ao ocidente, me parece que norte-americanos e europeus não se conformam que a civilização tenha nascido lá, e não na Europa. Do mesmo modo, quando as pessoas falam na ancestralidade da Austrália, em alguns aspectos, nem sempre as pessoas se dão conta de que estão falando dos aborígenes, um povo do qual muito pouco se fala, e não dos britânicos caucasianos que colonizaram a ilha no século XVIII.
Algo parecido ocorre com a origem africana do homem. Ninguém dúvida que os primeiros hominídeos viveram na África milhões de anos atrás. Como isso não dá para contestar, o jeito é falar do homo sapiens. Anteriormente o fóssil mais antigo do homo sapiens eram os do Omo I, encontrados pela vulcanologista Celine Marie Vidal da Universidade de Cambridge e datados de 233.000 anos (fonte: Revista Nature 12/01/2012). Nessa época, o paleoantropólogo Jean-Jaques Hublin, se mudou de instituição científica para o Instituto Max Palnk de Antropologia, especialmente para continuar explorando os fósseis achados em Jebel Irhoud no Marrocos. Em 2017, a equipe de Hublin publicou que os fósseis encontrados no Marrocos, anteriormente datados como bem mais recentes, foram submetidos a outras técnicas de datação que indicaram que eles eram do período de 280 a 350 mil anos atrás. No mesmo sentido, novas descobertas em Israel retrocederam em mais de 100 mil anos (de 80 para 185 mil anos atrás), os primeiros fósseis de homo sapiens fora da África.
Claro que em ciência novas descobertas são feitas e novas técnicas são criadas. Com isso, é natural que o conhecimento científico mais aceito seja revisado periodicamente. Só que é preciso lembrar que as pesquisas científicas custam muito dinheiro, muito dinheiro mesmo, e colocam e retiram o nome dos cientistas da história. E existem muita coisas, nem sempre científicas, por trás dessas mudanças. Durante décadas, Marconi foi o inventor do Rádio, mas nos anos 40, por uma decisão da Suprema Corte norte-americana, ao menos nos EUA, quem realmente inventou o rádio foi o Tesla. Um era um inventor italiano, enquanto que o outro apesar de sérvio radicou-se nos EUA e lá fez suas principais descobertas e invenções. Isso parece dizer tudo a respeito do motivo da controvérsia.
Por isso, eu fico me perguntando se em ciência, novas descobertas não surgem, não de novas evidências, mas decorrentes da alteração dos parâmetros. Em 1994 foram encontrados na Espanha fósseis do Homo Antecessor, que talvez seja o último hominídeo comum entre os Sapiens e os Neandertais, com datação de 800 mil anos atrás. Assim, não dá para não pensar que talvez alguma "nova descoberta" de repente estabeleça que os Homo Sapiens surgiram primeiro na Europa e não na África. Antes que alguém diga, eu sei perfeitamente que ciência séria é algo com uma série de salvaguardas e procedimentos, que garantem que antes de qualquer descoberta ser plenamente aceita, ela passa por um protocolo rigoroso, em que a teoria precisa ser provada. Por isso, em muitos casos, desconfiar da ciência não passa de teoria da conspiração. Entretanto, como dito antes, considerando os altíssimos valores econômicos envolvidos na ciência de ponta, e as agendas políticas por trás desse valores e patrocínios, em alguns casos, que são uma minoria evidentemente, sempre existe aquela "sensaçãozinha" de pulga atrás da orelha.
O outro aspecto que eu gostaria de comentar, é que achei muito pertinente você colocar o Jogo Real de Ur, como o jogo mais antigo encontrado na Mesopotâmia. A antiguidade desse board game é indiscutível. Mas eu sempre me questionei a respeito da primazia, em termos de antiguidade de board game (fonte: vozes da minha cabeça), se o Mancala não seria mais antigo. Claro que diferentemente do Jogo Real de Ur, não existem evidências físicas de que o Mancala é mais antigo. Porém, pelo menos na minha opinião isso faria todo o sentido. Primeiro porque as regras do Mancala são bem mais simples. E segundo porque o Mancala tem uma relação óbvia com o ato de plantar, o que sugeriria uma origem muito mais antiga. Obviamente ciência se faz com provas e evidências físicas, e nesse caso o Jogo Real de Ur tem essas evidências, enquanto o Mancala não. Portanto, pelo menos do ponto de vista científico, o Jogo Real de Ur ainda é o jogo mais antigo, não apenas da Mesopotâmia, mas de todo o mundo. Só que em relação a isso, considerando que o Mancala poderia ser jogado com sementes e até buracos no chão, e que tabuleiros de madeira nem sempre resistem à prova do tempo, não dá para não especular, se o Mancala não seria mais antigo. Entretanto, não se pode afirmar categoricamente isso, pelo menos enquanto não forem encontradas evidências físicas nesse sentido.
Por fim, mais uma vez meus parabéns pelo ótimo texto, que dá muito o que pensar.
Um forte abraço e boas jogatinas!
Iuri Buscácio
P.S. Aproveitando o ensejo para fazer um auto-jabá (com perdão pelo mal jeito e pela minha extrema cara de pau), eu escrevi um artigo sobre jogos ancestrais, e quem tiver interesse, eu acho que será uma leitura interessante. Esse artigo se encontra no canal iuribuscacio aqui do Ludopedia:
https://ludopedia.com.br/topico/64045/jogos-de-tabuleiro-bg-ancestrais.