Cara, muito legal seu texto, muito! Também adoro esse assunto e considero-o muito importante dentro e fora do hobby.
Acho que podemos pensá-lo em vários aspectos. Se pensarmos em termos de História da Arte, num sentido mais conceitual e, portanto, mais radical, provavelmente concluiremos que não, um jogo e seus elementos visuais não são arte, afinal há um certo consenso de que o principal elemento da arte é a liberdade criativa, e isso está comprometido nos jogos, pois há uma demanda predominantemente comercial envolvida. O jogo, em última análise, é um produto, seus elementos visuais servem prioritariamente para torná-lo mais vendável, então, por mais que haja muita dedicação e inspiração envolvida no trabalho, os ilustradores e designers não estão preocupados com a possibilidade de revolucionar a linguagem artística da sua época ou engajamento da arte e etecetera e tal, afinal não é isso que está sendo demandado deles.
O Scorsese certamente diria sobre os jogos a mesma coisa que ele disse sobre os filmes da Marvel: tem muito amor e dedicação envolvidos aqui, mas os jogos não são arte, são parques de diversão!
Mas se a gente for por um caminho diferente dessa perspectiva muito acadêmica - que é apenas um viés e não o centro da verdade, é claro que há um valor artístico ali. Os artistas do mundo dos jogos não me parecem estar preocupados em fazer apenas algo bonito e vendável. Bem, ao menos não os melhores. Eles se preocupam com o tema do jogo, desenvolvem seu próprio estilo, atenção aos detalhes, elementos narrativos do jogo, até mesmo a integração da arte com a mecânica e muitos outros cuidados. E pra quem aprecia o jogo, acho que todo esse cuidado pode proporcionar tanto prazer quanto contemplar uma obra de arte consagrada. Pode não provocar em vocês a mesma reflexão, os mesmos insights, ou até mesmo o assombro provocado por algumas das grandes obras, mas a mesma satisfação eu acho que pode.
Sobre a questão do jogo, em si, não acho que uma bela arte salva um jogo mediano, até porque a excelência estratégica me parece ser o elemento que mais buscamos nos jogos modernos, então não tem como uma bela arte dar conta disso. Pensando pelo jogo, eu prefiro um jogo feio e bom (Power Grid) ao oposto (Scythe).
O bom mesmo é quando é bom e bonito, mas francamente... Quem não se rende a um jogo com uma bela arte, mesmo que ele não seja grande coisa! Tem muito jogo que que queria ter só pra emoldurar o tabuleiro e pendurar na parede, A Castle for All Seasons é um ótimo exemplo, só não faço isso porque a grana não dá pra bancar todo nível de maluquice.