Para que tudo não fique meramente como uma narrativa pessoal, o INSIGHT aqui é: “Como se constrói uma preferência, uma mecânica preferida, e como ela vai maturando ou mudando através dos tempos” (tanto a preferência, como a mecânica em si). Pra não virar apenas um grande diário e não ficar divagando de uma forma que só tenha valor pra mim (por serem memórias), fora o insight central citado acima, a postagem terá a seguinte estrutura:
-Como estava minha "mente jogadora" na época, pelo menos até onde consigo lembrar no feeling de retrospectiva, e como essa mentalidade/perfil de jogador seguiu se moldando com os anos avançando.
-Qual o melhor jogo que conheci e adquiri naquele ano, e que está na coleção até hj! Remetendo ao porquê de possuir uma cópia, seja pelas mecânicas, seja pela abordagem/tema ou outros motivos.
-Qual o jogo que disse adeus, e merece destaque por fazer falta em algum nível (nem que seja pelo saudosismo) ou que não faz falta nenhuma e "já foi tarde" (o desapego vai se fazendo presente, com o tempo passando)
-Uma amarração mais ou menos conclusiva, dando alguma deixa para o ano seguinte, 2016.
Então bora lá!
-Sobre meu panorama de jogador em 2015:
Logo depois de matar a saudade de um
HeroQuest da vida na forma de um
Zombicide (que não era nenhum exímio dungeon crawler, mas arranhava essa coceira de forma satisfatória), eu fui fazendo um movimento natural. De forma espontânea, eu acabei procurando jogos que entregavam a ideia de gerenciar cartas, de ter um baralho, dar “cast”(leia-se baixar a sua frente na mesa) e resolver os efeitos mais diversos de acordo com a pool de cada jogo. Uma das entregas legais do mundo dos trading card games (modelo comercial do magic the gathering) era a construção de baralho, era poder olhar pro deck e dizer que ele executava as coisas com tal foco, e entregando esse ou aquele tema. Eu simplesmente adorava essa sensação e embora soubesse que ficar se atualizando com boosters/pacotinhos de novas coleções lançadas a cada 3 meses era apenas uma forma, eu não imaginava quais outras formas teria de apreciar um bom jogo de cartas, entendem?
Então dentro do hobby vc vai conhecendo jogos e entendendo o que eles fazem, o que eles resolvem dentro da pool, da proposta contida naquela caixa. No meu “mapa mental” da coisa, eu costumava pensar que cada jogo era como um baralho do magic, já que nele existem obviamente linhas gerais e arquétipos das formas de jogar, no comportamento do baralho olhando pra si mesmo e olhando pros outros... Metagame que chama né? Então embora os jogos não fossem correlacionados, e não fossem “atuar juntos”/jogar um contra o outro por assim dizer, eu ainda via tudo como um grande metagame, o meta da minha coleção. Embora em 2015 eu não estivesse tão inserido na comunidade recifense de boardgamers, eu já visualizava outros metagames/cenários de coleções que não eram a minha. Isso tudo faz mais sentido se vc que está lendo tiver alguma incursão no papel de jogador de magic ou outro Trading card game, mas pra falar de forma mais geral sobre comparar a coleção com um metagame do magic, é tipo comparar
Hive,
Santorini e jogos dessa estirpe com xadrez (o que inclusive cabe bastante, guardando as devidas proporções).
Aí que veio uma mecânica que me pegou de jeito. O deckbuilding!!! O efeito foi totalmente “blow your mind” quando conheci a pegada de ter uma pool geral e fazer o teu recorte mais ou menos combado e otimizado nela, com direito a obtenção dessas cartas fazerem totalmente parte das mecânicas da partida, desde o mercado até um recurso que resolve como currency/economia da compra (moedas, runas, energia, reputação ou qualquer outra que dialogue com o tema do jogo). Este kina que vos fala não está escrevendo só pra quem já jogou magic, mas caso conheça minimamente, sabe que boa parte do “corre” é montar seu deck na receita caseira, ou vendo decklists do que tem rolado de melhor, então pra mim foi genial ver isso transportado pra partida e ainda visualizar que nesse processo vc só gastou o dinheiro da obtenção do jogo, embora jogos com deckbuilding sejam um imã de expansões onde cada carta gera 5 versões diferentes (5 pra começo de conversa hehe).
Como todo carteado que se preze tem horas que a mão não ajuda e tu vai jogar um turno ruim. A receita de bolo é basicamente a mesma pra construção de baralhos, do Dominion ao Arnak... Tu vai ter uma mão de cartas fracas que te levam a obter as cartas médias e fortes certo? Daí embora a mecânica de “filtrar” se faça presente das mais diversas formas (vai do design de cada jogo), nem sempre vc otimiza e se livra das cartas que queria, essas benditas cartas iniciais que depois de certo tempo passam a atrapalhar. Por vezes acontece o que meu grupo chamava de
“mão inicial”, que é quando vc compra metade ou mais das cartas inciais (tipo 3 ou 4 de um total de 5 por exemplo), em casos extremos vem a mão inteira e fica parecendo que vc tirou o jogo da caixa de novo e tá reiniciando a partida bem do turno 1 haha. Incomoda a ponto de ser citado aqui, mas “faz parte do show”, é um fator que te deixa à mercê da luck of draw e vida que segue. Eu sigo achando uma mecânica fantástica e a vejo recebendo tanto amor quanto ódio, aqui e ali vc esbarra em jogadores meio “deckbuilding não!!!”, seja pelo excesso de embaralhadas, seja por desgostar de outros aspectos da abordagem
É fato que a gente evolui, e os jogos também (ou seria o contrário? Momento meme da Nazaré). Daí com o passar do tempo comecei a conhecer os jogos que propõe um twist na brincadeira, usando o deckbuilding como 50% ou 1/3 da sopa toda que é servida em uma partida. Se
Dominion é o berço da mecânica,
Clank!: Um Deck Building de Aventura contempla o movimento ponto a ponto,
As Ruínas Perdidas de Arnak e
Everdell fusionam com worker placement,
Aeon's End te faz a proposta de não embaralhar, vc “vira” o descarte e já está gerado teu baralho pras próximas jogadas... e poderíamos citar outros tantos, mas dentro da minha pequena grande jornada seriam esses mais diferentes que joguei, embora o aeon’s esteja na wishlist ainda.
Mas antes que esse 2015 vire uma ode ao deckbuilding, é sobre cartas! Dou valor a tudo que se pode realizar dentro de um cardgame ou boardgame focado em cartas, então queria destacar que até hoje me encantam jogos como
Arboretum e tô só esperando pra pegar um
Ouch! um
Velonimo,
CuBirds ou um
Animix hehe. Outra coisa que não posso deixar de citar em relação a esse ano, é um hobby dentro do hobby... o jogador que cria jogos! Segundo o último ou penúltimo censo da ludopedia (perdão a falta de precisão) chega a ser 50% dos usuários que criam seus próprios jogos... Wow hein, metade dos praticantes do hobby!!! Esse é um INSIGHT lúdico desse ano,
a vontade de criar as próprias receitas no imenso mix de ingredientes (mecânicas mesmo), que pra mim se apresentou como o primeiro hobby dentro do hobby, então já no segundo ano de boardgames eu engrossei essa estatística, esse tipo de jogador! Nesse 2015 fui co-autor de um jogo com meu irmão, e um amigo de infância que também entrou no hobby... o “survival dungeon”, que surpreendendo um total de 0 pessoas era um cardgame também. A abordagem era exploração e sobrevivência numa masmorra (afinal, tá bem no nome do jogo) e passamos uns bons 2 anos jogando intensamente, em certos momentos chegava a ser 1/3 ou 1/4 das partidas, mesmo com vários outros jogos disponíveis.
O resultado foi uma gama de quase 10 dungeons (creio que 8 ou 9) cada uma com um boss e meia dúzia de mecânicas exclusivas (chamávamos de assinatura da dungeon) bem como 18 a 20 personagens, com suas jogabilidades baseadas em ser fighter (foco em matar monstros), caster(manipula o seu deck e/ou o deck da dungeon) e misc (faz de tudo um pouco). Recordo com todo carinho do mundo esse nosso “pequeno grande jogo” e como cada personagem tinha um deck de 30 cartas, e cada dungeon pouco mais de 90 cartas, a build final do jogo ficou com inacreditáveis 1000 a 1100 cartas!!! Porém também reconheço que ele envelheceu mal (por vc mais reagir ao que vem a cada turno, do que gerenciar e tomar decisões de peso no andamento do turno), sendo esse outro INSIGHT lúdico,
a ideia de evitar a síndrome do “meu filho é perfeito” ao fazer jogos. Mas isso digo hoje, tava bem verde na época, bastava se divertir, não era nada pro mercado/ público geral. Jogamos muito ele em 2015, 2016 e um pouco em 2017, daí um pouco antes da pandemia, tipo 2019 ainda fizemos um revival ou dois dele.
-Qual jogo marcou em 2015 e marca até hoje? (e os motivos em torno disso)
Ascension: Deckbuilding Game com certeza! Cabe admitir que só tenho jogado 2 ou 3 vezes no ano, mas jogo sempre, ele adormece mas não é esquecido hehe. O jogo roda lindamente, o mercado de cartas é bem dinâmico e apenas com runas (que é a mana/moeda do jogo) e poder (que é o ataque/porrada), você comprará cartas e enfrentará monstros. Essa simples economia/currency dupla já entrega todo o necessário pela busca de maximizar a eficiência do teu deck e buscar pontuação. Quando visualizei que teria enfrentamento dos monstros, remeti logo a algum sistema de combate, mas ocorre de maneira passiva com os monstros ficando “disponíveis” e se alguém quiser sobrepujá-los é só levantar a quantidade de poder e guilhotinar o capiroto em questão. Dá pra dizer que é o jogo dos combos, pois todos os deck building rodam com sinergias, mas isso é muito acentuado nele. Em todos é normal jogar cartas adicionais além das 5 do turno, mas nele essa ideia “explode”, o jogador pode chegar a jogar 9-10+ cartas por causa das cascatas de ativações. Temos os heróis e os construtos (esse segundo tipo é a carta que ao invés de resolver e sair, fica através dos turnos), e tanto as novas cartas obtidas, quanto os monstros que você degola fazem efeitos de obtenção de runas, cartas adicionais e principalmente honra para pontuar mais.
O uso dessa honra como uma pool de pontos a la “clock” (quando ela acaba dispara o endgame) ficou muito interessante pois é atrelada/somada a uma contagem de pontos no fim da partida, que considerará os pontos coletados + os impressos nas cartas! Daí isso entra na build das cartas, tendo algumas que não resolvem tão forte mas te dão pontos, bem como outros que resolvem lindamente (você quis dizer: carta apelona) mas quase não dão pontos no final do jogo. (insira aqui o meme do thanos do perfectly balanced)
Porém mesmo citando essa pegada e como ela ficou interessante, não dá pra esquecer que há um certo desequilíbrio em relação a facção mechana, que pode pontuar demais com suas cartas e empurrar cascatas de combos semi intermináveis, mas o mercado é aberto para todos, então funciona como ataque de oportunidade pegar certas cartas, seja pq vc vai tentar “buildar” por esse caminho, seja pra enfraquecer quem tá focando nele... Você se acostuma ao perceber que “esse lance mechana faz parte da mecânica” (foi só pra rimar hehe). Uma das coisas mais legais era (e ainda é) jogar várias partidas seguidas pra ver mais do que o jogo tem a oferecer, atestando que vc realmente faz um deck diferente por partida! Seja por ter focado em combate, muita compra, cartas que ao invés de resolver, ficam em jogo concedendo habilidades, um deck super filtrado sem presença das cartas fracas/iniciais ou simplesmente outros caminhos/modelos mais híbridos disso tudo. E falando em diversidade fornecida, o jogo base dá um caldo bom, mas como todo cardgame que se preze, existe uma trolha de expansões e acharam por bem só trazer uma que é a ascensão dos caídos... uma pena. Então como ainda era começo do hobby eu posso dizer que ascension foi um dos responsáveis por “entalhar” o
INSIGHT da ampla rejogabilidade na minha mente jogadora. Isso pode ser visto como algo superestimado depois que vc vê sua coleção bem crescida, pois rola o bom e velho “jogos demais e tempo de menos”, mas aí é outro assunto.

-Quais jogos marcaram em 2015 mas não permanecem na coleção? (e os motivos em torno disso)
Evidente que esse é o ano em que eu viajei em cards games, e mais especificamente deck Building, mas se de um lado pude conhecer uma lindeza como o ascension que me rende partidas até hoje, por outro lado esbarrei no trambolho do
Resident Evil Deck Building Game. Os princípios estão presentes, mas resolvem de forma insossa e quase retilínea. Há um mercado para vc pegar armas que vão resolver causando uma certa quantia de dano, desde que vc jogue e resolva as devidas cartas de munição para ativá-las na mesma jogada (na mesma mão de cartas). Nisso você vai enfrentando a fauna presente no videogame (e caso peguem a referência, a flora também) que simplesmente aguenta X de porrada, e pode bater Y em você, e se for derrotada dá um valor de pts de experiência. Você também escolhe um personagem que vai aguentar uma certa quantidade de porradas, e tem duas “subidas de nível” onde ganham skills como: resolver mais forte algum tipo de arma, ou lidar diferente com as munições, comprar +cartas etc.
E isso é tudo... tirando uma curva ou outra que acontece uma vez perdida numa carta diferente, vc segue nesse frenesi de “será que virá um inimigo forte, médio ou fraco?” VS “será que minha output de armas causando dano será alta, média ou baixa?”. Se rolar uma discrepância estilo algoz forte, vs mão causando pouco dano, problema seu, no melhor estilo Forrest Gump / Shit happens. Foi minha primeira experiência com jogos importados e ao vender me despedi com uma alegria mais intensa do que fazer o melhor/maior combo possível da forma mais absurda da partida mais otimizada possível. É chato quando a melhor jogada possível num jogo é coloca-lo em outra mesa de outra grupo, mas o lixo de um é o luxo do outro e cada reino com seus súditos!
Ainda sobre jogos que saíram da coleção, eu PRECISO falar sobre
Smash Up! O jogo roda lindamente escolhendo 2 de 8 facções e misturando elas juntas, e embora algumas combinações resolvam assumidamente de forma mais sólida do que outras, o jogo é muito rápido, e só no base vc contempla quase 30 possibilidades de combinações!!! Isso é fantástico, até vc inventar de adicionar expansões para deixar o jogo maior e melhor, e só conseguir complicar o fluir do jogo, acrescentar + uns 10 minutos por cabeça... Num exemplo rápido, para 2 jogadores rolava coisa de 30 a 40 minutos, com expansão subia pra 1hr! Imagina com 3 e 4 jogadores? Fica doloroso. Ele não saiu em 2015 da coleção, mas esse foi o ano de destaque do jogo pro meu grupo. Hoje entendo duas coisas que estão relacionadas: Primeiro que
se não curtiu uma expansão basta manter o base ao invés de vender tudo (hoje o smash é raro) e segundo que expansão pode sim atrapalhar. Muitas vezes observo que em euros é delicado, varia muito se vai ajudar ou estragar o mix, em ameris se houver foco em narrativa, costuma ser legal/funcional, pois são novos capítulos de um mesmo livro. Em cardgames tendem a ser o mais próximo possível de essencial se vc quer ver outras formas de rodar e resolver tua gerenciada de mão, mas no smash up só entregou atrapalho, deixando o jogo arrastado, e transformando o desequilíbrio pré existente de leve/moderado para “imenso”. Na época eu só pensei que era tudo ou nada e vendi o base + o
Smash Up: Ficção Científica em Dose Dupla Nível 8000 (única expansão que veio BR). Ainda bem que anos depois, aprendi com esse erro, e ao não curtir as expansões de
7 Wonders Duel, mantive o base. Nossa como isso soa óbvio atualmente! Mas não estava internalizado naquele momento, e só resta aquela meia lamentada pelo smash up (esgotado tem uns 2 anos e meio) que não era nenhuma jóia da coroa mas era xodózinho haha.
-Não sei, só sei que foi assim...
O que este kina que vos fala pode dizer é que foi mais um ano surpreendente, a entrada no hobby é um marco e tanto! O feeling era de ir muito além de um jogo que era um mundo pra mim (o magic the gathering) descobrindo que ele era apenas um país na dimensão dessa metáfora. Eu realmente segui entrando de cabeça nesse nosso mundinho, era bem "fogos de artifício" e recordo com carinho disso, sem clima de que agora tudo mudou ou está menos legal, e sem sentir nada negativo por essa efervescência ter passado... É só que era excepcionalmente bom! Picos de "feels good" que (quase) não voltam mais

Adianto que em 2016 eu segui escalonando no hobby e vendo a evolução da minha fome tanto por jogos diferentes, quanto a alegria de ver um velho conhecido ser relançado com regras melhoradas! E por incrível que pareça não estou falando de segunda edição! Mas eu conto nas postagem desse bendito 2016! Para o canal não virar museu, nem “querido diário”, nossa próxima postagem vai ser uma análise sobre algum jogo, no formato costumeiro mesmo. Recordei que ainda não foi nesse ano que cai nas armadilhas do consumismo, prateleira da vergonha era zerada de uma semana pra outra hehe, então foi em 2017 ou 18. Espero que acompanhem essa saga, que busca apenas explicitar tanto os lugares comuns quanto os diferenciais que temos singrando esse amado ludoverso que é nosso hobby

Se quiserem fiquem muito a vontade pra falar sobre cardgames, com ou sem deckbuilding. Ainda tem 8 anos de recapitulada, que vou distribuindo nas postagens do canal.
Espero ter sido proveitosa minha recapitulada do segundo ano de hobby, propondo pensarmos juntos nas mecânicas que mais amamos, na vontade de fazer os próprios jogos, e na sabedoria que você vai adquirindo em relação a necessidade (ou não) de expansões. Até a próxima caros(as) companheiros(as) de cavalaria!
Então é isso, inscrevam-se, acompanhem! Até a próxima batida de "Kina"!!!