(Análise) Dixit
Título: Dixit (2008)
Designer: Jean-Louis Roubira
Arte: Marie Cardouat
Editora nacional: Galápagos Jogos
Nº de jogadores: 3 a 6
Dixit, o sucesso mundial, estimula a criatividade, memória e imaginação, entregando um jogo muito divertido e para qualquer tipo de público.
Antes da análise, uma observação sobre Dixit e sua versão Dixit: Odyssey (2011)
Este texto está trazendo fotos da versão do Dixit original, não do Dixit: Odyssey, simplesmente por ser a versão que possuo. Em essência, a o que muda entre as versões é que Dixit: Odyssey comporta até 12 jogadores, tendo componentes diferentes para se realizar a votação, marcação de pontos e o organizador que vem no jogo, contudo em relação aos quesitos gerais abordados nas análises, exceto Componentes, considero que são todos similares para ambas versões. Ficam aqui, então, as seguintes observações em relação ao Dixit: Odyssey: O organizador é de plástico, o que é legal, mas não cabem certinho as cartas com sleeves (os plastiquinhos que protegem as cartas); A trilha de pontos é separada da caixa, sendo um tabuleiro específico para isso, o que vai de gosto se isso é melhor ou pior, porém uma vantagem é que existem marcações neste tabuleiro para facilitar a localização de qual é cada carta na hora da votação. Caso alguém pergunte qual vale mais a pena entre os dois, minha resposta é: depende de quantas pessoas compõe sua mesa e qual melhor se encaixa no seu bolso (o valor geralmente não é muito diferente), então tanto faz fora isso.
Resumo de Como o Jogo Funciona
Cada jogador possui 6 (seis) cartas e em cada rodada um deles será o narrador a cada rodada. O narrador deve falar uma frase associada a uma de suas cartas, sem revela-la. Depois disso os demais jogadores devem escolher uma carta dentre as que possua que acha ter relação com a frase dita pelo narrador e entregam, também em segredo, esta carta para o narrador. Neste momento o narrador embaralha todas as cartas e as dispões na mesa. Simultaneamente cada jogador vota, em segredo, qual das cartas acredita ser a do narrador. Após revelarem em quem votaram, rola uma contagem de pontos (que premia quem acerta a carta do narrador e também que teve sua carta selecionada – mesmo sem ser o narrador). Depois disso, cada jogador compra uma nova carta e inicia-se uma nova rodada, com um novo narrador seguindo em sentido horário. A partida se encerra quando não tiverem mais cartas a serem compradas do monte de compras. Vence o jogador com a maior pontuação acumulada.
Mecânicas Principais: Dedução, Votação.
Critérios
Ø Qualidade dos Componentes
PRÓS: Marcadores de pontuação em formato de coelhinhos de madeira de boa qualidade; Cartas grandes, o que aumenta o destaque para as ilustrações, que são o foco do jogo; Uso da parte interna da caixa como trilha de pontos é bem diferente e chama a atenção na mesa.
CONTRAS: A caixa é meio molenga; O manual, por ser apenas uma folha, amassa com certa facilidade se não tomarmos cuidado; As cartas com sleeves cabem na caixa, mas fica um tanto apertadas, coisa que pouquíssimos milímetros resolviam na hora de bolarem a parte interna da caixa que serve como marcador de pontos; Falta algum tipo de marcador extra para localizar as cartas na mesa na hora da votação (algo que o Dixit: Odyssey resolveu, como eu disse anteriormente) – o que eu faço aqui em casa, que é muito raro jogar em 6 jogadores, é usar as fichas numeradas de uma cor que não está em uso para isso.
(Todos componentes)
Ø Tempo de Preparação de Partida
Baixo. Basta colocar os coelhinhos (marcadores de ponto) na trilha de pontuação, entregar as fichas de votação numeradas (ou cartelas furadinhas no caso do Odyssey) para cada jogador, embaralhar as cartas, entregar seis para cada, dar partida no motor criativo mental e começar a jogar!
(Algumas das cartas do jogo)
Ø Arte
PRÓS: É o que se destaca, com ilustrações com paletas de cores bem variadas, todas com um ar de feitas a mão, ricas em detalhes e cheias de elementos; A ideia de coelhinhos na marcação de pontos é fofa e deixa tudo com um ar ainda mais cativante e divertido.
CONTRAS: Marie Cardouat, a artista, acabou criando cartas mais ricas em elementos do que outras, em alguns casos até causando um pouco de estranheza ao percebermos tal discrepância. Isso, na prática, não afeta muito o jogo, só um pouquinho, mas conforme expansões foram sendo lançadas, a arte foi ficando cada vez melhor trabalhada, o que demonstra que talvez tenham também notado isso; Se comparando a escolha estética do Dixit original (este do texto) e de expansões e até mesmo outros jogos similares, as 84 carta originais não são das mais bonitas.
(Coelhinhos, que servem de marcadores de pontuação)
Ø Curva de Aprendizagem
Baixa. Dixit é um jogo que se explica em 3 minutos e para qualquer pessoa, mesmo quem nunca jogou nada na vida. O que pode ser um pouco confuso no começo é a pontuação (uma carta com um guia rápido de pontuação para fica na mesa ajudaria bastante), mas basta uma pessoa ter absorvido exatamente seu funcionamento que a partida flui perfeitamente.
(As fichas utilizadas na votação)
Ø Presença de Tema
Dixit tem tema? Pois é, fiquei na dúvida! Quem achar que Dixit tem um tema específico, conta aí nos comentários, pois eu realmente não acredito que tenha, salvo o tema seja ‘criatividade’, se for, Dixit tem muita presença de tema! A palavra “dixit” em si quer dizer “Ela/Ele/Alguém Disse”, em latim, o que faz muito sentido dentro das mecânicas do jogo, afinal ‘Fulana/o disse tal coisa, então deve ser a carta X’ é a engrenagem que se movimenta para o jogo funcionar. O que mais me chama a atenção é o motivo pelo qual Dixit foi concebido pelo designer Jean-Louis Roubira: segundo me contaram um tempão atrás (e confirmei na pesquisa para criar esta análise), o designer, que é um psiquiatra infantil francês, já jogava nos anos 80 um jogo de palavras que se assemelhava vagamente com Dixit, o que o levou a criar o jogo, por volta do ano de 2002 a 2005, ao utilizar algo preliminar ao que temos hoje para trabalhar a fala e o pensamento de adolescentes. Uma curiosidade é que devido ao uso do jogo como ferramenta dentro da prática profissional em psicologia, Dixit chegou a vender 1/5 das cópias da primeira tiragem para uso em clínicas e centros especializados, o que é incrível e nos demonstra a capacidade de transformação e alcance que o lúdico possui (eu mesmo, durante minha formação em psicologia, já utilizei cartas do jogo em atividade em sala). O próprio Roubira faz uma afirmação muito interessante em uma entrevista*: “As cartas carregam muitos símbolos, são como pedaços de sonhos ou pequenas janelas que se abrem para a imaginação.” (Roubira, 2017).
*Fonte:
https://medium.com/inner-worlds/inner-worlds-viii-jean-louis-roubira-the-creator-of-dixit-a81541c500df. Vale a pena conferir a entrevista completa se você manja de inglês ou não tem preguiça de um copia-e-cola em tradutores online.

(Parte interna da caixa enquanto rola a partida, com os pontos sendo marcador)
Ø Rejogabilidade
Média. O limite da rejogabilidade é a imaginação humana, logo, pode-se dizer ser infinita! Masssss, usar sempre as mesmas 84 ilustrações (são 84 cartas) pode fazer os jogadores darem uma enjoada (não à toa existem muitas expansões que trazem novas cartas), mas isso tem validade apenas caso você jogue muito, sempre com o mesmo grupo e por algum motivo pessoal acha que usar as mesmas cartas não está mais incentivando sua mente como deveria. Se você não se enquadra nestas características acima, pode ter certeza que só uma caixa base já irá lhe render horas e horas de diversão.
Ø Interação
Alta. Dixit é um jogo social, quiçá o jogo mais social que conheci ao longo de todos meus anos de hobby. Em Dixit saber expressar algo e tentar ler e entender o que o outro disse é algo essencial, pois o narrador (a pessoa que fala a frase na rodada) não pode ser muito óbvio e nem muito abstrato a ponto de ninguém entender a referência usada. Na prática, esse exercício de comunicação provoca uma interação riquíssima entre os jogadores.
Ø Fator Sorte
Relevância na partida: Nenhuma. Como em Dixit nenhuma carta em si tem pontuação, peso ou valor, tanto faz a ordem de cartas que o jogador venha a pegar através da compra. Claro que durante uma partida o jogador pode simplesmente, na dúvida, lançar mão de um ‘uni-duni-tê’ na hora da votação, contudo isso é de total responsabilidade do jogador, não demérito de Dixit
(Duas cartas que demonstram como umas possuem muito mais elementos do que outras)
Ø Fator Estratégia
Relevância na partida: Nenhuma também. Calma, galera... sem treta! O fato de eu escrever que o Fator Estratégia tem nenhuma relevância não quer dizer que ela não exista ou que o jogo é baseado em sorte, aleatoriedade e caos, não! O que acontece é que não existe uma razão racional e pacificada (pelo menos não por aqui) de algum jogador dar uma dica errada, usar de apitos de cachorro (resumidamente: quando uma mensagem tem um significado específico para alguém) ou chutar uma carta errada na votação de propósito. Dixit funciona na base do ‘sempre vou tentar acertar’ para pontuar, então dizer que o Fator Estratégia não ter impacto na partida se refere a não ter algum tipo de desdobramento proposital por parte de alguém que o faça chegar na liderança da partida. Pode acontecer de ser preferível para alguns jogadores que um determinado jogador que esteja malzão no placar tenha preferência de pontuar em detrimento de quem esteja na liderança, se em troca disso quem está liderando não pontuar, contudo como a partida gira em torno de informações abstratas e votação, é bem difícil calcular com exatidão que determinado cenário como o descrito acima venha a ocorrer, principalmente com mais cabecinhas pensantes na mesa. Ficou claro agora? Além disso, a real é que, mais do que uma estratégia vencedora, a dificuldade maior está em pensar em boas dicas (quando assumimos o papel de narrador) e conseguir atrelar a dica dada por outra pessoa em cartas na nossa mão (quando não somos o narrador), a ponto de rolar um certo AP (Analysis Paralysis – aquele tempo que ficamos pensando) muitas vezes na mesa. Durante uma partida é normal chegar na nossa vez de ser o Narrador e darmos uma ligeira ‘travada’ pensando qual frase iremos falar ao olhar as cartas que temos em nossa mão. Uma dica é tentar sempre ir pensando durante a vez dos outros e tentar segurar as cartas o qual já temos a frase em mente para quando chegar nossa vez de ser o narrador. Pensa: se já tem gente que já dá uma ‘bugada’ pensando nas frases, imagina se o jogo tivesse desdobramentos táticos e estratégicos profundos. Dixit se tornaria ‘injogável’ para muita gente e, muito provavelmente, não teria feito o sucesso que fez.

(Caixa por dentro: comporta tudo, inclusive com sleeves)
Ø Preço e Valor Percebido
Bom. Poderia ser mais barato? Poderia. Contudo, eu sei o quanto o tamanho das cartas dá uma encarecida e reconheço que a arte tem um peso importante na precificação, inclusive por ser responsável pelo bom desempenho mecânico do jogo, então ao ver Dixit sendo vendido na média dos R$200 (duzentos reais) a R$250 (duzentos e cinquenta reais), acho que ele possui um valor aceitável, principalmente sabendo que ele tem o potencial de ver muita mesa, até mesmo mais do que jogos complexos que existem no mercado.
Ø BÔNUS: Algumas dúvidas corriqueiras:
- Dá para jogar com crianças? Com toda certeza e ainda indico que façam isso sempre que possível. Dixit, se bem trabalhado, é uma ferramenta poderosa para desenvolver a comunicação e criatividade das pessoas. O mais complicadinho pode ser a pontuação, mas ai basta ter alguém na mesa que saiba corretamente e está tudo bem (inclusive, já vi o cenário que a galera jogue apenas pela diversão, não dando a mínima para a pontuação).
- Funciona bem em qualquer número de jogadores? Sim. Apesar de existirem variantes a depender do número de jogadores (tanto no Dixit como no Dixit: Odyssey), no geral o jogo funciona sempre da mesma forma em essência. Na minha opinião, porém, jogar com muita gente (leia: 7 ou mais), pode deixar o jogo meio maçante, já que vai demorar para que cada jogador se torne o narrador novamente, então eu prefiro e indico jogarem sempre com o máximo de 6 jogadores (mesmo o Odyssey).
- As expansões acrescentam o que? Mais cartas basicamente. Dessa forma, como eu já havia mencionado, vale a pena comprar expansões caso jogue tanto o jogo a ponto de enjoar das cartas que vem no base.
- Afinal, como se pronuncia o nome do jogo? Pelo que sempre falei e procurei pela internet, se pronuncia ‘diqui-citi’, mas se você chama de outro jeito, como o jogo gira em torno de criatividade, considere que esteja certo também!
- Eu curti Dixit. Existem outros jogos parecidos? Existem! Claro, cada um com algumas regras ou detalhes diferentes, mas mantendo o conceito de ‘dar dicas com base em cartas’. Dois que conheço e indico são: Mysterium (Nevskly; Sidorenko. 2015), jogo cooperativo no qual um jogador assume o papel de um espírito e os demais são investigadores sobrenaturais que tentam, através de dicas recebidas nas cartas, descobrir como e onde ocorreu um assassinato (lembra o famoso jogo Detetive mesmo, mas cooperativo e com cara de Dixit); Musa (Sorenson. 2017), jogo muito parecido com Dixit, inclusive sendo uma opção que custa metade do preço, jogado em times e com a adição de um baralho de cartas que orienta qual tipo de dica deve ser dada, contudo, sob olhos mais críticos, ele soa demais como uma cópia descarada de Dixit mesmo, porém acho as ilustrações das cartas do Musa bem mais bonitas, detalhadas e trabalhadas (eu comprei este jogo por causa do preço, sendo mais barato do que as próprias expansões do Dixit!).

(jogos mencionados acima!)
Opinião Pessoal
“Alguns jogos entregam mais do que mecânicas implementadas de forma criativa, temas bem trabalhados ou uma interação divertida: entregam experiências únicas. Dixit é exatamente este tipo de jogo! Eu nunca conheci uma pessoa, principalmente iniciando no hobby, que não se encantasse com este jogo. Dixit consegue através de uma simplicidade mecânica entregar uma rica experiência social e ainda estimular e exercitar a mente dos jogadores no que tange a memória, criatividade e imaginação." (Raphael Gurian, o desbravador de enigmas)
“Dixit é um jogo que instiga a criatividade e imaginação dos participantes, bem como uma boa memória para referências em geral. Com as artes das cartas, o jogador da rodada deverá fazer uma menção a algo que remeta à sua imagem escolhida, sem que os outros jogadores saibam, porém os demais participantes deverão buscar em suas próprias cartas, algo que possa confundir seus adversários com relação à dica dada, fazendo com que a sua carta seja votada como a carta principal da rodada, garantindo a eles, uma maior pontuação. Este jogo consegue ser leve e ao mesmo tempo complexo, uma vez que depende totalmente do conhecimento geral ou específico do grupo sobre determinado assunto. Por exemplo, uma família com adultos e crianças conseguirá usufruir de dicas fáceis ou pouco específicas, já um grupo de estudantes de medicina, conseguirá remeter as artes das cartas a algo de seu conhecimento mais complexo relacionados a assuntos de interesses em comum, de acordo com a sua criatividade. As imagens são lindas e, ao observá-las com atenção, cada carta traz detalhes únicos que servirão para arriscar suas chances na criatividade. O céu é o limite!" (Heloisa Fernandes, a colecionadora de memórias)
Um texto de
Raphael Gurian
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em análises de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
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