Momento de relembrar um jogo um pouco mais antigo, que já está quase entrando na adolescência (em idade humana), que gosto muito e aparentemente editoras (consequentemente, criadores de conteúdo por ai) se esqueceram da existência. Com vocês...
(Análise) Lords of Scotland
Título: Lords of Scotland (2010)
Designer: Richard James
Arte: Chris Quilliams
Editora nacional: Conclave
Nº de jogadores: 2 a 5
Um jogo de cartas cheio de malícia e furação de olho, no qual os jogadores representam líderes escoceses em busca do apoio de diversos clãs para conseguir conquistar o trono da Escócia. Este é Lords of Scotland.
Resumo de Como o Jogo Funciona
Lords of Scotland dura por uma quantidade não pré-determinada de rodadas, no qual cada rodada é composta por exatamente cinco turnos, seguidos de uma fase de pontuação. Em cada turno do jogador, ele opta por descer uma carta (seja aberta ou fechada) para compor seus seguidores ou então comprar uma nova carta para sua mão. Sempre que uma carta é descida como seguidor de forma aberta e o seu valor é o menor entre os demais, ele ativa a sua habilidade (sendo um tipo para cada um dos nove clãs existentes). Ao final do quinto turno, é feita uma soma de pontos com base nas cartas baixadas (que gera bônus para quem desceu apenas cartas do mesmo clã) e quem possui a maior pontuação recebe uma carta com um determinado valor. Os jogadores continuam repetindo as rodadas até que alguém alcance 40 (ou mais) pontos, se consagrando o vencedor da partida.
Mecânicas Principais: Gestão de Mão, Toma Essa.
Critérios
Ø Qualidade dos Componentes
PRÓS: Cartas de boa gramatura; Caixa de excelente qualidade, com belo acabamento e muito resistente, cujo berço de plástico consegue comportar todas cartas e marcadores mesmo com sleeves; Os marcadores, inclusive, que nem existe real necessidade de existirem, servindo mais como uma forma de lembrete, para facilitar para os jogadores de poderes ativados que terão efeito apenas ao final da rodada, logo, é bem legal ver que teve esse cuidado adicional!
CONTRAS: Não tenho o que reclamar, mas se fosse dar uma de chatão mesmo, o formato em folder/panfleto do manual, aliado com a fonte pequena e quantidade de informação contida dificulta um pouco a busca por informações e dúvidas específicas.
(Todos componentes)
Ø Tempo de Preparação de Partida
Muito Baixa. Basta abrir a caixa, embaralhar todas cartas juntas, entregar alguma para os jogadores e deixar outras em locais específicos da mesa. Pronto. Rapidinho. Praticamente, abriu jogou, uma vez que as cartas conseguem ser multifuncionais, resolvendo tudo com um único baralho, sem sequer existir a necessidade de separação de cartas por tipo.
Ø Arte
PRÓS: A arte é simplesmente incrível! Apesar do designer Richard James não ser famoso, o ilustrador Chris Quilliams, por outro lado, é um cara já bem popular, tendo participado de trabalhos como da série Pandemic, Azul, Carcassonne e muitos outros (sério, joga aí no Google, é muita coisa famosa, sendo um daqueles caras que precisa de uma postagem exclusiva!). Em Lords of Scotland temos uma ilustração mais rústica, lembrando um aquarelado, buscando retratar com realismo as pessoas, vestimentas e paisagens ao fundo; Cada clã possui uma ilustração de um animal o representando e uma cor, o que deixa o jogo com uma paleta colorida na mesa, gerando certa identidade para cada clã.
CONTRAS: Apesar das arte incrível, a arte em cada clã se repete sempre, o que entrega um total de apenas 9 (nove) artes diferentes; As costas das cartas possuem uma orientação, o que faz com que os jogadores tenham aquele trabalhinho adicional de ver se estão todas no mesmo sentido ao embaralhar, pois uma ou outra carta ‘de ponta cabeça’ ficaria facilmente identificável.
(As artes presente nas cartas de jogo)
Ø Curva de Aprendizagem
Média. As regras de Lords of Scotland são relativamente fáceis. Para quem for ensinar o jogo, basicamente é preciso explicar a dinâmica da rodada e qual a ação de cada clã, contudo, a leitura de mesa e o timing de saber em qual momento descer cartas abertas ou fechadas leva um pouco mais de tempo e é algo difícil de tentar ensinar na conversa, sendo preciso algumas rodadas, mesmo que poucas, para que a pessoa absorva e entenda a dinâmica da malícia do jogo, já que existe um certo blefe presente durante a partida (por exemplo: Um jogador desceu uma carta fechada. Ele fez isso por ser do mesmo clã que outra que possui ou é apenas uma artimanha para chamar atenção para essa carta ser roubada em rodadas futuras? Saberemos somente no final da rodada ou se alguém quiser interferir no jogo deste coleguinha!).
Ø Presença de Tema
Média. Por se tratar de um jogo apenas com cartas é um pouco difícil dosar o quão longe o tema consegue ser implementado, contudo em Lords of Scotland temos uma arte muito temática e bonita (Chris fez realmente um belo trabalho) e mecanicamente faz algum sentido a reunião de seguidores para competir em algum momento em um confronto comparando forças (dentro do jogo. Esse confronto é considerado pelo manual uma escaramuça (segundo a deusa internet: “Rápido encontro entre os elementos avançados de dois exércitos; qualquer luta de pequenas proporções”), o que faz bastante sentido. Faltou, porém, uma abordagem mais profunda do manual, pois fora o nome dos clãs, que realmente remetem a cultura da época e local, não temos mais de três parágrafos abordando aquela rica cultura.
(Componentes em detalhe)
Ø Rejogabilidade
Média. O jogo é divertido e criativo, sem dúvidas, e funciona muito bem, porém seu tempo de partida é um tanto inconsistente. A pontuação de cada rodada vai variar de acordo com quais cartas foram abertas como sectários, logo o tempo de partida pode ficar bem longo (não se prenda a detalhes, entenda o seguinte: Cada carta vai de 1 a 11 e aleatoriamente algumas são abertas e tais números são usados como pontos de vitória também. São cartas com multifunção, lembra-se? Pois bem, essa é uma delas). O fato de uma partida ser constituída por várias rodadas e, em essência, cada rodada ser uma ‘mini partida’, faz com que o jogo possa se tornar um pouco repetitivo já que uma partida, sozinha, já obriga o jogador a jogar várias rodadas de forma consecutiva. Claro, isso não diminui a grandeza e qualidade do jogo como tal, porém não é um daqueles jogos rapidinhos que você se verá querendo jogar partida após partida noite a dentro, pois isso já meio que acontece obrigatoriamente ao longo de uma única partida (como podem ter sentido, não sou muito fã de jogos do tipo ‘joga, reseta e repete’).
(Carta em detalhe. Ilustração sensacional!)
Ø Interação
Média. A interação ser alta ajuda que Lords of Scotland funcione da forma mais divertida possível, contudo, o jogo não obriga que essa interação aconteça sempre, inclusive, ela só ocorre se o jogador tiver o timing correto de jogar a carta certa e no momento oportuno. Eu já passei por experiências mistas com Lords of Scotland, com rodadas com nenhuma interação entre jogadores e outras que se tornaram uma daquelas nuvens de fumaça de desenho animado, de tanta treta, bagunça, carta roubada e interação entre a galera. Esse Fator Interação me deixou claro que Lords of Scotland é um daqueles jogos que dependem bastante do perfil dos jogadores na mesa e o quanto eles gostam de jogar seu joguinho na deles ou de ver o mundo pegando fogo. Na dúvida de qual dos dois públicos eu acredito que o jogo mais agrade, eu diria: o que fica exatamente nesse limiar entre ambos.
(Mesa durante uma partida)
Ø Fator Sorte
Relevância na partida: Baixa. É um jogo de cartas, logo a sorte resultante do embaralhar e comprar cartas estará presente... Maaasss Lord os Scotland dribla um pouco isso com uma coisa simples: existem cartas no centro da mesa e a cada novo turno uma carta tem sua face revelada. São dessas cartas, reveladas ou fechadas, que jogadores podem comprar novas cartas para sua mão, logo a aquisição não se resume apenas em pegar cartas de forma aleatória de um monte, também existe a oportunidade de o jogador pegar uma carta já revelada por escolha própria levando em conta aspectos táticos.
Ø Fator Estratégia
Relevância na partida: Alta. Lords of Scotland é um jogo muito tático. Por exemplo, vamos relembrar a última frase acima: ‘existe a oportunidade de o jogador pegar uma carta já revelada’, isso é uma demonstração de uma ação tática do jogador, contudo, também impacta todos adversários, pois eles irão saber qual carta o jogador agora possui em sua mão! Em geral, neste jogo toda ação acaba gerando uma consequência, seja pelo valor da carta baixada, por um efeito realizado ou mesmo pela compra e revelação de novas cartas no centro da mesa (até mesmo sectários (aquelas cartas que representam os pontos) podem ser alteradas ao longo da rodada, de tal forma que os jogadores se verão a cada nova ação que realização divididos em dilemas, mesmo que pequenos, que irão impactar todo resto da rodada.
(Caixa por dentro. Berço que comporta cartas com sleeves!)
Ø Preço e Valor Percebido
Depende (fora de mercado atualmente). Como o jogo é um tanto antigo (lá fora está com 12 anos e aqui já quase bateu os 6 aninhos), na ocasião que o adquiri (por volta lá de 2017), recordo-me que paguei um preço bem justo, por volta de uns R$60 (sessenta reais). Jogando para a nossa realidade pós-pandêmica de 2022, acredito que até R$80 (oitenta reais – leia setenta e nove reais e noventa e nove centavos) seja algo justo para um exemplar lacrado, tanto pela experiência de jogo mais encorpado e com maior tempo de jogo do que um cardgame tradicional, como pela qualidade excelente da caixa e arte lindíssima.
Ø BÔNUS: Algumas dúvidas corriqueiras:
- Dá para jogar com crianças? Contanto que sejam grandinhas o suficiente para ao menos entenderem os efeitos das cartas (que estão escritas em sua lateral), é possível jogar, porém acredito que a melhor parte do jogo, a malícia e blefe, se perca.
- Funciona bem em qualquer número de jogadores? Sim. Existem pequenas alterações de regras entre 2 e 3 ou 4 e 5 jogadores, que achei que conseguiram adaptar bem o jogo. A única questão é que não recomendo muito o jogo para 2 jogadores, pois fica marcado até demais, por ter apenas um rival para que o jogador possa ‘mirar’ os efeitos de clãs que geram interação.
Opinião Pessoal
“Um jogo de cartas que consegue entregar muito com poucos componentes, exigindo dos jogadores leitura de mesa e noção tática o tempo todo. Lords of Scotland é um daqueles jogos que mesmo quando não está em nossa vez de jogar, ficamos angustiados pelo que o adversário vai fazer, pois provavelmente isso irá nos impactar de alguma forma. Além de tudo, tem uma arte incrível, daquelas que merecem pôster grande embelezando qualquer cômodo da casa!” (Raphael Gurian, sectário do clã Makgill)
“Lords of Scotland é um jogo de cartas divertido e competitivo, que poderá causar risadas ou discórdia entre os jogadores, dependendo do nível de entrosamento do grupo, pois é possível comprar as cartas que seus adversários tanto almejavam conseguir durante a rodada, e que iria lhes garantir uma alta pontuação ou até mesmo, a vitória. Com uma bela arte e mecânica bem amarrada à proposta, este jogo é uma ótima opção para se jogar tanto em dois quanto em mais jogadores, porém o tempo da partida pode variar bastante, dependendo da velocidade de raciocínio e tomada de decisão por parte dos jogadores.” (Heloisa Fernandes, sectária do clã Wemyss).
Um texto de
Raphael Gurian
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em análises de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
Confira também redes:
Instagram: https://www.instagram.com/sociedade_dos_boards/
Facebook: https://www.facebook.com/groups/1219416214780289/
Blog: https://sociedadedosboardsbr.home.blog/
