(Análise) Coup
Título: Coup (2012)
Designer: Rikki Tahta
Arte: Weberson Santiago (da versão nacional)
Editora nacional: FunBox / Mandala
Nº de jogadores: 2 a 10
Momento do Clássico! Coup é um jogo rápido de blefe, no qual os jogadores assumem o papel de líderes de famílias influentes na Itália que buscam vencer a concorrência através de diminuir a influência de líderes rivais. O ponto principal dessa trama está no fato de você não precisar, exatamente, realmente influenciar quem alega ter sob seu comando!
Resumo de Como o Jogo Funciona
Os jogadores possuem duas cartas em sua frente, que representam as influências que possuem. Cada carta possui a imagem de um personagem e sua habilidade única. Durante o turno do jogador, ele pode optar por anunciar em voz alta e realizar uma ação dentre quatro possíveis: Pegar apenas uma moeda do centro da mesa, ação esta incontestável; Pegar duas moedas do centro da mesa, mas correndo o risco de alguém anunciar ser o duque e contestar; Financiar um Golpe de Estado, pagando sete moedas, matando de forma indefensável uma influência de um adversário; ou realizar uma ação de personagem, anunciando o nome do personagem e fazendo a ação respectiva.
Esta ação de ativar um personagem é a alma do jogo, pois o jogador não precisa, de fato, ter a influência do personagem que anunciou, podendo mentir. Contudo, os jogadores da mesa podem igualmente blefar anunciando ações contrárias de outros personagens. Caso alguém na mesa duvide sobre o personagem anunciado pelo jogador, ele pode contestar! Quem perde contestações acaba perdendo uma carta de influência.
A partida termina quando todos jogadores perderem suas duas cartas de influência, exceto um, que é o vencedor.
Mecânicas Principais: Blefe.
Critérios
Ø Qualidade dos Componentes
PRÓS: Moedas cartonadas de um tamanho grande e boa gramatura. Cartas de uma boa qualidade, com bordas brancas e com fundo sem orientação específica, ou seja, não tem um ‘lado de cima ou baixo’ (algo muito útil para não ‘se marcar cartas’ (e que particularmente todo jogo deveria pensar)).
CONTRAS: As cartas de personagens são grandes (tamanho Tarot: 70mm x 120mm) e não tem muito argumento para isso, fora o fato (já citado) de não aproveitarem este tamanho para incluir textos, logo poderiam ser cartas de tamanho padrão (63mm x 88mm) sem problemas, mas seriam armazenadas de forma mais fácil, ocupariam menos espaço e seria mais fácil de achar e comprar sleeves (os plásticos que protegem as cartas), por este ser um tamanho mais comum.
(Componentes em detalhe)
Ø Arte
PRÓS: Simples, mas eficiente, com uma linha artística muito charmosa. Momento Curiosidade: Em cada país do mundo que foi lançado (e foram muitos) Coup recebeu uma arte diferente, sendo a do Brasil uma das mais famosas e cobiçadas. A nossa é realmente bem maneira.
CONTRAS: A iconografia não é muito intuitiva e algumas delas, sem a presença de outras cartas para o jogador olhar, parecem não fazer muito sentido no começo, de tal forma que ter um texto nas cartas (que são grandes, logo caberiam) seria bem útil para que os jogadores não precisassem ficar recorrendo à cartinha de ajuda (o que pode impactar também na forma como o jogador faz um blefe).
(Todos componentes do jogo)
Ø Curva de Aprendizagem
Média. Coup é um jogo fácil, onde cada personagem só tem uma ação, contudo os jogadores precisam memorizar todas existentes para blefar de forma eficiente e nos momentos mais oportunos. A verdade é que qualquer pessoa, independente do perfil, consegue jogar Coup, pelo menos no que tangem as regras. Se entender como jogar é fácil, jogar bem é outra história, isso pois o jogo tem um viés social muito forte, onde o blefar, o saber mentir, se torna a ferramenta essencial do jogador que almeja vencer e, deste ponto de vista, não é algo que se ensine com facilidade, levando muito em conta a personalidade e outros elementos psíquicos dos jogadores como o autocontrole emocional e nervosismo na hora de blefar.
Ø Presença de Tema
Baixa. O manual se importa com o tema durante apenas quatro frases, enquanto as ações dos personagens não são lá muito trabalhadas e com justificativas (salvo o Assassino, mas também é por uma questão óbvia: O Assassino é pago para assassinar!). Dessa forma, salvo o fato de representarmos alguém que influencia e mente para os outros, o tema para por aí. Não existe nenhuma profundidade na realidade da época, nos vieses e impasses religiosos e políticos ou nada do gênero, salvo uma abordagem bem superficial.
Uma curiosidade sobre Coup é que os jogadores, geralmente, não se importam mesmo com o tema do jogo, a ponto de usar até mesmo a justificativa temática de forma errada ao se considerarem o personagem das cartas que possuem como sendo eles próprios, ao invés de serem apenas uma figura que os influencia devido a suas funções.
(Caixa com os componentes separados em ziplocks)
Ø Rejogabilidade
Média. Coup é aquele tipo de jogo, como muitos jogos festivos, onde os mecanismos são bem simples, o que os fazem depender muito mais do engajamento dos jogadores entre si do que qualquer outra coisa. Sendo assim, o fator Rejogabilidade de Coup coloco como Média, pois depende da mesa. Em mesas onde os jogadores não curtem tanto a mecânica de blefe (ou o ato de mentir como foco principal da partida) o jogo não terá muita vida útil, por outro lado, se a galera jogando se conhece bem e gosta deste tipo de jogo, Coup irá ser jogado por muito tempo.
Existe uma observação importante a respeito da edição nacional: Ele apresenta uma variante atrelada a ilustração (onde os jogadores decidem no início da partida como irão montar o baralho, de tal forma que facilite ou dificulte a identificação dos personagens que são eliminados) e uma expansão (que agrega uma variante onde os jogadores representam duas facções (Católicos ou Protestantes) onde jogadores de facções iguais não podem se atacar). Estas duas coisas agregam um pouco mais de rejogabilidade ao jogo e são excelentes adições para quando os jogadores já estão experientes no funcionamento básico.
Ø Interação
Muito Alta. Coup é um jogo baseado totalmente na interação. Seus mecanismos levam em conta a fala de um jogador e a interpretação desta fala (assim como toda linguagem corporal que acompanha esta comunicação) pelos demais jogadores, sendo indissociável a importância da interação com qualquer outro aspecto do jogo.
Ø Fator Sorte
Relevância na partida: Nenhuma. Não existe sorte nenhuma em Coup. A aquisição das cartas no começo da rodada não impacta em absolutamente nada na partida, uma vez que as ações que o jogador faz estão ligadas ao personagem que ele FALA ter influência, não o que, de fato, ele influencie. Como um jogador pode ser confrontado por adversários tendo falado a verdade ou a mentira, a sorte não se faz presente, apenas o quanto ele consegue blefar em relação aos personagens a sua frente. Note que blefar não é necessariamente ‘mentir’, logo é possível ganhar só falando a verdade (ou mesmo a mentira) (e eu já vi acontecer algumas vezes ambos casos). Por outro lado, o fato de um jogador arriscar confrontar outros, mesmo sem nenhum tipo de recurso que lhe dê segurança salvo sua própria intuição, a análises de algumas cartas que estão fora da partida e sua leitura dos rivais, faz com que exista um elemento de risco indiretamente embutidas na forma de se jogar Coup (e jogos de blefe em geral).
Ø Fator Estratégia
Relevância na partida: Depende de cada jogador. Primeiro é preciso dizer que Coup faz parte daqueles tipos de jogo que são Ame ou Odeie, pois a experiência da partida está muito atrelada em como os jogadores interagem entre si, o quanto se conhecem para ter liberdade de se confrontar em relação a mentiras e assim por diante. Dito isso tudo, Coup requer um grande nível de Estratégia...ou não.
Eu sei que parece confusa essa argumentação, eu entendo e vou tentar explicar melhor: O que acontece é que Coup, por ser um jogo de blefar tão dedicado a este elemento, podem acontecer coisas um tanto fora do controle dos jogadores, por exemplo: Um jogador Atento passa a partida toda calculando friamente qual papel assumir (mentindo), quando fazer acusações, quando demonstrar mais interesse por pegar mais moedas, quais rivais mirar e em qual momento e, ainda assim, em um momento importante do decorrer da partida, aquele outro jogador que jogou de forma completamente Displicente acaba fazendo uma contestação que calha da ser correta e derruba o jogador Atento!
Ok, o Displicente pode falar algo como “Haaa, mas é minha estratégia parecer desatento”, mas mesmo assim, sabemos que existem vezes (e muitas) que simplesmente isso não é verdade. O cara foi “sortudo” mesmo (notem as aspas – já que neste caso a sorte está relacionada ao risco que a pessoa tomou, não em algo inerente do jogo). Logo, o fator Estratégia de Coup está intimamente ligado à forma que a mesa encara o jogo, podendo ser um jogo leve, de muita acusação, onde os jogadores não levam muito a sério a partida e só querem rir e se divertir (e tem todo direito nisso) OU pode ser um jogo completamente diferente, com duelos mentais e muita atenção às mínimas microexpressões faciais (e tem igualmente todo direito e liberdade para tal), ou ainda um misto dessas duas coisas.
Sinceramente, encaro isso como um mérito, pois ele consegue considerar esta plasticidade da galera jogando sem perder seus elementos mecânicos próprios e aqui a ausência de uma profundidade temática se mostra, inclusive, algo até desnecessário no final das contas.
Ø BÔNUS: Algumas dúvidas corriqueiras:
- Dá para jogar com crianças pequenas? Tirando o fato de que o jogo incentiva que os jogadores mintam de alguma forma, o que não é uma abordagem muito indicada para os pequenos, é possível.
- Funciona bem em qualquer número de jogadores? Não. Pessoalmente, acho que o jogo fica realmente bom entre 5 e 6 jogadores. Com mais jogadores, o jogo pode se tornar muito longo, com um tempo de espera mais longo do que o ideal. Com menos jogadores, ele se torna muito marcado, o que pode perder a graça bem rápido – inclusive [e aqui podem encarar como crítica], todas partidas acabam ficando “com menores contagens de jogador” perto do final devido a eliminação de jogadores, o que pode deixar um clima chato de “haaa, já sei quem vai ganhar!”, mesmo antes que a partida acabe.
- Então a Eliminação de Jogadores faz o jogo ficar ruim? Não necessariamente. Essa eliminação existe, contudo, as partidas são rápidas, o que faz com que o tempo de espera para que se reinicie com todos seja curto. Porém, uma mesa ruim pode deixar este jogo horrível! Se os jogadores resolverem marcar e eliminar sempre um único jogador em questão logo no início, meio que um “todos contra um”, este um certamente terá uma experiência frustrante. Dica do Guri de amarelo: Não seja o tipo de gente na mesa que quer derrotar uma pessoa especificamente e de forma proposital, ignorando o resto da mesa!
Opinião Pessoal
“Um jogo rápido, que pode ser responsável por muitas risadas. Coup é um excelente jogo de blefe para aqueles que gostam de conflito direto e apontar o dedo na cara do coleguinha. Para aqueles jogadores mais pacíficos, contudo, o jogo pode ser uma experiência não muito divertida. O fato da versão nacional vir com uma pequena expansão é muito positiva, pois esta expansão (A Reforma) muda o desenrolar da partida, evitando que pessoas foquem especificamente em outras, aumentando uma camada de estratégia, porém pode alongar a partida um pouquinho mais do que deveria. Coup, apesar de seu estilo e alguns elementos que não agradam a todos, como eliminação de jogador e um conflito direto, considero uma das pérolas dos jogos modernos, certamente estando presente no Hall de jogos fundamentais para o hobby.” (Raphael Gurian, Eu sou o Duque, e pego três moed...)
“Coup é um jogo bastante divertido para se jogar em grupo, utilizando somente cartas e recurso de moedas, no qual você precisa convencer seus adversários de que tem a posse das cartas que representam as melhores influências a seu favor. Com uma combinação de blefes e habilidade de antecipação, os jogadores forçam suas sortes para que obtenham mais moedas possíveis e consigam eliminar os jogadores mais ameaçadores. Suas partidas arrancam muitas gargalhadas dos participantes, que em determinado ponto, acabam sendo forçados a mentir para permanecerem até o final e saírem vitoriosos.” (Heloisa Fernandes, @lola_Fernandes, ...E eu contesto que Raphael seja o Duque!)
“Eiiita....” (Raphael Gurian, Ele não era o Duque! O.o’ )
Um texto de
Raphael Gurian
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em análises de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
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