Lançado em 2018 fora do Brasil, Everdell foi trazido em maio deste ano pela Galápagos com grande expectativa.

Tematicamente, no jogo os jogadores buscam construir uma cidade no vale de Everdell ao longo de um ano, fazendo construções, conhecendo criaturas e sediando eventos.
Para ser sincero, o tema não chamou muita nossa atenção, sequer nos importamos em ler o “flavor” trazido pelo manual, sendo basicamente um pano de fundo para o jogo.
No entanto esse tema, ainda que de pouco impacto na mecânica, ganha enorme destaque com o primor da arte e da produção dos componentes de Everdell.

Para quem gosta de componentes 3D vai se encantar com os belíssimos recursos, cada um com diferentes formatos, cores e texturas, provavelmente os mais bonitos que já vieram ao Brasil num jogo “retail”. As miniaturas de madeira também são bonitas, mas não tão bem detalhadas, podendo não agradar a todos.

O mesmo destaque vai para a arte, com os magníficos desenhos de Andrew Bosley em cada uma das cartas, que dão ao jogo todo ar de conto de fadas a que se propõe. Ao menos aqui não conseguimos pensar em um jogo com arte mais bonita do que Everdell.

O ponto mais divisivo nos componentes é a já famosa árvore de Everdell: trata-se de um enorme componente 3D em cardboard, que emerge verticalmente no fundo do tabuleiro. À primeira vista, a árvore chama muita atenção e dá até vontade de vê-la sempre montada no tabuleiro. No entanto, ela não tem nenhuma utilidade mecânica - pelo contrário, muito mais atrapalha a jogatina!
Primeiro, há o problema visual. Aqui em casa, jogando sempre em dois, conseguimos sentar um ao lado do outro, não havendo grandes problemas. No entanto, caso se jogue em mais pessoas, é simplesmente impossível um jogador sentar do outro lado do tabuleiro, pois a árvore impede de enxergar e comprar as cartas.
Além disso, sob a árvore, no interior do “tronco” fica o deck de cartas. Imagino que todos os que jogaram, em algum momento ao tentar comprar cartas, esbarrou na árvore e derrubou os meeples e as cartas colocadas sobre ela.
Por fim, essas cartas colocadas sobre a árvore (Eventos Especiais) são impossíveis de serem visualizadas, a não ser que se utilize um suporte plástico para que fiquem em pé.

Mas Everdell não é apenas um jogo (muito) bonito: é um jogo mecanicamente excelente! As mecânicas principais do jogo são a construção de tabuleiro, gestão de mão e de recursos, alocação de trabalhadores e construção de motor.
O jogo se divide em 4 rodadas (estações do ano), na qual os jogadores se alternam realizando uma das três ações: a) Alocar um trabalhador; b) Jogar uma carta; e c) Prepare-se para a próxima temporada.
A alocação de trabalhadores se dá em espaços comuns no tabuleiro central, sendo 3 ou 4 delas aleatorizados a cada partida. Além disso, algumas cartas permitem aos jogadores alocarem trabalhadores nelas mesmas, algumas vezes de maneira permanente. Os jogadores começam com 2 trabalhadores e, a cada estação, ganharão novos, totalizando 6 trabalhadores ao fim do jogo.

A mecânica principal do jogo é a de jogar cartas, que podem ser escolhidas da mão do jogador ou da campina, espaço com 8 cartas comuns. O limite é de 15 cartas baixadas (algumas poucas cartas permitem extrapolar esse limite), havendo cartas únicas (chamadas de singulares), que só podem ser jogadas uma vez por cada jogador. Cada construção permite jogar gratuitamente uma criatura específica, o que é essencial para o jogador maximizar suas ações.
Por fim, a ação de preparar-se para a próxima temporada, que é a ação de recolher trabalhadores e passar para a próxima estação, que sempre garantirá trabalhadores extras e, em duas estações, ativará o motor de produção do jogador. Interessante é que cada jogador pode mudar de estação independentemente do outro, de modo a permitir ritmos e estratégias bastante diferentes.

Por se tratar de um jogo essencialmente de cartas, Everdell é bastante tático e depende de sorte. Caso o jogador não saiba se adaptar às cartas disponíveis, uma partida pode vir a ser muito frustrante por não aparecer uma determinada carta importante para um combo ou para cumprir um objetivo (Evento).
Esse não é um problema por aqui, onde gostamos de jogos táticos e que envolvem a compra de cartas, como Wingspan, mas pode frustrar jogadores que podem preferir não depender tanto assim da sorte.
Everdell possui uma boa rejogabilidade pois, ainda que as cartas eventualmente se repitam, a ordem em que surgem e as cartas disponíveis a cada partida faz com que cada uma seja muito diferente da outra, exigindo adaptação dos jogadores. No entanto, já estamos ansiosos para que a Galápagos traga ao Brasil as 3 expansões já lançadas lá fora (além das duas anunciadas para 2022).

O jogo escala bem em dois jogadores, mas sem dúvida não é a melhor contagem. Isso se deve ao fato do baralho circular menos em contagem baixa, em especial as cartas da campina, que podem acabar ficando “empacadas”, sem que nenhum dos jogadores se interesse. Creio que uma solução elegante, em dois jogadores, seria ter mais mecanismos de descarte de cartas na Campina.
Gosto muito de como Everdell evolui ao longo da partida: o jogador começa sem recursos e com poucos trabalhadores, mas muito espaço para baixar as cartas; na última rodada, ao contrário, o motor construído ao longo do jogo é ativado de forma plena, todos os trabalhadores disponíveis, mas com menos espaço para baixar cartas. Assim, o grande desafio do jogo é conseguir gerir o limite de 15 cartas baixadas, buscando um equilíbrio entre montar um motor e jogar cartas que dão menos pontos nas 3 primeiras rodadas, mantendo espaço para jogar cartas que geram muitos pontos no fim da partida.

Por fim, ponto negativo para a localização da Galápagos, mais uma vez com erros de tradução. Em que pese impactem pouco na jogabilidade e a editora já tenha anunciado a reposição (após pressão da comunidade), é uma pena um título tão incrível e esperado (e caro) sofrer desse tipo de problema.

Em resumo, Everdell é um título maravilhoso em arte, componentes e mecânicas, ainda que com os pequenos problemas apontados. Após 10 partidas, é sem dúvida um dos preferidos aqui em casa e, em nossa opinião, merecedor das excelentes avaliações que vem recebendo desde seu lançamento lá fora.
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Um abraço e até a próxima!