1920: Wall Street – Negociando entre lobos
Título: 1920: Wall Street (2017)
Designer: Perepau Llistosella
Arte: Pedro Soto
Editora nacional: Ludofy
Nº de jogadores: 2 a 5
O ano de 1920 não foi fácil para o mercado de ações. Para os jogadores, as escolhas em 1920: Wall Street também não serão. Este grande jogo de caixa pequena entrega uma experiência de jogo que irá testar a memória dos jogadores e seu talento em manipular o mercado a seu favor. No jogo, os jogadores irão comprar cartas de quatro diferentes companhias de ações (milho, algodão, aço e petróleo), além de manipularem o mercado para que cada um dos tipos comece a valer mais ou menos ao longo da partida e – se isso não fosse o bastante – ainda irão alimentar um descarte com dinamites, que no final da partida irá gerar uma penalidade, dentre três disponíveis, que irá impactar todos os jogadores negativamente.
Critérios
Ø Arte
O jogo conta com uma arte bem feita que remonta a década de 1920 de forma bem agradável, com tons neutros e sérios. Toda essa linha é retratada nas cartas e nos tabuleiros de cotação e de descarte. 1920: Wall Street é livre de textos, mas será necessário nas primeiras partidas recorrer ao manual para tirar dúvidas eventuais sobre algumas cartas, mas de uma forma geral, toda iconografia é bem intuitiva.
Uma coisa que geralmente causa estranheza a princípio nos jogadores é o fato de termos dois tipos de cartas com fundos diferentes (Ações e Flutuação de Mercado), mas ambos se juntarem, embaralhados, para formar apenas um deck de compras. Isso se dá ao fato do designer resolver facilitar a identificação dessas cartas na mão dos jogadores (ou área de jogo, pois no final temos tantas cartas que fica inviável, de fato, segura-las nas mãos), mas aqui foi realmente um cuidado extra, afinal se todas tivessem o mesmo fundo, não faria diferença funcional.
Ø Qualidade dos Componentes
Para o tamanho da caixa, temos bastante componentes (existem jogos de caixas maiores com menos coisa dentro), como cartas, algumas moedas de papelão e alguns componentes de madeira nas cores dos jogadores e para marcar o valor dos diferentes tipos de companhias, além de dois tabuleiros pequenos. De uma forma geral, todos componentes são de boa qualidade: Cartas rígidas; Moedas espessas; Componentes de madeira bem pintados e com um tamanho bacana. A única coisa que pode incomodar um pouco é realmente o tamanho da caixa, pois fica tudo muito apertadinho dentro dela, apesar de ter um berço de papelão que não faz muito mais coisa além de ocupar espaço.
O manual tem bastante texto, sendo daqueles que acabam mais atrapalhando do que ajudando, fazendo o jogo ser mais complexo do que de fato é.
[Todos componentes na mesa – fonte: Internet]
Ø Curva de Aprendizagem
O jogo não é difícil (apesar do manual fazer parecer), porém ele tem vários pequenos passos nas ações, na maioria das vezes envolvendo descartar alguma carta, que a princípio é fácil de esquecer de fazer e, para não ajudar, o jogo não conta com nenhuma carta de ajuda para os jogadores.
Uma vez o jogo aprendido devidamente (e sem esquecer nenhum passo de cada ação), a dificuldade está em jogarmos bem, tentando memorizar, ou ao menos marcar de cabeça, quais tipos de companhias os adversários estão colecionando mais, já que isso será determinante para a pontuação final, uma vez que no final da partida não basta ter cartas na mão, mas cada tipo de companhia exige um mínimo de cartas em seu poder para que elas possam conferir alguma pontuação ao jogador, e tudo isso ao mesmo tempo que o jogador tenta fazer as ações que ele sabe (ou melhor: acha que sabe!) valerem cada vez mais ao final da partida.
Ø Presença de Tema
1920: Wall Street poderia ser um jogo genérico sobre bolsa de ações e flutuação de mercado, e no decorrer da partida ele soa como isso mesmo, se não fosse a revelação da explosão quando o jogo se encerra. Neste momento, todas as cartas descartadas pelos jogadores nas três pilhas possíveis são reveladas e contabiliza-se qual delas teve a maior quantia de ícones de dinamite, sendo essa a que será ativada e dará uma penalidade final. Esta reviravolta no final representa bem o ocorrido em 16 de setembro de 1920, quando explodiram uma carroça de dinamite no distrito financeiro, causando caos e pânico nas pessoas e desvalorizando drasticamente o mercado na época.
Fora esse feito no final do jogo, como mencionei, é um jogo que nos retrata a década em suas ilustrações, mas soa um tanto genérico em relação às mecânicas no geral e a forma que são amarradas no tema – porém vale salientar que a mecânica de valorização das ações é bem balanceada e amarrada.
Ø Rejogabilidade
Serão 45 minutos (aproximados) de: Anda com o peão (um meeple customizado com elegância, pois usa um chapeuzinho!), compra carta, faz efeito se tiver, passa a vez. O jogo não muda ou cresce ao longo da partida, sendo sempre semelhante da primeira à última rodada. Contudo, como o mercado sempre varia e cada rodada precisamos fazer escolhas do que comprar, por quanto vale a pena ou até eventualmente realizar venda de cartas que já temos (lembrando que nesse jogo, dinheiro é ponto), somos obrigados a ficar sempre ligados na partida. Além disso, na caixa já existem duas expansões (‘Magnatas’ e ‘Opção de Compra’) que trazem novos ares táticos, mesmo que sutis, ao jogo.
[Algumas cartas do jogo – fonte: Internet]
Ø Interação
1920: Wall Street é um jogo muito interativo de diversas formas: Os jogadores interagem ao longo da partida com a compra de cartas interessantes a outros adversários; Ao estarem em um local/carta que outro jogar tem interesse, recebendo dele 1 moeda, caso ele compre aquela carta; Na constante valorização e desvalorização do mercado; Em algumas cartas que tem o efeito relacionado a outros jogadores; e no descarte, colocando as dinamites em locais onde saiam menos prejudicados que os adversários.
O jogo apresenta variáveis de setup (a arrumação dos componentes na mesa no começo da partida) e de mínimos de cartas para dar ponto no final, de acordo com o número de jogadores, logo em qualquer quantidade o jogo funciona bem, mas claro, esse é o tipo de jogo que quanto mais pessoas na mesa, mais interativo e apertado fica – logo, mais divertido.
Ø Fator Sorte
A sorte é quase invisível (sim, a mão invisível!), digo isso pois tudo que acontece no jogo é por ação direta dos jogadores, porém a ordem em que as cartas aparecem é randômica. Isso pode ocasionar algumas situações inusitadas (falo por experiência própria), onde um calhamaço de cartas de uma única ação aparece seguidamente ou coisas do gênero (estava bem embaralhado, antes que perguntem). Dessa forma, não temos virtualmente um fator sorte relevante no jogo, mas essa ordem de aparecimento pode impactar os caminhos que os jogadores escolhem traçar.
Ø Fator Estratégia
Elevado, vale mais do que petróleo! O charme do jogo está justamente nas escolhas táticas (a curto prazo), aliadas a planos estratégicos (a longo prazo), sempre de olho no que os adversários estão juntando e como a flutuação de mercado e o descarte estão se comportando. Em 1920: Wall Street, cada moeda vale ponto, então saber quando vender uma ação pode ser muito melhor do que tentar pontua-las no final, por exemplo, tornando o jogo um belo exemplo de jogo onde estratégia denota um alto nível de atenção na partida e nos adversários.
Opinião Pessoal
“Como dizem por aí: “Um jogão numa caixinha”. Quando o peguei, pensei que se tratava de mais um cardgame simples, um pouco de conflito, partidas rápidas, um certo blefe e etc. Me surpreendi da melhor forma possível. Alto teor tático, belos componentes e uma experiência de um jogo de tabuleiro de caixa grande. Contudo, não é um jogo muito bacana para duas pessoas, infelizmente, mas em mesa cheia ele brilha, ficando bem mais apertado, uma vez que cada jogador fica com bem menos cartas no final da partida.”
(Raphael Gurian, o carinha do meeple amarelo)
Um texto de Raphael Gurian
Sociedade dos Boards
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em reviews de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
Nota: Este texto segue o padrão anterior que utilizava, pois foi escrito tempos atrás, sendo um dos primeiros que escrevi, mas ficou perdido no limbo do computador! 
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