Imperial Settlers: A Ascensão de um Império –
Construa, Colete e Cresça
Título: Imperial Settlers: A Ascensão de um Império (2014)
Designer: Ignacy Trzewickzek
Arte: Tomasz Jedruszek
Editora nacional: Mandala / FunBox
Nº de jogadores: 1 a 4
Em Imperial Settlers cada jogador irá representar uma grande nação que dominou parte do planeta com sua cultura e poder militar. Ao longo de cinco rodadas os jogadores irão adquirir cartas, pagar recursos para as colocar em jogo e ativa-las também com o uso de recursos diversos. É considerado vencedor o jogador que obtiver mais pontos ao final da partida.
Imperial Settlers: A Ascensão de um Império é uma reimplementação do jogo com tema pós-apocalíptico 51st State, mas com um tema reimaginado, uma arte mais fofa e regras simplificadas.
Critérios
Ø Arte
Imperial Settlers é um daqueles jogos que apresentam uma arte fofa e cartunesca, colorida e divertida, fazendo as pessoas acreditarem se tratar de um jogo bem leve e até infantil, quando na verdade é um jogo maduro e com um pouco de complexidade tática. Através do uso de uma paleta de cores viva e bem ampla, a arte tem a função de ajudar na identificação de alguns elementos, como: As cores das cartas e sua relação com os recursos; A ilustração tem a “cor do gramado” diferente entre cartas comuns e de cada facção, as diferenciando; A ilustração conta com ‘caminhos/trilhas’, identificando em qual linha a carta deve ser alocada/baixada, além de identificar de forma visual qual sua serventia (produção, habilidades passivas ou ações).
O jogo não possui um tabuleiro central, mas pequenos tabuleiros de jogador, além de outro tabuleiro central com uma trilha para marcação de pontos. Este tabuleiro de jogador recebe todas as cartas em suas laterais, sendo na direita as cartas ‘comuns’ e na esquerda as cartas de facção, criando um visual bem colorido. Uma vez que as cartas possuem “trilhas/caminhos” que se interligam, acabamos realmente montando uma espécie de vilarejo.
Existe uma quantidade de texto moderada, onde algumas cartas precisam de uma leitura para serem entendidas, mas de uma forma geral, o jogo é recheado de iconografia e todas de fácil entendimento e com um bom tamanho.
Um ponto estranho no que tange este critério é a arte da caixa, que apesar de tentar seguir uma mesma identidade visual e um uso de cores semelhante ao das cartas, é estampado como figura central (e bem grande) um senhor bigodudo, com traços europeus, e um cachorrinho. O problema é que esta figura não representa nenhuma das facções do jogo (nem o melhor amigo ao lado), ficando um ar desconexo entre a arte da caixa e os componentes do jogo.

[ Algumas cartas de facção do jogo ]
Ø Qualidade dos Componentes
Sendo bem direto: São incríveis (com duas exceções).
O jogo traz muitas cartas de excelente gramatura e muitos marcadores, em 7 tipos diferentes, sendo que quatro tipos (trabalhadores, comidas, pedras e madeiras) são de madeira e coloridos. A caixa é grande e de uma boa qualidade, comportando tudo (sobra espaço para expansões – essas que não vieram para o Brasil).
As duas exceções são: Os marcadores de pontuação, que são muito pequenos e de papelão; e o manual, que por ter um formato de folha grande e um papel fino, fica bem molenga, amassando com certa facilidade, porém ele é bem escrito e detalhado, repleto de ilustrações.
[ todos componentes do presentes no jogo ]
Ø Curva de Aprendizagem
Imperial Settlers é um jogo que possui alguns detalhes importantes a serem lembrados, porém em geral é bem simples e fácil de jogar. Resumidamente, no seu turno você paga para baixar cartas da sua mão, usa cartas de ação suas já baixadas ou destrói alguma carta da sua mão ou da área de jogo do adversário. Por se tratar de um jogo onde a iconografia é bem simples e não existem ações muito complexas (mesmo as ações que são um pouco mais incomuns têm um texto descritivo na carta), então podemos considerar que o jogo possui uma baixa curva de aprendizado. A última página do manual ainda traz um resumo geral de jogo, acompanhado de lembretes, algo que se torna muito útil ao longo das primeiras partidas, em caso de dúvidas.
Um ponto importante a ser citado é que, por se tratar de um jogo guiado pelas cartas, conhecer as possibilidades é muito importante para se sair bem, dessa forma, o jogo acaba privilegiando quem tem mais intimidade com as cartas, em outras palavras, um jogador experiente provavelmente irá se dar melhor, por estar mais evoluído em relação à curva de aprendizagem do jogo, do que um novato.
Ø Presença de Tema
O jogo se esforça em deixar o tema presente, seja através das ilustrações ou mesmo ao se preocupar com cada facção ser melhor em produzir ou armazenar algum recurso mais ligado a suas características, porém isso não é o suficiente para sustentar a tese de que o tema é bem otimizado às suas mecânicas. Isso devido a certas estranhezas que o jogo causa, por exemplo: Podemos interagir com outros jogadores destruindo suas cartas na área de jogo, contudo, as facções não coexistiram no mesmo tempo ou local (principalmente se levar em consideração as expansões); O título do jogo não faz muito sentido, afinal não somos exatamente ‘colonos’/’settlers’, essa desconexão pode ser vista, como já citei, na arte da caixa também; Mesmo ao final da partida, não construímos um “Império”, mas sim uma pequena vila, com não muito mais que duas ou três dezenas de construções, no máximo. Portanto, Imperial Settlers, apesar da bela arte e da jogabilidade dinâmica, acaba penando na abordagem do tema.
Ø Rejogabilidade
A caixa-base vem com quatro facções, cada uma com um baralho específico, além de um baralho maior com cartas comuns, que servem para todos jogadores. As regras são todas simétricas (iguais) para todas as facções, porém cada facção possui cartas que privilegiam recursos e tipos de ações um pouco diferentes entre si, o que dá uma rejogabilidade relativamente alta, pois você precisará de ao menos quatro partidas ao todo, para ter experimentado cada uma das facções, além de inúmeras seguidas para conseguir percorrer todas cartas e se adaptar e dominar às características individuais de cada facção.
Vale salientar que lá fora existem muitas expansões, algumas com novas facções e outras com pequenas mecânicas que são agregadas. Algo que achamos com facilidade em terras brasileiras e indico pegar são as promos “Ficha de Estoque” e “Ficha de Expedição”, que agregam pequenas mecânicas ao jogo (e é baratinha para comprar ou mesmo, se não achar, fazer em casa!).
Ø Interação
A interação é baixa. Apesar de podermos destruir cartas dos adversários, isso não acontece com tanta frequência, pois o recurso necessário para isso (marcadores de espadas) não são tão fáceis de se conseguir, dessa forma, acaba sendo muitas vezes mais vantajoso usa-las para destruir alguma carta de sua própria mão (só gasta um recurso) do que uma carta do adversário (gastando dois recursos). Essa interação acaba acontecendo com maior frequência depois de algumas partidas, quando os jogadores conseguem já entender bem o funcionamento das cartas, para dessa forma ter maior efetividade ao destruir uma carta de um adversário que faria diferença para ele a longo prazo. Outra forma de interação é usar a Fase de Observação Variante (presente no manual), onde ocorre uma espécie de seleção de cartas (draft), na qual os jogadores podem ter certa influência sobre o que o adversário consegue pegar para sua mão.
Por ser um jogo com baixa interação, existe a possibilidade de jogar sozinho, e é um modo bem eficiente e que emula bem o jogo com mais jogadores. Vale mencionar que existe uma espécie de ‘modo campanha oficial’ bem interessante (e tem traduzido na Ludopedia!).
Ø Fator Sorte
Imperial Settlers é um jogo de cartas com cara de eurogame... ou um eurogame com cara de jogo de cartas? A resposta deixo a critério de cada um. O que importa é que as cartas são a essência do jogo, logo a ordem que elas surgem na mão do jogador irá ditar o ritmo da partida, influenciando diretamente suas escolhas, contudo o jogo não se resume a isso, sendo essencial que o jogador saiba quais cartas baixar e quando e em qual momento vale a pena buscar por cartas que geram combos entre si. Dessa forma, a sorte é presente, como todo jogo de cartas onde elas são o coração do jogo e existem poucas rodadas (pois mitiga pouco esta compra de cartas), porém somente a sorte não define o vencedor.
Ø Fator Estratégia
Apesar da sorte na compra de cartas, o jogo exige do jogador constantes escolhas: Qual carta vai baixar; Se é melhor destruir a carta e pegar o espólio (recompensa); Se os recursos que o jogador possui são melhores gastos com uma carta ou em uma ação; e assim por diante. Imperial Settlers é um daqueles jogos que quanto mais você conhece, mais indeciso fica, pois sabe quais cartas não surgiram ainda e qual potencial de combo que elas podem gerar caso apareçam, nos deixando sempre com uma tensão em cada nova escolha que fazemos.
O planejamento a longo prazo também é importante, pois a cada nova rodada mais e mais recursos conseguimos produzir, logo é preciso ter um plano de onde e como vamos gastar estes recursos, uma vez que no final de cada rodada o que não usamos é descartado. Produzir muitos recursos, para que eles sejam descartados depois é bem punitivo.
Perguntas Frequentes:
1. O jogo funciona bem com qualquer quantidade de jogadores? Sim. Devido à baixa interação, qualquer quantidade deixa uma experiência praticamente similar, inclusive no modo solo (1 jogador).
2. Consigo jogar com crianças ou iniciantes no hobby? Depende da pessoa. O jogo tem bastante texto e exige certo nível de autonomia, não sendo bacana aquele típico “Ó, ...e essa carta aqui? O que ela faz mesmo?”, logo se essa pessoa, pré-adolescente ou iniciante, tiver boa leitura e pega fácil jogos, sim, é possível.
3. Existe compatibilidade com as expansões importadas? Sim. Só muda o idioma mesmo.
4. Qual relação com “Imperial Settlers: Roll & Write”? Somente o universo, pelo fato de ser do mesmo autor. De resto, é um jogo completamente autônomo e com mecânicas diferentes.
Opinião Pessoal
“Imperial Settlers é uma delícia de jogar. Ele é aquele tipo de jogo em que conseguimos ver com clareza a evolução de nossa maquininha de produção e isso é muito satisfatório! É daqueles jogos que começamos com pouco, fazendo quase nada, e na última rodada fazemos mil coisas. As críticas que tenho são em relação à interação, que é bem baixa, e o fato de que, pela proposta, eu esperava que fosse um jogo mais longo.” (Raphael Gurian, jogando de Egípcio, pois a areia é o mais próximo do amarelo!)
“Imperial Settlers: A Ascensão de um Império é um jogo que apesar de possuir apenas elementos básicos, como cartas e recursos em madeira, tem um nível estratégico elevado. Se o jogador não planejar muito bem suas próximas jogadas, poderá desperdiçar uma rodada inteira, enquanto seus oponentes continuam jogando e pontuando sozinhos. Este jogo possui uma dificuldade moderada, pois exige que o jogador leia as cartas relativas à sua civilização e se atente às habilidades que possui para que possa se organizar da melhor forma para a próxima rodada. Estar familiarizado com as habilidades da civilização escolhida pode fazer toda a diferença para o jogador, porém como o jogo base possui apenas quatro civilizações, pode ser que o jogo pareça repetitivo depois de algumas partidas. Comprar expansões pode ser uma ótima opção (uma pena que não tem no Brasil!). A arte é muito bem produzida, porém não é o forte do jogo, uma vez que se tem mais foco nos textos das cartas. O jogo tende a ter pouco conflito, uma vez que quando se ataca o oponente, isto pode favorecê-lo em um certo nível, porém cada partida força os jogadores a adotarem estratégias diferentes, sendo mais ou menos agressivas. O Fator Sorte está presente nas cartas que são compradas para serem utilizadas. No fim, é um ótimo jogo e a pontuação final tende a ser bem equilibrada entre os jogadores.” (Heloisa Fernandes - Lola_Fernandes, a Romana (pois o fundo da carta é vermelho, claro!))
Um texto de Raphael Gurian
Sociedade dos Boards
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em reviews de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
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