Jórvik – Vikings Sanguinários Comerciantes!
Título: Jórvik (2016)
Designer: Stefan Feld
Arte: Marc Margieslky
Editora nacional: Conclave
Nº de jogadores: 2 a 5
Jórvik, do renomado designer Stefan Feld (The Castles of Burgundy, Trajan, Luna, entre outros), é um jogo sobre vikings, mas não espere o clichê conflito, violência e sangue, ao invés disso você presenciará muito comércio e negociação. Em Jórvik os jogadores irão disputar cartas e mercadorias em leilões, onde os valores das cartas são definidos pela quantidade de lances dados em cada carta pelos próprios jogadores.
Jórvik é um daqueles jogos que possui um misto de opiniões por aí, onde uns amam, outros odeiam. Em parte entendo quem não gosta, afinal ele traz uma mecânica de leilão bem característica que não se enquadra em todos perfis de jogadores, ao mesmo tempo que entendo quem o ama, afinal ele consegue trazer uma interação direta bem interessante, algo incomum aos jogos do estilo e do designer.
Critérios
Ø Arte
O jogo possui uma arte simples voltada a buscar um realismo nas expressões e objetos retratados. Não é dos mais belos, porém nem dos mais feios jogos de Stefan Feld, (convenhamos que nesse caso o critério de comparação não é lá tão alto, pois Feld é conhecido por jogos excelentes, mas um tanto feios).
O tabuleiro é bem funcional e com cores vivas, apesar da trilha de pontos não marcar o número em todas as casas, contudo este tabuleiro central não é totalmente necessário – e nem o pequeno tabuleiro individual, que acaba servindo mais como um Player-aid (ajudinha pra lembrar das coisas). Digo isso, pois o jogo conseguiria se resolver perfeitamente mesmo sem ter tabuleiro, tendo apenas cartas, meeples, os pequenos cubinhos e alguns tokens (fichinhas) de moeda – porém é muito legal termos ali o tabuleiro ajudando a contar a história do jogo e dando uma organização na mesa.
Uma coisa que deixa bastante a desejar são as cores escolhidas para representar os recursos, pois não coincidem com precisão aos cubinhos utilizados como componentes, dessa forma nas primeiras partidas é comum confundir o branco com cinza ou azul, por exemplo.
Seguindo a linha de jogos do designer, o jogo não possui nenhum texto, apenas iconografia. Em Jórvik a iconografia é de fácil entendimento e mesmo um ou outro ícone nas cartas são de fácil memorização.
Ø Qualidade dos Componentes
Em Jórvik todos os componentes são, no geral, de boa qualidade.
Os marcadores de moeda, assim como o tabuleiro central e os tabuleiros individuais possuem uma gramatura boa. Além disso o jogo acompanha um saco de tecido preto, meeples de madeira e diversos cubinhos coloridos, também de madeira.
As cartas possuem uma gramatura mediana, porém em Jórvik não é necessário embaralha-las mais de uma vez por partida e os jogadores não ficam com as cartas em suas mãos, logo a gramatura e mesmo a ausência do uso de sleeves não prejudicam sua vida útil.
O manual é de fácil entendimento, apesar de ser impresso em um papel fino.
A caixa do jogo não é das melhores, sendo de um papelão relativamente fino, porém como são poucos componentes isso pode não acarretar tanto problema devido ao transporte e armazenagem, já que o conteúdo não faz muito peso (fica bem cheio de ar mesmo).
[ componentes do jogo ]
Ø Curva de Aprendizagem
Jórvik possui dois modos de jogo, um básico e um avançado. O modo avançado adiciona uma possibilidade de reserva de cartas, aumentando a profundidade tática, porém mantém o mesmo nível de complexidade do modo básico. Isso ocorre pois o jogo em si é bem simples e direto. A complexidade do jogo (independentemente do modo utilizado) em relação ao entendimento das regras é bem baixa, ficando a cargo da leitura de mesa e malícia nas escolhas táticas a maior curva de aprendizado do jogo.
Ø Presença de Tema
Como descrito no começo do texto, não espere um jogo onde machados irão rodopiar no ar e sangue será derramado, afinal ele retrata o dia-a-dia de um porto ao longo de um ano, ao receber novos membros para seu clã, assim como navios com mercadorias e a disputa dos comerciantes por elas. As cartas trazem funções comuns da época como ferreiros e artesãos, navios mercantes, bardos, guerreiros e mesmo cartas que trazem habilidades extras ao jogo e interação entre os jogadores.
O título “Jórvik” remonta ao nome de uma cidade no norte da Inglaterra, atualmente chamada de York (ou Iorque, em português), fazendo jus ao que o jogo aborda, que era o cotidiano e a cultura local.
[ algumas cartas do jogo ]
Ø Rejogabilidade
Jórvik é um daqueles jogos que não agradam a todos, pois mecanicamente o jogo é sempre o mesmo. Partida após partida o fator de rejogabilidade consiste no momento em que cada carta surge no mercado e quais mercadorias estão disponíveis para compra no mesmo barco, contudo a forma que a partida transcorre é sempre a mesma, com uma única ação sempre disponível (que é alocar o meeple para disputar a compra de uma carta ou para simplesmente encarecê-la).
Por outro lado, esse é daqueles tipos de jogos que a graça está em sacanear o coleguinha e dar um ‘block’ (bloqueio) naquela carta crucial para uma boa jogada de um adversário. Por este lado, Jórvik apresenta um fator de rejogabilidade alto, pois esse tipo de interação é constante, principalmente jogando-se no modo avançado.
Ø Interação
A interação no jogo é alta. Os meeples (peões) dos jogadores que definem os preços das cartas, logo para o jogo funcionar é preciso que a mesa seja agressiva. É possível jogar de forma mais leve? Sim, porém a interação (e a graça) do jogo será bem reduzida.
Ø Fator Sorte
Todas as cartas do baralho e recursos disponíveis (cubinhos) vão aparecer na partida, porém em ordem aleatória. Dessa forma a sorte presente no jogo é bem baixa. A sorte aparece em jogo quando o jogador, entre uma rodada e outra, decide gastar muito dinheiro e não se planeja direito e justo neste momento surge no mercado uma carta que ele precisava, mas mesmo neste cenário fica claro que o planejamento e riscos que o jogador decidiu tomar foram determinantes para o fator sorte (nesse caso, azar) ter lhe prejudicado.
Outro momento onde a sorte se torna presente é na “ordem de jogador” caso jogue no modo avançado, pois caso uma carta interessante que mais de um jogador almeje apareça na trilha superior do tabuleiro, o primeiro jogador terá a possibilidade de pegá-la antes, sem chances para os demais, contudo ela acaba saindo mais cara.
Ø Fator Estratégia
Alto, maior ainda é o fator tático, onde a adaptação às cartas que aparecem no mercado e os cubos que surgem juntos forçam os jogadores a irem adaptando sua estratégia de longo prazo. Conhecer as possibilidades e cartas do jogo é fundamental para uma boa estratégia ser traçada e conhecer o perfil dos jogadores da mesa se torna essencial para a leitura de apostas e blefes no leilão.
Opinião Pessoal
“Considero Jórvik mais um excelente jogo de Stefan Feld, onde ele apresenta uma mecânica simples, mas que consegue trazer uma experiência imersiva e interativa entre os jogadores (algo não muito comum entre seus jogos). O diferencial de Jórvik dentre os jogos de leilão com coleção de componentes é que o valor das cartas vai de acordo com a quantidade de ofertas. Isso faz o jogo não ser muito bom para 2 jogadores, pois as cartas acabam tendo menos disputas e valores reduzidos, porém em 3, 4 ou 5 jogadores ele brilha (sim, cabem 5 – o que já é outro ponto positivo). Jórvik serve como uma excelente opção de eurogames para jogadores que gostam de jogos mais interativos e até festivos, pois ele traz uma interação simples e direta entre os jogadores e provocações estão presentes na mesa durante toda a partida. Se o grupo não curte tanto provocações e conflitos diretos, uma regra da casa interessante é fazer o dinheiro ficar oculto. Dessa forma, blocks não serão tão determinantes, afinal os jogadores não saberão exatamente o quanto seus lances impactam seus adversários.” (Raphael Gurian, o viking de capacete amarelo!)
“Jórvík é um jogo que irá exigir dos jogadores um pouco mais de experiência e conhecimento sobre seus elementos para aumentar a competitividade e suas possibilidades de estratégia. Sua graça está em montar sua melhor jogada para vencer os leilões e obter as cartas certas que irão garantir o máximo de pontos possíveis no final do jogo, pois o que vai acontecer bastante, e muitas vezes inevitavelmente, é ser bloqueado pelos outros jogadores, o que poderá fazer com que você mude seus planos de uma hora para outra. Porém não se frustre, pois sempre poderá optar por um "plano B". Pode não parecer, mas é um jogo bastante dinâmico e mesmo com uma partida relativamente longa para a proposta, o tempo passa voando! Sua arte é bastante característica e simples, além de possuir uma mecânica que caberia muito bem em outros temas. É um jogo que indico, pois flui muito bem e prende bastante a nossa atenção ao nosso próprio planejamento.”
(Heloisa C. Fernandes - Lola_Fernandes, a viking ruiva – e com meeples vermelhos, claro)
Um texto de Raphael Gurian
Sociedade dos Boards
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em reviews de uma forma mais detalhada. Os jogos analisados não seguem qualquer critério comercial, incentivo ou pagamento, sendo escolhidos com base em fontes de vozes da minha cabeça, aliado ao fato de ter já jogado o jogo em questão muitas vezes, a ponto de me sentir confortável em opinar sobre o mesmo.
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