Oh My Goods! + (expansão) Revolta em Longsdale
O sol nasce para quem arrisca!
Título: Oh My Goods / Oh My Goods!: Revolta em Longsdale (2015 / 2016)
Designer: Alexander Pfister
Arte: Klemens Franz
Editora nacional: Papergames
Nº de jogadores: 2 a 4 (expansão com versão solo oficial)
Oh My Goods! tem como principal mecânica forçar sua sorte, aliado ao uso de memória e coleção de componentes, para se fazer uma boa maquininha de produção de bens e pontos. Inicialmente batizado como Royal Goods, foi concebido pelo designer, Alexander Pfister, para concorrer em um concurso de designer (e não precisa nem dizer, mas ganhou!).
Durante a partida, os jogadores irão escolher em qual de suas construções seu trabalhador irá atuar e, através de uma sequência de cartas abertas na mesa válidas para todos jogadores, coletar e gerar recursos para produzir – ou não. Vence a partida aquele que conseguir mais pontos através da construção de novos locais e pelos bens que produziu e manteve armazenado ao longo da partida.
(Fonte: Imagem da internet)
Critérios
Ø Arte
Klemens Franz, primeiro preciso escrever esse nome para fixa-lo nas nossas mentes, pois esse cara austríaco sabe o que faz! Ele é o responsável pela arte de jogos como Clãs da Caledônia, Mombasa, Caverna, Agrícola, Orleáns, Lorenzo Il Magnífico, Le Havre, Patchwork, Altiplano, Suburbia, Isle of Skye, Luna, Newton, Barenpark, Ora Et Labora, e mais um monte – e claro, Oh My Goods! Se você, leitor, conhece alguns desses títulos consegue reconhecer certa familiaridade nos traços e cores entre eles, inclusive parecendo que fazem até parte de um mesmo universo. Com cores vivas e um traçado cartunesco, simpático, divertido e levemente infantil, temos uma arte amigável e de fácil reconhecimento nos ícones, objetos, cenários e pessoas retratadas. Oh My Goods! não possui um tabuleiro, sendo exclusivamente um jogo de cartas, que fazem a função de bens produzidos, recursos disponíveis e mesmo casas de produção. Apesar dessa função multitarefas, as cartas contêm informações claras e objetivas, sem nenhum tipo de excesso ou poluição visual – ainda tendo o espaço central com a ilustração relativamente grande. O texto no jogo é pouco, aparecendo de forma bem concisa nas poucas cartas de eventos e guia de episódios da expansão e mesmo assim, sempre acompanhadas de iconografias facilmente identificáveis e memorizáveis, realmente tendo um impacto maior nas cartas da expansão que contam a história, do que nas que interferem na jogabilidade.
Ø Qualidade dos Componentes
As cartas são de excelente qualidade, todas com bordas brancas, o que dificulta ficarem marcadas. Os manuais são de um papel de boa gramatura, com muito texto e algumas ilustrações, que explicam bem e sem dificuldade o desenvolver do jogo (lembrando que o manual da expansão não é um livrinho, mas sim uma folha dobrada). A caixa é do jogo base é bem rígida, já a caixa da expansão se assemelha a caixinhas de baralho comum, bem fina e molenga. Pelo menos, se separamos as cartas entre as caixas do jogo base e da expansão, elas são comportadas mesmo com sleeves (os plastiquinhos que servem para proteger as cartas de mão engordurada) sem dificuldades.
Ø Curva de Aprendizagem
Oh My Goods! é um jogo de regras fáceis, com um ou outro detalhe importante de ser lembrado, mas graças a carta de trabalhador que temos em nossa frente também servir de player-aid (ajudinha), fica fácil de seguir e lembrar cada uma das fases da rodada. A dificuldade do jogo está em se acostumar e adaptar às escolhas frequentes que o jogo nos impõe, uma vez que ele é um jogo que força nossa sorte o tempo inteiro. Conhecer bem as cartas e memorizar o que já saiu é imprescindível para conseguirmos nos arriscar com taxas de erros mais favoráveis, sendo em partes, um grande exercício de memória também.
Ø Presença de Tema
Originalmente batizado de Royal Goods, teve o título alterado para Oh My Goods!, dando uma cara mais descontraída ao jogo, combinando com a arte e a mecânica, uma vez que diferentemente de jogos ‘de fazendinha’ mais convencionais e pesados, em Oh My Goods! a sorte é bem relevante e a cada rodada ficamos tensos esperando as cartas do mercado serem abertas – e não é difícil alguém da mesa ficar agitado na torcida, o que casa muito bem com um nome mais divertido e animado. Porém, nem tudo é alegria em Longsdale, província onde o jogo acontece, uma vez que a expansão traz uma história que mostra que existe uma guerra eminente e o Rei está em conflito.
Mecanicamente, é um jogo de descer cartas, que representam a construção de estabelecimentos produtores, gerando uma maquininha de produção e pontos, onde cartas serão abertas na mesa, simbolizando a oferta do mercado local que estará disponível no momento. Além disso, a expansão apresenta novas mecânicas, entre elas um interessante modo campanha que conta a história e vai aos poucos adicionando cartas ao baralho do jogo. Uma nova mecânica que tematicamente é interessante é o novo recurso Força (simbolizado por um punho em riste) que, de vez em quando, é ativado, devendo ser comparado entre os jogadores vizinhos (quem está sentado a nossa direita e esquerda), gerando assim uma bonificação para aqueles com maior quantidade, representando que eles tem mais força para resistir à guerra eminente.
Agora uma observação negativa importante para este critério: Ao se jogar no modo campanha em 2 ou mais jogadores, os objetivos do capítulo não são obrigatórios, servindo apenas como uma pontuação extra. Dessa forma, a história continua a mesma, sem consequências, independente de algum jogador ter cumprido o objetivo do capítulo ou mesmo ninguém o ter alcançado.
Ø Rejogabilidade
Levando em conta somente o jogo base temos uma rejogabilidade alta devido aos inúmeros combos possíveis entre as cartas e a aleatoriedade que temos na compra de cartas, além de alguns personagens (trabalhadores) que sempre ficam de fora da partida, mudando nossas opções, consequentemente nossas escolhas, entre uma partida e outra. Considerando a expansão Revolta em Longsdale, temos uma rejogabilidade ainda mais alta, pois além do citado, temos novidades muito interessantes neste quesito, como novas cartas de trabalhadores, novas cartas de produção, um novo recurso (Força) e cartas de evento que geram bônus ou penalidades para cada rodada e mudam a forma que se ativa o final do jogo. Se não bastasse, ainda temos o modo Campanha, que através de cinco capítulos com diferentes objetivos, conta a história do jogo e vai agregando novas cartas a cada partida, aumentando as possibilidades em uma sequência de partidas. Por último, ainda temos a possibilidade de um modo solo (1 jogador) oficial com a expansão.
Ø Interação
A interação em Oh My Goods!, se considerarmos apenas o jogo base, podemos considerar quase nula, onde as duas únicas interferências ocorrem na compra dos trabalhadores disponíveis e no fato de outro jogador ter em sua posse determinadas cartas, impossibilitando assim dos demais da mesa a terem. A expansão aumenta um pouco a interação ao adicionar o recurso de Força, que ocasionalmente é comparado entre os vizinhos (quem está à direita e esquerda do jogador), gerando assim um bônus para o vencedor.
Ø Fator Sorte
Oh My Goods! é essencialmente um jogo de forçar nossa sorte, logo temos a sorte muito presente, tanto na compra das cartas que vão para nossa mão, como nas cartas que são abertas na mesa gerando um mercado de recursos. Além disso, como já citado, o jogo exige do jogador um prévio conhecimento das cartas e um belo exercício de memorização do que saiu e do que está no descarte. Sendo assim, aqui entram duas observações importantes:
A. Diferentes números de jogadores interferem nessa sorte (e no Fator Estratégia também). Isso ocorre pois quanto mais pessoas na mesa é gerado em maior grau duas situações: Temos mais cartas ‘fora de jogo’, sejam baixadas abertas ou fechadas (como bens produzidos) e na mão dos adversários (no caso das cartas baixadas abertas, ainda sabendo com certeza o que não iremos mais ter em nossa mão); e temos um descarte que é reembaralhado mais rapidamente;
B. Alexander Pfister, o designer, decidiu que as cartas também servem como bens produzidos. Apesar de uma saída interessante para a composição dos componentes do jogo, isso acarreta um impacto grande no Fator Sorte, pois quando produzimos um bem, é comum uma carta do topo do baralho vir fechada (sem que nenhum jogador veja) para simbolizar este item. O problema disso é que ao longo da partida teremos várias dessas ‘cartas presas’ e nem sempre elas são ‘gastas’ e vão para o descarte. Dessa forma, pode ocorrer de estarmos esperando algum tipo de carta para compor algum combo importante e a carta simplesmente nunca vir, pois ela está ‘fora de jogo’ e nem temos conhecimento disso.
Tendo estes dois itens em mente, vou reforçar: O jogo é bom, dependente de sorte, logo tenha isso em mente antes de adquirir sua cópia.
Ø Fator Estratégia
Falei muito sobre o fator sorte presente, mas não é somente de sorte que dependem os moradores da capital Longsdale. A estratégia precisa estar presente, seja através de uma boa memorização das cartas que já saíram, moldando assim suas escolhas táticas, assim como conhecer as cartas para montar bons combos entre elas. Um ponto interessante que vale salientar é que a expansão muda a forma de terminar a partida. Somente com o jogo base, a partida termina após um jogador construir um número pré-determinado de casas de produção, o que gera uma sensação de corrida, que aliada a um jogo onde a sorte é impactante pode frustrar muitos jogadores. A expansão muda isso, fazendo a partida terminar após um número pré-determinado de rodadas, dando um espaço de manobra mais controlado para os jogadores definirem sua estratégia para a partida.
Um ponto negativo da expansão (também abordado no critério Presença de Tema) é que ao jogar os capítulos no modo multi-jogador (2 a 4), as bonificações por pontos caso alguém consiga preencher os requisitos não são lá tão recompensadores, sendo algumas vezes melhor fazer outra coisa, outros combos, do que tentar cumprir os objetivos do capítulo (no modo solo isso não ocorre, pois somos obrigados a cumprir este requisito para avançar para o próximo capítulo).
Opinião da galera da Sociedade dos Boards!
"Oh My Goods! foi um jogo que me deu um misto de sentimentos, migrando da paixãozinha, para o ódio e voltando como um amor fulminante! A princípio gostei do jogo, adorei a arte amigável (já elogiei o Klemens Franz hoje, né?) e como fã de jogos de fazer maquininha, ele me conquistou... até o momento que comecei a ficar frustrado com o excesso de sorte presente – o que me fez por acabar vendendo minha cópia. Com o anúncio da expansão, resolvi reaver o jogo e dar uma segunda chance (agora ele tinha mudado um pouco e eu também). Essa nova experiência me convenceu de quão bom era o jogo (principalmente para a proposta de poucos componentes e partidas curtas) e me apaixonei novamente.
Claro, nem tudo mudou (meu gosto e conhecimento sobre jogos que mudou, principalmente), mas aprendi a gostar de Oh My Goods! sem esperar dele algo que ele não é (lição importante que aprendi ao longo do tempo). Ainda assim, existem duas variáveis que uso quando quero jogá-lo e diminuir o impacto da sorte (não sou muito fã de sorte, salvo jogos festivos): 1. Comprei disquinhos de mdf (0,05 centavos cada um), que uso como “bens produzidos”, não deixando nenhuma carta ‘travada’ em jogo como um bem produzido; 2. O jogador da vez (quem abre o mercado), pode UMA vez por rodada, no primeiro mercado (Fase II), trocar uma carta de sua mão por uma carta recém aberta. Dessa forma, mitiga-se bastante a sorte em relação ao fechamento do mercado e em relação às cartas que compramos, pois assim temos uma escolha, além de aumentar a interação entre jogadores (aumenta suas chances (tirando um ‘meio-sol’ ou mesmo lasca um adversário que esperava algo que não veio (colocando um ‘meio-sol’)). (Ahh... e é uma pena, mas não tem como jogar de amarelo, pois os jogadores não possuem cores! Hehe)" (Raphael Gurian – O Jogador de amarelo)
----x----
“Sabe aquela caixa pequena de jogo que você olha e pensa "impossível ter um jogo tão denso aí"? Esqueça isso e se surpreenda com Oh My Goods! Em Oh My Goods! não se planejar e ficar sem produzir causa um atraso gigante em sua corrida pra se tornar o melhor produtor. É um jogo que você pode jogar seguro e produzir pouco ou arriscar e dar um salto na frente de seus concorrentes. A ideia da cadeia de produção (onde você produz para utilizar esses produtos em outras produções que valem mais) é o que faz o jogo brilhar, bem como ter que escolher as cartas que vai se desfazer para não ficar com poucas opções na mão ou mesmo poder fazer produções mais fortes. Uma das obras-primas do Pfeister em uma caixinha e usando apenas cartas. A vontade de jogar uma próxima partida sempre estará presente nesse jogo.” (Guga Gurgel)
----x----
“Oh my goods! Demonstra que em uma caixinha com apenas cartas é possível existir um grande jogo. Um jogo de regras simples, fácil de aprender e com muitas possibilidades. A ideia da corrente de produção cria a possibilidades de inúmeros combos e maneiras de administrar os seus recursos, é um euro completo, está tudo ali: alocação de trabalhadores, gestão de mão, colecionar componentes, só que tudo através das cartas. Recomendo demais.”
(Super Peperoni - https://www.youtube.com/channel/UCbndH9h7GTDJd0hMoKbW_Ew )
----x----
“Um designer sempre tem duas escolhas quando faz um jogo: Simplificar ou complicar. "Oh My Goods!" é um excelente exemplo da primeira opção. O uso de recursos para criar uma linha de produção na mão de muitos viraria um jogo gigantesco, e não um jogo de cartas que vem numa pequena caixa. A reutilização das cartas para diversas funções emprestada de "Race for the Galaxy", mas aqui ainda mais expandida, e isso sem apelar pra uma iconografia complexa, faz dele um euro leve que ocupa o espaço de um party game. Ele por si só já é um ótimo jogo, mas com a expansão "Revolta em Longsdale" ele dispara fácil para o meu Top 10.” (Alexsander Pena)
----x----
Um texto de Raphael Gurian - Sociedade dos Boards
A ideia deste formato de análise não é explicar um jogo, para isso existem muitos outros textos, vídeos e etc. A finalidade do texto é fazer uma análise crítica acerca de critérios que acho importante e que muitas vezes acabam não sendo explorados em textos de análise de uma forma mais detalhada e imparcial.
Confira também redes:
Instagram: https://www.instagram.com/sociedade_dos_boards/
Facebook: https://www.facebook.com/groups/1219416214780289/
Podcast: https://www.ludopedia.com.br/podcast/50/o-podcast-oficial-da-sociedade-dos-boards
Blog Oficial: https://sociedadedosboardsbr.home.blog/
- Caso tenha interesse em se juntar ao nosso grupo de WhatsApp, me pergunte como!