AVISO: O gerente ficou louco!!! Começando com Tapestry, o Red Meeple vai pro mundio do audio-visual!!!!! Não gente, não terei um canal no Youtube, mas para quem segue o @redmeepleblog no Instagram, farei reviews curtos no feed, sem edição de vídeo nem nada. Se não segue o Red Meeple no Instagram ainda, essa é a oportunidade.
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Jamey Stegmaier sabe vender um jogo. Ele é tipo o Midas dos board games. A cada novo lançamento dele parece que o jogo é o novo enviado de Jesus Cristo ao mundo para nos salvar. E embora ele lance jogos muito bons, isso causa, de forma óbvia, uma decepção no público que esperava que o jogo andasse sobre as águas. O intuito desse texto, é então, o de dar uma visão um pouco mais realista do que é Tapestry e responder a pergunta: o jogo é realmente bom?
Essa resposta é relativamente simples: é sim! Mas ele é a melhor invenção da humanidade desde o papel higiênico? Não! Nenhum jogo é! E deixa eu explicar o por quê.
Se eu tivesse de explicar a maior qualidade do Tapestry, não seria nas minis pintadas ou qualidade absurda de alguns componentes. Se tivesse de citar uma só coisa, eu diria que é um jogo muito gostoso de se jogar e que tem tudo pra ver muita mesa por aí. Se ele tem algo de diferenciado, são suas regras. Apenas 4 páginas dela. Diria que é até menos, pois a 1a página do manual são os componentes e setup e a última os detalhes de final de jogo e um mini FAQ. Mas o mesmo tempo ele está bem longe de ser um jogo bobo ou pouco estratégico.
Tapestry me lembrou bastante uma partida de Wingspan, com sua simplicidade das ações e agilidade e rapidez que tudo roda. Sabe que em Wingspan, você tem basicamente duas ações para fazer né? Ou você paga recursos para baixar pássaros e aumentar seu engine, ou você roda seu engine para ganhar recurso. E é só isso. A cada turno você tem que decidir qual dessas duas coisas você vai fazer. Nisso, o Tapestry é quase igual. Na sua rodada ou você decide pegar a sua Receita de recursos, ou usar seus recursos para melhorar sua engine subindo em uma das 4 trilhas de avanço. E é só isso.
Tapestry pode ser resumido então em um jogo onde você baixa uma carta de tapeçaria que lhe dá um poder temporário e passa vários turnos gastando recurso para subir em trilhas temáticas (Tecnologia, Ciência, Militar e Exploração. Cada uma dessas trilhas lhe dá um benefício imediato que você usa para melhorar sua civilização. E você toma essa decisão a cada turno: qual trilha vou subir, qual recurso vou gastar e o que vou ganhar com isso.
E na prática, isso significa que você vai fazer uma ação super simples, passar para o jogador seguinte que fará outra ação simples, e por aí vai, com baixíssimo downtime. Nos últimos 2 dias eu joguei partidas com 3 a 5 jogadores, sempre com novatos na mesa e as partidas, duraram entre 1h30 em 3 a 2h20 em 5. Tenho certeza que com jogadores experientes o jogo não dura mais de 2 horas nunca, mesmo com mesa cheia.
Agora, não ache que, ao comprar Tapestry você tá levando Wingspan de Civilização não. Tapestry é muito mais jogo que Wingspan, no sentido de decisão e estratégia mesmo. E é impressionante como ele faz isso com tão pouca coisa. As escolhas que você faz nas trilhas são sempre bem interessantes e tem uma série de consequências e desencadeamentos. O jogo finge de ser simples, mas não é. Rola uns combos, uma distribuição de recursos, e principalmente, uma tentativa sempre constante de espremer recursos para fazer mais ações. É tipo um, paga recurso, para avançar em algo que lhe dá recurso que lhe permitirá avançar em mais algo sabe. E quando você encaixa isso direitinho, a satisfação no jogo é enorme.
Tapestry é então um simples, que se vende como leve, mas que na verdade entrega o nível estratégico de um euro médio sem precisar de complexidade ou a sensação de queimar a mufa para isso! Nisso, ele me lembra até outros sucessos como Endeavor que é um jogo que entrega muito com pouco. Mas diria até que Tapestry entrega um pouco mais.

Além disso, o jogo tem, como outra grande qualidade, a rejogabilidade. Até agora foram 5 partidas para mim, todas muito diferentes uma das outras. Isso por que, são 16 civilizações diferentes para você jogar com. Além disso, apesar de serem apenas 4 trilhas para subir, qual delas você vai focar altera em muito a estratégia. E quais delas seus adversários estão focando também. Por último, as cartas de Tapestry que saem na sua mão são outra coisa que lhe dão poderes diferentes durante o jogo, modificando sua estratégia de uma partida para outra. Com isso, o jogo traz uma infinidade de variações estratégicas que me fazem pensar que estou longe de dominar todas possibilidades.
E a jogabilidade dele é tão gostosa, que quando eu coloquei no meu grupo na segunda feira, jogamos ele para testar, íamos jogar um segundo jogo da noite e enquanto discutíamos qual seria, percebemos que todos queriam jogar Tapestry de novo. E assim o fizemos! Quanto jogos eu posso falar que fiz isso? Pouquíssimos.
Outra óbvia qualidade de Tapestry, essa, até menos importante para mim, está na produção. O mercado de boardgame mudou e Tapestry é o reflexo disso. E Jamey Stegmaier sabe lidar com essa mudança melhor do que ninguém. Basta ver o que ele fez com Scythe. É quase uma franquia de board game de um mundo criado por ele mesmo. A cada ano lança-se um produto novo que faz o jogo continuar contemporâneo.
Jamey percebeu que, cada vez mais, o investimento em estética tem crescido e o preço de jogos do tabuleiro, em geral, como era de se esperar, acompanha o crescimento. E ele foi lá, pegou um jogo que seria um euro e colocou 18 miniaturas pré-pintadas como monumento, 100 miniaturas de prédios de renda e um tabuleiro de jogador com acabamento plastificado que é um esculacho. Parece um jogo americano que tenho aqui em casa. Colocaria um copo gelado em cima dele sem medo de estragar (por precaução, por favor, não faça isso).
É óbvio que, portanto, ao optar por uma super produção, Jamey iria lançar o jogo mais caro da sua empresa e isso gerou muita reclamação. Mas o mundo em que os alemães usavam um cubo de maneira para simbolizar desde trigo até biotecnologia molecular não existe mais. Estamos vivendo no mundo de fichas de poker e miniaturas pintadas onde pessoas pagam 800 reais em um leilão pelo Brass Lancashire Deluxe enquanto a versão antiga do do mesmo Brass mofava nos anúncios por $200. Por isso, temos o direito de reclamar, mas não adianta apenas culpar as editoras, nacionais ou importadas! Elas fazem aquilo que o público quer comprar. Se não vendesse, não fariam.
Outro ponto muito interessante de Tapestry é que ele, mesmo na sua simplicidade, ele parece um jogo original. E isso é engraçado, pois o jogo parece usar inúmeros elementos de vários outros jogos sem se parecer com nenhum deles no final. Veja bem, a escolha de ações simples entre ganhar ou gastar recurso, parece ter sido inspirada no Wingspan. O jogo tem um tetris no tabuleiro de jogador que lembra o Banquete a Odin. Existe ainda uma rodada variada, onde um jogador pode estar na 3a era e outro ainda jogando na 1a que parece ter vindo do Everdell, um sistema de receita de fim de turno por prédio construído que lembra Gaia/Terra Mystica e um benefício por vizinhos que lembra o Scythe. Mas ao mesmo tempo, não dá a impressão de que você está jogando nenhum desses jogos.
Aliás, essa questão dos turnos diferentes é bem interessante. Sabe em Gaia, ou Terra Mystica que, ao gastar todos seus recursos e passar você fica aguardando o fim da rodada para começar uma nova e jogar? Então, em Tapestry (e em Everdell) não é assim. Você faz sua receita no turno que passou e no seguinte já pode voltar a jogar, mesmo que os demais jogadores não tenham passado ainda.
E por que isso é interessante? Bem, por que permite, no seu jogo que você busque elementos que estendam seu turno, gastando recurso pra ganhar recurso e fazendo com que você ganhe mais ações. E quem consegue otimizar essa maquininha se dá bem, mas quem passa antes também tem benefícios que não são de jogar fora e isso adiciona uma boa camada estratégica no jogo.
Na minha última partida, por exemplo, eu decidir passar de turno mais cedo, mesmo tendo recursos para fazer ações pois eu ganharia um bônus bem vantajoso em fazer isso. E com esse bônus eu fui capaz de fazer muito mais coisa no último turno para garantir a vitória e a pontuação mais alta nos nossos jogos até então.
E por último, Tapestry tem ainda algo que eu adoro em jogos que é: poderes variados. Como já disse, são 16 civilizações para jogar, e jogar com cada uma delas traz escolhas e consequências interessantes, afinal, você quer combar o poder de sua raça com a estratégia da partida. E embora o jogo não tenha um setup tão variado assim, a combinação das civilizações em jogo e das cartas de tapeçaria que saem na sua mão, é o que dá grande parte da rejogabilidade.
Mas vamos colocar alguns pontos nos Is aqui. Por mais que eu tenha adorado Tapestry, é importante, antes de mais nada, dizer que o jogo não é, um jogo típico de Civilização como Through The Age, Nations ou Civilization The Boardgame. Ele é um euro, com temática e flavour de Civilização, mais comparável a Golden Ages ou Civilization New Dawn. E ele é o meu favorito disparado entre os 3.
O tema então, está lá mais como uma roupagem, de forma bem lúdica mesmo. Aliás, tudo no jogo é um pouco assim. As tais Tapeçarias, que contam a história da sua civilização nada mais são cartas de ação com poderes passivos ou imediatos. Os prédios e tecnologias tem nomes de descobertas que parecem genéricas. Essas tecnologias inclusive, nem tecnologia direito são, pois elas te dão um bônus na hora só, não lhe dão um poder. Quem lhe dá poderes são as cartas de tapeçaria. E as tais miniaturas pré pintadas são apenas parte de mini quebra cabeças dentro do jogo que em muito lembra Uwë Rosemberg e seu Banquete a Odin.
Outra coisa que pode incomodar algumas pessoas são as próprias cartas de Tapeçaria. Elas me lembraram muito as cartas de visitantes de Viticulture e quem já jogou vai me entender. As vezes, você sai no jogo com carta que lhe dá dinheiro logo no início da partida e você dispara, mas teu adversário pegou cartas de bônus de venda de vinhos que só vai usar lá na frente e acaba ficando para trás. Tapestry não chega a tanto, mas há uma disparidade grande nas cartas de tapeçarias. Algumas são ótimas e ajudam demais seu motor. Outras, lhe dão bastante pontos, mas em pouco ajudam na sua evolução e seria melhor se você tirasse ela mais no finalzinho. Isso me incomodou? Não! Como também não incomoda tanto em Viticulture. Mas para algumas pessoas vai incomodar. Mesmo você tendo diversas maneiras de ganhar mais cartas e ter mais escolhas.
Outra coisa é a questão do balanço das raças e estratégias. Há raças que parecem ser muito mais fortes que outras. Realmente são? Não sei dizer, mas pelo menos mais difíceis devem ser, pois não vi, de cara, um caminho óbvio para maximizar meus pontos com elas. Há uma, os Futuristas, que já tem gente reclamando de ser over powered.
Por último, pode-se discutir se o jogo precisava mesmo ter toda essa super produção ou se poderia simplesmente economizar em componentes para ser mais barato. Olha, até poderia, mas, como eu falei no início, Jamey Stegmaier sabe trabalhar bem num produto e no seu hype. E se ele fizesse apenas mais um jogo com trigo, pedra e madeira, ninguém estaria falando dele como se falou de Tapestry nos últimos tempos.
Agora, estando mais do que claro que eu curti bastante o jogo, apesar dos pequenos pontos citados acima, a pergunta que se faz é: vale a pena o preço?
Bem, essa é uma pergunta que eu acho impossível responder, pois mexe com valor relativo de dinheiro para cada pessoa. O vou fazer é compartilhar meu pensamento em 2 histórias minhas para vocês entenderem meu ponto de vista. Em 2017, logo após Essen eu decidi que eu queria demais o Gaia Project. Paguei então 600 reais no 1o leilão que sugriu e mais 50 de Sedex para ele chegar rápido. Na mesma época, comprei por 79 reais o Jorvik em uma promoção da Livraria Cultura. Joguei 27 partidas daquele Gaia apenas nos 3 meses seguintes e talvez umas 35 no total. Já Jorvik, nunca joguei até hoje, simplesmente por que, no pouco tempo que tiramos da nossa vida pra jogar os inúmeros jogos que existem, nunca valeu a pena eu gastar esse precioso tempo jogando Jorvik. Qual dos dois foi caro? Então, pra mim, caro é pipoca de cinema e jogo que eu não jogo.

Como eu não sou colecionador de jogos, e vendo grande parte dos jogos que já não jogo mais, eu tenho o hábito de repassar meus jogos que já estão parados na estante e comprar novidades que me agradaram e que, por serem novidades, vão pra mesa várias vezes. Nunca me arrependi de ter comprado um jogo que viu mesa mais de 10x, independente do preço. Agora, isso, sou eu e por isso o Tapestry vem pra coleção. Ele é um jogo que eu após 5 partidas ainda é um dos que eu tenho mais vontade de por na mesa de novo. Então, para o meu perfil, movido a novidade, que estou disposto a vender 2 jogos para comprar 1 mais caro, ele faz sentido. Para você, é preciso avaliar seu perfil.
Uma coisa que eu posso te garantir é: se você comprou o jogo empolgado no hype achando que ele seria a resposta para a vida, o universo e tudo mais, você vai (sempre!) se decepcionar. Agora, se você busca um jogo que você pode explicar as regras em 15 minutos e jogar várias partidas, de forma rápida, gostosa mas ainda bem desafiadora, Tapestry é um excelente jogo e o coloco facilmente como um dos 3 melhores lançamentos do ano junto com Barrage e Pipeline.
Tapestry é então, para mim, o 2o melhor jogo da Stonemaier Games, atrás apenas de Scythe, que está entre meus jogos favoritos. Coloco ele facilmente acima de Wingspan, Viticulture e outros. Um jogo que, com o sucesso que está tendo até agora, seta um novo patamar de algumas produções de board game, pelo bem ou pelo mal. E embora ele não entregue nada de tão revolucionário no modo de jogar, posso garantir que você nunca estará arrependido de gastar seu tempo jogando Tapestry, e esse é um dos melhores custo-benefício que um jogo pode ter pra mim.
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