Em meio a tantas discussões e debates sobre jogos de tabuleiro, umas das questões que me chamou a atenção foi o fato de que alguns jogos seriam considerados brinquedos, enquanto outros, não. Especificamente ouvi/li dizerem que "jogos com miniatura são brinquedos, não são jogos", ou ainda que "jogos com miniaturas são máquinas de caçar níqueis", uma alusão ao desperdício de dinheiro sob promessa de recompensa duvidosa. Assim, o conceito do que é um jogo e o que é um brinquedo, ou mesmo quando um jogo é um brinquedo, ficou nebuloso.
Considerando que meu "jogo" preferido é Zombicide Black Plague, e tudo que o expande, é óbvio que me senti incomodado, logo busquei por uma justificativa de que este ainda seria um jogo, o que me parece ser um status mais nobre. Mas como eu disse antes, a questão chamou a atenção justamente porque, apesar de difícil admissão, realmente Zombicide é um brinquedo. Um brinquedo organizado sob as regras de jogo para que adultos, como eu, possam ter uma desculpa para comprar miniaturas de plástico (com arte detalhada e assinada) e ficarem "brincando" sob a justificativa de ser um jogo.

Cavaleiro sem cabeça, branca de neve zumbi... um conto de fadas pós-apocalíptico?
Claro que essa é apenas minha opinião, mas relato 5 evidências que fazem considerar Zombicide um brinquedo: 1) uma caixa grande que requer apoio para abrir, com ilustrações de apelo lúdico muito forte apresentando cabeças de zumbis voando, machados e espadas empunhados, algo de ordem muito visceral; 2) Miniaturas detalhadas, muitas e diversas, com identidades referenciadas por cartas que requerem atenção às formas específicas na interação entre monstros e heróis (não são cubos de madeira pintados de cinza em 3 tamanhos diferentes com orientações pontuais exigindo um esforço imaginativo significativo, são bonequinhos mesmo); 3) A arte é apelativa, seja da caixa, catas, tabuleiro, manual e das esculturas para combinações "N" de possibilidades de aventuras exageradas e não realistas, muito lúdico; 4) é cooperativo - jogos são competitivos, brincadeiras são cooperativas; 5) de 1 a 6+ jogadores - se não tiver ninguém pra brincar, você brinca sozinho (tipo playmobil, a diferença está no livro de regras e dados para quebrar a narrativa individual) e o fator sorte está presente, o acaso determina o desafio e nível de dificuldade.
É possível elencar muitos outros elementos que o caracterizam como brinquedo, como as referências a filmes clássicos de aventura: Conan, o bárbaro; O Feitiço de Áquila; Em Busca do Cálice Sagrado (Monty Python) dentre outras extraídas de clássicos da literatura ou HQs do universo Marvel ou DC.
A ideia de estar num universo distinto do qual você habita, afastando-se de uma simulação da vida adulta cheia de responsabilidades e disputando espaço com seus concorrentes, caracteriza Zombicide, a meu ver, como um brinquedo sofisticado que exige atenção para tomada de decisões, conhecimento básico das regras de ação (que podem ser burladas no estilo CalvinBall) em uma questão de sobrevivência de forma brutal e injusta, com os dados do universo conspirando contra você. Tudo muito distante do mundo real e competitivo, inspirado no sentimento infantil e impulsivo de ajuda mútua.
E você, o que pensa sobre? Brinquedo ou jogo?