Joguei ontem Coimbra pela primeira vez. E antes de julgarem o texto apenas pelo título, queria dizer que gostei do jogo. Sem dúvida alguma, os euros italianos dominaram, na minha opinião, os lançamentos do gênero nas feiras de final de ano (Essen/GenCon). E, apesar de não ter jogado ainda os lançamentos do Feld, Theotihuacan, Newton e Coimbra são 3 dos melhores euros lançados na feira (ainda não joguei Brass Birmingham que tenho certeza que dará de lavada em todos eles). Inclusive, cogito fortemente comprar algum deles. O que, considerando meu atual perfil de compra, é um enorme elogio.
Dito isso, queria dizer que o intuito desse texto nem é tanto falar do Coimbra, mesmo por que, só joguei ele uma vez. Vou falar dele sim. O que achei de positivo e negativo no jogo, mas levem em consideração que é baseado em 1 partida. Mas a ideia maior deste texto, é falar sobre como, cada vez mais, esses jogos estão parecidos entre si.
Se alguém me pergunta se vai gostar de Coimbra, a resposta é muito simples: você gosta de Marco Polo/Lorenzo/Gran Austria? Se sim, vai fundo cara! Coimbra, Newton ou qualquer outro jogo desses caras que a gente não lembra bem qual fez qual, vai lhe agradar. Por que? Por que a fórmula é a mesma. Simples assim!
Todos os jogos deles são euros atemáticos de dar orgulho no Feld. Todos utilizam dados de alguma forma e abusam do engine de combo de cartas. Nisso, o Danielle Tascini é um pouco a exceção pois Tzolkin não tem dados e nem ele nem Teotihuacan tem cartas. Mas ambos, no mínimo tem uma arte e muitos elementos em comum entre si.
Nesse sentido, até mesmo o Feld tem sido mais original nos seus jogos. Por mais que o Feld pareça produzir jogos em uma linha de produção com um monte de mecânicas juntadas de forma aleatória, ele pelo menos inova nos mecanismos de escolha de ação ou pontuação no jogo. Em Trajan, você tem a Mancala. Em Macao você tem a fantástica rosa dos ventos onde você aloca dados draftados para fazer ações no futuro. Em Amerigo, a torre de cubos decide qual ação e com que potência fazer. Por mais que você veja semelhança na salada de pontos, você consegue notar que está jogando um jogo com sensação diferente quando migra do Bora Bora para o Bruges, ou de Macao para In The Year of the Dragon.
Nos euros italianos não. É sempre dados + combo de cartas. E você pega Virgílios, Simones, Flaminias e Danieles joga num saco, tira 2 aleatoriamente e você tem um jogo com nome e tema qualquer, que eventualmente se chama Coimbra, mas podia ser São João do Meriti que não ia mudar nada. E a sensação de jogar quase qualquer um deles é bem parecida. Como se tudo fosse pasteurizado para ter mais ou menos o mesmo gosto.
Mas aí vem a segunda pergunta: isso é ruim? Bem, vamos lá. Não necessariamente.
Nem todos esses jogos me empolgam, mas nenhum é ruim. Talvez eu tenha empolgado menos no Lorenzo que a maioria e Gran Austria é bacana, mas as vezes tem um downtime alto em 4 jogadores. Mas ao mesmo tempo, por mais que eu tenha jogado já inúmeras vezes, eu nunca me canso do Marco Polo, pela variedade que a mudança dos personagens dá ao jogo. Pode não ser meu favorito, mas depois de cansar de jogar um deles, sempre volto pro classicozão Marco Polo.
E sendo mais específico sobre Coimbra, a resposta (se é ruim?) é um sonoro não. Coimbra é muito competente no que faz. O jogo, é mais um simples draft de dados com compra de cartas que combam no final. Mas é provável que seja o melhor jogo de draft de dados com combo de cartas do mercado(De novo, creio que a maioria acha isso do Lorenzo). O jogo é rápido, ágil, simples de explicar e dinâmico na jogabilidade. Tirando o momento específico do draft e alocação dos dados, onde as pessoas começam a analisar um pouco as opções B e C caso forem suplantadas na ordem de compras, ele não deveria ter muito AP nem downtime.
Para você entender melhor, o coração do jogo é muito simples: você rola 3 dados de 4 diferentes cores + 1 dado coringa. Os jogadores passam então a draftar esse dado e alocá-los em uma de 4 fileiras que onde estão 4 cartas ou 4 tokens. Em uma segunda fase, quem colocou ali o maior dado (ou colocou primeiro em caso de empate) começa a escolher primeiro as cartas e portanto pode escolher as melhores pois não há reposição até o final da rodada. Mas o jogo tem um bom contrabalanço para isso. Você paga pela carta, o valor de PIPs do dado que colocou. Ou seja, se quis ir primeiro, com um dado de valor 6 em uma fileira, vai ter de pagar 6 moedas/escudos pela carta. Já quem colocou o dado de valor 1, escolhe no final o que sobrou na xepa, mas paga apenas 1 moeda/escudo. Os dados também tem cores que lhe fornecem benefícios diferentes em uma fase de receita de acordo com seu avanço no track de influência de cada cor.

Simples né? O resto do jogo é consequência das cartas que lhe permitem subir em tracks de influência que dão recursos ou pontos, andar por um tabuleiro central para ganhar bônus e comprar objetivos de final de jogo. Por que então é bom o jogo? Ou por que ele se destaca?
Bem, primeiro por que ele é dinâmico. São 6 fases ao todo: compra dado, aloca dado, compra carta, define ordem do jogo, faz receita, escolhe objetivo para pontuar. São várias pequenas decisões que mantém o jogo fluído e com downtime baixo. Segundo que, ele é curto e pode ser jogado de forma rápida, em coisa de 1h30m, que é a duração ideal para um jogo desses. Dá a impressão que é um jogo completo, inteiro, mas que dá para encaixar em momentos que você não tem tanto tempo assim. Cada dia mais, reclamo de alguns jogos durarem mais do que deveriam. Coimbra é excelente nisso. São 4 rodadas apenas, de forma que não se cansa, nem se prolonga.
Em terceiro, por que o jogo não te prende a uma estratégia óbvia, ou uma ação obrigatória. Eu vi funcionar tanto estratégias de dados altos quanto de baixos quando qualquer coisa no meio do caminho. E isso é bacana pois você pode se adaptar de forma tática ao que está acontecendo naquele jogo.
E por último, por que não é arte do Klemens Franz! Até que enfim! A arte, na verdade, a produção como um todo do Coimbra está belíssima. O insert, é primoroso. Mesmo tendo o velho problema de não caber bem cartas sleevadas, chega a dar vontade de não sleevar só para continuar usando ele. Tudo encaixa perfeitamente na caixa sem cair, ficar bambo ou sair do seu devido lugar.
Uma única coisa que me incomodou no jogo, e mais uma vez, é uma constante em quase todos esses jogos desses caras é o fato de você utilizar todas as cartas no jogo. Lorenzo tem isso também. Caraleô, você tem que fazer 60 cartas pra um jogo, custava fazer 70 e deixar a gente viver com a possível ocasião onde uma carta específica não entra nesse? Parece que isso já é feito no intuito de você achar que o jogo tá muito igual depois de meia dúzia de partida e vire consumidor da nova expansão que trará mais rejogabilidade. Não entendo isso, de verdade.
Aliás, para mim, rejogabilidade é o grande problema desses euros italianos. O novo lançado, vira o favorito por meia dúzia de partidas, até que então eu vendo ele e volto a jogar o bom e velho Marco Polo. E isso, é o que quase sempre me impede a comprar um jogo como esse.

Outro pequeno detalhe que me incomodou, é que o jogo é tanto de combar, e faz-se tanto ponto de combo no final, que você não tem bem uma ideia de quem está ganhando até que do nada nego tira da cartola 80 pontos no momento final. Veja, Coimba não é um solitarie multiplayer, onde você parece estar jogando seu joguinho sozinho apenas para comparar a pontuação no final. Coimbra tem sim bastante interação e isso é outro ponto positivo que eu esqueci de por lá em cima. Só haver draft de dados por si só já é alguma interação. Mas a disputa pela ordem de quem vai comprar primeiro as cartas de cada linha é bem interessante. Me lembrou, de longe, a disputa de ações de Vanuatu. Mas ao mesmo tempo que você interage durante o jogo, você fica meio perdido sem ter certeza se aquele caminho ou estratégia vai de fato lhe dar mais ponto que o caminho do teu adversário.
Mas isso não me incomodou demais não. Curti Coimbra o suficiente para querer tê-lo se conseguir um preço legal nele. No final, por mais que ele tenha todas as características de Lorenzo e Gran Austria, eu senti nele, seja pela duração, seja pela leveza, uma sensação parecida com a de jogar Rajas of Ganges. Ao mesmo tempo, não faria loucura de comprá-lo por qualquer valor, afinal, igual a ele, um pouco melhor ou pior, tem aos montes no mercado.