SAGRADA
Caro leitor, não deve ter passado despercebido por vocês que no mês passado ocorreu o maior evento de jogos de tabuleiro do Nordeste: o Spa dos Jogos. Nesse evento, eu tento conhecer o máximo de jogos possível, reservando para raras ocasiões repetir um jogo que já conheço. Refletindo um pouco sobre o Spa dos Jogos, eu joguei 20 jogos diferentes, no qual apenas um eu já havia jogado antes. Hoje, falarei justamente desse jogo. Trata-se do jogo Sagrada.
Por mais que se esforce em ter um tema, Sagrada é um jogo abstrato. Sendo que é um abstrato “gourmetizado”, como Azul e Santorini, que já foram resenhados aqui na revista. Isto é, um abstrato com belos componentes, arte abstrata caprichada e com muitas, muitas cores. O Sagrada é um abstrato tão diferenciado, que foi lançado por Kickstarter conseguindo mais de 150 mil dólares. Bom, é um abstrato e eu joguei... Deste modo, vamos para a resenha.

Sagrada é um jogo de 1 a 4 jogadores, no qual cada jogador está construindo seu vitral obra-prima. Esse vitral é uma grade de 5 colunas por 4 linhas, compondo um total de 20 espaços. Em cada espaço será colocado um dado colorido translucido, bem bacana, representando a composição do seu vitral. Como seu objetivo é formar o vitral mais belo possível, o jogo reconhece como “belo” aquele que conseguir mais pontos de vitórias. Esses pontos são obtidos por: cumprir objetivo pessoal secreto, cumprir objetivos abertos, não ter espaços vazios e pontos extras se sobrou algum favor. Mas como esse vitral é feito?
Pois bem, a partida dura 10 rodadas, nas quais cada jogador vai pegar 2 dados por rodada. Deste modo, se tudo correr bem, você terá os 20 dados preenchendo os 20 espaços do seu vitral. Entretanto, não é tão simples assim. Uma rodada começa com o jogador da vez jogando uma quantidade de dados (vindos aleatoriamente de uma sacola) igual a um mais o dobro da quantidade de jogadores. Os jogadores escolhem um dado por vez no sentido horário, ao chegar ao último jogador, este escolhe mais um dado e os jogadores escolhem um dado por vez no sentido anti-horário. O dado escolhido deve ser colocado imediatamente no vitral, sendo um momento chave do jogo.

Colocar um dado em um vitral não é de qualquer maneira. O primeiro dado só pode entrar nas bordas do seu vitral e uma vez inserido o primeiro, os próximos dados só poderão ser colocados adjacentes (diagonal não vale) a dados já existentes no vitral. Claro que isso, por si só, não é complicado. Entretanto, existem regras. Os dados adjacentes não podem ser da mesma cor e nem do mesmo número. Esses dois pequeníssimos detalhes transformam Sagrada em um quebra-cabeça interessante. Regras simples, eu diria até que intuitivas (não pode nada igual perto), fazem o jogo transcorrer de uma maneira tranquila.
Se você percebeu, em toda rodada vai sobrar um dado. Esse dado tem dois propósitos: deixar o último jogador que for escolher um dado ter opções e demarcar o andamento dos turnos. Durante a partida, os jogadores também podem gastar favores (recebidos durante a preparação, de acordo com a dificuldade do vitral escolhido para começar) para ativar habilidades que facilitam sua vida. Essas habilidades são extremamente úteis no final da partida, na qual o dado que você precisa colocar é algo bastante específico: um azul com valor 3 ou um vermelho com valor 3. Após as 10 rodadas, os jogadores contabilizam seus pontos. Aquele com mais pontos é o vencedor. Sem firulas, sem mistérios e tudo muito direto.

Este é o jogo. O que tenho a dizer? Gostei. Sagrada é um jogo leve, mas não deixe essa leveza lhe enganar. Ele tem espaço para jogadas inteligentes, para planejamento e até mesmo jogadas para “sacanear” o amiguinho. Tudo isso em um pacote extremamente bonito e com regras de fácil assimilação.
Entretanto, nem tudo são flores. As cores são um pouco próximas, eu não tive tanta dificuldade assim, mas acredito que outros tipos de daltônicos possam sofrer um bocado durante a partida. O problema é bastante reduzido pelo fato de ser tudo informação aberta. Então, é possível o jogador perguntar sempre que tiver dúvidas. Tirando essa pequena picuinha, não tenho do que reclamar.

Eu recomendaria Sagrada para pessoas em busca de jogos introdutórios ou leves. Eu, particularmente, não gosto de jogos com esse peso. Entretanto, Sagrada é um puzzle bem interessante e eu gosto desse “estilão” de jogos. Portanto, se você gosta de puzzles, eu diria para dar uma chance.
Eu não recomendaria Sagrada para pessoas que gostam de interação direta e “sangue nos olhos”. Em alguns momentos pontuais, é possível interagir de uma maneira bem direta em Sagrada, mas são raras as ocasiões. Também não recomendaria para quem gosta de bastante tema nos seus jogos. Apesar de Sagrada ser um jogo bonito, ele não é, nem de longe, um jogo temático.