Como sempre, não estarei aqui explicando as regras do jogo, já existem várias mídias (muito melhores capacitadas que eu) que podem lhe iluminar com isso. Essa não é uma "crítica" por assim dizer, mas apenas uma opinião que com base no meu relato pode lhe ajudar a saber se deve ir com um ou outro. Se você quiser ler esse texto na sua formatação original, acesse aqui.
Quando o famigerado Century foi anunciado eu já fiquei de olho, afinal sou um ávido jogador de Splendor e algo que se compare a tal certamente chamou a minha atenção. Houve tanto hype nesse "sucessor espiritual" que este acabou sendo chamado de Splendor Killer. Pode isso Arnaldo? Meu objetivo aqui é tentar passar a minha perspectiva como "ex" dono dos dois jogos (quem será que sobreviveu?), e com isso quem sabe, guiar a sua próxima aquisição. Vamos lá.
Aventura nas Arábias VS Cara Sinistro Segurando Diamante
Tema / Imersão / Efeito: "Quero jogar isso aí"
Se você planeja usar eles como jogos introdutórios, o apelo estético conta muito. E nesse aspecto muito provavelmente Century vai vencer. Cubinhos coloridos, moedas de metal e um artwork da caixa muito menos intimidador que um cara sinistro segurando um diamante.
Na mesa, Century também se sobressai, aquelas cartas gigantes 70x120 sem número ou texto dão um efeito bacana. Os potezinhos com os cubos coloridos para especiarias também (embora o tiozão mais próximo ira perguntar se pode por salgadinhos ali dentro).
Splendor é visualmente mais simples, mas conta com as fichas de peças preciosas mais satisfatórias já criadas na história dos boardgames. O peso delas dão um
feel bem legal, mas isso sozinho provavelmente não vai encantar o jogador desavisado para a mesa.
Peso / Curva de Aprendizado / "Sustância"
Splendor é mais simples, fato. Tão simples que praticamente é possível deduzir como se joga com uma foto. O mecanismo básico (coletar cores e trocar por cartas ) existem nos dois, mas o Century da uma incrementada com um deck-building, que sim eu sei, não é nada mirabolante, mas que para explicar para a sua sogra, avó ou amigo iniciante não-gamer não vai ser tão fácil. Além disso existem alguma "regrinhas" extras, que também colaboram com a complexidade extra do Century, como "pagar as cartas do mercado deixando um caminho de especiarias" e a pontuação variável para as primeiras cartas do mercado de prêmios. De novo, nada mirabolante, mas Splendor por outro lado é basicamente: pega ficha, compra carta, reserva carta.
Interação entre Jogadores
Ambos apenas com interações indiretas, sem take that. A única interação no Splendor é a marcação de jogadores para tentar "reservar" ou "comprar" uma carta/nobre antes que determinado jogador. No Century temos exatamente a mesma marcação porém com com dois tipos diferentes de cartas, as que dão pontos e as que geram as especiarias. Diferente do Splendor as cartas que te dão ponto, os mercados, possuem bônus de pontuação para o primeira e a segunda da fila, um toque pequeno, mas que gera situações em que o jogador que vai comprar a terceira carta, fica "segurando" jogo para que os jogadores interessados na primeira e segunda façam essas aquisições antes, aumentando sua pontuação.
Tempo de Jogo
Na minha experiência, Century sempre acabou sempre levando o dobro de tempo de duração em relação ao Splendor. Obviamente que dependendo do grupo isso pode variar, eu como faço parte dos
Reis do AP posso dizer que o Century da muito pano para isso acontecer, já que é possível fritar tentando buscar o "combo perfeito" para gerar as suas especiarias VS o AP par avaliar se você vai conseguir pegar os prêmios antes que seus oponentes.
Então, quem eu levo?
Sou um euro-gamer, curto jogos pesados, sou competitivo, curto um deck-building (ex-viciado em Magic) e por padrão tenho preconceito com "jogo de cartinha" (quero é cubo de madeira e não deixem dados perto de mim). Levando tudo isso em conta posso dizer sem sombra de dúvidas:
Rufem os tambores.
Splendor.
Eita, mas como assim? Cadê o euro-gamer que quer um jogo com muita sustância? Bom meus caros leitores, o ponto é justamente esse. Eu quero sustância, então o prato principal da noite
não vai ser
Splendor nem
Century de qualquer forma. Não é vantagem para mim iniciar um jogo, que pode durar mais de uma hora, enquanto espero os demais jogadores chegarem. Da mesma forma que não vou querer fazer um "after" depois de rachar a cuca com 2 horas de Mombasa com mais uma hora de fritação cerebral. O
Splendor por outro lado consegue fazer isso,
muito rápido,
leve e que
não intimida novatos, mesmo não gamers (minha sogra aprova).
Então, para mim que tinha os dois na coleção a verdade é que eu
nunca via espaço para por ele na mesa, a não ser quando alguém nunca tinha jogado e queria ver como era. Ele não é pesado o bastante para ser o
euro da noite, nem leve o suficiente para
abrir a casa ou
fechar a noite. Acabou ficando ali num limbo em que simplesmente não conseguia ver espaço. Century é um jogo ruim? Certamente não. Se eu fosse mandado para uma ilha deserta (com nativos que curtem boardgames) e tivesse que escolher um dos dois, eu iria com o Century sem dúvida,
justamente por ser mais substancioso. Eu realmente vejo ele como "mais jogo", mas quando penso no meu elenco de jogos como um time, cada um com sua função e propósito, ele acaba não encontrando seu lugar. No final, acabei me desfazendo dele para ficar com o excelente
Orléans, que no meu time de jogos fez muito mais sentido. Hoje o Splendor ainda reina absoluto como filler ou jogo para levar na "festa da firma".
Sei que existem muitos que "migraram" para o lado Century da força e adoraria ouvir sobre o outro lado da moeda. Não sentiram esse problema do "nem tão leve, nem tão pesado"? Seus grupos encaram uma "noite de Century"? Comente ai e até a próxima!